Quando ocorreu a revolta militar de 25 de Abril de 1974 que depôs Marcello Caetano e o regime de Estado Social que este chefiava, os media internacionais mais importantes deram-nos uma atenção impressionante, com capas de chamada logo nos dias seguintes.
O jornal Le Monde, vespertino ( dantes os jornais saíam de manhã ou à tarde), deu a notícia no próprio dia 25 de Abril e fê-lo sem qualquer margem de dúvida sobre a orientação geral da imprensa europeia da época:
"Entre as aclamações da multidão, um movimento das forças armadas toma o poder em Portugal. Um governo provisório deverá dirigir o país até à organização de eleições livres". ( citação tirada do livro que a seguir se refere).
A única palavra a mais nesta notícia está no adjectivo "livres". O diário de Paris teria já por cá um correspondente ( José Rebelo?) virado para o lado social...ista.
Não obstante, quase todos os jornais da época e daqueles dias, enfatizam a viragem política para a Liberdade por oposição à Ditadura do regime anterior.
Quem prova isto mesmo, através de imagens e texto é um livro recente de Joaquim Vieira/Reto Monico sobre "o 25 de Abril e o prec na imprensa internacional", intitulado "Nas bocas do mundo" e que recomendo vivamente a consulta porque tem grande profusão de imagens e ilustrações de cartoons da altura, tirados de jornais e revistas consultados pelos autores em bibliotecas de várias capitais europeias ( Paris Londres Viena Genebra e Berna). Que maravilha deve ter sido consultar estes exemplares de imprensa da época, in loco, com esta finalidade, tal como escrevem os autores na introdução ao livro. Ser pago para se fazer o que se gosta, com utilidade para todos, é privilégio raro que me contenta porque é assim que pode haver harmonia nas coisas.
Ficam algumas imagens da imprensa internacional da época que atestam bem a importância que foi dada ao Movimento dos Capitães e à revolta do dia 25 de Abril de 1974.
O livro, essencialmente documental, atesta sem margem para dúvidas que a generalidade da imprensa estrangeira da época não estava com o regime deposto e sim com a mudança operada. Como escrevem os autores " as críticas ao anterior regime português reuniam unanimidade quase total, mesmo da parte da imprensa conservadora".
Isto é um facto fundamental para se entender o contexto em que ocorreu o 25 de Abril de 1974 no panorama europeu da época. Com o recuo do tempo, porém, será possível analisar melhor quem tinha razão de fundo no exercício do poder político e nas ideias que se transmitiam publicamente, no caso pela Televisão, em "conversas de família". Essas ideias deveriam ser melhor estudadas e comentadas, coisa que em Portugal, nos últimos 40 anos, raramente se fez e quando fez, foi sempre para criticar negativamente o anterior presidente do Conselho.
No entanto, se na época a imprensa internacional estava também com o MFA do dia 25 de Abril, não estava com o novo poder desse mesmo MFA que durante os meses de 1974 e até finais de 1975 tentou impor-se em Portugal: o comunismo puro e duro do PCP e dos doentes infantis que o acompanhavam e seriam devidamente tratados no seu devido tempo, pelos métodos expeditos e estalinistas do PCP. O Diário de Notícias da época é uma prova desses métodos.
Tenho por cá algumas das publicações mostradas abaixo. Uma delas, a brasileira Manchete de Maio de 1974 e um número da brasileira Veja, com um artigo muito extenso, em Outubro do mesmo ano. O jornalismo brasileiro da altura era mesmo de referência, parece-me.
As imagens que seguem são todas do livro de Joaquim Vieira/Reto Monico e são as únicas a cores, publicadas antes do texto que ao longo de mais de 300 páginas mostra ainda muitos outros cartoons a preto e branco e bem elucidativos do modo como os estrangeiros nos viam.
Livro a não perder por quem se interessa por estas coisas e custa pouco mais de vinte euros, valendo todos os cêntimos do dito preço. Por outro lado, apesar de Joaquim Vieira ser um autor melífluo na abordagem temática ( plantou Mário Soares ao chão com a descarga eléctrica que lhe aplicou por escrito, na biografia que lhe fez, não passando em claro o escândalo de Macau e Rui Mateus) não se nota aqui muito a escola dos Rosas&Pereira ou mesmo Flunsers ou a agora incrível Raquel Varela que tem um novo livro que é um nojo. Isso mesmo: um nojo. Porque indispõe qualquer espírito livre e de boa fé.
O cartoon de Siné, abaixo publicado com a bandeira repartida e a parte vermelha retirada pelas raquéis varelas da altura, deveria merever um prémio porque é dos melhores de sempre na sintetização, numa imagem simples de tudo o que ocorreu nessa altura de 74-75.
E agora repare- se na subtileza dos títulos dos jornais de referência da época e os correios da manhã da mesma altura:
21 comentários:
Caso ainda não conheça, recomendo-lhe o livro de Max Wery, embaixador belga em Portugal no ano de 74, "E assim murcharam os cravos". Isento!
o rectângulo foi um ensaio idêntico ao da 'primavera Árabe'
o embaixador carlucci achou que o kerenski era a melhor escolha ...para as bancarrotas
conheci pessoalmente o comuna do pc do B que escreveu para a Veja
por intermédio dum Amigo comum
ainda me lembro (1960) das manifs expontâneas em frente da embaixada dos gringos na Duque de Loulé
organizadas com 15 dias de antecedência
o abatido JFK estava interessado nas matérias-primas das ex-colónias
e terá financiado Holden Roberto
o 25.iv mostrou que os ditadores são as forças armadas
'o pugrama segue dentro de mumentos'
até lá podemos esperar deitados
nunca consegui encontrar qualquer escrito sobre a importância das missões protestantes americanas
para o apoio ao MFA e ao habitual erro de cálculo em relação à implantação do pcp dentro do mesmo
o fundo militar da guerra
deve ter caído em Camarate
as forças armadas, a banca, certos politicos terão sempre protecção
de prescrição em prescrição até à bancarrota definitiva
'mudam as moscas'
e
'uns são += que outros'
“o que mais une os portugueses”. Nos acontecimentos históricos identificados como eventos que simbolizam a união e são elementos de memória colectiva, além do 25 de Abril de 1974 e dos Descobrimentos, o Estado Novo também é referido e por metade dos inquiridos.
http://www.publico.pt/sociedade/noticia/portugueses-estao-orgulhosos-do-pais-mas-sentem-vergonha-do-sistema-politico-e-economico-1628636
O estado novo é como a esposa fiel que nos dá segurança e estabilidade, o 25 de abril a amante puta que nos leva a cometer excessos carregados de loucura mas sem grande arrependimento e os descobrimentos nos fazem sentir especiais e sonhar que sempre haverá algures no mundo uma ninfa à nossa espera.
"O estado novo é como a esposa fiel que nos dá segurança e estabilidade, o 25 de abril a amante puta que nos leva a cometer excessos carregados de loucura mas sem grande arrependimento e os descobrimentos nos fazem sentir especiais e sonhar que sempre haverá algures no mundo uma ninfa à nossa espera."
Essencialmente é isso e ainda mais: o modo como assim entendemos diz muito acerca de nós e da nossa capacidade de perceber o essencial, cometendo sempre os mesmos erros.
Quem diz "nós" diz povo em geral.
Pelo sonho é que vamos, acho que poderia ser o nosso mote de vida. Vagabunda.
Está agora a perceber porque é que não consigo ser de direita mas também sou contra a Esquerda estroina que nos arrasa o futuro, sempre?
Acho que na Europa ninguém se nos compara. Nem os italianos que são os mais próximos na estroinice.
Porém, têm todo o lastro cultural de séculos que os amparam e a herança que trazem nos genes.
Nós trazemos uma herança mística e miscigenada.
O Fado é bem a nossa canção identitária.
É verdade. O Vivendi fez um resumo muito engraçado e certeiro.
Eu não concordo com o resumo do Vivendi.
Não percebo porque se fala das pessoas, de povo, de "nós", como se tivesse havido grande escolha em todas essas coisas. Realmente, se houve coisa que se possa dizer que, senão escolhida, foi consentida foi o Estado Novo, mais especificamente a Constituição de 1933.
De resto, tivemos tanta escolha no 25A como no regicídio.
Em todo o caso, acho o seu ponto de vista curioso, José. Se há coisa que se leva daqui, é a noção de quão parciais, quão facciosos têm sido os media, tanto que é possível dizer-se que eram mais plurais no tempo do Exame Prévio.
Ora eles são parciais e facciosos na descrição do estado de coisas, dos acontecimentos, das políticas e da história. Pode dizer-se sem receio de exagerar que os media formam, de facto, a opinião pública.
Se assim é, como se pode assacar ao tal povo, às pessoas, a nós, a responsabilidade de nos envolvermos com putas?!
Estranho era que assim não fosse. Pois se o mundo que nos pintam não é senão um bordel!
Das duas uma, ou as pessoas vêm claramente o que se passa, e essa forma de enunciar as coisas faz sentido; ou as pessoas não vêem e então, por mais pitoresca e bem-intencionada que seja, é uma deturpação da realidade à qual escapam completamente as verdadeiras causas do problema.
"Se assim é, como se pode assacar ao tal povo, às pessoas, a nós, a responsabilidade de nos envolvermos com putas?! "
Essa é a pergunta a que procuro responder, procurando principalmente a resposta no passado e na realidade do passado.
Como não há livros de História dignos desse nome, porque o passado ainda é relativamente recente, tento perceber pelos relatos mais consentâneos com essa realidade e que são os dos jornais e testemunhos de quem viveu a época.
Depois é um trabalho de raciocínio que tem que ser enquadrado por factos.
São esses factos que procuro trazer aqui, para ver se resolvo o problema que me coloquei a mim próprio.
E ainda não vi a luz ao fundo do túnel, apesar de uns lampejos de vez em quando...
Há quem se envolva no putedo por causa da "maria vai com as outras" e há quem queira isso mesmo, voluntariamente.
Destrinçar as espécies na época é um pouco difícil.
O putedo é o ambiente e os próceres da Esquerda comunista, claro.
As outras línguas também não têm o diminutivo "inho".
As nossas utopias de esquerda são mais isso- demasiado "inho"; coitadinho.
Como não têm?
Os italianos não têm o "ino" e os espanhois o "illo"? Não vai dar no mesmo?
Em relação ao coitadinho, penso que se poderá explicar com não ter havido verdadeiro proletariado em Portugal. E a figura do camponês evocava (evoca?), nas cidades, o sentimento oposto ao pretendido. E nas cidades é que interessava, não?
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José, mas se as pessoas não tinham a informação, como é que podiam avaliar correctamente? Em terra de cegos, quem tem olho é rei. E os media não fazem outra coisa há 40 anos senão cegar-nos...
Talvez seja parecido mas não creio que tenha o mesmo leque semântico que o nosso inho.
Não é coisa de informação ou falta dela. É empatia e deixar-se ir em aventuras. Em vadiagens, que nada têm de pragamatismo ou objectivo racional.
Embarca-se de olhos fechados. É mais isso- soa a poesia e vá de alinhar.
A gaivota, os cravos, a igualdade, coisas assim. Palavras.
Paleio oco e de boas intenções. Sonhos. Fantasias.
Em todo o esquerdista mora um sonhador.
E isso é fatal porque há demasiados em Portugal.
Quanto à informação a questão que me coloco é esta:
Antes de 25 de Abril de 74 a informação era mais limitada quanto a certos temas, por exemplo o comunismo. Não havia liberdade para escrever sobre o assunto em modo claro porque estupidamente a censura entendia-o como propaganda.
Quem dizia abertamente o que era preciso dizer era o próprio Marcello Caetano. Mas as pessoas não o ouviam ou desvalorizavam, como se viu logo nos primeiros dias depois do 25 de Abril: ninguém quis saber do que Marcello dizia do comunismo.
Eu quis e sempre acreditei no que o mesmo dizia sobre isso.
Ora então como se entenderá que nos dias e meses a seguir o comunismo tenha vicejado por cá, como não o conseguia em Espanha, Itália ou mesmo França?
Curiosamente quanto mais radical e estalinista era o PCP, como é, mais militantes e simpatizantes tinha.
Em Espanha esfumou-se e havia tanta censura como por cá. Em Itália, o compromisso histórico começou logo nessa altura e o comunismo ou era democrático ao modo ocidental ou desaparecia como desapareceu.
Em França o Marchais marchou logo para a irrelevância porque o comunismo aí era bem conhecido como um totalitarismo.
Então porque é que por cá não foi assim?
É essa a pergunta que coloco e penso na resposta.
Porque é que o radicalismo de esquerda por cá, conquistou uma boa parte do jornalismo e uma boa parte da opinião publicada?
Porquê quando já se sabia e os jornalistas tinham essa obrigação, que os regimes de Leste eram mais opressores das liberdades fundamentais do que alguma vez o regime de Salazar o fora?
A essa pergunta não consigo responder cabalmente ou com um mínimo de razoabilidade porque não percebo.
Porque é quem um Garcia Pereira continua a ser de uma coisa chamada MRPP?
O tipo é maluco?
Esse aí é mesmo maluco, José. Não tenha dúvidas.
ehehehehe
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