sábado, agosto 13, 2011

A pobreza no espírito

Vale a pena ler esta parte de um artigo de hoje, no Público, assinado por São José de Almeida. Dá-nos um pequeno retrato em fotomaton sociológico do que era a sociedade portuguesa urbana, nos final dos anos sessenta, na perspectiva desta pessoa a quem assenta que nem luva a designação de esquerda genuína, sem remissão. Uma época em que havia famílias abastadas, outras remediadas e outras carenciadas como agora se diz.
Entre as remediadamente abastadas abundavam aquelas que tinham criadas de servir, ao seu dispor. Era esta a família da articulista que se lembrou de contar a "história emblemática" que aí fica. As criadas deixaram de o ser para serem "empregadas", mas não era por isso que receberiam o devido pelo trabalho que faziam, porque para quem é de esquerda os privilégios dos pobres são o de trabalhar e não refilar quando os patrões são de esquerda, sem complexo algum. Férias das tais empregadas? Só no imaginário das reivindicações de um prec.
Os meninos "descalços, sujos e ranhosos" só lhes falta chamá-los de "feios, porcos e maus", para que o neo-realismo dos Esteiros saltasse à vista desarmada desta construção sociológica que configura uma casa com "hall" e com muita gente dentro que viu chegar de repente três espécimes sociológicos que moravam a dois passos dali: num dos "bairros do aeroporto" que a articulista "nunca soube o nome"...

Por causa dessa experiência singela que se resumiu a um banho de banheira aos três "sujos" que ficaram menos "porcos" ( com "shampoo e sabonete" e esfrega árdua das côdeas do sujo) e roupa nova, emprestada pelos outras crianças da casa, para parecerem menos maus, com um lauto jantar para as crianças esfomeadas, coitadinhas que comeram que nem desalmados que encontram a fé, lá foram outra vez recambiados para o seu meio natural, o do tal bairro do aeroporto que a articulista "nunca soube o nome".

Um comunista que ensina na universidade, nos anos setenta já com militância no activo, deu em cantarolar uma cançoneta de protesto a que chamou "caridadezinha" entoando melodicamente "vamos brincar à caridadezinha, festa, canasta e muita comidinha", para denunciar os "burgueses" que não davam suficiente atenção a estes "feios, porcos e maus", perdão, "descalços, sujos e ranhosos".
Esta senhora São José, malha-nos Deus!, também fez alguma coisa pela obra. Nos anos sessenta e com um lauto jantar que satisfez a fome de dias àqueles "pobres de pedir".
E porque é que a senhora escreve o artigo? Porque se lembrou disso quando ouviu esta semana falar em algumas medidas do Plano de Emergência Social, governamental, para acudir à pobreza.
E porque é que a senhora se indignou tanto com este plano? Porque lhe lembra o "conceito de organização social que lhe está subjacente, uma organização da sociedade que aceita como normais as desigualdades sociais, para quem a existência de classes ou grupos sociais com direitos diferentes é da "ordem natural" do mundo ( conceito que de natural nada tem, e que procura ignorar que as sociedades humanas são construções obtidas da capacidade de racionalização e de abstracção do intelecto humano" ( sic).
Está aqui resumida a essência da ideologia de esquerda: a igualdade como conceito normativo e a forma de a combater, racionalizando e abstraindo...

Para que a senhora possa ver melhor essas tais "construções da capacidade de racionalização e de abstracção do intelecto humano", apresento-lhe outra foto da mesma época e que é de outra localidade mais a Norte do país, de uma zona de interior, mais rural que urbana e que até lá tem uma figura conhecida e que a articulista afeiçoa, a ajudar ao andor. Os miúdos de então andavam descalços, porcos e se eram ou não maus, só o tempo veio a dizer.
Por mim, disse-o com suficiente eloquência e foi essa ideologia da "racionalização e abstracção do intelecto" que provocou a pobreza em que nos encontramos. Só que a articulista não sabe disso. Ou não quer saber. Ou insiste em não aprender e em mistificar.



4 comentários:

zazie disse...

é com esta pancada da igualdade que depois em Inglaterra aqueles "pobrezinhos" a quem dão casas na cidade, são esquisitos com a marca dos plasmas.

Os que não têm esta categoria ínfima, nem pertencem a minorias, têm de fazer pela vida e sabem que a igualdade é mentira.

Floribundus disse...

nasci há 80 anos no norte do Alentjo numa aldeia pobre.
em 1940 todos os colegas de escola usavam botas cardadas.
na aldeia havia uma excepção, o avo dum conhecido ex-jogador da selecção que abria os ouriços das castanhas com os calcanhares descalços.
todos comiamos alimentação 'biológica'. hoje comer é um luxo a que nem todos têm acesso. importa-se 80% dos alimentos.
a senhoreca devia consultar o 'livro dos cães' do meu merceeiro com licencitura en informática.
uma vez por semana vou ao colombo comprar alimentos para alguns e ensinar a comer bem e barato

hajapachorra disse...

As gajas do púbico, de ambos os três 'géneros', são inapresentáveis. Têm escamas. Um queque de esquerda aventalícia mariconça é prodígio mais aberrante que mula prenhe. Abrenúncio!

Wegie disse...

Deixem-se ficar na praia. Quando voltarem serão mais pobres, isso podem ter por garantido.

O Público activista e relapso