quarta-feira, janeiro 08, 2014

Futebol: o que dizia o fundador de A Bola, António Lopes Ribeiro

O fundador do jornal A Bola é este que aqui escreve no Observador de19 de Novembro de 1971.Deve ser uma coisa difícil de engolir aos alegres que escrevem poemas ao futebol. A maior parte das pessoas não sabe quem foi António Lopes Ribeiro, mas devia saber porque foi um indivíduo que filmou o tempo de Salazar e algumas cerimónias públicas que foram então organizadas. Por tal foi apontado pelos "memes" como cineasta do regime de Salazar.  Para além disso quem já viu filmes portugueses como O Pai Tirano, pode saber que o deve a António Lopes Ribeiro. Para além de cineasta foi também jornalista e cronista. E escrevia assim, sobre futebol, demonstrando que o desporto-rei afinal só a partir dessa altura se tornou um verdadeiro desporto de massas e massas, nos dois sentidos da expressão. E a culpa não foi certamente do Estado Novo ou de Salazar, mas apenas da cobiça em ganhar os cobres contados aos milhões, escondendo sob uma capa farisaica, a má-consciência de serem eles mesmos a tornar esse desporto  um factor de "alienação" que imputavam ao regime...


António Lopes Ribeiro morreu em 1995 e em12 de Outubro de 1983 o Sete entrevistara-o, numa altura, cerca de dez anos após o 25 de Abril em que se tornaram a mostrar ao público mediático algumas figuras que tinham passado pelo regime de Caetano. Parecia que tinha chegado um tempo de reconciliação dos portugueses com o seu passado mas foi sol de pouca dura. Bastou chegarem os arrivistas formados nos isctes e escolas de jornalismo a la minute para se olvidarem novamente alguns que foram importantes para a nossa memória colectiva. Como Eusébio, precisamente.

 António Lopes Ribeiro não teve ninguém que se lembrasse de o colocar no Panteão, mas não precisa de tal coisa porque a obra que deixou é o seu próprio Panteão.

Aliás sobre futebol e o mito Eusébio, outro artigo no Observador de 3 de Setembro de 1971 explica o fenómeno dos que vinham do Ultramar  para a Metrópole jogar em clubes. Não havia mistério algum: em Angola e Moçambique os bons jogadores apareciam quase por geração espontãnea, como escrevia então Meirim. Estranho mesmo é que o filão que parecia ser natural e inesgotável se tenha exaurido. Não aparece ninguém, agora, vindo das "antigas colónias". Tirando o Mantorras...porque será? Era o "colonialismo" que segregava talento entre os jovens filhos da terra da África portuguesa?

Porém, para colocar as coisas no seu devido sítio, é preciso não esquecer que nessa altura não havia a clubite de hoje associada a um nacionalismo serôdio e bacoco em considerar os nossos como sendo sempre os melhores do mundo e arredores. Tal como a palavra "orgulho", uma palavra pouco digna, não era usada e abusada como hoje o é.  Na altura o ceptro de rei do futebol era de Pelé. Ontem e hoje, como escreve o Observador de 30 de Julho de 1971.


Questuber! Mais um escândalo!