domingo, junho 23, 2013

Como a Esquerda trouxe o FMI pela primeira vez a Portugal

Em 31 de Maio de 1975, escassos dois meses após a "liquidação dos monopólios" e da nacionalização da banca tornada então "do povo", Portugal estava na iminência de uma bancarrota anunciada. Havia dinheiro até Outubro mas apenas resultante de uma operações com reservas de divisas e que se adivinhava iriam esgotar logo a seguir.

Portugal não tinha saída económica e a viabilidade como país independente de ajudas externas acabou logo ali, nesse ano em que a Esquerda fez o que quis deste pobre país: nacionalizou a economia transaccionável como se diz agora,  liquidou o ensino técnico em nome de um igualitarismo balofo e parolo,  impôs calendários esquerdistas para as medidas políticas de vulto como a aprovação da Constituição com um preâmbulo digno das democracias populares de Leste, abandalhou o espectro político com grupelhos partidários de extrema-esquerda que impuseram discussões públicas e actos de descalabro ideológico ( casos República e Rádio Renascença),  que culminou no 25 de Novembro desse ano e abalou definitivamente a confiança dos agentes económicos, nacionais ou estrangeiros, no nosso país. Arruinou Portugal em menos de dois anos.

O Expresso desse Sábado dava notícias assim:

Em 22 de Novembro de 1975, no Expresso, António Sousa Franco, descrevia em modo resumido a ecomonia portuguesa e a ligação estreita aos políticos que a tinham destruído, particularmente até ao VI governo que Sousa Franco entendia como formados por incompetentes com "péssima administração" que tinham  esgotado a liquidez dos bancos de modo a tornar insustentável o destino futuro do país, sem ajuda externa. Todos os sinais eram negativos com excepção, talvez, das remessas dos emigrantes da época. o que terá evitado o pedido de ajuda ao FMI logo em 1976.
Dois anos antes, no governo de Marcello Caetano, estávamos já em dificuldades ( a entrar no chamado período das "vacas magras") mas nada que se assemelhasse a isto que nos aconteceu com os diletantes dos cinco primeiros governos provisórios e os comunistas e esquerda em geral a escorraçar os poucos capitalistas que ainda tínhamos e a liquidar de vez o sistema que não queriam para nada a não ser para engordar o capitalismo de Estado a caminho do socialismo e da sociedade sem classes. Isto era dito de modo muito sério por catedráticos de universidade e pessoas adultas com estudos lá fora...( Vital Moreira, por exemplo). A guerra noUltramar já tinha terminado e nem mesmo as poupanças derivadas das despesas do esforço de guerra que Cunhal tinha em 1972 apontado como causa de dificuldades económicas, lhes valiam para equilibrar as contas do país. Cambada de incompetentes maior nunca existiu em Portugal, a não ser recentemente...


Em Abril de 1976 o O Jornal publicou uma resenha de página sobre as propostas eleitorais para as eleições legislativas que se aproximavam ( 25 de Abril de 1976 para a A.R e depois para a presidência da República) . O O Jornal temia o "vento de direita" que se fizera sentir desde o 25 de Novembro do ano anterior...mas as propostas da tal "direita" inexistente eram todas no sentido da manutenção do status quo económico, com a manutenção e "irreversibilidade das nacionalizações".
A Esquerda mandava, toda poderosa, no caminho acelerado para a bancarrota, com o PS e o PSD a ajudarem e até o CDS se conformava com o "estatuto" das empresas nacionalizadas...
As propostas da UDP ( onde estava nessa altura o célebre político "hádem", de sua graça Jorge Coelho) são de rir.



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Em 23 de Julho de 1977 o mesmo O Jornal dava conta, num artigo de Francisco Sarsfield Cabral das nossas dificuldades económicas inultrapassáveis com as políticas que tínhamos que são exactamente, sem tirar nem pôr, as que agora os comunistas e bloquistas exigem pôr em prática como as tais "outras políticas" que não definem bem para não assustarem o pagode. Já então escrevia que " a situação não melhorou-piorou".
Mas como, se estavam liquidados os monopólios e a banca estava ao serviço do povo?! Como é que tal foi possível?!Então ainda seria o capitalismo monopolista e ladifundiário que nos arruinara, nas palavras do PCP, a mandar? Seria?


Em 12 de Agosto de 1977 já não havia quaisquer dúvidas: "medidas de austeridade mais tarde ou mais cedo..."

Quem é que nos (des)governava assim? Claro, o mesmo de sempre e que agora anda atoleimado da memória...ou completamente desavergonhado que aliás foi coisa que nunca o preocupou ou lhe tirou a soneca da sesta permamente.


Em 1 de Dezembro de 1977, o mesmo Sousa Franco em entrevista ao O Jornal fazia o retrato e o ponto da situação, numa entrevista, clara, concisa e precisa: evasão de capitais derivada das nacionalizações, desinvestimento nacional e estrangeiro, com opções de Plano "claramente muito à esquerda da social-democracia". E com aplauso daquele que anda sempre a dormir e perde a memória.
Sousa Franco explicava muito bem o problema do PS de sempre: " umas vezes o PS adopta posições que se situam muito à esquerda da social-democracia e outras vezes posições que se situam muito à sua direita". Está tudo definido sobre o PS. O actual, entenda-se.


Portanto, a recita do costume apareceu, trazida pela mão de Mário Soares: FMI à porta com lista de exigências. Tal como hoje. O Jornal de 5 8 1977 explicava: austeridade e muita por causa da "nossa dramática dependência financeira do exterior". Dois anos antes expulsaram os que tinham dinheiro, capital, e desprezaram a "oferta" de investimento privado que tinham para realizar...e quem é que o fez e é responsável por isso?
O PCP e o PS.


Esse mesmo PS que pela mente elaborada em ondinhas de cabelo pintado, pelo já então genial Constâncio que viu quase tudo o que havia para ver na nossa política económica, menos as soluções para a melhorar e evitar casos como o BPN, comentava um artigo do New York Times que nos punha na lama do opróbrio que nunca tivéramos antes por estes motivos. Constâncio sempre constante a um fulgor de inteligência rara que o catapulta sempre para postos de prestígio e rendimento constante, dizia estas coisas...



E o PCP, como é que explicava tudo isto? Do modo habitual: nada com eles. Tudo com a "direita", por causa da "política de recuperação capitalista do Governo", apoiada pelo PPD e CDS.
O descalabro evidente que se deparava com dívidas colossais no sector público, dívida externa crescente e monumental e balança comercial negativíssima, era tudo por causa da "política de recuperação capitalista" e nada por causa da política de esquerda que nacionalizara tudo e tudo pusera ao serviço do Estado. Lindo Estado!
Tal como hoje, o discurso do PCP não lhes fazia cair a máscara porque a condescendência geral era total. É um fenómeno estranhíssimo e único em todo o mundo ocidental, esta condescendência e tolerância para com nos arruinou à custa de ideologia balofa e fossilizada.

Álvaro Cunhal, aliás, já dissera publicamente aquando do 25 de Novembro de 1975, no mesmo O Jornal de 5 de Dezembro de 1975  que o partido não tivera nada com aquilo. Fora coisa "das chefias militares"...e assim ficou porque o PCP e Álvaro Cunhal em particular, nestes assuntos nunca se deram por achados e nunca ninguém lhes colocou as perguntas certas, directas e demolidoras sobre o que fizeram ao país em nome de uma ideologia marxista-leninista fossilizada e caduca. Os jornalistas portugueses nunca fizeram uma entrevista a Álvaro Cunhal em que as perguntas fossem suficientemente acutilantes para o colocar no lugar de mito com pés de barro. Nem sequer Maria João Avilez no Expresso dos anos oitenta ou noventa. Nunca, nem sequer na entrevista que concedeu ao Independente, com Miguel Esteves Cardoso. Nunca e na tv é que nunca por nunca. Acompanhei sempre essas entrevistas ao longo dos anos e nunca vi Cunhal a ser colocado no lugar que deveria ocupar por direito próprio: destruidor de um país através do comunismo em que acreditava e professava.

A troika Arménio Avoila e Jerónimo ( o tal do "livre arbítrio" a significar arbitrariedade...) continuam a apostar nas mesmíssimas ideias, nos mesmíssimos princípios e métodos e nos mesmíssimos receituários para "vencer a crise" e que, naturalmente são as tais "outras políticas", ou seja estas que por aqui podemos ver e ler. Não há ridículo que os mate porque têm o antídoto sempre à mão: a novilíngua que inventaram para aldrabar o povo.


5 comentários:

Floribundus disse...

a história não é 'o milagre dos rosas'
é encarnada cor de sangue ou de sangria.

se um FMI incomoda muita gente
3 FMIs incomodam muito mais

ardeu Tróia ( prostituta reles em Italiano)
ardeu a Roma de nero
arde a Turquia e o Brasil
no rectângulo ardem os contribuintes

depois do barreirinhas e do kerenski, vieram os seus sucessores do ps e da banca
chegámos a bancarrota

esvaziaram-nos os bolsos:
'rien a declarer'

josé disse...

Amanhã: a informação em 74-75

Vivendi disse...

Floribundus,

O seu comentário rendeu uma quadra joanina no Viriatos:

http://viriatosdaeconomia.blogspot.com/2013/06/quadra-joanina.html

José Domingos disse...

Só prova, que a esquerda, só consegue algumacoisa, com dinheiro dos outros.
Daí toda a esquerda, qerer mandar esta espécie de "governo" abaixo.
Para o ano há dinheiro fresco do qren.

lusitânea disse...

Os democratas há 40 anos que governam um país sempre em "crise" e nas bordas do precipício.Contudo têm-se dado muito bem na vida.Alguns sem eira nem beira tornaram-se patrões e monopolistas.E não é por serem poucos que Portugal tem sido mal governado...
A verdadeira crise está para vir.Agora sem "pesada herança" nenhuma vão ter que pegar os toiros pelos cornos...

O Público activista e relapso