terça-feira, março 25, 2014

Ó sr. Soares, desapareça!


Mário Soares assina hoje no Diário de Notícias uma crónica de risota. Para além do paleio de chacha e  já  chéché, tem na última coluna uma pequena antologia do seu modo de governar o país, nos anos setenta, particularmente em 1976-78, altura da primeira bancarrota.


A petite histoire que Soares conta, a propósito de um episódio patético ocorrido no II governo constitucional, a que presidiu durante meia dúzia de meses ( de Janeiro de 1978 a finais de Julho do mesmo ano) depois de lá ter estado no mesmo posto no I governo constitucional da democracia, merece destaque e comentário com memória do tempo que Soares parece ter esquecido em toda a extensão, guardando apenas uns episódios típicos de decrepitude senil.

Neste caso conta que sendo o seu camarada de internacional socialista, Helmut Schmidt, chanceler da Alemanha ( desde 1974 que o era e assim foi até aos anos oitenta) foi lá pedir esmola, em determinada altura que não indica mas necessariamente nesses  meses, porque levou consigo o sempre constante Constâncio então ministro das Finanças e do Plano, porque muito lá de casa da Maçonaria e considerado muito competente por insuspeitos como Freitas do Amaral ( afirmou-o nessa altura, sem rebuço), apesar dos resultados catastróficos da política económica seguida.

A esmola que Soares foi mendigar a Bona era de vulto porque estávamos na corda bamba da bancarrota, desde meados de 1976, quando Soares assumiu o comando do I governo Constitucional e não foi capaz de fazer melhor do que aguentar o barco da pátria, chamado o FMI e recorrendo a todas as ajudas possíveis. Assim lhe diziam que devia fazer e Soares fazia, porque de Finanças sempre "percebeu muito pouco"...

Em Bona, enquanto Vítor Constâncio expunha a situação dramática do país ao camarada Schmidt, particularmente a financeira de que Soares "percebia tão pouco" (assim o escreve) o bon vivant do costume resolveu sair e ir a ...um museu. Dali a uma hora, já com a situação financeira bem exposta, foram almoçar que foi para isso que fora convidado...e até recebeu os parabéns do camarada Schmidt que achou o tal Constâncio "excepcional". E tudo ficou resolvido, escreve Soares. Mas não ficou, porque de empréstimos víviamos então e para lembrar a quem não se recorda ou não quer recordar e mostrar a quem ainda não sabe, aqui ficam mais uns recortes para tal.

Em finais de 1977, o I governo Constitucional de Soares estava nas últimas. Porém, teve o topete de apresentar uma moção de confiança no Parlamento que naturalmente foi...chumbada e o governo caiu. Ramalho Eanes ficou com a batata quente nas mãos e o país com o FMI à perna e os empréstimos avulsos, alemães e americanos,  para pagar.

o Jornal de  9 de Junho de 1976 contava como estávamos, na sequência da aventura do PREC e da renitência do PS em alterar a situação económica, com uma Constituição que nos prometia ( e ainda promete) que íamos a caminho do socialismo ( até 1989 era até à sociedade sem classes, verdade- não é para rir...) e o PS a bater palmas ( ainda hoje bate).



Nessa altura,  Setembro de 1976, Medina Carreira era o ministro das Finanças de Soares que dessa matéria, confessadamente, percebia zero ( de política sabe ele...mas de Finanças é sempre com os outros e sempre foi assim ao longo de todos os governos. Agora arma-se em sabedor, o que não deixa de ser patético) e Medina Carreira que deve lembrar-se bem disto mas não fala muito, dizia que estávamos nas lonas. Daí o FMI e os empréstimos, claro.



















 E os "pacotes". Este foi o primeiro em Agosto de 1977...que Soares não se lembra mas foram duros. Se calhar mais duros que agora. O "empobrecimento"  então era palavra desconhecida, assim como os culpados directos. Aliás, estes eram conhecidos: os fascistas, claro.Os do antigo regime que desgraçaram a economia com os "monopólios" e o "condicionalismo industrial"...


Esta situação económica não podia levar a lugar que se visse, politicamente. Por isso, em final de 1977, Soares apresentou a tal moção de confiança, com este resultado, como mostra o Jornal de 9 de Dezembro de 1977:


O PCP era o pivot do chumbo ao governo.Repare-se no paleio de chacha de Soares, sempre o mesmo e com apelos constantes ao "fascismo" ( de direita e esquerda) , democracia e noções repisadas de desgraças de um porvir sem ele ou os camaradas a mandar. Como agora. O que pretendia Soares com isto? Manter-se no poder, apenas e só. O país? Estavam lá os constâncios para tratar das miudezas das finanças, matéria de que confessadamente, escreveu-o agora, "percebia muito pouco". Foi isto que nos calhou na rifa democrática e eleitoral durante décadas e ainda lhe dão ouvidos. Citando O´Neill, Soares é o típico governante de um país das maravilhas onde quem manda pode dar-se ao luxo de nada perceber de finanças. Basta saber de...política.

O país de Soares é " o País dos gigantones que passeiam a importância e o papelão, inaugurando esguichos no engonço do gesto e do chavão.E ainda há quem os ouça, quem os leia, lhes agradeça a fontanária ideia!"
Como diriam os italianos,  "porca miseria!"



Curiosamente, nas negociações para o II Governo Constitucional, o tal em que entra o fantástico Constâncio, sempre apresentado como muito competente ( ainda hoje é assim referido, sempre muito competente...) o  Jornal de 17 de Fevereiro de 1978 dava conta de um documento secreto que demonstrava que o PS e o PCP tinham negociado um acordo de governo...pelo que é fácil de entender de quem é a responsabilidade pela primeira bancarrota, com ideias tão brilhantes como esta. Sobre isto é que Mário Soares devia falar, se se lembrar o que se duvida:



Portanto, com estas companhias, o PS ia longe...com o tal Constâncio ao leme das Finanças, sempre muito competente.

Em 3 de Fevereiro de 1978, Medina Carreira, agora de fora do barco socialista em naufrágio com o país a rasto, fazia o diagnóstico: "grande empréstimo". Mas não era o da Alemanha que o sempre muito competente Constâncio foi explicar ao Schmidt. Era outro, o do FMI...



Medina Carreira, no programa Olhos nos Olhos é que podia falar nestas coisas e calar o velho Soares, de vez. Mas não fala...

A situação portuguesa era dramática, com mais de dois anos de governos socialistas. E por isso...austeridade era a receita, aliás já conhecida desde Agosto de 1977. 


Em Junho  de 1978, quase um ano depois, o O Jornal dava conta de quem eram os nossos credores, a "troika" de então e os fautores do nosso "empobrecimento", por causa da primeira bancarrota ( e ainda haveria de vir a segunda, dali a meia dúzia de anos e sempre com este velho Soares, muito querido dos media nacionais...)

E como é que Soares, o desmemoriado, defendia publicamente este empobrecimento? Sempre com grandes palavras e proclamações de relevo. O paleio de chacha do costume, sempre usado para enganar papalvos e assim levou uma vidinha de luxo(s). Assim, em Maio de 1978:


 Em finais de Julho de 1978 escassa meia dúzia de meses de governo, o II de Soares ia à vida. Ramalho Eanos, então presidente da República tirou-lhe o tapete, eventualmente farto da incompetência de Soares, mas sempre com o muito competente Constâncio ( que viria mesmo a ser convidado para o governo seguinte, de Nobre da Costa, mas não aceitou...)

O Jornal de 4 de Agosto de 1978 dava um pequeno vislumbre de tanta competência agregada nas ondas de fumo do cachimbo.


O perfil jornalístico, esse, tinha sido mostrado em 3 de Março desse ano, com um currículo invejável de competências avulsas. Até de catedrático sem doutoramento.


Assim perante tamanha competência governativa, Ramalho Eanes, não se comoveu e...demitiu o II de Soares, ainda infante e com dentes de leite. A demissão era semântica porque constitucionalmente poderia ser...exoneração. Ou não. Canotilho e Vital Moreira escreveram então um artigo sobre o assunto magno. Seja como for, Soares foi corrido e Soares nunca lhe perdoou, a Eanes. E até pensou na altura no tribunal Constitucional, tentando anular a decisão macaca que lhe tirava a possibilidade de ir a Bona almoçar com o camarada Schmidt e ver uns museus de passagem, enquanto o seu competentíssimo ministro das Finanças e do Plano tratava   de estender o chapéu para o empréstimo da praxe.


E as realizações do II governo, perguntarão então?

Em 4 de Agosto de 1978 , o mesmo O Jornal, pela pena de Luís Pinheiro de Almeida,   mostrava  o balanço do II Governo Constitucional. Fantásticas: empréstimos ao FMI, aos americanos e aos alemães.

Sempre de chapéu na mão e Soares a almoçar que de Finanças percebia muito pouco. Ainda percebe menos, agora.

E depois de 1978? Continuamos a saga dos competentes...de chapéu na mão perante os credores. Como agora.

19 comentários:

JReis disse...

E foi assim que Mário Soares, quase sempre com a ajuda de Álvaro Cunhal (agora glorificado em livros) conseguiu arruinar o nosso Portugal.
Considero Mário Soares o maior responsável por ter arruinado e ter tornado infeliz a minha geração.

josé disse...

Foi Mário Soares, os media e a Esquerda comunista.

É assim, o meu diagnóstico.

Poderia pensar doutra maneira e perguntar: e a dita "direita" não teve responsabilidades?

Teve e grandes. Cavaco, em dez anos, teve tudo a sei jeito e desbaratou.

E foi mesmo o Cavaco. Não foi o povo ou eu ou seja quem for.

josé disse...

Lá chegarei ao "estudo" com recortes dos anos de Cavaco. Aliás já coloquei por aqui recortes desse período.

Dudu disse...

No programa Olhos nos Olhos Medina Carreira sempre se conteve a comentar Mario Soares!

josé disse...

Tem pudor, mas devia perder. Já tem idade para não ter tanto assim. Deve saber histórias fabulosas das ignorâncias de Soares e dos seus abusos.

Severo disse...

Não foi este mesmo Soares, que andou lá pelos Galápagos montado numa tartaruga, delapidando os nossos parcos recursos e que agora pretende dar lições de moral?
É preciso ter uma grande "lata" ou padecer de uma grande falta de memória, e provavelmente será necessário avaliar o homem psiquicamente, porque não podemos passar para o estrangeiro este sinal de indigência política. Perante tais dislates, que pensarão eles de nós?

Cps

Floribundus disse...

um conhecido reformador, obreiro da chafarica a que eu pertencia, amigo de constâcio, convidou- para integrar as fileiras do Gol. não aceitou por ser católico.

no tempo em que foi ministro do boxexas iamos a Badaqjoz comprar peças para o auto.

tinhamos uma verba fixa incluida no passaporte quando saimos do rectângulo

certa vez meti mil francos suiços no rolo da máquina fotográfica, 4 libras no porta-moedas e um cheque a fazer de marcador dum livro

os juros eram de 40% pagos à cabeça.
o MONSTRO enchia-se de xuxas e comunas inuteis sobretudo nas universidades, magistratura

ainda havia a pesada herança em ouro.

a miséria era a mesma

ninguém quer trabalhar

o boxexas será sempre um inútil

Floribundus disse...

acabaram as indústrias familiares dos sectores I e II

quando minha avô materna nasceu em 1870 recebeu o nome Fazendas de família que era alcunha por terem uma fabriqueta de tecidos numa ribeira dos arredores de Gavião

o pai do meu sogro, da mesma idade começou aos 15 anos com a profissão de paneiro, andava pelas aldeias com uma carroça a vender panos

meu sogro nascido em 1900 andou durante o final da IGG pelo alentejo a comprar cortiça nas herdades para tranformar numa fabriqueta. ao contrário dos outros antecedentes andava acompanhado e armado de 2 pistolas devido ao exército de 'malteses de pau e manta' que assaltavam quem passava
mas que se borravam e fugiam ao ouvir tiros

os malteses aparece agora nas tvs a dizer que são pobres

os pobres que conheço não vão às manifs nojeiras do 'maior manif de sempre'

Vivendi disse...

A história é sempre o que é caro Floribundus... E nada como conservar testemunhos de quem a viveu.

E se os portugueses soubessem tanto da I república como julgam saber sobre a II república olhe que íamos ver muitos a piar mais de fininho.

Choldra lusitana disse...

Filho do papá,sem profissão que se lhe conheça porque de mau advogado teve apenas o proveito de um processo que lhe deu fama por envolver quem se sabe,oposicionista por birra e por provir em linha recta de um pai do velho reviralho republicano (com alguns méritos inegáveis enquanto professor),anti-clerical renegado (os renegados tornam-se sempre nos mais fanáticos,já o notava Unamuno sobre São Paulo).Um péssimo aluno,entretido entre farras próprias da juventude e conspirações de café MUD.Um inútil que,e quando se viu encartado com uma licenciatura e sem saber que serventia podia dar ao canudo,resolver enveredar pela política. A baixa ,que a outra nem nos manuais escolares deve ter aprendido alguma coisa. Comunista por arrastão,que é como quem diz,pelos sinais dos tempos que por aqui (e não só) vogavam de feição. Ou seja,comunista sem convicção . Opositor malgré-lui. Exilado num paraíso tropical e instalado num gulag-roça-hotel com todas as mordomias,às quais ficou agarrado.Fundador,com outros da mesma laia,de um partido de traidores porque ditos portugueses em período difícil da vida nacional.Partido esse que teve o empenho e o dinheiro dos congéneres alemães na matriz fundacional.Cúmplice dos comunistas e revolucionários no pós-25 de Abril. Autor de uma descolonização nada exemplar,antes criminosa. Traidor dos amigos por mera conveniência política e de luta pelo poder. Traste que carregamos às costas faz quase 40 anos e a quem ainda temos de suportar as indecorosas flatulências mentais sobre o presente. Presente do qual foi o principal responsável no passado.

JC disse...

Excelente retrato, Choldra!

Anónimo disse...

Estamos a falar do homem que aquando do 25 de Abril disse ao embaixador inglês em Lisboa que só iria para o Governo Provisório se fosse Primeiro-Ministro.
Ou do homem que esteve com um pé dentro do Governo de Marcello Caetano...

Anibal Duarte Corrécio disse...

Mário Soares reformado é impensável. Ele tem que intervir porque se não o fizer 'vai sobejar mais para ele'.

Ou seja tem que jogar sempre ao ataque. Se vier para a defesa - a reforma - a reputação fica mais em risco e quando se falasse dele seria sobretudo por razões negativas.

Assim equilibra 'a coisa'.

Efectivamente, como já foi realçado anteriormente, Mário Soares é bem o símbolo da nossa desgraça : para ele e os da sua laia ficarem bem, teve o País que ficar mal. Uma tragédia!

Aladdin Sane disse...

Soares para Constâncio, em 1991 (?): "Trate-me por senhor Presidente."

Porque aconteceu isto? Suponho que se lembrarão.

José disse...

Assim de repente não me lembro, mas é interessante porque terei documentação de tal coisa...

Aladdin Sane disse...

Eu referi o ano de 1991, mas poderá ter sido antes, pois creio que foi após a derrota de Constâncio nas legislativas, em 1987 e não em 1991. E essa declaração "fez" capa num jornal... provavelmente o Tal & Qual.

Unknown disse...

A "biografia" (não autorizada, por certo...) apresentada pelo comentador Choldra é o retrato em corpo inteiro desse monte de trampa dotado de aparelho fonador.
Infelizmente somos um povo que proporciona o caldo de cultura ideal para este tipo de aves de arribação .
Vide sócrates, varas felgueiras, loureiros , " et tutti quanti"...

Maria disse...

A inominável personagem Soares é tal e qual como a descreve Choldra lusitana.
O único(?) processo jurídico que defendeu, o da Herança Sommer, foi por puro oportunismo e interesse material desmedido do provento que poderia arrecadar chamando a si um processo com aquela dimensão e muito particularmente pela família riquíssima e os vários interesses que lhe estavam subjacentes. As audiências prolongaram-se por anos e anos, não sei exactamente quantos porque não estava cá, mas os meus pais enviavam-me alguns jornais e recordo-me de ler duas ou três notícias, se tanto, sobre o andamento do processo (e isto porque conhecia vagamente alguns membros desta família) e um pormenor que me surpreendia e estranhava enormemente era o arrastar do mesmo indefinidamente... Hoje percebe-se perfeitamente o porquê, quanto mais se prolongasse o dito cujo mais empochava este ganacioso por dinheiro e estatuto - mesmo que os brutos honorários a receber proviessem de uma das famílias mais influentes, ricas e de direita em Portugal. Por outras palavras, iria ser remunerado por uma execrável família verdadeiramente fascista e salazarista, mas neste caso específico esse contra-senso não tinha a menor importância... já que se tratava de um julgamento cuja defesa estava entregue ao profissional e não ao político... 'anti-fascista'..., pois, naturalmente... - e traidor-mor do reino e esses honorários, com o prolongamento indefinido do processo, quadruplicar-se-ia por uns bons milhões, o que na época era dinheiro em barra e que por sua vez dava um jeitaço a quem não fazia nada na vida, vivia como um soba e resumia o seu dia-a-dia ao ripanço e nas horas vagas a conspirar contra a Pátria.

Resumindo, como político foi um cínico e um traidor, como pessoa é falso e um interesseirão, como governante foi um criminoso que ordenou o genocídio de milhões dos seus concidadãos e como ser humano não possui um pingo de dignidade e menos ainda de vergonha. Um nojo.

Maria disse...

Leia-se "... e esses honorários... quadruplicar-se-íam..."