quarta-feira, junho 26, 2013

A Igreja "reaccionária" e o comunismo em Portugal, 1974

Logo após o 25 de Abril, a Esquerda comunista tomou consciência que a Igreja Católica, em Portugal, em certas áreas para além da capela do Rato não iria aceitar o comunismo sem luta. E tinha razão. Por isso mesmo preparou a habitual estratégia de aranha porque o meio era hostil e a complexidade do assunto ainda mais. Não seria tarefa fácil a lavagem ao cérebro numa área do espírito em que a razão é suplantada por outro fenómeno psíquico mais intenso: a fé. O comunismo, aliás, percebia muito bem a dificuldade na tarefa e daí entrou com pézinhos de lá, à excepção dos fanáticos do Sempre Fixe e do Diário de Lisboa, dirigidos por um comunista ainda mais fanático, A. Ruella Ramos. 

Ainda assim, em 22 de Junho de 1974, quem iniciou as hostilidades foi a imprensa "mainstream", no caso o Expresso. A "reflexão pastoral" derivada da capela do Rato, estava em marcha. Acelerada.

Em Setembro de 1974 o mais fanáticos dos jornais cripto-comunistas, o Sempre Fixe publicava esta página muitissimo interessante e um documento único sobre o que se deve entender por "reacção" e outros mimos anti-clericais, de jacobinismo requentado e refogado. Estão aí identificadas todas as fontes inquinadas da "reacção" e que tiveram sequência logo no dia 28 de Setembro de 1974, com a queima de alguns dos jornais mencionados, em auto-de-fé, por essa Esquerda do fanatismo mais exacerbado.


 Por isso mesmo, o Sempre Fixe de 7 de Setembro de 1974 não tinha qualquer dúvida:



Na sequência dessa focagem muito precisa a página seguinte, do Sempre Fixe de 30 de Setembro de 74 não ilude ninguém nem deixa lugar a qualquer dúvida sobre o que o comunismo faria aos "reaccionários" da Igreja Católica, se tivessem oportunidade. A entrevista é com frei Bento Domingues, um articulista de jornais., hoje em dia e que dizia na primeira página: " a divisão não é entre católicos e ateus. É entre oprimidos e opressores". Então não é, senhor frade kerenski!

Perante este problema, o MFA e o comunismo aliado,. entenderam que deviam proceder a campanhas de dinamização cultural ( muito inteligente, de facto...) e aparece em 5 de Outubro de 1974 o seguinte no mesmo jornal: democratizar a Igreja. Com voto de mão no ar, certamente...


O centro do reaccionarismo anti-comunista situava-se então em...Braga. E o arcebispo ( mais tarde iria ter de baixar as calças no aeroporto de Lisboa para mostrar que não levava divisas escondidas para o Brasil...) D. Francisco Maria da Silva, um algoz anti-comunista incomodava demais.

E o Expresso de 21 de Dezembro de 1974( "perfeitamente inserido no processo revolucionário") fazia coro:



17 comentários:

josé disse...

Amanhã: mais informação sobre o Machete. Incrível.

Zephyrus disse...

Já antes da Primeira República o Sul era mui ateu ou jacobino e o Minho muito católico, com algumas «ilhas» mais conservadoras no distrito de Portalegre, na serra de Monchique ou numa ou noutra cidade litoral algarvia como Tavira. O Norte sempre foi uma pedra no sapato dos jacobinos e dos comunas. A senhora que limpa o condomínio é pobre e foi operária e diz que vota PS porque é o partido dos operários mas nunca votará em comunistas porque é católica. E isto é uma desgraça, pois não é a primeira operária ou sopeira que me diz isto. Outra disse-me: «o meu pai dizia-me, vota no Mário Soares que é pelos pobres». Aqui no Norte o PS conseguiu conquistar as classes mais baixas e o PSD não. E não tinha de ser assim. O papel da comunicação social neste processo explica muita coisa.

Zephyrus disse...

Jornais e TV criaram a figura do papão que é empresário fássista e quer «roubar» os pobres, e lá vem o PS e a comunada salvar os desfavorecidos. Algum patronato negreiro também teve culpa, bem como alguma pequena burguesia que vinha dos tempos em que não havia concorrência e enriquecia com esquemas. O pai de um que fez uma matrafisga com a venda de batatas tinha fama de enganar os analfabetos com o preço e o peso do açúcar e do café.

Zephyrus disse...

O processo continua e agora liberalizar a economia é ajudar o malvado patrão.

Estas canalha não percebe que sem liberalização e sem flexibilidade não há mobilidade social.

A linguagem comuna continua, agora renovada, a fazer a lavagem cerebral dos incautos, e de uma geração que já não é analfabeta e tem diploma.

josé disse...

Zephyrus:

Também é essa a minha análise e não preciso de ninguém do ISCTE ou do CES para mo explicar com teorias de caca.

Por outro lado atribuo a responsabilidade acrescida àqueles que não sendo socialistas nem comunistas contemporizaram com os mesmos e assumiram a sua linguagem como os Machetes e companhia. Até os Rebelo de Sousa, infelizmente.

Nada fizeram para desfazer o mito a antes pelo contrário contribuiram para o solidificar.

Quanto a mim essa poltranice é tanto ou mais responsável do que a lavagem ao cérebro da novilíngua.

Floribundus disse...

a Igreja foi sempre um inimigo a abater com a agravante de ser considerada rica e os fiéis continuarem pobres.

em 1910 confiscaram os bens que a Igreja acumulara depois da 'limpeza' de 1836.

o estado iluminista não consegue criar riqueza

o pessoal do norte, centro e sul confunde socialismo com bem estar social, seja crente ou não.

como todas a sociedades baseadas na condição humana também a Igreja tem frades domingues

'enquanto houver um português com um pão, a revolução continua'

Vivendi disse...

Por Olavo de Carvalho,

Caos e estratégia

Nossos liberais e conservadores lêem Ludwig von Mises e Friedrich von Hayek e, vendo que eles tratam o marxismo como uma pseudo-ciência econômica, concluem alegremente que ele não vale nada, não merece maior atenção. Acontece que o marxismo enquanto ciência e técnica da ação revolucionária não depende em nada da “base econômica” que nominalmente o sustenta.

Essa ciência e essa técnica são de uma exatidão assustadora e não podem ser compreendidas só com a leitura dos “pais fundadores” do movimento ou com a da sua crítica liberal: requer o acompanhamento de toda uma evolução do pensamento estratégico marxista, que começa com Marx e se prolonga até Saul Alinsky e Ernesto Laclau. Este último, invertendo a fórmula clássica das relações entre “infra-estrutura” e “super-estrutura”, propõe abertamente a tese de que a propaganda revolucionária cria livremente a classe da qual em seguida se denominará representante. Maior independência de toda “base econômica” não se poderia conceber. Aqueles que imaginam ter dado cabo do marxismo tão logo refutaram seus princípios econômicos se acreditam muito realistas, porque eles próprios são crentes devotos da “base econômica” do acontecer político, a qual os próprios marxistas já superaram há muito tempo. O marxismo deve ser estudado, em primeiro lugar, como uma “cultura”, no sentido antropológico do termo.

(continua...)
http://viriatosdaeconomia.blogspot.com/2013/06/caos-e-estrategia.html

Zephyrus disse...

A Igreja tem as suas ovelhas negras, mas creio que a Maçonaria portuguesa está de longe muito pior. Pelo que se vai lendo e ouvindo mais corrupta não poderia estar. Lamentável pois Maçonaria não é isto que há em Portugal.

Floribundus disse...

venho na lista dos maçons

escrevi ao GM em 98 que o GOL se tinha transformado numa
'sociedade protectora de ladrões'

nem eu nem ele fomos demitidos.
eu mandei-os à ... e vi-me embora

lusitânea disse...

Cristãos de base, paneleiros católicos sempre a mesma técnica de propaganda do salame.às fatias fininhas os gajos nem dão conta...

lusitânea disse...

Só com o novo império do bem agora só cá dentro, depois da entrega do outro que era lá fora, é que é uma chatiçe.Não é que os gajos são pretos?Dá-se logo por eles...

muja disse...

o pessoal do norte, centro e sul confunde socialismo com bem estar social, seja crente ou não.

É verdade.

Também a história da igreja ser rica dá pano para mangas.

No outro dia estava a conversa com alguém que papagueava vagamente a cassete do jacobinismo "moderado" (à la PS), dizendo que a Igreja devia pagar impostos, que os imóveis deveriam reverter para o Estado (para serem de todos, dizia), etc.

E eu perguntei-lhe se, ao reverterem para o Estado, após correrem o risco de serem adulterados ou de não serem convenientemente mantidos, se era bom que se alienassem depois ao preço da chuva, passando depois a serem propriedade privada, por exemplo.

E prossegui: sob alçada da Igreja, os imóveis são tão públicos quanto podem ser: a ninguém lhe é negado o uso, a ninguém é negada ajuda. Todos sabem que ali, naquele sítio, poderão sempre entrar, sejam pobres ou ricos. Se o altar é revestido a ouro, não é melhor estar ali o ouro, de que todos podem usufruir, que derretê-lo para pagar dívida, não aproveitando a ninguém?

Anuiu.
As pessoas dizem estas coisas mas nem pensam, é pura doutrinação. Mas é débil e passível até de ser virada contra o objectivo inicial, em explicando as coisas com calma.

O que o José diz é bem verdade: pior que os comunas e recauchutados rosas, são os outros; os que podiam, sabiam e deviam ter dito alguma coisa e que poderiam ter feito a diferença. Ainda hoje nada fazem ou dizem.

São tão ou mais prejudiciais ao país como os outros.

Kaiser Soze disse...

Tenho alguma dificuldade nas análises á Igreja Católica quando tratada como um monolito mas quanto ao comunismo a coisa não me parece de fácil análise.

A Igraja Católica quando analisada como sendo o Vaticano foi muito amiga de um outro regime ímpio que foi o Nazi.
Poderia elencar alguns (poucos porque não sei profundamente sobre o assunto) famosos e menos famosos nazis que vazaram para a América Latina via Vaticano.

O Vaticano, por motivos para mim imperceptíveis, nunca denunciou o nazismo, muito pelo contrário, como fez com o Comunismo.
Bem, no fundo acho que também não gostavam de judeus.

muja disse...

Lá vem V. dizer disparates outra vez.

É sabido que Pio XII denunciou o fascismo e o nazismo. Colaborou com e auxiliou a resistência e os refugiados - incluindo políticos - tanto em Itália, como em França e até no Vaticano e Castel Gandolfo onde acolheu milhares de judeus e dissidentes italianos, incluindo Pietro Nenni, líder socialista italiano que foi comissário das Brigadas Vermelhas na guerra civil espanhola.

Na França de Vichy, o cardeal Tisserant foi descoberto à frente de uma operação de impressão de documentos falsos, incluindo certificados de nascimentos, "permis" de trabalho, etc, com vista a auxiliar a emigração dos judeus.

De facto, as acções do Papa levantaram graves questões acerca da neutralidade da Igreja, sobretudo a sua colaboração com os comunistas.

Quando os alemães decidiram ocupar Roma, mandou selar a Grande Sinagoga com o sêlo papal e autorizou um encontro de Monsenhor Montini em 44 com Palmiro Togliatti, líder comunista italiano, com vista a elaborar um acordo entre cristãos democratas, socialistas e comunistas que permitisse dominar a política italiana que originou a descristianização de largos segmentos da sociedade italiana e redundou, ultimamente, no caso Mani Puliti.

Enfim, esse paleio é paleio cuja origem é bem específica e determinada e que se adivinha bem, pelo que nem lhe vou especificar a origem. São os mesmos do costume, acolitados pelos histéricos da ideologia que criaram. Ambos são useiros e vezeiros em morder a mão que os ajuda...

Olhe, leia isto:
http://www.amazon.com/undermining-Catholic-Church-Mary-Martinez/dp/B0006EZHKS
e evite dizer mais disparates de propaganda esquerdista.

Haverá muito por onde criticar a Igreja e, em especial, o Vaticano. Mas não é certamente por este motivo.

Kaiser Soze disse...

Eichmann & Ralines, por exemplo.
Sempre em doses pequenas que para ilustrar ignorância não se precisa de muito.

Kaiser Soze disse...

*Ratlines

muja disse...

Pois não, e V. ilustra perfeitamente a sua.

Atira com um lugar-comum. As ratlines... ahaha! Olhe, quer ratlines? Va à wikipedia ver o que foi a operação Paperclip. Os russos tiveram uma semelhante.

Leia o livro se quiser aprender alguma coisa. Senão continue a papaguear como a esquerdalha, e depois critique-os...




O Público activista e relapso