sexta-feira, dezembro 29, 2017

Sartre, esse grande perseguido pelo fassismo

O filósofo Jean-Paul Sartre foi um dos pensadores que influenciaram a esquerda comunista e pós-comunista que desembocou nos partidos do género Bloco de Esquerda.

O pensamento de Sartre escrito em obras literárias de género variado, encontra as suas raízes no marxismo e até 1970, pelo menos, o problema de Sartre era o das suas relações com o marxismo que se foram modificando desde a II Guerra mundial. As circunstâncias mudaram e Sartre foi mudando. Em 1980 era outro e disse-o numa entrevista alargada já por aqui mencionada e comentada.

Algumas obras literárias de Sartre foram censuradas pelo regime anterior a 25 de Abril de 1974 como o denota a publicação oficial sobre " livros proibidos no Estado Novo", da Assembleia da República, edição de 2005.


Não obstante estas proibições cujo ano e circunstâncias a publicação oficial não esclarece devidamente, censurando ipso facto esses elementos de relevância fundamental, sofriam de algum relativismo bem à portuguesa, como denotam estes documentos:


Era uma censura a meio gás, feita de burocracias estupidificantes e por isso ineficazes: toda a gente que queria ler os livros tinha meios para tal. Era o mesmo efeito que o Index da Igreja Católica que ainda existe: para inglês ver. E serve agora dois propósitos. Um é o dos antifassistas primitivos e secundários que pretendem demonstrar que havia censura feroz no Estado Novo. Outro é que possibilita o desmentido de tal aleivosia e o descrédito de quem o faz repetidamente, nos dias que passam.
Não há nenhum esquerdista de meia tijela, do género pacheco pereira que possa dizer que foi proibido eficazmente de ler o que queria, dos autores marxistas da época e que eram publicados em França, por exemplo.

Por isso mesmo é que se compreende esta capa da Vida Mundial de 13.11.1970. Se a censura fosse mesmo eficaz teria proibido a publicação integral da entrevista de Sartre, com foto na capa e nove páginas com ilustrações, saídas da revista inglesa de esquerda New Left Review. 




As ideias expressas são altamente subversivas, pós-comunistas e ajudaram a formar o espírito de esquerda que apareceu como cogumelos em humidade no dia a seguir ao 25 de Abril de 1974.

Além disso, a revista nesse mesmo número tem um artigo curioso, extraído da publicação francesa L´Actualité, sobre a então URSS. Uma autêntica lavagem de cérebro como a esquerda costuma fazer relativamente a assuntos que censura de modo eficaz e que nem tem comparação com o que o Estado Novo fazia ou deixava de fazer.
A realidade da URSS é apresentada totalmente distorcida pela propaganda mais soez e censurada de um modo que o Estado Novo nunca fez por cá relativamente ao regime, como pretendem agora os próceres que então acreditavam na URSS e no seu fantástico modelo social, de tal modo que o queriam implantar por cá. E ainda querem, esses fósseis carcomidos pela estupidez.
Nem essa contradição jamais os demoveu da defesa de ideias estúpidas que continuam a propagandear.


Nesse ambiente esquerdista nas redacções jornalísticas que se continuou até ao 25 de Abril de 1974 não é de admirar que no PREC que se seguiu, a figura de Sartre surgisse como um guru de importância fundamental.
E foi assim acolhido em Portugal, em 1975:


A fama de Sartre, tal como a do brandy Constantino, "já vinha de longe".

E o "Estado Novo" pouco ou nada fez para a contrariar. Nem sequer permitiu que se discutissem livremente as ideias do filósofo desacreditado. E nisso errou e muito porque deixou todo o campo aberto à propaganda esquerdista que se seguiu.