O PCP, com suprema nostalgia desse tempo, anda agora mesmo a colocar cartazes na rua, com dizeres muito simples e que se resumem a duas frases: " o que é público é nosso; o que é privado é só de alguns". Com esta verdade falaciosa conquistam adeptos que pensam com um neurónio e assim se vão mantendo na mentira permanente em que consiste a sua actividade política.
Em Julho de 1974 a Esquerda ( PCP e PS, mais MFA) rejeitou a contribuição capitalista de alguns empresários nacionais que não tinham fugido para o estrangeiro ( e de alguns que apesar disso, continuavam a acreditar nas potencialidades económicas do país) que se propunha investir alguns milhões de contos em empreendimentos económicos nacionais. Portanto, patrióticos, sem dúvida alguma.
O jornal Sempre Fixe pouco tempo antes de 25 de Abril de 1974 tinha elencado quem eram os maiores patrões nacionais. O objectivo, oculto, era simples: mostrar quem eram os "exploradores da burguesia capitalista", porque era esse o entendimento atávico dessa esquerda.
Depois de 11 de Março de 1975 e paulatinamente, tais empresários deixaram de contar como contribuintes para a riqueza nacional porque o país tinha mudado de paradigma político e até social.
A Esquerda correu com eles quase todos. Actualmente, os mais ricos de Portugal, são os que ficaram, milagrosamente ( Alexandre Soares dos Santos), e os que vieram depois, arribando a pulso e de modo muito diverso dos anteriores ( Américo Amorim e Belmiro de Azevedo). Todos eles pagam um tributo revolucionário à Esquerda que ficou e se metamorfoseou, para não serem incomodados se calhar . Soares dos Santos, com a Fundação. Belmiro com o Público e Amorim...não sei bem, mas deve ser a mesma coisa. É o "pizzo" que se paga nesta democracia para prosperar...
O capitalismo, como sistema de produção de bens e serviços, deixou de ser o modelo e tentou-se a adopção de outro modelo que apesar de não ter resultado em qualquer parte do mundo e ser um falhanço de tal ordem que conduziu, anos depois ( em 1989) à implosão do próprio sistema, foi sôfregamente adoptado por indivíduos ditos inteligentes e que se formaram em Economia e noutas áreas, constituindo uma elite que passou a mandar no país, politicamente.
Como dá conta O Jornal de Maio de 1975, o Estado socialista a "caminho da sociedade sem classes", controlava praticamente todos os sectores-chave da economia, a partir dessa altura. .
As coisas chegaram a tal ponto que A Vida Mundial de 10 de Abril de 1975 com um escrito de um tal Maia Cadete, não tinha dúvidas: o Estado poderia controlar nove décimos da Economia!
Por isso mesmo, quem alvitrava palpites sobre tal assunto e a nossa sorte colectiva eram...os comunistas que dominavam o aparelho produtivo do Estado ( apesar de negarem tal facto, atribuindo a outras forças que não eles, esse domínio de facto, mormente na gestão das empresas públicas e banca...)
Na Vida Mundial de 10 de Julho de 1975, o aparatchick do PCP Octávio Pato, dizia abertamente o que entendia e até esta coisa espantosa que é uma confissão de delito político indesculpáve, a propósito da manipulação da imprensa da época pelo PCP ( estava ao rubro o caso República e o do Diário de Notícias, já aqui tratado, surgiria dali a pouco) l: "Se a imprensa fosse por nós manipulada, como se diz, então faríamos desaparecer, como é evidente, todas as notícias de carácter reaccionário e contra-revolucionário.". Esta é a confissão mais cândida e estúpida da estultícia do PCP quanto á censura efectiva que adoptariam em caso de domínio do poder político total. Quem ainda acredita no PCP depois disto é o quê? Inteligente? De boa-fè?
Os comunistas e Esquerda em geral, incluindo os vários "compagnons de route" e socialistas "democráticos" aceitaram este estado de coisas na Economia, sem se darem conta, porventura, de que dali a um ano estávamos na bancarrota, como seria por demais previsível. Nem as batalhas da produção nos valeriam perante a gritante falta de capital e a delapidação acelerada dos recursos.
Então como é que esta pan-Esquerda procurava resolver os problemas básicos de uma Economia que ainda no ano anterior crescia a olhos vistos, mesmo com uma Guerra no Ultramar? Esta gente não via isto, claramente? Não queria perceber a asneira política? Como é possível?!
De um modo muito curioso e nada original: com palavreado patriótico e de incentivo voluntarista, que se revelaria sempre inútil porque nunca experimentado com resultados em qualquer país ou parte do mundo em nenhuma época, apareceu a solução mágica: "a batalha da produção"!
O Jornal de 16 de Maio de 1975 , enfileirado nos "compagnons de route" da Esquerda comunista e socialista, pela pena incrível de um Francisco Sarfsfield Cabral ( seria bom perguntarem-lhe o que pensa agora deste escrito...) punha assim quatro páginas ao serviço da causa comunista, com um póster a condizer, da autoria de João Abel Manta, o crente.
Claro que dali a pouco, apareciam os intelectuais comunistas a darem os seus palpites sobre o assunto. Octávio Pato no Jornal de 23 de Maio de 1975 foi um deles. Incrível como as pessoas levavam estas idiotices a sério.
Aliás, parece que ainda levam porque os comunistas portugueses não desviaram um milímetro ideológico destas patetices, em 40 anos.
E portanto, como dá conta a Vida Mundial, em 7 de Junho de mesmo ano, com estas batalhas da produção, deixavam de fazer qualquer sentido as greves. Aliás, havia direito à greve, nos países de Leste? Melhor ainda: o PCP não aboliria imediatamente esse direito, com as mais fundadas razões, caso tomasse o poder em Novembro de 1975? Alguém, mas alguém mesmo tem alguma pequena dúvida que seja? Se têm, é ler o que então diziam: o mesmo que o regime de Caetano, ainda no ano anterior...
Greves, em 1975? Só no dia dos enganos, como cantava um Sérgio Godinho. E já por lá andava um Arménio Carlos a aplaudir. E o Jerónimo electricista, pois claro. Já nem deve saber as fases dos fios, por esta altura.
Mas que maluqueira é esta de dar crédito a um PCP deste jaez? Quando é que acaba esta fantasia nacional de entender o PCP como uma força democrática como as demais, se efectivamente o não é e nunca o foi?
Acaso já se esqueceram do que disse Álvaro Cunhal em Junho de 1974 a uma Oriana Falacci, numa entrevista ( desmentida, claro está, mas reafirmada pela mesma, também) ao semanário italiano L´Europeo? Portugal, no entender de Cunhal, nunca teria uma democracia parlamentar de tipo europeu...
Enganou-se o Cunhal, agora elevado aos altares profanos da idolatria estúpida, mas os seus herdeiros continuam a acreditar no mesmo e só toleram esta democracia como um passo para a outra, a real., segundo o seu entendimento ideológico. Só que nunca o confessam explicitamente...