Cavaco Silva decidiu ser entrevistado pelo Expresso, o que revela logo o parolismo habitual de quem nunca saiu do logradouro mirrado da intelectualidade.
Falou, falou, sobre assuntos da sua especialidade e para dizer essencialmente que não deita foguetes por causa dos números recentes do INE e que deveríamos aproveitar este período de vacas gordas para endireitar as contas. É meritório este aviso, de quem sabe de Economia ( embora seja ciência oculta) e Rui Rio também sabe disso. Aliás, Cavaco Silva já em períodos anteriores, desde há décadas que tem feito esse papel e no tempo do salafrário Sócrates que andou a pôr estádio de futebol em tudo quanto é sítio, avisou para a desmesura e desperdício. Ninguém lhe ligou e tinha obviamente razão.
Não obstante esses avisos agora repetidos e que são os mais importantes da entrevista, o que faz a cretinice habitual do Expresso? Destaca uma pequena frase assassina que Cavaco nunca deveria ter dito, porque anunciou que se reservava a esse propósito e acaba de cair no erro que critica a quem cometeu a "gaffe": marcar politicamente o cargo da PGR e assumir um dos lados. O pior que poderia fazer.
Sobre a Justiça disse isto:
Cavaco Silva escolheu Joana Marques Vidal "à primeira", ao contrário de Pinto Monteiro que foi terceira escolha e só depois de Souto Moura ter dito que não queria ser reconduzido.
Não esconde o agrado que o desempenho da actual PGR lhe tem causado, mas precisamente por ter escolhido e nas presentes circunstâncias não devia ter falado no assunto. Tramou-se na reserva sempre misteriosa com que procurou enroupar as decisões que tomou.
Cavaco tem um momento definidor de quem é: quando foi ao hospital do Algarve, salvo o erro em visita oficial e um palerma de um porteiro lhe pediu a identificação. Em vez de ignorar o imbecil e lhe passar um raspanete na hora, ensinando-lhe o que diz a lei, encolheu-se e participou disciplinarmente do mesmo.
Forte com os fracos e fraco com os fortes, sempre me pareceu.