sexta-feira, fevereiro 02, 2018

Outros faits-d´hiver para temperar guisados

No Século Ilustrado de 12 de Junho de 1971, poucos meses depois de um primeiro relato acerca do indivíduo que se deixou atascar na neve da Serra da Estrela, surgiu outro, praticamente idêntico e quase  no mesmo sítio.

 Desta vez, foi um casal de turistas franceses, apanhados em circunstâncias mais improváveis. Depois de terem passado por um grupo de cantoneiros que não lhes mencionaram o estado dos três quilómetros de estrada que os separava de uma Pousada, logo a seguir passaram pelos tripulantes de um "long-rover" limpa neves que também nada lhes disseram e continuaram a viagem arriscada ficando atolados.
 Desta vez o que sucedeu para correr mal foi a confiança na aventura de estrada coberta de neve, depois de se terem desviado de outra e pensarem que iam para melhor.

Curiosamente, o relato jornalístico remata com críticas dos protagonistas à falta de sinalização das estradas, ao contrário de França. E estranharam a falta de aviso dos cantoneiros e dos tripulantes do "rover".


O que denota este procedimento? Um desinteresse pela sorte alheia, nessa altura? Nem por isso. A mim, denota uma maior liberdade individual de escolha, menos paternalismo do Estado e maior responsabilidade inerente e também individual. Ainda ninguém se lembrava de atribuir ao Estado a obrigação de proteger os cidadãos para além do mínimo exigível.
Ao longo destas décadas caminhou-se no sentido oposto, ou seja, de atribuir cada vez mais tarefas de protecção ao Estado, tornando as sociedades mais dependentes e infantilizadas.

Será isto melhor? Os incêndios deste ano provaram o contrário...

Portugal em 1971 estava numa rota de desenvolvimento económico inequívoco, como provam estes pequenos apontamentos dessa revista. Século Ilustrado de19.6.1971:
 




E  a primeira expressão, a nível europeu,  do que viria a seguir, por cá, nos anos oitenta com a explosão de colombos grandes e pequenos à conta dos belmiros e cª. Século Ilustrado de 12.6.1971. A Europa não seguiu este exemplo e Portugal também não o seguiria, pela certa, se não tivesse acontecido o 25 de Abril de 1974. Os novos ricos devem tudo à democracia... 




Por outro lado, na mesma altura, o modo como se relatava o ambiente natural da esquerda comunista era sintomático do que se iria passar depois, com o aparecimento dos historiadores de guisados.

O alfobre intelectual em 1971 não era muito melhor que isto, na imprensa da época que relatava o que se passava na realidade dos países comunistas: intelectuais franceses que se demarcavam de confissões "espontâneas" obtidas certamente por força de convicção revolucionária nas pátrias socialistas que serviram depois de farol de guia para a nossa "construção do socialismo".

Que adiantaram estas notícias, na época? Nada de nada. Ninguém as leu ou compreendeu. Porém a sua explicação e discussão se realizada, permitiria evitar o surgimento dos intelectuais do guisado que agora temos.


 E tal era tanto mais estranho que na edição de 30. 10.1971 esta reportagem acerca de um escritor soviético, de sucesso, inicialmente identificado com o  regime e depois "defector" traidor dos ideiais socialistas, o que explicava deste modo a uma publicação inglesa não identificada ( The Guardian?) e em tradução não assinada.

Um dos indivíduos que certamente leu este apontamento bem esclarecedor do que era então a União Soviética, foi Eduardo Gageiro, o fotógrafo colector de imagens do 25 de Abril e que apoiou a causa comunista como poucos.

Estes indivíduos não sabiam ler? Queriam mesmo replicar em Portugal o que havia na URSS? Não lhes servia de lição o que poderiam aprender deste modo?

Não. Não servia e a prova é que nada esqueceram e pouco aprenderam.