Rosas & Pereira, historiadores revisionistas do nosso passado recente, entendem que no tempo do Estado Novo ( que estendem até 1974) havia uma "Política do Espírito" e " a propaganda pensada em termos muito modernos (...) utilizando também teatro de massas para analfabetos", conforme o sócio Pereira escreveu na recensão crítica do livro do sócio Rosas e que o Público deu à estampa recentemente.
O tal "teatro de massas para analfabetos" deve ser o teatro de revista, tão criticado pela intelectualidade dos Rosas & Pereira como o futebol, verdadeiro ópio de um povo adormecido pelo fado e encantado por Fátima.
O problema de Rosas & Pereira, porém, é sempre o mesmo: a Realidade. A maldita realidade existiu e apesar de os mesmos a tentarem reinventar segundo memórias adulteradas pela perseguição do "fassismo", foi diversa daquela que contam. E porque não contam a Realidade, inventam historietas para papalvo ler.
Ora aqui ficam então jornais da época com os cartazes dos espectáculos disponíveis em diversas épocas, para mostrar a Rosas & Pereira como era, já que manifestamente não se lembram e inventam recordações.
Começamos em 1970 com a edição do Diário Popular de 2 de Outubro desse ano, uma Sexta-Feira. A par de uma revista com "Pimenta na língua", o indígena tinha ao dispor, no mesmo dia, A Relíquia, de Eça de Queirós ( para adultos) e até O Processo de Kafka ( para homens livres, segundo o anúncio). Resta dizer que a tal Pimenta na Língua era protagonizada, entre outros por José Viana, um comunista. Precisava de ganhar a vida, já se vê...e a revistinha era certo e contado.
No ano seguinte, em 19 de Outubro de 1971, o espectáculo de revista era sofisticado...com um "vison voador", no "3º ano de susexo" e protagonizado por reaccionários tipo Raul Solnado ou Io Apollini ou mesmo Artur Semedo. E também a par desse espectáculo havia "O aniversário da tartaruga" tipicamente um espectáculo para os ignaros e pobres de espírito, enfim, "um teatro de massas para analfabetos", mas protagonizado por outros fassistas reaccionários como Pedro Osório, ou um Rui de Carvalho, na altura assinando ainda com i e não se queixando ainda das pensões...
Em 4 de Janeiro de 1972, o Diário Popular mostrava um importante "pogresso" na educação das massas ignaras e analfabetas do tempo da "obscuridão" e repressão: havia um Shaekespeare para ver...mas era lá fora. Por cá, a par de um Ó Zé aperta o cinto", em que já aparecia outro "fassista", Nicolau Breyner e ainda outra, Ivone Silva, e um Vítor Mendes, pai de um fustigado ( pelo Pacheco que não perde ocasião para o aviltar profissionalmente) animador de um concurso televisivo, havia uma alternativa para os Rosas & Pereiras verem, se quisessem trocar o certo pelo duvidoso: " Quem tem medo de Virgínia Wolf", protagonizado por Jacinto Ramos ( outro comunista) e Glória de Matos.
Nesse mesmo dia, o cartaz do cinema mostrava uma ampla possibilidade de escolha que agora nem há. É que o obscurantismo "fassista" era tão terrível e cinzento que as pessoas preferiam meter-se nas salas escuras a ver cinema...
Em26 de Junho de 1973 outro salto qualitativo em direcção à "coltura": podia-se ir à Comuna e ao TEC para ver Fuenteovejuna, muito apreciado pelos Rosas & Pereira. E na Gulbenkian ainda havia bailado...hoje já não há. Maldito "fassismo"!
E em 20 de Novembro de 1973, no mesmo Diário Popular, um lapso da censura: deixou passar o nome "Brecht". Olhá distracção, ó Rosas & Pereira! Brecht! Em Espanha, claro.
Por cá, havia "Tudo a nu", com alguns protagonistas que depois do 25 de Abril se tornaram "revolucionários" da esquerda antifassista...porque nessa altura se arrependeram de andarem a contribuir para o analfabetismo popular. Vira-casacas? Nã...a esquerda nã tem disso, camarada.
E em 1 de Janeiro de 1974 o Século, órgão oficioso do regime ( como hoje) publicava uma página inteira sobre os espectáculos disponíveis. Tudo para a "alienação"; tudo contribuições do regime para o analfabetismo atávico do povo português. Até vinha o anúncio ao "Lágrimas e Suspiros do Bergman, filme para analfabetos produzidos no marxismo. Sim, porque isto era em Lisboa. Na chamada "província", por exemplo, na saloia Marmeleira, a cultura jorrava em fontes límpidas e no Porto, aparecia debaixo de capuzes e em panfletos a proclamar a revolução popular em pó chinês ou albanês e a vituperar o maldito "fassismo" que não deixava as massas acederem à verdadeira cultura popular: a chinesa e albanesa, de preferência, para o Rosas & Pereira.
Pobres Rosas & Pereira. Sempre que se lembrassem de publicar estas ideias novilinguisticas sobre a semântica salazarista, deviam pensar em poder levar com um balde de estrume pela tola abaixo, para ver se se lhes adubariam as meninges. Como os tais analfabetos faziam nas aldeias...ou então, para evitar ofensas radicalizadas a almas sensíveis, mesmo marxistas, adubar os escritos com o mesmo húmus, em vez das tolas.