Isabel Moreira, filha de Adriano Moreira em entrevista ao i de hoje, diz coisas extraordinárias. A mais interessante é saber que sendo filha de um conservador que ajudou a fundar o CDS e foi ministro de Salazar, comungando algumas ideias coporativistas do Estado Novo e apoiando activamente a política, não seguiu as pisadas ideológicas do pai. Provavelmente tem do salazarismo e do Estado Novo uma ideia absurda que o pai não conseguiu desfazer. A filha de Adriano Moreira que admira o pai ( "Ele faz análises absolutamente brilhantes do país e da situação do país sobretudo tendo em conta o contexto internacional, que é uma coisa que pouca gente faz. Tentando ser objectiva, tem uma lucidez enorme", diz na entrevista, não entende o que o pai significou e a política que serviu nem a ideologia que abraçou. Apostatou essa herança e quem não sai aos seus...degenera como é bom de ver a contrario.
Eppure:
Eppure:
Não me lembro de não gostar de política por isso não sei como surgiu isso de gostar de política. É verdade que cresci numa casa em que a política esteve sempre presente. Isso foi uma influência determinante mas o facto é que acabei por tirar o curso de Direito e escolhi a área de direito público
Em todas as entrevistas me perguntam ou como é que o meu pai viu a minha entrada nas listas do PS ou como viu a defesa do casamento entre pessoas do mesmo sexo. Fico espantada por isso causar tanta curiosidade - é um bocadinho sinal de pouca evolução dos tempos. Parece-me tão natural que numa família possam existir diferenças ideológicas que quando fui confrontada com perguntas a esse respeito, fiquei espantadíssima. Isso nunca foi uma questão, é de uma naturalidade avassaladora. O meu pai estava na primeira fila da apresentação do livro sobre o casamento entre pessoas do mesmo sexo. Faz o que todos os pais normais fazem e eu faço o que todas as filhas normais fazem: apoiamo-nos mutuamente. No fundo temos as mesmas preocupações mas soluções diferentes. É só isso.
Isabel Moreira adoptou o jacobinismo como cartilha militante e por isso, entende a divisão esquerda/ direita mais ou menos assim, quando lhe perguntam algo sobre José Sócrates:
Foi um bom primeiro-ministro, corajoso e que enfrentou imensas dificuldades. Em comparação com Passos Coelho sofreu um duplo padrão em relação à direita.
Para comprovar o destino jacobino, apresenta-se assim:
Há várias coisas que gostava que fossem aprovadas. Qualquer pessoa que me conhece sabe que gostava de ver aprovada a adopção por todas as pessoas e que fosse possível a uma mulher conceber um filho sem necessidade de ter um parceiro, como acontece em Espanha. Mas são batalhas que levam o seu tempo e, a partir do momento em que há uma maioria de direita, há coisas que não vale a pena apresentar como proposta de lei sob pena de inscrever num caminho de vitórias uma derrota.
E apesar de ser formada em Direito, constitucionalista, parece não saber tirar as ilações do que vai observando pelo mundo. Adoptou a cartilha de esquerda mas não percebe que foi essa mesma doutrina que provocou directamente o que observou assim, como um poema turístico:
Mas Havana é um poema. A miséria é horrível, a forma como escondem isso com propaganda é terrível, mas as pessoas, quando se consegue chegar a elas, estar lá o tempo suficiente para ir jantar a casa de um cubano, conhecer a história deles e eles sorrirem apesar da miséria...
Talvez seja mesmo verdade o que afirma no início da entrevista:
"Tenho uma mente de há 80 anos atrás" . Claro, no rescaldo do tempo do jacobinismo puro e duro.