sábado, fevereiro 03, 2018

Notícias falsas na Educação e uma grande, grande vergonha democrática.

Saiu o "ranking" das escolas nacionais, públicas e privadas. As privadas, mais uma vez passaram a perna completamente às públicas o que é uma vergonha para a democracia. No tempo antigo do regime de Salazar e Caetano, mesmo com um quinto dos alunos, as escolas públicas eram de excelência, quase todas e os professores eram muito melhores que os de hoje. Eram respeitados e não se sentiam uma classe proletária e desprestigiada, como hoje.

Mais: o sucesso das escolas actuais só se alcança à custa de outro fenómeno de que ninguém, mas mesmo ninguém fala: explicações privadas, mesmo ou principalmente nas escolas privadas. Se assim não fosse o "ranking" das escolas andaria perto do alcançado pela escola da Baixa da Banheira, a pior da classificação.

"Quase toda a gente tem mais que uma explicação", disse na tv, uma mãe de uma aluna de uma escola de Coimbra que tinha dito algo "politicamente correcto" na mesma peça televisiva e atribuído o sucesso aos professores.

Será que existe em Portugal maior mistificação pública do que esta? Duvido. O óbvio ululante que toda a gente que tem filhos da escola conhece é completamente obliterado nas notícias. Porquê esta imbecilidade noticiosa?

Sim, porquê? Por um lado porque é mesmo disso que se trata: imbecis que noticiam, sobre tudo e mais o par de botas e aceitam acriticamente o que lhes dão como notícia. Por outro lado, o politicamente correcto nunca admitiria que temos um sistema público de ensino completamente falhado. Completamente e que só os explicadores privados ajudam a salvar. E que também são professores, precisamente os melhores, que se elevam acima da mediocridade geral.
Estes explicadores avulsos, clandestinos na sua maior parte, são quem salva o ensino em Portugal. Deviam ser condecorados no 10 de Junho porque há anos e anos que é assim e cada vez é pior...

Quem é que não sabe que isto é assim, no ensino secundário, em Portugal?

21 comentários:

aguerreiro disse...

Era um ensino bem mais rigoroso e igualitário, por isso mais democrático. Tinha também uma grande virtude:- eram exames iguais para todos do Minho a Timor e tudo o que era ensino privado ou religioso (seminários) vinham prestar provas ao Liceu. Aliás só frequentavam o ensino privado aqueles que não tinham proximo o
ensino público, casos de Valença e Monção (só até ao 5º ano) os mais cábulas ou despistados frequentavam também o privado, mas no tempo de exames todos tinham que render preitesia ao liceu! Aqueles que optavam pela s escolas comerciais/industriais esses só tinham uma opção no distrito e claro muito maior frequência de alunos, mas as regras eram semelhantes e os exames iguais . Não havia a hipótese de resolverem o exame no quadro e toda a gente copia (colégio de Campos ) e outros que nunca se chegou a saber,

zazie disse...

O palerma do ministro diz que não acredita em "rankings".

josé disse...

Esse ministro é fruto dos rankings. Da estupidez. E ficou altamente classificado.

zazie disse...

ehehehe

Lura do Grilo disse...

Vão acabar com os rankings para esconder o insucesso. O governo chavista também acabou com estatísticas quando tudo descambou.

Mas vejam isto:
http://uaonline.ua.pt/pub/detail.asp?c=53417

Anjo disse...

O que a fulana "dotôra" quer dizer na dela é que é melhor acabar com os exames. Não deve faltar muito...

joserui disse...

As explicações são uma realidade inegável. Mas será a quantidade a diferença, porque eu também as tive há anos — matemática e geometria descritiva — nesta última ajudou porque nunca mais tirei menos de 18, tornou-se impossível. Na faculdade uma vez fiz o meu exame e o de uma colega (ninguém percebe porquê!) e tirei 18,6 para mim e 18,4 para ela — sim, também eu sou culpado de peculato, porque peculei (ou pequei um bocadinho) a troco de umas figuras geométricas.

joserui disse...

Claro que hoje são explicações e "centros de estudo" para ver se tiram 10, o que não é difícil, porque para reprovar é preciso o aluno estar mesmo decidido.
No Colégio do Rosário, alunos médios são muito pressionados a ter explicações, porque isso também os ajuda no ranking… esta sociedade tornou-se uma chachada e uma anedota. Os "centros de estudo" também existem para despejarem as crianças e jovens, porque os pais trabalham até tarde e avós já não é como antigamente… em frente à minha casa existe um que tem 140 anulos, aquilo é uma espécie de segundo turno da escola.

joserui disse...

Era alunos, mas fugiu o teclado!

Apache disse...

"As privadas, mais uma vez passaram a perna completamente às públicas o que é uma vergonha para a democracia.”

Há escolas privadas com muito bons resultados. Não entra nelas quem quer, entra quem pode. Também há (cada vez menos) uma ou outra escola pública assim.
Há escolas privadas onde entram todos os que querem. Essas, têm resultados idênticos aos das escolas públicas.


“No tempo antigo do regime de Salazar e Caetano, mesmo com um quinto dos alunos, as escolas públicas eram de excelência”

Corrijo, se me permite: No tempo antigo do regime de Salazar e Caetano, porque só frequentavam a escola os alunos que queriam aprender, as escolas públicas eram de excelência.
Está um pouquinho incompleto porque a disciplina na sala de aula era outra, a carga horária também, os programas idem, e não havia avaliação de professores. E isto, faz (quase) toda a diferença.
O que temos agora não é uma vergonha para a democracia, é uma vergonha porque é a democracia (a que temos direito).

Apache disse...

“Mais: o sucesso das escolas actuais só se alcança à custa de outro fenómeno de que ninguém, mas mesmo ninguém fala: explicações privadas, mesmo ou principalmente nas escolas privadas.”

Tenho dúvidas que haja uma relação de causa (explicações) efeito (sucesso) tão evidente e generalizada, precisamente pelo que escreve a seguir: “Quase toda a gente tem mais que uma explicação" (mesmo os maus alunos).



“Completamente e que só os explicadores privados ajudam a salvar. E que também são professores, precisamente os melhores, que se elevam acima da mediocridade geral.”

Isto carece de prova.
Há bons, razoáveis e maus professores, como em todas as profissões e, portanto, há bons razoáveis e maus explicadores. Que, em muitos casos, são as mesmas pessoas (como o escrevente, por exemplo).

joserui disse...

Mas pessoalmente, não elevava tão depressa a heróis os explicadores. Há de tudo.
Professores conheço imensos… professoras, conheço as que foram por vocação e só querem ver-se livres do ensino; conheço uma (a génio da geometria) que foi para professora porque se viu com um filho nos braços e encostadinha ao estado é que esta(va) bem; das minhas diversas turmas, só os piores foram para professores, alguns verdadeiras nulidades — para mim começa logo aqui um dos problemas graves. Outro problema grava são os pais da geração com 40 anos, são piores que os filhos. Os filhos são uma insurrectada inacreditável sem educação em casa, chegam à escola e os professores é que têm de aturar. E depois ainda aturam os pais.

joserui disse...

Tenho uma cena anedótica com a talento em projecções ortogonais… telefonei e estava o (tal) filho a dar explicações. E eu "Ele dá explicações, a quem? Então não anda no 12º?". E ela "Ah, sabes que ele percebe muito de geometria descritiva…" E eu "Ah, estou a ver que sai à mãezinha…" E ela "Não sejas parvo, ele está aqui a ajudar uma colega minha porque puseram-na a dar geometria descritiva." E eu "Vais ter que repetir isso… a ver se eu entendo… o teu filho está a dar explicações a uma professora?".
Enfim, a partir daí descambou em discussão. Porque a) Os professores são corporativos e não se pode dizer o óbvio; b) a tese dela é que a colega era excelente professora, pagava as explicações do bolso dela fora a tarde de Domingo e se fosse outra nem se preocupava e ia para as aulas sem saber nada, porque a culpa é de quem lhe atribuiu a disciplina.
Portanto é isto o ensino, começa nas direcções e acaba nos professores, passando por alunos, contínuos — perdão, auxiliares de educação —, pais, politiqueiros e toda a sociedade do "bom quanto baste".

joserui disse...

Pessoalmente, acho a escola pública uma abominação. E como sou coerente, tenho os dois filhos no colégio alemão — que nem aparece nos tais rankings. Nem por isso a minha filha se safa de explicações de matemática.
Mas, assisti no 10º ano a uma debandada de alguns alunos para os tais colégios dos rankings e das médias. Ribadouros e Cia. Lda. Fraudes educativas. É gente que sabe viver. Eu sou um burro, nunca mais aprendo. Depois vou ter os meus filhos a concorrer na entrada de uma qualquer faculdade com esses génios das altas médias e dos altos rankings. Fico com a esperança que tenham conhecimentos e mesmo com notas mais baixas possam entrar onde desejam. Mesmo tendo-se tornado o ensino superior outra chachada.

Terry Malloy disse...

"Vais ter que repetir isso… a ver se eu entendo… o teu filho está a dar explicações a uma professora?"

Isso de garotos a darem explicações a catedráticos tem precedentes ao mais alto nível:

"[Jorge Sampaio] mostra-se muito crítico com o Governo de Santana Lopes, o que não estranho, e a certa altura diz-me esta coisa extraordinária: «O meu filho André, que está no primeiro ano de Economia, explicou-me que a política económica do Governo está errada.» Fico pasmado. Então o Presidente, que foi candidato a primeiro-ministro, que tem os seus conselheiros económicos, pauta-se pelo que diz o filho que anda no primeiro ano de Economia? E ataca o Governo com base nisso?"

José António Saraiva, "Eu e os políticos", 2016, pp. 142-143.

Lura do Grilo disse...

" das minhas diversas turmas, só os piores foram para professores, alguns verdadeiras nulidades — para mim começa logo aqui um dos problemas graves. Outro problema grava são os pais da geração com 40 anos, são piores que os filhos." Pura ... verdade.

"Para as melhores escolas privadas vai quem pode": ainda bem. Ajudam a que os impostos que pagam e não gastam como estudantes sirvam para o Estado melhorar a qualidade. Também há escolas pública a que muita gente vê negado o acesso.

Nos EUA os pretos têm um ensino miserável, professores miseráveis, não podem mudar de escola e ficam condenados a crescer, viver e morrer no bairro onde nasceram. Os sindicatos democratas aplaudem pois aquilo é um viveiro de votos à esquerda que importa manter.
Não sei se a Secretária de Estado que Trump nomeou será capaz de remover os parasitas que vivem no hospedeiro.

Podem acabar com os rankings mas aquilo que as pessoas percepcionam isso não conseguem fazer.

josé disse...

"Pessoalmente, acho a escola pública uma abominação. E como sou coerente, tenho os dois filhos no colégio alemão — que nem aparece nos tais rankings. Nem por isso a minha filha se safa de explicações de matemática."

Auto-explicativo...

Floribundus disse...

se o ensino superior não tem qualidade

não sai gente que consiga ensinar decentemente

o poder politico entregou o ensino público aos índios pais e filhos

Ramalho Eanes
'desbocou-se' sobre o poder que nos afecta

no meu tempo de liceu os colégios ou eram religiosos ou para burros

o liceu Pedro Nunes funcionava como liceu normal

Floribundus disse...

Insurgente

justifica o velho adágio: “se uma pessoa de direita não concorda com uma prática, não a faz; se um esquerda não concorda com uma prática, procura que o estado a proíba”.

Unknown disse...

Isto de ser a paixão de tanto governo só podia correr mal. As paixões são assolapadas, intensas, mas fugazes. Por norma acabam mal.

joserui disse...

Ora aí está… o filho do Sampaio, olha-se para ele e vê-se logo mais um génio da economia. Eu não vinha para aqui inventar… ou vinha? Sem querer ser imodesto, inventei nas notas que foram na verdade 19,6 e 19,4, enganei-me!
As escolas deviam ter mecanismos para poder reter os bons professores e dispensarem os piores. Mas esse tipo de poder, em país que alterna entre o tiranete e o sabujo, é capaz de dar mau resultado.