A notícia está em todos os sítios da internet com notícias sobre Portugal: morreu Manuel António Pina.
Nem um único sítio explica de que morreu. O máximo de pormenor é o Correio da Manhã que o noticia: "por doença prolongada", um eufemismo que geralmente significa cancro.
Os demais sítios de notícias dizem apenas, no máximo, que o escritor e jornalista morreu esta tarde no hospital de Santo António, no Porto, onde se encontrava internado. E quase todos fazem o obituário que cheira a requentado.
É este o jornalismo que temos.
Conheci Manuel António Pina pelo que escrevia no JN. Não sei se chegou a fazer títulos mas o JN de então, nos anos oitenta e depois disso, fazia títulos fantásticos e de uma graça incomparável.
Depois vi-o pessoalmente em 1986, quando concorreu a jurista-linguista tradutor, para a então CEE, para ir trabalhar no Luxemburgo. Havia milhares e milhares de textos jurídicos, no Journal Officiel e outros para traduzir. Passou às provas orais, entre os 20 escolhidos de cerca de 400 candidatos, alguns deles juristas bem conhecidos e que ficaram para trás. Manuel Pina não entrou nesse ambicionado lugar, tal como aqueles 20. Razão? Havia alguns administradores burocratas designados pelo então PSD que estavam em Bruxelas e tinham ficado sem lugar. Claro, o lugar foi-lhes atribuído, mesmo depois de uma dúzia de juízes da Cour de Justice terem dito publicamente aos candidatos apurados, em prova oral, entre os quais Manuel Pina, que precisavam de todos eles. Não precisaram.
Cheguei a comentar este episódio com Manuel Pina há uns anos, a quem me apresentei, nos claustros do convento de Singeverga.
Paz à sua alma.