Desta vez, foi um casal de turistas franceses, apanhados em circunstâncias mais improváveis. Depois de terem passado por um grupo de cantoneiros que não lhes mencionaram o estado dos três quilómetros de estrada que os separava de uma Pousada, logo a seguir passaram pelos tripulantes de um "long-rover" limpa neves que também nada lhes disseram e continuaram a viagem arriscada ficando atolados.
Desta vez o que sucedeu para correr mal foi a confiança na aventura de estrada coberta de neve, depois de se terem desviado de outra e pensarem que iam para melhor.
Curiosamente, o relato jornalístico remata com críticas dos protagonistas à falta de sinalização das estradas, ao contrário de França. E estranharam a falta de aviso dos cantoneiros e dos tripulantes do "rover".
O que denota este procedimento? Um desinteresse pela sorte alheia, nessa altura? Nem por isso. A mim, denota uma maior liberdade individual de escolha, menos paternalismo do Estado e maior responsabilidade inerente e também individual. Ainda ninguém se lembrava de atribuir ao Estado a obrigação de proteger os cidadãos para além do mínimo exigível.
Ao longo destas décadas caminhou-se no sentido oposto, ou seja, de atribuir cada vez mais tarefas de protecção ao Estado, tornando as sociedades mais dependentes e infantilizadas.
Será isto melhor? Os incêndios deste ano provaram o contrário...
Portugal em 1971 estava numa rota de desenvolvimento económico inequívoco, como provam estes pequenos apontamentos dessa revista. Século Ilustrado de19.6.1971:
E a primeira expressão, a nível europeu, do que viria a seguir, por cá, nos anos oitenta com a explosão de colombos grandes e pequenos à conta dos belmiros e cª. Século Ilustrado de 12.6.1971. A Europa não seguiu este exemplo e Portugal também não o seguiria, pela certa, se não tivesse acontecido o 25 de Abril de 1974. Os novos ricos devem tudo à democracia...
Por outro lado, na mesma altura, o modo como se relatava o ambiente natural da esquerda comunista era sintomático do que se iria passar depois, com o aparecimento dos historiadores de guisados.
O alfobre intelectual em 1971 não era muito melhor que isto, na imprensa da época que relatava o que se passava na realidade dos países comunistas: intelectuais franceses que se demarcavam de confissões "espontâneas" obtidas certamente por força de convicção revolucionária nas pátrias socialistas que serviram depois de farol de guia para a nossa "construção do socialismo".
Que adiantaram estas notícias, na época? Nada de nada. Ninguém as leu ou compreendeu. Porém a sua explicação e discussão se realizada, permitiria evitar o surgimento dos intelectuais do guisado que agora temos.
E tal era tanto mais estranho que na edição de 30. 10.1971 esta reportagem acerca de um escritor soviético, de sucesso, inicialmente identificado com o regime e depois "defector" traidor dos ideiais socialistas, o que explicava deste modo a uma publicação inglesa não identificada ( The Guardian?) e em tradução não assinada.
Um dos indivíduos que certamente leu este apontamento bem esclarecedor do que era então a União Soviética, foi Eduardo Gageiro, o fotógrafo colector de imagens do 25 de Abril e que apoiou a causa comunista como poucos.
Estes indivíduos não sabiam ler? Queriam mesmo replicar em Portugal o que havia na URSS? Não lhes servia de lição o que poderiam aprender deste modo?
Não. Não servia e a prova é que nada esqueceram e pouco aprenderam.