Portugal, em 1974, antes de 25 de Abril era dominado economicamente por umas "20 famílias", como escrevia a revista Time, em tom esquerdizante ( Martha de la Cal, correspondente) em 14 de Julho de 1975, em pleno PREC.
O Bloco de Esquerda escreveu ( obra colectiva, segundo indicam e dedicada à memória de João Martins Pereira, o guru ) um livro sobre "Os donos de Portugal", no qual pretendem demonstrar que " a burguesia portuguesa foi sempre incapaz de democratizar a modernização do país".
É esta a tese fundamental do livro que redunda numa colecção de factos que pretendem reescrever a História ( por lá anda o Rosas, da firma Rosas & Pereira, alfaitates do revisionismo histórico). Descobrem muito admirados que "os grupos económicos são famílias" como se isso fosse um atentado às teses de Feuerbach em que o homem é aquilo que come.
As famílias da burguesia nacional são um pesadelo para o Rosas & Pereira, vá lá saber-se porquê, fora dos cânones marxistas.
Numa nação com menos de 10 milhões de pessoas, tal fenómeno espanta-os e indigna-os de tal modo que esses "donos de Portugal", são apresentados como uma oligarquia que tomou conta dos recursos do país, sem deixar nada para os demais. "Eles comem tudo..." nasceu dessa ideia simplista.
A Realidade, porém, tem outros contornos e a alternativa que lograram implantar em 1975 a essa Realidade ainda mais.
Em 6 de Abril de 1974 o renovado Sempre Fixe um jornal muito antigo repescado ao olvido nessa altura, iniciava a segunda fase de publicação com um quadro revelador de quem eram então os "donos de Portugal", na vulgata marxista do bloco indefinido à esquerda. Os "grandes patrões" do Portugal de então estavam bem identificados, em relação ao volume de negócios ( receitas cobradas, não dívidas como depois aconteceu) e número de trabalhadores.
Este número que faria sorrir os editores da Fortune, mesmo de então, causava uma urticária aos marxistas de então, os Rosas&Pereira que militavam no PCP, na UDP, no PRP, na OCMLP e noutros grupelhos de ideologia patética, com gente crescida e formada em universidades.
Por causa dessa fúria comunista que começou logo a seguir ao 25 de Abril, como Marcello Caetano preconizava e tinha publicamente avisado, os media em geral e dominantes passaram a ideia que o que era nacionalizado é que seria bom, porque estava bom de ver e só os ceguinhos se recusavam a reconhecer: se era de todos, melhor para todos seria. E foi mesmo, não era?
Vejamos. Em consequência da Revolução de 25 de Abril de 1974, os "donos de Portugal" ficaram realmente assustados e alguns fugiram, mas poucos. Os que tinham capital a bom recato, lá fora, ( como agora o fazem sem alardes, aparecendo depois com as calças na mão a pedir RERT´s que os safem da cadeia democrática), ou seja os Salgados e Mellos e Britos e Champallimauds que eram verdadeiramente os que sendo donos do país, maior riqueza produziam para todos os nacionais e cidadãos em geral, acautelaram os seus teres e haveres em "valores mobiliários" e esperaram para ver.
Em Agosto, pensando que poderiam ainda ter algum papel importante a desempenhar na nova ordem "democrática" decidiram agir e propor publicamente um investimento conjunto na economia nacional da ordem de 120 milhões de contos que se multiplicariam se bem geridos.
A ideia era manter o sistema capitalista que tínhamos com os resultados que eram bons, para a época e manter a funcionar a economia desses "donos de Portugal".
Ora era precisamente isso que os Rosas&Pereira não queriam porque tal lhes desfazia os dogmas marxistas e as ideias de esquerda comunista que viam cada dia a florescer em Portugal, nos muros das cidades, vilas e aldeias, nas manifestações, nas reuniões em "pacto com o MFA e principalmente na ideia tentadora de experimentarem um "novo modelo" de socialismo nunca experimentado na Europa ocidental. Reinventar a roda, portanto, era o que os Rosas&Pereira queriam. E quase conseguiram reinventar uma...bancarrota em tempo record e digno do Guiness. Nunca se deram por achados, os Rosas&Pereira, por causa desse feito notável que em vez de os atirar para o olvido geral, os trouxe para as tv´s onde ainda peroram, sempre a chover no molhado.
Em 24 de Agosto o Expresso publicou uma edição memorável a vários títulos porque permite fazer o resumo de tudo isto que ocorreu num espaço de poucos meses da nossa desgraça colectiva, engendrada pelos Rosas& Pereira, como firma de demolições de um país e alfaiates dos fatos à medida marxista.
Em primeiro lugar o comunicado e as intenções do MDE/S permitem verificar o que pretendiam esses ingénuos: continuar um sistema que estava condenado por sentença transitada em julgado pelo Cunhal, Rosa&Pereira e outros próceres como os socialistas que acompanhavam o caminho da desgraça e do abismo económico. Pode ler-se o que diziam então "jornalistas da televisão" aos ditos donos de Portugal: "tinham que reaprender a sua profissão devido à nova situação existente em Portugal". Repare-se: são "jornalistas da televisão" ( os cesários borgas e outros borgas) quem dava conselhos aos donos de Portugal em jeito de ameaça. E os donos de Portugal reconheciam, envergonhados, que o regime deposto "coarctava a liberdade a liberdade de iniciativa privada como forma de sustentação daquele poder político". Isto era dito por um Luís Barbosa, mais tarde do partido "rigorosamente ao centro" da poltranice.
Ora em Agosto de 1974 a Economia, ainda no rescaldo do 25 de Abril, mas ainda em sistema capitalista como existia antes, era analisada no mesmo número do jornal deste modo:
E um certo Fernando Ulrich, filho e casado em boas famílias, dos tais donos de Portugal, escrevia então crónicas no Expresso.
Portanto, mesmo com estes sobressaltos cívicos a Economia nacional entrou em mutação acelerada nos meses seguintes, com o PREC comunista que afogou completamente os desígnios dos "donos de Portugal" em detrimento de uns novos donos de Portugal: o PCP e Esquerda em geral que tomaram conta das rédeas da gestão empresarial, agora do Estado e com a banca toda a ajudar porque nacionalizada também, assim tornada "banca do povo".
Pode dizer-se que em 11 de Março de 1975 e meses seguintes, os donos de Portugal foram liquidados e alguns até presos ( sem qualquer culpa fornada ou acusação legalmente sustentada, note-se). E que resultou da brilhante gestão que se seguiu, da responsabilidade dos novos donos de Portugal que ficaram com a faca e todo o queijo na mão para cortar a preceito? Cortaram os dedos...por incompetência, parvoíce e sei lá que mais. E estragaram o queijo.
Basta um pequeno exemplo sobre a Siderurgia que era de um dos antigos donos de Portugal. Aparece no Expresso de 20 de Dezembro de 1975 e é elucidativo por vários motivos. O primeiro é a verificação de um descalabro de gestão e um fracasso evidente dos novos donos de Portugal. O segundo é a As justificação do falhanço, com a culpa sempre alheia e a morrer solteira, como hoje, da nova elite, quase toda comunista. Os argumentos são de rir, mas a tragédia que se provocou não.
Em 1976 os novos donos de Portugal, depois de falirem completamente o país, pediram ajuda ao FMI:..
Mais e pior: um dos responsáveis pelo descalabro, Mário Soares, apesar de reconhecer a asneira e o fracasso das nacionalizações só permitiu a mudança do artigo da Constituição de 19756 que consagrava a irreversibilidade das nacionalizações e portanto a garantia constitucional para continuar a arruinar o país ( como agora) mais de uma dúzia de anos depois, com a revisão no final dos anos oitenta. Porquê? Porque quis ser ele a mandar e a ser um dos novos donos de Portugal até chegar a presidente da República. Com um aplauso geral. Alguns dos que aplaudiram eram antigos "donos de Portugal".
Como escreveu Álvaro Cunhal posteriormente, reconhecendo a vitória comunista sobre os "monopólios", tal como citado no último número de O Militante, de Maio/Junho 2013, "Portugal de hoje é um Portugal libertado dos monopólios e dos latifúndios. Um Portugal novo e melhor, democrático e progressista." Tal e qual.
Em 1977 Portugal, por Mário Soares, então primeiro-ministro, estendeu pela primeira vez a mão ao FMI, na iminência de uma bancarrota que só não ocorreu por milagre.Em 1983, o mesmo Mário Soares voltou a estender a mão e a repetir a dose, mais reforçada dessa vez.
E andamos nisto anos e anos. O Militante continua a explicar a razão para "outras políticas", como as de outrora...
A explicação para o falhanço é simples, segundo O Militante:
O capital monopolista nacional, cujas condições de rentabilidade tinham
sido afectadas pela crise sistémica, reagiu de forma directa, por via da
sabotagem económica e da fuga de capitais. O processo de
nacionalizações, da banca e de importantes segmentos da indústria
transformadora, encetado no pós-11 de Março de 1975, foi fulcral para
evitar o desmembramento de importantes sectores económicos e torná-los
alavancas do desenvolvimento económico e social nacional. Entre 1975 e
1977, a produção industrial nacional cresceu 17,5%.
A culpa é sempre dos outros. Dos imperialistas, dos reaccionários fascistas, dos burgueses, etc etc. Nunca é deles e da sua incompetência e desastrosa incapacidade de gestão económica.