segunda-feira, janeiro 20, 2014

As "forças da reacção" nos anos setenta

Logo depois de 25 de Abril de 74, praticamente nos dias seguintes, começou a ouvir-se em Portugal uma nova linguagem trazida de fora e que por cá só circulava nas catacumbas dos crentes no comunismo.
Antes dessa data, a perseguição aos neófitos fazia-se em nome da subversão e do próprio conceito de comunismo, cuja designação era o supremo ultraje a pessoas de bem e da situação.
Logo a seguir, inverteram-se completamente as designações e as palavras malditas e ultrajantes passaram a ser "fascista" e "reaccionário", associadas ambas ao regime anterior,  o que implicava muitas vezes sérias consequências pessoais e profissionais, como a de ser "saneado", outra palavra inventada a propósito da nova situação.

Os inventores desta novalíngua foram naturalmente os comunistas, mestres na prestidigitação verbal, tal como denunciada por Orwell no final dos anos quarenta do século XX no seu livro 1984. A "luta pela paz" e a própria noção de "democrático" passaram a conter significados estranhos ao entendimento comum, gerando equívocos que ainda perduram.

Assim, as palavras "fascismo" e "reacção" foram aquelas que passaram a uso corrente na linguagem mediática adoptada como norma linguística de designação criada pelo partido Comunista e secundada imediatamente pelo partido Socialista, para além, claro, de toda a horda de integrantes da extrema-esquerda que os do "Partido" acantonavam numa suposta doença infantil de que tratariam a seu devido tempo, se lho tivessem concedido.

1974
Cunhal numa primeira entrevista ao Diário de Notícias de 22 de Junho de 1974 esportulava já amplamente as liberdades linguísticas. Torna-se muito curioso ler que Cunhal, nesta fase ainda não acreditava nas virtualidades do projecto revolucionário e dizia que "embora confiantes numa democratização da vida portuguesa, se as condições nos forçarem a isso, voltaremos de novo a ser clandestinos". Como é sabido o destino não nos concedeu essa sorte...


 Na mesma altura, um espectador da RTP queixara-se a um membro da Junta de Salvaçãp Nacional e um crítico de tv fazia-lhe logo o retrato fotomaton: fascista. Assim, tal como publicado no Mundo da Canção de Junho de 1974, repescando o artigo de Correia da Fonseca ( um comunista retinto) no jornal República de 28 de Maio de 74)


O visado membro da JSN era o general Galvão de Melo que dera acolhimento aos queixumes fascistas...

Em 28 de Setembro de 1974 ficaram definitivamente cunhados os  termos "reacção" e " fascismo"  que pasaram à linguagem corrente usada no Expresso, tal como a edição desse dia mostra. Nunca mais deixaram de ser usados nos media portugueses, como se tal fosse normalíssimo e usual, lá fora.


1975.

Num discurso em  Almada, em Agosto,  o então primeiro-ministro Vasco Gonçalves, militar que começou por admirar a Suécia e a Itália e acabou ancorado ao sovietismo mais estalinista, dizia que havia " pasquins" como o Expresso e o Jornal Novo que não queriam o socialismo...tal como contava o Expresso  


 1976.

Na corrida presidencial tal como conta o O Jornal em 28 de Maio de 76, o esquerdista ( MES) César de Oliveira achava que não havia candidatos de direita...





Ao mesmo tempo  o jornal A Rua era processado por ser "fascista"...


1977.

Em 11 de Março de 1977 O Jornal mostrava que aquele Galvão de Melo endoidecera. Tinha visto a tragédia com os retornados e tivera o topete de denunciar e chamar traidores a Melo Antunes, Costa Gomes e Vítor Crespo. Se fosse na URSS tinha sido internado...

1978.

Neste ano foi finalmente aprovada uma lei sobre "as organizações fascistas" e definidas estas de um modo curioso. É ler O Jornal de 1 de Setembro de 1978.


João Martins Pereira, o guru do BE actual, perorava no O Jornal de 11 de Agosto de 1978  sobre o que era a esquerda e a crise da mesma...tal como hoje.


Em 25 de Agosto de 1978 Álvaro Cunhal reafirmava novamente a sua nomenclatura política sobre o que entendia por forças da reacção e fascismo...

1979

Em 14 de Dezembro de 1979 ao tempo das eleições que deram a vitória à AD de Sá Carneiro este era definido por Cunhal como um fascista, sem mais aquelas. A AD era a Aliança Reaccionária...

Em 30 de Novembro desse ano, o partido Comunista afiançava publicamente, sem ninguém se rir de tal coisa que "votar na AD era votar no fascismo".

Portanto, as palavras "reacção", "reaccionário" e "fascismo" estavam já amplamente cunhadas por Cunhal no final dos anos setenta e os media que havia, davam ampla divulgação, tornando-se a linguagem usada e corrente para designar a "direita". Como vimos, esta "direita" definida pela esquerda comunista,  ia de uma certa franja do PS ao CDS . O PDC ( proibido de concorrer às eleições de 75) e o MIRN esses eram simplesmente fascistas e de extrema-direita, ultrajados por isso e desprezados nos media, incluindo o de Balsemão.



Questuber! Mais um escândalo!