sexta-feira, junho 14, 2013

A reacção "fassista" e a linguagem comunista

Entre o 1º de Maio de 1974, data de inauguração oficial do PREC e o 25 de Novembro de 1975, Portugal foi uma "festa" para a Esquerda comunista em geral. Em pouco mais de um ano conseguiram arruinar economicamente o país, não logrando sequer aguentar o ritmo de produção que vinha de trás, apesar das várias "batalhas da produção" que dinamizaram, com a banca toda nacionalizada e os mais importantes sectores produtivos nacionais de igual modo nas mãos do Estado.
Tal como querem hoje em dia, apresentado tais receitas para resolver os problemas nacionais porque  nisso consiste as tais"outras políticas".

Nas semanas e meses que se seguiram a 25 de Abril de 1974, a linguagem corrente sofreu um corte abrupto com o passado recente e apareceram novas palavras que formaram a novilíngua revolucionária que ainda hoje usam exactamente com os mesmos termos e sentido.

Nas semanas que se seguiram ao 25 de Abril já vimos anteriormente, através das declarações públicas do economista esquerdista, contratado pelo MFA para orientar os destinos nacionais da época, Francisco Pereira de Moura, que havia "sabotagem económica" das entidades privadas e da banca. Fuga de capitais, desinvestimento, perda da confiança dos empresários, etc. não assustaram em demasia o novo poder que cada vez era mais "popular" e de rua, tal como hoje pretendem de novo vir a ser, lutando todos os dias por isso com denodado esforço da troika Avoila, Arménio e Jerónimo, agora com o apoio do Nogueira.
Assim, a novilíngua comunista passou a veicular os termos e conceitos nos media e nas declarações televisivas dos próceres.

Em Julho/Agosto de 1974, alguns empresários de vulto do nosso país, muitos deles pertencentes à "meia dúzia" de famílias do capitalismo português que o comunismo e o PCP em particular apodava de monopolista e fascista, abertamente, queriam investir. Investir cá, com dinheiro que tinham, em empresas e projectos de vulto para desenvolver o país. Coisa que agora nem temos.
O projecto intitulado MDE/S foi apresentado por Morais Leitão que actualmente capitaneia outra das grandes firmas de advocacia do regime, com a vantagem de nunca ter sido "esquerdista" como um Vasco Vieira de Almeida, um Galvão Telles ou uma série deles que andam por aí a acolitar o Estado na parecerística.

O Sempre Fixe, jornal cripto-comunista dirigido por A. Ruella Ramos, fazia-lhe literalmente a folha deste modo, na edição de 31 de Agosto de 1974.




Foi esta a última tentativa de o sistema capitalista português que até então permitia que o país crescesse economicamente em taxas acima da média europeia ( 6, 7 e até mais de 10%) continuar a vigorar em Portugal, depois do 25 de Abril de 1974. A economia portuguesa depois disto que aconteceu em Julho/Agosto de 1974 e em 11 de Março de 1975 nunca mais foi a mesma coisa e os capitalistas que fugiram ( alguns foram presos, sem culpa formada alguma mas apenas porque eram "fassistas") quando regressaram, em finais dos anos oitenta, nunca mais conseguiram fazer o mesmo que faziam porque o sistema pura e simplesmente tinha mudado e quem o mudou foram os comunistas com apoio activo do PS e sem grande resistência de outras forças políticas que aproveitaram logo os lugares disponíveis nas empresas públicas para colocar o pessoal partidário e apaniguado. os últimos 39 anos têm sido exactamente um reflexo do que aconteceu nessa altura e que obliterou por completo a relação de forças sociais em Portugal, com um Estado agigantado e uma iniciativa privada atomizada e sem monopólios que não os naturais.

Portanto, a  intenção daquele grupo do MDE/S era clara, patriótica até e não havia nada na manga a não ser manter o sistema capitalista que tínhamos, com uma intervenção do Estado reguladora e interveniente no que era preciso segundo os valores da época. Obviamente que não era isso que o comunismo e o PCP pretendiam para Portugal e só a ameaça de tal projecto punha seriamente em causa os objectivos que o comunismo e o PCP tinham gizado para o nosso país, antes até do 25 de Abril de 1974 e para tal basta ler o que Cunhal dizia na entrevista de 1972 aqui já mostrada.

Portanto, o MDE/S era um empecilho perigoso e inútil para tal desiderato que cumpriram em 11 de Março de 1975, sem oposição de maior ou até mesmo sem qualquer oposição porque o que Spínola tentou fazer em 28 de Setembro de 1974 e mesmo em 11 de Março de 1975, numa reacção tosca a um golpe comunista, foi inconsequente e trágico.

Para atingir o objectivo de conduzir o "povo" a aceitar pacificamente a matança da economia, o que foi plenamente conseguido, como o próprio Cunhal confirmou depois em vários discursos, também já por aqui transcritos e aparecidos no último número de O Militante, do PCP ( Maio/Junho 2013), a linguagem usada era clara e ao mesmo tempo mistificadora.

Em  finais de Setembro de 1974 perante os desmandos crescentes da "rua" comunista, algumas figuras restantes do que tinha ficado para trás em 25 de Abril de 1974, entre os quais o próprio general Spínola ( e também Galvão de Melo) que talvez arrependido, tentava retomar o caminho do reformismo encetado, mesmo sem quaisquer laivos de retoma do regime anterior, tentaram apelar a uma maioria silenciosa que julgavam permanecer no país, à espera que alguém a chamasse. Enganaram-se bem porque essa tal maioria já não existia enquanto força activa uma vez que a Esquerda logrou espalhar o vírus do esquerdismo mais chão a toda uma camada da população despolitizada e que acreditava muitas vezes no que lhe diziam ( menos nos comunistas que tiveram pouco mais de 10% nas eleições de 25 de Abril de 1975) colocando muitos ovos no cesto socialista que lhe parecia oferecer garantias de democraticidade autêntica e ao mesmo tempo progressismo a pataco. Tem sido este, aliás, o mote de sempre do PS: progressismo vendido a pataco, na campanha eleitoral e realismo traiçoeiro na governação, depois dos votos no papo. Não vai ser diferente desta vez e a prova é que Seguro até aceitou ir a Bilderberg...copiando o que Hollande anda a fazer em França.

Mas a linguagem mediática, essa, era de pólvora e escopeta e não era mera retórica, como agora as palermices do Arménio.

Depois da tentativa de retoma frustrada de uma putativa  "maioria silenciosa" , os jornais afectos ao PCP e esquerda em geral não se fizeram rogar na novilíngua e foi então que Cunhal, pela primeira vez ( e única) proclamou publicamente algo que revela toda a intencionalidade da violência e repressão comunistas, uma vez no poder e tal como aconteceu em todos, mas mesmo todos os países que caíram sob o jugo comunista sem qualquer excepção:

Assim, na página 10 do Sempre Fixe de 30 de Setembro, a ideia era simples: o PCP a falar em "democracia" que "a reacção" ( leia-se a tal maioria silenciosa que era nada e Spínola que deixar de ser e ainda outro militar da Junta de Salvação Nacional que tomou o poder em 25 de Abril de 1974, Galvão de Melo que era apresentado como um perigoso fascista ao serviço sabe-se lá de quem...) e o PS a falar em "crime" dos "inimigos da democracia" ( Spínola que ainda dois meses antes era um herói nacional pelo que fez em prol do 25 de Abril foi transformado em marionete dos "inimigos da democracia" e mais que isso: terrorista contra a democracia, a soldo de alguém com "vasto apoio financeiro" ( provavelmente os do MDE/S).  O PS acaba em tandem com o PCP: " a vigilância popular será bastante para barrar o caminho à reacção"...isto foi o PS que disse...em comunicado, ao mesmo tempo que pensava em meter o socialismo na gaveta como sucedeu dali a meses. 



 Na página 11, logo a seguir, o menu principal: "partir os dentes à reacção" evidentemente era um eufemismo. De algo que poderia ser comparado ao que Salazar dissera uns anos antes: que era melhor dar meia dúzia de safanões a tempo para prevenir coisas destas. No entanto, na comparação, Cunhal sai a ganhar e com pontos de avanço tendo em atenção o que então sucedia na RDA, na URSS, na Roménia, na Checoslováquia, em Cuba, etc etc, tudo países em que a repressão política e os métodos da polícia política deixavam a milhas de distância a violência suave da PIDE...



E não se diga que era só o cripto-comunista Sempre Fixe a proclamar o medo do regresso do fascismo e outras atoardas. O Diário de Lisboa desse dia, fazia manchete com o mesmo tipo de linguagem:

E o oficioso Diário de Notícias também:

Por causa desta deriva comunista com os compagnons de route do PS à ilharga do PCP, as coisas aqueceram até ao Verão quente de 1975, altura em que finalmente o PS e Mário Soares em concreto perceberam mesmo a sério o que o PCP queria mesmo realmente: o comunismo socialista sem tirar nem pôr, aqui em Portugal, em 1975, a seguir ao 25 de Abril de 1975 que acabou com o regime autoritário anterior.

Nessa altura, aquid´el rei que os comunistas não prezam a liberdade, querem ficar com o nosso República e até querem acabar com a unidade sindical em nome de uma central única que é a deles ( a CGTP já tinha nesse tempo a tendência hegemónica de representar todos os trabalhadores e classe operária; a UGT, essa, era mais burguesa... e por isso era preciso acabar com a burguesia: Hoje, o Silva que dirige a central, é empregado do Salgado do BES que lhe paga o salário todos os meses).

Em Junho, Cunhal tinha dito à jornalista Oriana Falacci que Portugal nunca teria uma democracia parlamentar tipo europeu. Cunhal acreditava mesmo na hipótese...e por isso os jornalistas estrangeiros interessaram-se por este pequeno país em deriva para o comunismo puro e duro do bloco de Leste ( o esquerdismo infantil das UDP, MRPP, PCP ml, PRP, etc etc, seria esmagado como o foi em todos os países comunistas).

Em 5 de Julho de 1975 o Expresso dava conta de um encontro no hotel Altis, em Lisboa, entre Cunhal e Soares para gravar declarações conjuntas para uma emissão de tv francesa da ORTF.
Escreve o jornal sobre "Mário Soares empenhado em mostrar que é socialista, Cunhal insistindo exaustivamente nas "amplas liberdades democráticas, sem, no entanto, as definir". Tal como agora, com a "democracia avançada...e outras expressões castiças do nacional-comunismo. 

E, claro, lá veio à baila o caso República e as tais declarações prestadas um mês antes, à jornalista italiana, já falecida e por aqui já comentada.


De tudo isto o que mais impressiona passados estes anos é como a História se repete com estes mesmos protagonistas e com um discurso um tudo nada diferenciado porque apesar de tudo os tempos são outros. Porém, os objectivos são sempre os mesmos: desestabilizar a democracia burguesa que temos, em prol de outra coisa que agora já não poderá ser a democracia popular comunista de então, dos anos setenta, mas anda lá perto porque as mesmas causas, nas mesmas circunstâncias tendem a produzir os mesmos efeitos.

E as causas agora são as mesmas: desinformação, ignorância do povo em geral, mentira descarada como propaganda habitual, domínio dos media em geral e da linguagem em particular.
Os efeitos tenderão a ser os mesmos igualmente, porque as circunstâncias apesar de diferentes apresentam uma semelhança: economicamente estamos de rastos, muito por causa do que os mesmos fizeram em 1974-75.

Há um efeito, porém, que também se verificou na época: as pessoas não são tão estúpidas quanto parecem e o PCP as toma como tal. Embora actualmente pareçam um pouco mais estúpidas do que antes, porque tiveram o tempo todo para saber quem é e o que quer o PCP: destruir a economia, empobrecer Portugal para reinar politicamente. Só isto e claramente.

Questuber! Mais um escândalo!