domingo, novembro 29, 2015

O jornalismo líquido do Público e as notícias em bruto do Correio da Manhã



Ontem, a jornalista do Público Cristina Ferreira acrescentou ao desmazelo ( em interpretação benévola) a manha que o Correio da Manhã não tem, nem sequer online, a propósito da notícia manhosa da véspera sobre o antigo governante Sérgio Monteiro.

Ontem desfez-se em explicações detalhadas sobre o pormaior da remuneração líquida ou bruta daquele. E explicou o que na véspera tinha completamente omitido, com a agravante de ter passado a mensagem principal da primeira página, efeito que com estes profissionais nunca é despiciente Nessa primeira página do jornal de Sexta-Feira tinha escrito " Sérgio Monteiro recebe 30 mil euros por mês para vender Novo Banco". Assim mesmo com um acrescento: o salário era pago pelo Banco de Portugal durante 12 meses.
A notícia interior, com foto "à Correio da Manhã" a ocupar a página escrita de alto a baixo repetia os 30 mil euros "brutos por mês" e a seguir informava que o mesmo iria receber " uma remuneração total bruta de 250 mil euros".
Apesar da bota não bater certo com a perdigota nem o artigo deixar sequer ponderar outra forma de calcular a remuneração líquida ( o IRS não se desconta assim, logo no início) a jornalista e a direcção do jornal em regime de mecenato entenderam que tinham aqui um grande escândalo a revelar e insistiram ontem num esclarecimento que é ainda mais lamentável.
A este propósito de escândalos e oportunidades líquidas para os denunciar, o jornal em regime de mecenato, apesar de conhecer o caso particular de António Costa que recebeu anos  a fio, por inteiro e líquido, duas remunerações a que aparentemente não tinha direito, eventualmente a título de direitos de autor a que também não tem direito porque o não são, pura e simplesmente, fez do assunto tabu e fechou-se em copas. Isso é um "não assunto" ou seja, tal como no caso da licenciatura do antigo primeiro-ministro, o caso fica em águas de bacalhau porque agora ninguém se mete com o PS, senão...

Enfim, vamos a este grande escândalo do tal Sérgio Monteiro cuja contratação foi transparente, no sentido em que está tudo claro, aparentemente não aldrabou o Fisco e afinal irá ganhar o que uma entidade reguladora independente determinou em conselho com outras entidades privadas.
Ontem o jornal em regime de mecenato explicou então ao que vinha anteriormente: esses 30 mil euros por mês, afinal eram mesmo brutos e tal valor "resulta de 21 mil euros, a que se somam verbas que o BdP vai despender com Monteiro, nomeadamente através do pagamento dos descontos para a Segurança Social que estão normalmente a cargo do trabalhador".
Isto que no dia anterior não foi notícia serve agora para outra notícia em que se tenta explicar que afinal os 250 mil euros brutos anuais foi a quantia declarada ao tribunal Constitucional pelo ex-governante" e que afinal não são mesmo brutos porque se devem acrescentar "os encargos assumidos pelo regulador".
 Uma confusão que a notícia de agora procura outra vez iludir, acrescentando o que antes não o tinha sido: que o tal governante saíra do cargo de administrador  da Caixa BI e não tinha o cargo suspenso, pelo que não poderia voltar, sem mais, para o mesmo lugar. Assim se procura justificar que não merece os tais 30 mil brutos, porque enfim, até é superior ao que ganha o regulador principal.
Para se tentar esconder o rabo do gato a esta notícia, deve ponderar-se que este jornalismo  é apenas um modo de fazer politiquice por outras vias perversas, sendo o das causas dos escândalos fictícios, fracturantes e próprios de uma esquerda que assumiu o modo oculto e se recusa a revelar em editorial. Um jornalismo de "referência" para uma esquerda militante que nunca deixou de o ser e que nem sabe fazer outra coisa, porque julga que assim é que deve ser.

Contudo há um outro modo de fazer jornalismo e afinal é o Correio da Manhã, "o pasquim", a folha de couve populista e desprezível quem ensina estes mestres do malabarismo.
Ontem mesmo a notícia sobre o tal governante era assim apresentada. É ler para perceber como se poderia comunicar o que tem interesse e ao mesmo tempo acentuar o ar de "escândalo" que é marca do Correio da Manhã. Lendo bem a notícia não há escândalo algum. E se o há reside noutra circunstância: a de o BNP Paribas ter a receber por tarefa quase idêntica à do tal governante, 15 milhões de euros, mais comissões se tudo correr bem.
Este escândalo, por motivos misteriosos escapou ao jornalismo do Público. Tal como o do actual primeiro-ministro em exercício,  António Costa.
E por isso fica o desafio que é para retomar: para quando uma investigação jornalística aos rendimentos conhecidos do actual governante e à situação concreta dos direitos de autor pela participação no programa de tv Quadratura do Círculo?  Para quando cair em desgraça, daqui a uns breve meses? Este assunto "agora não interessa nada"?
Irá o Público fazer como fez aquando do caso inenarrável da licenciatura de um primeiro-ministro, com os episódios rocambolescos que apenas foram descobertos por um simples blogger?
Este jornalismo de referência é só das causas fracturantes da esquerda ou afinal a expressão "watchdog", que até um professora do género Judite de Sousa saberá o que é, serve apenas para adornar princípios esquecidos?



sexta-feira, novembro 27, 2015

Cabras, cabritos, mentirosos, aldrabões e criminosos.

Quando José Sócrates começou a ser notícia pelos gastos relativamente extravagantes para o que dizia ganhar,  os seus súbditos mentais do género lello afiançavam que tudo provinha de uma fabulosa herança familiar que justificava todas as riquezas aparentes e ocultas. A mãe, afinal,  era a origem dessa riqueza inexplicável

Nada mais falso, como revela o Sol de hoje.

O que espanta neste simples caso de polícia é um certo PS ( Almeida Santos à cabeça, com Mário Soares já sem cabeça) continuar a aposta que a "perseguição é injusta" e que José Sócrates é inocente, associando o caso a um assunto de política que levam a peito como levaram o caso Casa Pia.

Lamentável. Trágico.

Capas de jornais. Público e Correio da Manhã

Capa do Público de hoje: a notícia do dia é sobre um antigo governante que cessou funções. A circunstância de ir ganhar 30 mil euros brutos esbarra logo num pormenor de contas: dentro da notícia escreve-se que "vai receber uma remuneração total bruta de 250 mil euros". Durante doze meses. Ou seja, 250 mil a dividir por doze meses, dá...é fazer as contas para entender o rigor noticioso do jornal, na primeira página. Um jornal dito "de referência", note-se, e que com esta notícia apenas quer dar conhecimento público de um "escândalo". A notícia é assinada por Cristina Ferreira, já por aqui citada várias vezes por desmazelo ( interpretação mais benigna), como revela neste jornalismo malabarista. O objectivo é óbvio: vilipendiar um antigo governante do Passos,  apenas e tão só. E a jornalista não pode ignorar tal efeito.
No interior da notícia há um pormenor que é passado a escrita como uma gata a correr em telhado de zinco quente: o tal ex-governante, antes de o ser, era funcionário superior do CaixaBPI e ganhava exactamente o mesmo que vai ganhar, ou seja, segundo a prestidigitação jornalística,  30 mil euros brutos por mês ( mas afinal não são 250 mil brutos em 12 meses?). E outra ainda: o dito ex-governante foi escolhido para a tarefa pelo Banco de Portugal e a Associação Portuguesa de bancos, em "articulação". Sub-texto da notícia de primeira página: frete de alguém da PAF ou similar a este ex-governante. É isto o jornalismo de "referência"?  O Correio da Manhã é que é o "tablóide" e "pasquim"?
Lida a "notícia" não se vislumbra o efeito que certamente o Livro de Estilo do jornal consagra: ouvir o visado. Nada. Apenas a noticiazinha capciosa e de falsidade com rabo de fora.




Entretanto e para entreter, fica a notícia no Expresso online que a jornalista do Público conhecia, preferindo a manha, como correio e o título capcioso como veículo desta manhã:

Antigo secretário de Estado de Passos Coelho foi contratado para liderar a venda do Novo Banco. A remuneração é paga pelo Banco de Portugal e igual à que recebia na Caixa BI antes de ir para o Governo. Monteiro recusou receber um prémio de sucesso.

Pergunto novamente: é este o jornalismo dito de referência que o Público pratica? Se é podem bem limpar as mãos à parede dos supermercados da SONAE que são quem lhes paga o vencimento a título de subsídio a fundo perdido.

Capa do CM de hoje: Costa e o bodo aos pobres com dinheiro que se calhar não temos para tal, conforme dizem os cépticos ( Medina Carreira por exemplo, mas também Teixeira dos Santos). "Cavaco tem dúvidas e ameaça governo" é o título.
O título do Público a este propósito era: " Cavaco faz avisos, Costa diz que o seu juiz é o parlamento".
 Ambos correctos na essência, denotam bem para que lado do copo olham os jornalistas dos dois jornais: para a parte meio vazia ou para a parte meio-cheia. Idiossincrasias? Mais que isso: posicionamento ideológico de causas a defender. O Público defende abertamente escondido a causa deste PS governante de esquerda e mais à frente no tempo se verá a demonstração da evidência, quando soar a rebate.
Não seria melhor o Público, em editorial,  o proclamar para não andarem com este jornalismo manhoso? A notícia sobre a França ainda é mais reveladora: " Caça aos terroristas provoca deriva securitária em França". Esta da "deriva securitária " tem direitos autorais que deveriam evitar o uso da expressão. "Deriva"? Quem deriva mesmo é o jornal...
Qual destes dois jornais mostra melhor a realidade que nos cerca? Por mim nem tenho qualquer dúvida e a referência nunca foi o que era. Apenas presunção e água benta da sacristia jacobina.

E perguntar-se-á: para quê comprar o Público ( e não apenas ler de borla)? Entre outras coisas, muito poucas, esta, com um artigo do advogado Teixeira da Mota sobre o conteúdo da liberdade de expressão na imprensa.
Este artigo deveria ser de leitura obrigatória para alguns jornalistas do género Câncio que procuram a todo o custo impedir notícias sobre a  vida pessoal que tem reflexos evidentes e importantes na determinação de factos com altíssima relevância pública. No caso, a conversa telefónica mantida entre si e a mulher do arguido Carlos Santos Silva no processo do Marquês em que esta revelava a origem do dinheiro do marido.


quarta-feira, novembro 25, 2015

Dinis de Almeida, o fitipaldi das chimites ataca de novo...de carrinho.

Uns tais Leandro Ferreira e Maurício Ribeiro assinaram um programa em jeito de efeméride, na RTP1 sobre o 25 de Novembro de 1975. Entrevistaram uns indivíduos que participaram directamente nos acontecimentos ( por exemplo, os inenarráveis Dinis de Almeida e Otelo, militares de Abril que nesse mês nada sabiam de ideologias ou política e passadas duas semanas eram peritos em marxismo e  estratégia leninista) e juntamente com material de arquivo tentaram mostrar o que foi esse dia e os seus antecedentes directos. Um programa do género dos de sempre, politicamente correcto e que prolonga a narrativa habitual, sempre a pender para o lado esquerdo.

Um dos intervenientes, o tal Dinis de Almeida, disse que o caso das nacionalizações dos bancos nesse dia tinha sido alterado porque se tivessem continuado nacionalizados não se teria assistido ao que agora acontece. E ainda disse que alguns banqueiros de agora, que classificou abaixo de cão, sofrem as consequências disso e são vergastados por causa disso. Mas até está do lado deles...

Este indivíduo  saberá o que diz?

Entretanto, noticia-se que o grande advogado dos desgraçados e desvalidos, do género do antigo  vice presidente regional da Madeira, Garcia Pereira, abandonou o grande partido da classe operária e camponesa e ainda dos soldados e marinheiros. O MRPP perdeu um dos seus maiores líderes de sempre, escorraçado como um cão raivoso do seio do partido que o viu nascer para a política.

porca miseria.

Pela capa morre o Público

Costa primeiro-ministro, em 25 de Novembro 2015, capa do Público de hoje: auspiciosa, triunfante, exclusiva. O fim da austeridade que passa pelo Parlamento...

.com a mesmíssima directora, a inefável Barbara): manhosa, derrotista e partilhada. O combate à bancarrota completamente esquecido e desprezado...


O Público já nem para embrulhar peixe serve.

O Diário de Notícias de 18 de Junho de 2011, com a direcção de João Marcelino, apesar de tudo ainda é mais equilibrado...



E a de hoje, do subserviente André Macedo ( aceitou o diktat do patrão para proibir publicidade do Correio da Manhã, que desagradava a José Sócrates...):



Por aqui se pode ler em modo semiótico  a influência da idiossincrasia no ambiente jornalístico: este DN ainda dá para embrulhar peixe. Podre...


 ADITAMENTO:

Uma leitora que não tem pachorra para estas coisas mencionou a falta das capas do Correio da Manhã. Não sei bem para quê, mas enfim, para colmatar esse lapso aqui ficam. Denotam, ambas, a relativa importância que o jornalismo do CM concede "à política" partidária. A notícia lá aparece, com as figuras dos governantes e tudo, mas a primeira página tem outras prioridades imediatas: captar o que supostamente é interpretado como o interesse  do leitor ideal do jornal. No caso deste ano, o assunto do juiz Rangel que merece muita atenção pelo significado e que nesse dia era efectivamente notícia.

 No caso de 2011 a circunstância de um ministro da Justiça ser alvo de buscas, por suspeita de favorecimento pessoal da mulher...através do seu gabinete. Se alguém quiser encontrar nesta notícia um motivo de enviesamento político ficará sossegado por saber que o ministro em causa já não o era...

 
Por outro lado, aproveito a oportunidade para reafirmar que o Correio da Manhã pode ser tudo aquilo que o cantor Loudon Wainright III dizia na canção sobre Nova Iorque mas traz notícias que são únicas no panorama dos media nacionais.
Os jornalistas de referência não ligam a tais fait-divers por presunção estúpida e arrogância feia, mas deviam.
A bem-pensância nacional e parceiros pensadores do costume politicamente correcto também repudiam com nojo tais capas de sangue a jorrar da tinta fresca e facas de ligas da competição pela violência. Que horror! Ui! Não olhes, menino, vai jogar GTA na playstation...
Até há por aí certos comentadores insuspeitos que repetem o mantra da hipocrisia latente, preferindo ver o argueiro para não tirar a pala do olho.
Os jornalistas são mensageiros de notícias, não opinadores políticos, sociais ou ideológicos. Para isso temos muitos que já não valem a ponta de um corno.
Jornalista que se preze relata factos que julga terem interesse público e se quiser acrescentar algo à própria  escolha da notícia que muitas vezes é uma afirmação também ideológica ou pelo menos com relevo social, então demarca o campo e escreve em separado, a opinião.
Quando o não faz, como é costume relapso de outros jornais, com particular destaque para o Público, entra no chamado jornalismo de sarjeta e não terá qualquer moralidade para dar lições de jornalismo. Antes pelo contrário deveria aprender.

terça-feira, novembro 24, 2015

O 25 de Novembro 1975 na época e agora

O dia 25 de Novembro de 1975 foi o primeiro dia pós-PREC, porque foi nesse dia que as veleidades da Esquerda marxista-leninista depuseram as armas e arrumaram as botas. Até dali a uns dias, quando voltaram à clandestinidade e começaram a saga das FP25 que terminou dez anos depois.

A Esquerda comunista marxista-leninista nunca desistiu do projecto totalitário inerente e mais uma vez, 40 anos depois, está de volta para dar umas curvas à boleia de um partido perdido e que provavelmente irá desaparecer.

O que foi então o 25 de Novembro de 1975?

Depois da confusão, uma comissão  fez um relatório preliminar que foi publicado em 12 de Janeiro de 1976. Em 19 de Janeiro de 1976 Otelo foi preso por causa das conclusões que o implicavam e solto em e de Março desse ano.
Um editor particular, Martinho Simões, publicou-o integralmente, em dois volumes.

O Relatório é um conjunto de factos apurados pelos investigadores. Começa por uma introdução breve, apresentando as causas remotas, próximas e determinantes do que sucedeu nesse dia. Foi determinante a nomeação pelo Conselho da Revolução, de Vasco Lourenço, já brigadeiro (!) como comandante da Região Militar de Lisboa.





 


Quanto à participação das organizações civis, ou seja movimentos e partidos não há lugar a qualquer dúvida de quem investigou em cima dos acontecimentos: o PCP e suas organizações em correia de transmissão estiveram envolvidos nos acontecimentos, plenamente. Por exemplo, comprovou-se a participação directa do PCP/Tramagal  no desvio de armas do BE3, bem como a responsabilidade na organização dos SUV´s ( Soldados Unidos Vencerão). A célula do PCP na Marinha Grande esteve envolvida na mobilização de civis para ocupação  da BA5 de Monte Real. E por aí fora, com a comparticipação da LUAR do pai das manas Mortágua e do PRP/BR da grande Isabel do Carmo que não faz mal a uma mosca, mas desviaram mil G-3 para fazer cócegas a grilos. Etc etc. É ler.


O que disse então o PCP sobre isto, logo a seguir ao golpe frustrado? Isto:

Nada tiveram a ver com a coisa. Foi tudo obra de uns militares despeitados. O trotskista-mor da época, Ernest Mandel, futuro guru do vindouro BE assegurava o mesmo no O Jornal de 12.12.1975, quinze dias depois...

É ler o que dizia sobre a economia mista: não existia tal coisa em nenhuma parte do mundo porque "uma mulher não pode estar parcialmente grávida". Ou a economia é socialista ou capitalista. Ponto final.  O que defendem estes novos esquerdistas do PS, BE e da "união de esquerda"? A gravidez parcial?


Um ano depois, em o Jornal de 26 de Novembro de 1976 essa esquerda democrática fazia  o balanço  politicamente correcto do que tinha sido o 25 de Novembro, com um branqueamento à maneira da esquerda democrática.

E até se indignava pelo facto de nas comemorações dessa efeméride, no Porto, aparecer um militar ( Mota Freitas) que tinha sido "bombista"...atrás do herói Pires Veloso.

E que pensam hoje os mesmos comunistas do PCP sobre tais acontecimentos?

Ora...o mesmo que diziam há quarenta anos. O PCP tem o mérito de ser coerente na fossilização. Fossilizado uma vez, é para sempre. E tem sido, como mostra O Militante deste bimestre Novembro/Dezembro 2015.
A responsabilidade pelos acontecimentos? Da direita e da social-democracia, sob a batuta da direcção do PS, do grupo dos Nove e de sectores esquerdistas agrupados em torno de Otelo Saraiva de Carvalho.  Em 1975 não tinha sido muito diferente, embora Cunhal circunscrevesse o assunto aos militares...


Quanto a estes assuntos e aos demais o PCP é sempre previsível na fossilização consolidada: aquele Relatório Preliminar nunca existiu. Os factos são invenções e de qualquer modo ninguém leu aquilo. E agora já não podem ler porque nem sequer está  publicado em qualquer lado que se veja. Só em alfarrabistas e é preciso procurar muito...pelo que a História está segura.

E a tal direita como é que vê agora o que aconteceu então? Jornal O Diabo de hoje, um artigo que  transcreve as ideias do coronel Manuel Bernardo que escreveu um livro sobre os comandos de Jaime Neves:


E na época? Jornal O Dia de13.12.1975.

Dn e JN: lá se vão os dedos que os anéis já foram

Outra notícia de ontem do Correio da Manhã e que tem uma importância real e simbólica que outros jornais não quiseram ver.

Os edifícios já lendários dos jornais Diário de Notícias, (jornal que já fez 150 anos, num edifício com muitas décadas) e Jornal de Notícias ( edifício emblemático do Porto) , uma referência real no Norte do país vão ser vendidos, para o ano.

O que é que isto significa? Em primeiro lugar uma coisa simples: precisam ardentemente de dinheiro a tilintar nos balanços para pagarem o esforço de propaganda que têm que fazer em prol de certos interesses relacionados com a firma Global Media Group, administrada pela figura sombria, Proença de Carvalho, o super-administrador, advogado... de quem? De José Sócrates...entre outros. Muitos outros ( CM 28 Janeiro 2015):




A  notícia diz que há "vários interessados" no negócio mas resta saber para quê... Os jornais vão manter-se naqueles locais ou os edifícios serão simplesmente reciclados em ambientes de escritórios para arrendar avulso, defenestrando-se as redacções?
No primeiro caso quem é que investiria num activo imobilizado para sempre e sem usufruto evidente a não ser rendas que podem ser obtidas de outro modo e mais em conta? 

É esquisito mas não admiraria que o adquirente fosse alguém misteriosamente oculto e anónimo de uma qualquer offshore. 30 milhões de euros, para certas personagens, são trocos e se em troco disso vier uma tranquilidade futura, a aposta pode ser certa e mais um mistério na vida portuguesa surgirá.

Quando aos jornalistas dos dois diários, devem estar perplexos ou tristes. Ou ambas as coisas. Porém, ainda não deverão ter perguntado ao espelho a quem servem. Se ao jornalismo verdadeiro ou ao patrão oculto que estas sombras projectam...
 A foto, muito rara, é de 2014, quando o actual director do DN tomou posse do cargo...e o senhor que projecta sombra no cavanhaque é o dito cujo. Enquanto continuar a ser dito, o cujo estará protegido.
Por quanto tempo?


 porca miseria.





O Correio da Manhã não é um jornal aborrecido...

Há 40 anos o cantor americano Loudon Wainright III publicou um "álbum" em que uma das canções -"Talking Big Apple 75"- falava de New York como uma cidade em que havia de tudo, incluindo violência, desgraças, tragédias, sujidade, droga, putedo, enfim, quase tudo o que este indivíduo aponta ao jornal Correio da Manhã porque lhe pespega ainda com a praga do futebol em muitas páginas e páginas.
 

 
No fim da canção, para rematar, releva tudo isso com o verso "Oh...but it´s not boring!" .


Tal e qual o Correio da Manhã: um estendal de desgraças na primeira página, relatos sumários de acidentes, crimes, faca e alguidar a rodos e com a liga à mostra em várias páginas que convidam sabe-se lá a quê...
Mas...não é aborrecido e tem notícias que mais ninguém tem. E se o jornal é um estendal de misérias nesse estendal encontra lugar o que outros jornais não publicam de todo e isso faz a diferença. Se em cada número do jornal houver, como há geralmente, duas ou três notícias singulares e importantes que mais ninguém publica por causa de censura interna e do respeitinho devido aos patrões, isso é jornalismo de gema.

Por exemplo, ontem e hoje há  notícias muito interessantes.

Por exemplo, sobre o almoço de confraternização que juntou cerca de 400 apoiantes de José Sócrates e no qual um Sombra do regime podre que temos, Almeida Santos, proclamava urbi et orbi e sem se descompor minimamente que José Sócrates era "vítima de uma perseguição injusta", " como veremos mais tarde"...

Porém a notícia não são as declarações extraordinárias e cínicas deste Sombra que já se gabou de ter sido um dos primeiros legisladores do regime e que indubitavelmente é um dos pilares do sistema de Justiça que temos. Este Sombra, quando surgiu o Casa Pia, lá apareceu a dizer à turba-multa dos media que "as testemunhas podem mentir". Quando o TGV se aprestava a mudar de poiso, lá surgiu o Sombra das trevas da Ota a garantir que era um perigo porque com o terrorismo " as pontes podem cair". E assim continuadamente.Sempre atrás de algo ou alguém e desta vez escolheu este Inenarrável patético. Por algum motivo deve ser e suscita preocupação...

Mas não, isto não é notícia porque é fenómeno recorrente do regime a morder nos cães que ladram enquanto a caravana passa.

A notícia é replicada hoje:

Se for verdade que José Sócrates levou consigo, ao almoço com apoiantes, seguranças privados à margem da lei, é caso para perguntar se as sombra do regime já se projectam para além dos Sombras. E será inútil o mesmo indivíduo denegar conhecimento de causa. A proximidade dos "jagunços" é de tal ordem que só o ridículo poderia permitir que nem o Jamé se apercebesse da cena de gangsters e tipica de uma certa mafia. Isto já chegou aqui...e nem Berlusconi terá ousado tanto.




domingo, novembro 22, 2015

A África francesa: outra descolonização.

A revista francesa Geo Histoire na edição de Dezembro 2015-Janeiro 2016 dedica o número à África no tempo das colónias e em subtítulo " da conquista francesa às independências 1850-1960".

No que ao caso importa, em 1958 De Gaulle, o herói francês da IIGMundial regressou ao poder e alterou a política africana da França.
Fez um referendo em todas as colónias e pediu um sim ou um não, inequívocos à manutenção das "possessões " enquanto comunidades ligadas à França. A Guiné francesa disse logo que não e foi logo o primeiro país africano e francês a tornar-se independente, sem mais.
Os restantes disseram "sim", mas ao longo dos anos seguintes foram-se arrependendo. No fim de 1960 a tal Comunidade franco-africana desapareceu no mapa.

Esse mapa que a revista publica é muito interessante pelo que revela e em Portugal, nos últimos 40 anos não me lembro de este assunto ser tratado assim nos media tradicionais. Além de uma detalhada configuração das "colónias" ( as da França estão e cor marron) aparecem os seus principais recursos naturais.


E a explicação da revista para a política francesa em África naqueles anos:






Na sua biografia de Salazar, Franco Nogueira relata a fls. 57  do Vol. V que na altura em que De Gaulle foi eleito, o novo embaixador de Portugal ( António de Faria) na capital francesa ao apresentar as suas credenciais recebeu de De Gaulle a declaração de que " A França e eu próprio admiramos a obra exemplar que Salazar realizou e realiza para bem do seu país e de todo o mundo". Tal e qual.

Porém, em Portugal, Salazar tinha uma visão completamente diversa do problema africano e a política africana de De Gaulle,  bem como a política que conduzia em França, contra as "direitas", suscitava muitas reservas por cá, conforme escreve Franco Nogueira. Em 1961 essa visão particular deu os seus frutos: a guerra no Ultramar.

Salazar sobre África, nesses anos antes do eclodir da guerra, pensava assim, segundo Franco Nogueira, na obra citada ( págs 136-137):



 Quem tinha razão? De Gaulle ou Salazar? O tempo o veio a dizer...

Obscenidade em directo nas tv´s

RR no Sapo:

José Sócrates afirmou este domingo que está de volta à vida política portuguesa e deixou críticas à actuação do Presidente da República no pós-eleições legislativas.
(...)
O antigo primeiro-ministro falava num almoço de desagravo em Lisboa, que reuniu cerca de 400 pessoas, entre elas históricos socialistas como Mário Soares e Almeida Santos, o líder da UGT, Carlos Silva, e antigos ministros Como Alberto Costa, Mário Lino e Vitalino Canas.
Numa altura em que se assinala um ano da sua detenção no âmbito da "Operação Marquês", José Sócrates deixou um aviso aos seus adversários: "Se o objectivo de alguém fosse que a minha voz fosse calada, como foi durante muitos meses, ficam agora a saber que essa voz está de volta ao debate público em Portugal". 


Não subsiste qualquer dúvida: este PS é um partido politicamente execrável para quem a divisão de poderes nunca existiu verdadeiramente  quando está em causa a sobrevivência política de um dos "seus". Foi assim no caso Paulo Pedroso e é assim agora.

Quem assistiu à prestação absolutamente patética do antigo primeiro-ministro transmitida em directo pelas televisões, à hora de almoço até fica banzado.
Ver um indivíduo com um processo de corrupção às costas e factos até vir a mulher da fava rica, acompanhado em homenagem por um grupo de notáveis como o que se apresentou é penoso. Incluiu até um que já disse que não cortará o bigode nem que a vaca tussa e que já declarou ser contra um governo que se anuncia e que o dito Sócrates reclama como a única solução...

Para verem melhor a ridícula figura que fazem estes notáveis deviam receber cada um esta prenda especial, com o texto correspondente a acompanhar:



 A propósito deste PS há uma notícia que passou relativamente despercebida e que é esta:

Decorria o período de pré-campanha eleitoral quando a Procuradoria-Geral da República recebeu um convite de António Costa para uma reunião no Largo do Rato, sede do Partido Socialista (PS), em Lisboa. Joana Marques Vidal recusou, uma vez que ao Ministério Público “não cabe participar” em reuniões partidárias. Mas aceitou receber Costa em audiência, sublinhando que estava disponível para fazer o mesmo por qualquer candidatura. O encontro nunca aconteceu.

Teme-se seriamente que este PS, com esta gente sem qualquer tipo de escrúpulos e com um currículo de meter medo a um jacobino, se constituir governo durante tempo suficiente tudo venha a fazer para sapar os processos que corroem o partido por dentro, por causa da corrupção. O processo do Marquês é apenas um deles.
Veremos o que sucede mas os prognósticos não são nada positivos, com uma Ana Catarina Mendes à espreita de oportunidade.
Cidadãos! Tenham medo!

O pátio da vox populi

O Correio da Manhã tem feito um belíssimo trabalho jornalístico na efectiva e real luta contra a corrupção em Portugal, principalmente a de alto coturno e que tem ficado quase sempre acantonada nas declarações piedosas de alguns políticos e governantes. Tais declarações circunspectas não passam disso mesmo na generalidade dos casos.
Lembremo-nos do que o engenhoso Cravinho tem andado a dizer e a fazer durante os últimos vinte anos, para termos um paradigma disso mesmo.

A entidade que em Portugal tem o monopólio da investigação criminal, o Ministério Público, apesar de melhorias pontuais evidentes, ainda não atingiu a maturidade de uma instituição acima de qualquer influência e à margem de qualquer rato infiltrado que aí faça ninho.

A prova de que certos poderes políticos tentam a todo o custo controlar directa ou indirectamente tal poder do Estado, advém desde logo da circunstância de ser exactamente o poder político executivo ( Governo principalmente e presidente da República, com poderes próprios) a nomear o chefe dessa instituição. Os exemplos dos últimos 30 anos estão aí e podem escrutinar-se, porque afinal, nesse período que é quase uma vida, passaram na instituição apenas quatro pessoas.
Não obstante et pour cause a mesma instituição ainda não alcançou a carta de alforria de independência reconhecida pela voz do povo no sentido de dar um cumprimento efectivo ao comando constitucional que é também civilizacional acerca da igualdade de todos os cidadãos perante a lei. Não vivemos em regime monárquico, no qual algumas figuras tenham privilégios especiais de imunidade e não vivemos em regime em que essa imunidade deva ser protegida por mor das conveniências de Estado.

 Nos últimos meses fizeram-se progressos assinaláveis no caminho da dignificação dessa instituição mas ainda não é suficiente e notam-se algumas falhas importantes e mortais para tal desiderato se tornar efectivo.
O grupo do Correio da Manhã tem contribuído para tal tarefa quase em exclusivo porque os demais "jornais de referência" apenas lhe seguem a peugada, quando seguem e o patrão semi-oculto os deixa. Os demais media, com destaque para as tv´s,  são uma lástima completa, neste domínio.
Só por isso o jornal merece uma condecoração honrosa e de grande mérito pelo contributo em tornar Portugal um país mais civilizado e frequentável.

Curiosamente tal grupo não tem actuado com espírito de missão cavaleira e justiceira, ou sequer politiqueira, mesmo que alguns o afirmem e tentem calar judicialmente. O grupo tem actuado, segundo se mostra, apenas por interesse comezinho de gerar lucros e ainda juntando a essa utilidade a agradabilidade de contribuir para um bem-estar comum mais consentâneo com a vivência numa comunidade civilizada, para não ir mais longe.

Julgo que o naipe de jornalistas que aí trabalham não será  muito melhor que outros que trabalham noutros media. São apenas um grupo que tomou consciência da realidade circundante, ambiente do nosso Portugal contemporâneo e que durante muito tempo andou escondido da ribalta.
Esse grupo que se reúne à volta de um director sem peneiras e com verdadeiro espírito jornalístico, tem a liberdade de escrever sobre tal ambiente que denota uma corrupção política evidente e de grande coturno. Isto parece-me indesmentível e de grande importância.
Não obstante, com as limitações inerentes à incapacidade de investigação própria e independente, torna-se também claro que o grupo se serve em boa parte dos casos de investigações judiciárias que resultam em processos criminais.
A saga das violações de segredo de justiça tem aí a sua aparente justificação mas não se esgota nesse patamar, uma vez que tais violações são consequência natural e inevitável das contradições legais existentes. Sendo verdade que sem violação de segredos de justiça algumas notícias não poderiam ser apresentadas ao público também é verdade que o público tinha e tem o direito pleno de as conhecer porque lidam com matérias políticas de grande relevância civilizacional.
A corrupção de políticos não pode ser oculta em segredos de justiça, à espera de um godot que aprecie judicialmente algo que poderia e deveria ser conhecido se existisse investigação jornalística a sério, em Portugal.
O Correio da Manhã tem feito em muitos casos o contrário do que o antigo Independente ( que proximamente será objecto de análise por causa do magnífico livro que anda aí, sobre o jornal) fazia: em vez de propiciar investigações judiciais a partir de denúncias jornalísticas de factos, aproveita já as investigações para dar as notícias...

Assim, vamos ao que interessa:

 A edição de hoje traz uma crónica de Eduardo Cintra Torres que lembra um assunto que a semana noticiosa trouxe à ribalta: o dos serviços secretos que temos.Na crónica está a notícia: o ex-espião Silva Carvalho que responde em tribunal por crimes que o MºPº investigou denunciou agora crimes que o MºPº não se sabe se vai investigar. E deveria saber-se.

Silva Carvalho disse em Julgamento, como arguido que as secretas trabalham ilegalmente na maior parte da sua actividade ( 90%, referiu...) "usam meios claramente ilegais como vigiar pessoas no espaço público, fotografá-las, filmá-las" e que tal é do conhecimento e autorização das chefias.
Implicou directamente o chefe principal, o magistrado do MºPº em comissão de serviço há muito, muito tempo, Júlio Pereira.
ECT refere acertadamente que este Júlio Pereira sobreviveu sempre a governos diversos nessa chefia e "o governo de Passos deixou as mesmas chefias que encontrou", sendo certo que depende dele, pessoalmente, a confiança naqueles. Ou seja, Passos Coelho tem confiança em Júlio Pereira e Silva Carvalho disse agora que este mesmo Júlio Pereira pode ser autor ou cúmplice de crimes continuados que são pelo menos os mesmos de que ele é acusado e por que está a ser julgado.

A questão que se coloca agora é mais importante: o Ministério Público que acusou Silva Carvalho sabia destes indícios antes? Investigou devidamente?

Retome-se uma notícia do mesmo Correio da Manhã, de Sexta-Feira, 20 de Novembro:


Deixemos de lado o caso particular do desembargador Rangel, lamentável a vários títulos e concentremo-nos no pormenor da notícia que dá conta, citando escutas telefónicas que não se sabe se estão em segredo de justiça, de que Antero Luís, juiz desembargador e ex-director do SIS falou com um amigo, presidente do IRN que agora está preso por práticas de corrupção nos "vistos gold". A conversa terá versado negócios que se forem verdadeiros porão em causa a dignidade inerente ao exercício de funções judiciais.
Este mesmo Antero Luís é agora desembargador depois de ter servido em comissão de serviço no SIS. Em 2005, data do consulado de José Sócrates com a memória do tempo que agora temos, Antero Luís foi escolhido como adequado à função. Em 2011, foi escolhido por José Sócrates, como director do SSI... no tempo em que Noronha Nascimento era presidente do STJ.   E esteve quase, quase a substituir o mencionado Júlio Pereira...no posto máximo das secretas portuguesas.

Antero Luís já fora notícia, também no C.M. em  14 de Novembro de 2014, fez agora um ano.

Antero Luís foi escutado num telefonema com António Figueiredo, o presidente do Instituto de Registo e Notariado que foi um dos 11 detidos na operação da Unidade nacional de Combate à Corrupção da PJ.
O juiz ter-lhe-á ligado a perguntar se encontraria compradores para um apartamento que um irmão dele detinha na zona de Leiria. O imóvel foi visitado pelos potenciais clientes, mas o negócio não foi fechado.
O preço pedido, mais de três milhões de euros, seria muito acima do valor de mercado. A PJ escutou tudo e fotografou a visita ao imóvel.
Contactado pelo Observador, o Conselho Superior de Magistratura diz que não foi informado e que esse é o procedimento normal em caso de investigação.

Esta situação particular do referido desembargador não é singular mas pluraliza-se em jantares avulsos na companhia do referido ex-presidente do IRN que não podem ser considerados anódinos.
Isto é o que se sabe publicamente, para além de outras notícias que mostram o que não devia ser permitido, desde muito cedo.
E sabe-se também que o processo que foi instaurado nos serviços do MºPº no STJ a fim de investigar a actuação daqueles magistrados judiciais ( Júlio Pereira e Antero Luís) além de outros ( Vaz das Neves por outro assunto e Horácio Pinto pela ajuda ao "varrimento electrónico") foi arquivado, já no corrente ano, certamente por ausência de provas suficientes da prática de crimes e eventualmente de ilícitos disciplinares.

 Para o cidadão comum que acompanha estas coisas torna-se algo incompreensível que tudo isto fique em águas de bacalhau e que o Ministério Público tenha assumido uma posição institucional que pode não contribuir para a melhor imagem que se exige à instituição na concepção acima apontada.

Lembra-se a este propósito que mediante  denúncias anónimas, simplesmente, dirigidas ad personam ao juiz de instrução criminal Carlos Alexandre aqui há uns meses, o mesmo Ministério Público foi pressurosamente instaurar inquéritos que contenderam com  dignidade pessoal do mesmo magistrado, obrigando-o naturalmente e para evitar suspeitas,  a fazer prova de factos negativos e a demonstrar, por vontade própria, todo o seu património com explicações detalhadas do modo como o obteve.
Tais inquéritos chegaram ao conhecimento dos media através de notícias que denotam o interesse particular de quem denunciou anonimamente e por outro lado, as próprias denúncias anónimas pela profusão de pormenores particulares, noticiados na altura, fazem suspeitar de algo pouco natural a estas denúncias. Fazem suspeitar precisamente do que não se deveria suspeitar e de que alguém andou a vigiar os movimentos desse magistrado e doutros, conhecendo-lhes os passos e ensinando modos de reconhecimento. Quem teria interesse nisso? Vários suspeitos se alevantam, claro está, mas o teor das denúncias suscita a redução dos mesmos.
Será que o MºPº procurou inteirar-se do modo como lhe chegaram as notícias, através de denúncias directas à PGD de Lisboa e duplicadas a outras entidades?

A investigação deste tipo de processos, incluindo agora aqueles em que  foram visados os referidos magistrados em comissões de serviço nas "secretas", deviam ser particularmente rigorosas, com absoluto segredo de justiça, com meios particularmente poderosos e terem o mesmíssimo âmbito que os inquéritos ao juiz Carlos Alexandre teve: atingir onde pode doer mais, porque não deve subsistir a mínima suspeita do que foi denunciado. E ver o resultado...

Será que sucedeu o mesmo com o inquérito aos tais magistrados em comissão de serviço terminada entretanto e com as vicissitudes que se conhecem?
Se tal não sucedeu e foram inquéritos pro forma é preciso saber porquê e só os jornais o podem fazer. Melhor, só um jornal o poderá fazer: precisamente o Correio da Manhã. Sendo tais inquéritos com acesso legalmente público seria interessante ver o efeito. A dúvida sobre isso é que não deve subsistir e compete ao Mº Pº afastar tais dúvidas em nome daquele princípio sagrado da igualdade dos cidadãos perante a lei.

Se um qualquer magistrado que venda bilhetes anunciados na internet a preço acima do tabelado nos mesmos é punido pelo CSMP e pelos tribunais administrativos e penais, com um ano de suspensão de actividade com perda de vencimento, tendo até sido proposta a demissão, o que dizer disto?
O que dizer do que se passou em 2009 aquando da passagem de Pinto Monteiro pela PGR? O que dizer da inacção do CSMP nessa altura?
Estes assuntos têm que ser devidamente equacionados por quem de direito e pelos media, sob pena de o MºPº português pouco se distinguir de outros países onde a independência do MºPº face ao poder político é zero.
Torna-se necessário perceber o modo de funcionamento democrático dos conselhos superiores das magistraturas que são a chave para se entenderem estes assuntos. Perceber a sua vertente de composição política, o seu modus operandi concreto, a idiossincrasia dos elementos que os compõem e no  fim de contas a sua verdadeira democraticidade, porque dela depende a legitimidade e a actuação nos níveis mais superiores que se referem a estas investigações.

Não pode haver níveis de impunidade em Portugal que passem por sectores protegidos, seja pelos pares, seja pela rotina, seja pela existência de consciências adormecidas ou normas entendidas como tal.


Quando tal mudança se operar e seja publicamente reconhecida, Portugal será finalmente um país moderno e respeitável. Até lá, essencialmente, não nos distinguimos de qualquer Angola, mesmo com as devidas distâncias.


sábado, novembro 21, 2015

"Não há factos! Não há factos!", o mantra de José Sócrates.

Os jornais de ontem e hoje dão algum destaque à efeméride da prisão de José Sócrates, ocorrida no   ano passado.
O Sol, ontem e o Público hoje, mais o Correio da Manhã destacam o acontecimento e glosam uma vez mais o caso do Marquês.
O visado continua no mesmo registo de negação acolitado pelos seus advogados extraordinários, que repetem como papagaios amestrados a vigarice intelectual: " não há factos! Não há factos!"

O Sol de ontem mostrava os factos e contra-factos que não se explicam porque falam por si. E o que faz a defesa de José Sócrates perante evidências iniludíveis? "Não há factos! Não há factos!" , como se os factos fossem algo como os argumentos que de tanto repetidos se tornam a única verdade admissível.

E como se contrariam factos divulgados e se impede a sua divulgação? Amordaçando o mensageiro dos mesmos. No caso, o Correio da Manhã que do assunto tem feito notícia com proveito e exemplo.

Como isto não chega porque os factos estão espalhados já por tudo quanto é sítio e até os "jornais de referência" lhes pegam, com luvas alguns deles ( DN e JN) e outros por dever de ofício ( Público) torna-se necessário gizar outra estratégia que oculte de vez tais factos. Importa regredir para o olvido de um arquivamento a aguardar melhor prova ou pelo menos para um baralho de dúvidas em cascata que permita afirmar sem qualquer pingo de vergonha que "Não há factos! Não há factos!", enquanto se amealham mais uns cobres na conta de honorários, pagos já em esforço de angariação de fundos.

E então surge o inacreditável que com este indivíduo Inenarrável se torna plausível:


Esta estratégia de fuga para uma frente salvífica encontra obstáculos de monta num senso comum que já se tornou caso de humor. E este é o sinal de que a estratégia inacreditável está votada a um fracasso fragoroso: José Sócrates "auto-suicidou-se" politicamente e ainda não entendeu, ou como escrevia o inspector João Sousa, da prisão de Évora, no outro dia no mesmo Correio da Manhã e por outras palavras, José Sócrates acredita que é possível "dar a volta" a toda a gente com lábia e manipulação adequada.
Está enganado porque como dizia um político antigo é possível enganar muita gente algum tempo; pouca gente durante muito tempo mas ninguém o tempo todo.
E na fase em que está já nem sequer consegue enganar a pouca gente que tem. Os crédulos que ainda apresenta publicamente são simplesmente os cínicos que desvalorizam o que toda a gente condena. Política, moral e se calhar criminalmente.

Tal como dizia o visado há pouco tempo numa conferência do fala-só, o efeito da prisão já se produziu. Ao contrário do que referia, procurando associar o PS ao seu estado de coma político,  o efeito só ao mesmo deve imputar-se.
A justiça política já se fez; a moral tem vindo a fazer-se e a criminal espera-se que se faça, igualmente.
José Sócrates, kaput.
Do CM de hoje, crónica de Quintela.


sexta-feira, novembro 20, 2015

A nostalgia de um reino imaginário

A defesa da monarquia como regime político viável, no Portugal da actualidade e futuro próximo, parece-me projecto utópico e próprio do reino das quimeras onde viceja um draco-rex a lançar-chamas de luzincu.
O que é uma Utopia? Não há definição fácil mas é possível juntar algumas noções.  Não sendo filósofo nem me arrogando conhecimentos que não tenho, procuro o saber de outros para compreender minimamente o assunto.  Para o Saber acabado e embalado em vácuo  prefiro  os originais, sem  precisar muito de intermediários enfeitados como intérpretes. 

Ou seja, cito directamente quem sabe muito mais e já deu provas disso.  Para o caso, volto ao Norberto Bobbio do Il Dizionario di Politica. Assim as ideias aqui  expostas  a arremedar gnosiologia são apenas glosas.
Assim, nem toda a gente que escreve sobre utopias será utópico.  "O lugar inexistente" associa-se ao "Lugar da felicidade"?
Karl Mannheim em 1929 definia a mentalidade  utópica  como algo "em contradição com a realidade presente e a quebrar  os vínculos da ordem existente. "
 Esta definição integrará  a ideologia revolucionária e a ideologia conservadora?  Adequa-se   aos  revolucionários da esquerda dos amanhãs a cantar, os verdadeiros utópicos  e também aos conservadores, os   ideólogos,  que almejam uma monarquia de reizinhos e pajens, com os palafreneiros fardados e uma corte de imperiais cavaleiros dos  findos  tempos de antanho?
 A literatura entrou no campo da Utopia como terreno de eleição e a obra farol é a de Tomás Moro  que glosava o "Lugar inexistente" com o lugar da felicidade, na busca do Estado óptimo, bem como a de Campanella, com a Cidade do Sol.  Mas não é destas utopias que aqui curamos.
Numa acepção mais generalizada o utópico  "não pretende a destruição da realidade actual, que aceita no que tem de melhor , para a qual a sociedade que desenha é uma projecção sua na qual os aspectos positivos aparecem maximizados. "
Naturalmente um utópico recalcitrante denega o efeito e assegura que a possibilidade está ao alcance da vontade de quem se prestar ao cuidado de tentar lobrigar o que eles vêem claramente: a ilusão em lança-chamas de luzincu.
Portanto, discutir com utópicos é como pasmar a chover no molhado, figurando como paspalho.
Os amanhãs hão-de cantar um dia e o reizinho, se a Regeneração  quisesse e a Restauração assim o permitisse, chegaria  noutro dia, de nevoeiro denso, de preferência para dramatizar o efeito da ópera-bufa.
O sonho com os amanhãs a cantar só tem paralelo na promessa de um harém de virgens que esperam ansiosas cada bombista-suicida  feito kamikaze.  O sonho com o reizinho é ainda mais fantabulástico  na fancaria: contenta-se até com um qualquer bastardo que apareça na rifa dos pretendentes ao trono por inventar. Daí, até poderiam adorar o sol, sempre é o astro-rei...e já aconteceu com outros povos e noutros lugares.
Em Portugal esta causa real está entregue a uma associação irrelevante e quase anónima e a pajens do género  draco-rex a  brilhar luminescências de pouco fósforo. Não há luz natural suficiente para alumiar caminhos e a artificial está pelas horas da falta de recursos.
Entre os associados figuram  individualidades que projectam auras de causas perdidas e os demais  devem celebrar a causa com um efectivo e real  empenho em ocasionais encontros prandiais e pouco ou nada mais.
O monarca proposto?  D. Duarte Pio de Bragança, da casa dita. Simpática personagem de uma causa perdida há  mais de um século.  
A prole de pequenos príncipes já deve seguir as pisadas do pai, pretendente sem trono obrigado a fazer pela vida perante uma  realidade  inconsistente com uma utopia de restauração.
Quanto ao resto deve ser "viva o rei!" aquando das saudações prandiais.  A simpática agremiação merece louvor por recordar a família alargada e com vínculos de sangue realista configurando-se na sociedade como associação elitista atestada pelos pergaminho no Tombo. Os castelos foram levados pelo tempo e as casas senhoriais perderam as honras por usucapião.
No entanto, durante os últimos cem anos os bravos adeptos da causa real deixaram progredir e prosperar o jacobinismo reinante sem um pio dos ascendentes de  D. Duarte. 
A causa real rendeu-se a Salazar e não houve Pio  que se ouvisse, claro está, uma vez que o Pio que se viu apareceu pela primeira vez a dar vivas à cristina republicana do MFA, logo em 1974. Foi assim:
  "Vivo intensamente este momento de transcendente importância para a Nação. Dou o meu inteiro apoio ao Movimento das Forças Armadas e à Junta de Salvação Nacional"...

Era mesmo preciso fazer esta figura naqueles trajes?  É desta elite que surgirá o tal rei de Portugal e dos Algarves, como afiança o lança-chamas de luzincu?

Mais: depois de um hiato de vinte anos silenciosos para com a real causa e respeitosos para com a causa real do regime vigente,  apareceu na  Olá, sem grandes teres ou haveres, ainda a taramelar ideias feitas em sussurro e  não concitou carisma ou real crédito. 
 Casou com o grande estrépito dessa revista e desde então o real Pio calou-se outra vez, para não assustar a manhã de nevoeiro que virá...um dia, qualquer dia....
Os pajens fazem coro nesse silêncio, cantando o hino que já ninguém conhece e servirá de santo e senha para entrar na dita associação.
É deste nadir que surge a ideia salvífica de um  lança-chamas quimérico e utópico.

Pois bem, neste devir nostálgico de um tempo que nunca foi vivido e num espaço inatingível, o melhor é irem dar banho ao cão pois por aqui se pode ver a dimensão quimérica da utopia real: a mordedura do mesmo cura-se com o pelo do dito.

Quanto à questão latente acerca da causa real de Salazar, parece-me que não vale a pena entrar em apostas porque os jogos estão feitos.

Revista Resistência de Julho/Agosto de 1977, um dos últimos expoentes de uma direita portuguesa que então ainda resistia a tudo e a todos os que regiam o país.

Os artigos em causa de que se colocam  recortes são  da autoria de Barradas de Oliveira ( o primeiro) e António José de Brito ( o segundo). Ambos concluem o óbvio: se Salazar era monárquico guardou segredo de tal coisa e era séria porque o levou para a tumba...que está no Vimieiro.

  Por outro lado, a direita que estes dois autores representam também foi com eles para a tumba. O que resta são apenas lança-chamas de luzincu que nem dão para alumiar discursos antigos lidos à pressa.
Daí às utopias é a distância de um sonho.


 


Actualidades

Isto é para ler porque vale a pena ler. Vem no Sol de hoje. Quem quiser ler basta clicar em cada imagem com o botão do lado direito do rato, para abrir outra janela e aí poder ampliar a imagem.






E já agora, a continuação da saga, cada vez mais densa, do inocente presumido.


O Público activista e relapso