terça-feira, fevereiro 20, 2018

A Mosca na estrumeira marxista

Se há jornal nacional que foi sempre um cóio da esquerda portuguesa, seja a comunista, a cripto-comunista e a dos compagnons de route do comunismo,  esse jornal foi o Diário de Lisboa que apareceu nos alvores republicanos dos anos vinte e se findou já nos anos noventa do século XX após a queda do Muro que sempre se esforçaram por manter de pé, aplaudindo sempre quem o construiu.

No início dos anos setenta desse século,  o jornal era dirigido por A. Ruella Ramos que se manteve até muito depois do 25 de Abril de 1974 acompanhando o PREC com outro esteio impresso do comunismo da verdade que queriam impor por cá, como Direito e que se titulava Sempre Fixe.

Ainda nos anos sessenta o jornal tinha um suplemento literário que concorria com o suplemento das Quintas-Feiras do Diário Popular, apesar de um ou outro colaborador ser comum, caso de João Gaspar Simões.
Mas não o de Alexandre O´Neill que colaborava regularmente no Suplemento e publicou em 28 de Novembro de 1968 ( no Suplemento nº 539)  este texto num estilo que já não se usa escrever em Portugal:



Esse suplemento literário publicado no jornal teve a companhia, a partir de 1969, primeiro ao Domingo ( até 1972) e depois ao Sábado ( já em 1973)  de um outro a que deram o nome de A Mosca e muito celebrado porque reunia textos farsolas de intelectuais que aborreciam o regime e pretendiam através dos mesmos incomodá-lo, subvertê-lo à maneira "intelectual",  sendo frequentemente alvo da Censura e Exame Prévio. A seguir se mostra porquê e o grau de provocação que se atingia, queixando-se depois de serem censurados...fazendo o mal e a caramunha.
Os farsantes que escreviam os textos farsolas não assinavam com o nome e usavam pseudos para melhor disfarçarem a identidade intelectual, como era o caso do escritor contestatário do regime, José Cardoso Pires, expatriado em Londres durante algum tempo e também Luís  Sttau Monteiro, filho de Armindo Monteiro,  um antigo embaixador em Londres, no tempo da II Guerra Mundial.
Sttau, feito engraçadinho, foi na segunda metade dos setenta membro de júris de concursos televisivos e  assinava textos propositadamente imbecis a que a esquerda achava muita graça sob o pseudo de Guidinha. Este pseudo, durante o PREC mudou de armas e bagagens para o então aparecido O Jornal ( que começou a publicar-se em Maio de 1975) e aí passou a verter as redacções apalermadas de sempre. Confesso que raramente li uma de fio a pavio, tal o fastio imediato que provocavam pela suposta graça redactorial e que inventou a escrita de jornal sem pontuação.

A Mosca apesar de tudo tinha uma qualidade de escrita superior ao que hoje sucede nos Públicos, cujos suplementos são intragáveis, constituindo no final dos anos sessenta um espécie de feudo da esquerda intelectual que já se manifestava nas canções de intervenção dos José Afonsos, José Mários Brancos, José Jorge Letria e outros Samuéis e Faustos que nos setenta proclamavam a excelência do comunismo como uma via de futuro risonho para Portugal, a cantar nos amanhãs.

Em Agosto de 1969, precisamente num desses suplementos, o intelectual João Paulo Guerra, socialista compagnon de route do todos os comunismos, apodou de "nacional cançonetismo" o estilo musical que teimava em ater-se à tradição da canção ligeira portuguesa e não alinhava no refrão do venham mais cinco que o que faz falta é dar poder à malta...

 Esta imagem foi tirada da internet, de um sítio que já perdi o rasto.

 Era esse refrão que o mesmo defendia ser o caminho adequado ao país de então, o poder popular contra a burguesia dos ricos, monopolistas, latifundiários e afins. Tudo sempre em favor dos pobrezinhos, como ainda hoje acontece e que acabam de tornar sempre mais pobres enquanto eles levam a vidinha da esquerda caviar. Hoje são geringonços quando dantes eram revolucionários de pacotilha.

Essencialmente era esta gente intelectual que alimentava A Mosca, ou seja, o insecto que varejava sempre na estrumeira do marxismo, tal como ainda hoje acontece porque nada esqueceram e nada aprenderam.
Em Agosto de 1969 já tinha havido invasão da Checoslováquia pela URSS, já tinha havido denúncia dos crimes comunistas, mas por cá, nada disso importava. Acima de tudo estava a "luta contra a burguesia", pelos pobrezinhos, sempre.

Para se ver melhor como eram esses suplementos de A Mosca aqui fica um, integral nas suas 12 páginas do dia 8.12.1973.





Em 27 de Abril de 1974, um Sábado, A Mosca publicou-se mas não reflectiu muito a mudança operada dois dias antes. Apesar disso, ainda se arranjou tempo de publicar a redacção da tal Guidinha da melena com um texto provocatório ao regime anterior, depois de vários cortes dos anteriores textos farsolas.



Nesse dia as notícias reflectiam o que iria acontecer dali a pouco tempo: a caça às bruxas da pide e o regresso do antifassista Soares do bem bom de Paris. As notícias sobre os mortos no Ultramar não diferiam em nada daquelas que eram dadas nos anos anteriores...


Por outro lado esta notícia que viria a ser publicada no Sempre Fixe dessa semana mostra um fait-divers que hoje não sei que significado teria:



6 comentários:

joserui disse...

Quando o macaco provém do Homem, a teoria da evolução apresentada, é bem capaz de ser verdade. Está mais para isso que outra coisa. Isto vai ser pior que a aldeia dos macacos.

Floribundus disse...


« Aquila non capit muscas
é um provérbio em latim, traduzido como
A águia não apanha moscas»

na minha juventude havia várias maneiras de apanhar moscas

adoram poisar na MERDA para se alimentarem


deviam aproveitar as proteínas não digeridas desta para alimentação animal

lusitânea disse...

Na próxima encarnação vou tirar sociologia para acabar com as pobrezas, desigualdades e diferenças além de promover os prazeres carnais que se possam imaginar para que o povo seja feliz.Os meus referenciais serão o Louçã e o Boaventura Sousa Santos porque o mundo é um só e o dinheiro aparece sempre...

João Sousa disse...

A malta da Mosca até podia ser de esquerda, mas isso não os impedia de aceitar a publicidade ao cartão de crédito do banco do muito capitalista Champalimaud.

josé disse...

O dinheiro nunca incomodou qualquer esquerdista, de preferência muito e nos bolsos do próprio. Os bancos como lugar para o guardar também nunca incomodou.

O que incomoda é o dinheiro alheio a que não podem deitar a mão.
Nacionalizando um banco, como fizeram em 1975, fica tudo em boas mãos...até a possibilidade de confisco por motivos revolucionários.

Ricciardi disse...

Os venezuelanos estão a fugir do país. A salto. De qualquer forma, fogem da pobreza extrema. Já saíram algumas centenas de milhar de pessoas.
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O regime bolivariano tem muitas semelhanças com o Portugal no tempo do regime salazarista. Também no regime do estado novo os portugueses fugiram aos magotes. Da pobreza material e de espirito. Todos somados saíram em Portugal do tempo da outra senhora mais de 2 milhões de pessoas.
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Porem, lá como cá, subsistem pessoas a apoiar os respectivos regimes.
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Rb

O Público activista e relapso