terça-feira, janeiro 21, 2014

A direita-bibelô em Portugal

Portugal tem uma direita-bibelô que a esquerda arranjou para pôr no canto da sua sala de estar que é o país. Dá-lhe muito jeito decorativo ter assim uma Direita, para alardear democracia e por isso a trata com o desvelo necessário sempre que escreve sobre a mesma.
Em 16 de Julho de 1983, escassos nove anos após a Revolução, o Expresso, o exemplo actual da esquerda meme,  tentava mostrar o que era a então "direita" portuguesa. O artigo é assinado por um fugitivo da extrema-esquerda, João Carlos Espada, depois convertido ao liberalismo de Hayek,  o que permite aquilatar a objectividade, isenção e distância política da análise em causa.
Marcelo Rebelo de Sousa ( em 14 de Novembro de 1981 o Expresso dedicara um número especial ao estudo do "facto político", convocando-o para testemunhar por escrito...) dizia então que a "família da Direita" precisava de se rearrumar. Quem? Os conservadores e os neo-liberais. E quem eram estes? Ora...

 José Miguel Júdice ( em 1986 era o mesmo...mas dez anos depois transformara-se  num "homem novo") afirmava-se claramente de Direita. Um certo Sottomayor Cardia escrevia então num livro que a diferença era a de a Esquerda ser pela Justiça e a Direita pelos privilégios. Tal e qual e ninguém se ria porque continuam a dizer o mesmo.



Para ajudar a compreender as diferenças,  o Semanário de 3 de Dezembro de 1983, precisamente no seu número 2 e no seguinte, publicou uma entrevista imaginária com Sá Carneirol falecido em 1980 e organizada de "recortes" de outras entrevistas e textos da sua autoria para lhe adivinhar o pensamento futuro.
O exercício merece leitura e amanhã publico a segunda parte.

Há quem queira referir o aparecimento do Semanário no final do ano de 1983 como um reflexo da retoma da "Direita", até sob o ponto de vista cultural. Não me parece que assim seja e basta ler o editorial do seu director Victor Cunha Rego. A linguagem não era de direita, apesar de parecer...e assim,  o que o Semanário representou, quando muito e na minha opinião, foi a chegada do arrivismo ( passe a figura)  financeiro dos anos oitenta que permitiu um certo boom económico e editorial. Ora o dinheiro investido em jornais não representa direita alguma.  O PS fartou-se de torrar dinheiro, algum estrangeiro, em aventuras editoriais que faliram todas, por incompetência lendária dos seus gestores. O Independente, nesta sequência lógica,  viria a seguir.  Só isso e foi muito pouco. Uma certa Direita, sim, mas não a Direita que reconheço como tal, porque tisnada de esquerda e com a mesma linguagem. Ah! Já me esquecia: em 1983 Portugal encontrava-se na iminência de mais uma bancarrota. Mas havia dinheiro para projectos editoriais...

 















Questuber! Mais um escândalo!