sábado, agosto 20, 2011

Daniel Oliveira, o explorador do patrão

O cronista Daniel Oliveira, cujas opiniões pouco me interessam e por isso as não leio habitualmente, publicou na semana passada no Expresso ( o refúgio de uma certa esquerda jacobinizada e agora cretinizada) esta crónica sobre o Pingo Doce e uma iniciativa do grupo Jerónimo Martins em ajudar os seus trabalhadores em dificuldades económicas.
A crónica assenta num pressuposto: o grupo paga em média aos seus trabalhadores cerca de 540 euros mensais e ao mesmo tempo criou um Plano de Emergência Social para ajudar trabalhadores em situação de "extrema necessidade". Daniel Oliveira, como exemplar de certos indivíduos que vivem da participação no espaço mediático esportulando ideias avulsas acha que a empresa Jerónimo Martins "trata de tudo: com uma mão paga miseravelmente, com a outra dá um consolo, um ensinamento e um ralhete. (...) Sim, paga salários miseráveis a quem lhe dá dinheiro a ganhar. Mas ao menos não os deixa morrer à fome. Como os escravos, há que mantê-los vivos."
Esta arenga ressuma ao estribilho de uma esquerda patológica que sempre contestou o modo de produção capitalista que cria emprego e riqueza, julgando por tanto que quem assim faz tem a obrigação social de se arruinar economicamente num mercado cujas regras ignoram e contestam continuamente.
A arenga do costume vale-se sempre do pano de fundo da luta de classes, discriminando sempre os pobres trabalhadores, escravos da sua força de trabalho e cuja mais valia produtiva o ignóbil patrão lhes suga impunemente.
E isso que o artiguelho transpira entre vírgulas e isso deveria ser denunciado, apontando Daniel Oliveira como mais um esquerdista relapso e sem remédio nas asneiras intelectuais que produz a troco de réditos substanciais.
Daniel Oliveira, ao contrário dos trabalhadores do Pingo Doce que recebem o que o contrato colectivo lhes concede, e que será pouco, recebe principescamente para o que produz. Os trabalhadores do Pingo Doce recebem pelas mais valias que produzem, sendo eventualmente explorados pelo patrão. Daniel Oliveira recebe pelas menos valias que vai sortindo em catadupa de ideias feitas que deram prova insofismável de prejudicarem mais os trabalhadores do que aquelas que critiva. Daniel Oliveira explora por isso o patrão que lhe paga pelas asneiras que produz.


A "gerência" da Jerónimo Martins, em carta da semana no Expresso de hoje, em vez de denunciar as palermices escritas de Daniel Oliveira, leva-as a sério e abespinhada pela estultícia deste escrever uma falsidade ( que a empresa paga em média aos seus trabalhadores cerca de 540 euros por mês, o que aliás não deve andar muito longe da verdade) ameaça-o com um processo em Tribunal, " a instância adequada para apreciar este assunto.
Em vez de o zurzir no mesmo tom, a "gerência" da empresa mostra-se ofendidíssima com o escrito que considera difamatório.
Já se sabia que quem vende mercearias não terá olfacto apurado para outras mercadorias, mas elevar o tal Daniel Oliveira à categoria de ofensor é uma ofensa ao senso comum: Daniel Oliveira não ofende quem quer. Só ofende quem o lê.


2 comentários:

joserui disse...

As menos valias que vai sortindo? Hehehe -- JRF

Lura do Grilo disse...

Não sabemos quanto recebiam os funcionários do BE que generosamente foram despedidos, sem apelo nem agravo, após a hecatombe eleitoral.

As razões que eles tiveram para este despedimento em massa e os salários que praticavam, não se verificarão, por definição, com qualquer outro empregador.

Quanto à formação para governar uma vida com os recursos próprios é decerto coisa incompreensível para os políticos e, em especial, os de esquerda mas faz falta a muita gente a começar por eles.

O Público activista e relapso