quinta-feira, outubro 04, 2012

Os comunistas, socialistas de esquerda e a liberdade de manifestação

Em 28 de Setembro de 1974 algumas pessoas descontentes com o rumo que os acontecimentos políticos em Portugal estavam a tomar, com uma preponderância da Esquerda comunista, a que o partido Socialista se associava sem peias, entenderam convocar uma manifestação, devidamente organizada e autorizada ( pelo Governo Civil) no Campo Pequeno, em Lisboa. Elaboraram um cartaz e algumas das figuras da comissão organizadora eram Fernando Cavaleiro, António Costa Félix, Manuel Sá Coutinho, Manuel Magalhães, António Sousa Macedo, Francisco Van Uden e José Filipe Homem Ribeiro Pinto.

Prontamente os jornais em geral, com destaque para os mais esquerdistas, classificaram estas pessoas de fascistas e a manifestação como algo tenebroso e abertamente fascista, também. As palavras então eram a arma, a par das cantigas de José Mário Branco e outros.
Para contrariar o eventual sucesso da manifestação e impedir a "reorganização das forças reaccionárias" a Esquerda comunista e mais a socialistas usaram logo o que em linguagem corrente se designava como agit-prop, propaganda de combate político e ideológico.
Em dois tempos desconstruiram o cartaz convocatório da manifestação e os jornais eram claros: a manifestação era um atentado ao 25 de Abril. Uma manobra da reacção para retomar o poder. Este mote foi de tal modo matraqueado que até o tímido PPD se demarcou da manifestação, vergonhosamente como se pode ler  aqui num recorte do jornal República, do dia anterior à manifestação, dirigido pelo jacobino maçónico Raul Rego. A linguagem do jornal não deixa dúvidas, para quem ainda as pudesse ter, sobre quem orientava politicamente o país, em termos ideológicos: o comunismo e o socialismo. Era esse o conceito de democracia que essas duas forças políticas conheciam então.
 O PS de então, já dirigido por Mário Soares, claro, era contra a manifestação e dizia em comunicado que " a vigilância popular será bastante para barrar o caminho à reacção".


A Intersindical Nacional ( era assim mesmo que se designava numa altura em que começou a luta política com outras forças sindicais ligadas mais ao PS para evitar a hegemonia unitária e exclusiva do PCP no sindicalismo)  apelou então, em anúncio no mesmo número do jornal em termos que hoje se tornam irónicos, tendo em atenção o que essa central sindical faz para trazer os seus apoiantes a manifestações...
Repare-se na linguagem de ontem e na de hoje, com o incrível Arménio Carlos:


A agitação e propaganda  eram e continuam a ser de tal modo que chegam ao ponto de citarem "os jornais" da reacção como sendo os veículos de propaganda fascista, quando se sabia então e agora ( quem ainda se recorda) que os únicos jornais que ainda defendiam um resquício de dignidade passada, antes de 25 de Abril e combatiam o comunismo rompante, em modo pífio, diga-se, eram a Rua, dirigida por um aventureiro Manuel Múrias e um Diabo, dirigido por uma mulher, Vera Lagoa, amiga de Natália Correia ( também ela comprometida com a Oposição antes do 25 de Abril e com tendências libertáriasm, ainda que a-comunistas). Nada mais havia nesses meses que se seguiram ao 25 de Abril. Nada mais. Nem estações de rádio, nem tv, nem revistas nem jornais. O Expresso não conta porque sempre foi um jornal situacionista e continua a ser. A Esquerda tomou tudo e tudo dominou nesses meses, pelo menos até meados de 1975 ( com o aparecimento do Jornal Novo dirigido por Artur Portela Filho, ele mesmo da Oposição ao antigo regime- escritor de A Funda e outros- e apesar disso a-comunista também. Tal foi suficiente para ser classificado de reaccionário e quase fascista por Vasco Gonçalves no Verão Quente de 75). Era esta a "ampla liberdade" que havia nos órgãos de informação a seguir ao 25 de Abril: muito menor do que antes dessa data porque os jornais e revistas eram quase todos da Oposição esquerdista, apesar da Censura.

Questuber! Mais um escândalo!