Em 1975 um comunista assumido e artista ímpar na caricatura e cartoon, João Abel Manta de seu nome, era publicado no O Jornal, com grande destaque das páginas centrais, em poster.
Aqui ficam dois- um de 7.11.1975 e outro da semana seguinte, 14.11.75 que exemplificam muito bem o conceito que os comunistas tinham da sociedade portuguesa, da luta de classes e da mitologia que lhe estava associada.
Passados 37 anos não mudaram nada, para além da retórica um pouco mais recatada.
O primeiro intitula-se "Democracia, sim. Populaça, não!" e mostra uma mansão que em Portugal supostamente era a morada dos "ricos", dos "capitalistas" e "monopolistas", exploradores do povo. À porta da mansão estão os serviçais, ataviados para as respectivas funções. À frente do casarão, tirado de um qualquer livro de ilustrações do séc. XIX, os donos, apresentados como nas caricaturas marxistas mais típicas. O dono só não tem cartola porque já não era de uso...mas o charuto lá canta. A dona, enfim, a dona é retratada como uma figura saída dos livros das corridas de automóveis dos anos vinte...ajaezada com adereços como uma cigarreira tipo Greta Garbo ou gaja de cabaret.
No segundo poster, aparece mais um casarão do séc. XVIII, vazio e enorme em altura e reposteiros onde se chega apenas com escadas de bombeiros. No centro, ocupando o canapé, uma família portuguesa com certeza e daquelas que o autor estimava ideologicamente sobremaneira, apesar de ser nitidamente um filho da pequena burguesia urbana e intelectual .
A família portuguesa, naturalmente, é de famélicos e desvalidos. O pai, de chapéu na mão, pede desculpa não se sabe bem a quem ( ao autor do desenho?!) por estar ali, sem saber como nem porquê. A mãe é o retrato vivo do neo-realismo dos quarenta, dos Esteiros alentejanos ou estremenhos. Os cinco filhos, não esquecendo o de colo, com ar desenquadrado esperam que alguém lhes diga o que estão ali a fazer. O autor diz: estão a ocupar a mansão dos senhores e era assim que os comunistas portugueses entendiam a luta de classes. As ocupações de casas em 1975 foi mato, como se costuma dizer.Este tipo de casarões foi então ocupado por...organizações políticas, naturalmente de extrema-esquerda. Tinham o direito do povo e a autoridade que as tropa lhes dava. E assim ficaram, os syrizas de hoje.