quinta-feira, junho 06, 2013

Freitas do Amaral armado em Cassandra

Expresso online:

A crise actual está a colocar tudo em causa, incluindo o futuro de Portugal como país, defende o fundador do CDS e antigo ministro de José Sócrates em entrevista à Antena 1.

"Estamos numa das situações mais graves que Portugal viveu ao longo dos seus 900 anos de história. Só comparo esta situação em gravidade, em perigo para existência de um país chamado Portugal, à crise de 1383/85, que felizmente acabamos por ganhar com a batalha de Aljubarrota, e aos 60 anos [1580-1640] de ocupação castelhana através dos Filipes", diz Freitas do Amaral.

"Creio que nunca vivemos uma situação em que tudo estivesse em causa", acrescenta.

Perante este cenário, o antigo candidato à Presidência da República em 1986, defende que o atual chefe de Estado não pode correr o risco de promover eleições antecipadas sem a garantia de uma solução melhor.

Para Freitas do Amaral, só depois de constituído o novo Governo alemão e da política alemã mudar - porque está a dar cabo da Europa - é que se devem fazer eleições.

"Eu esperava até às eleições alemãs, não vale a pena antes porque o novo Governo teria de cumprir o que está. Porque a verdade é esta: ou a política alemã muda por efeito das eleições ou teremos de ser nós a impor que mude", sustenta.

Mas se Portugal avançar para um segundo resgate, "desde o Presidente da República ao mais humilde cidadão será necessário fazer essa exigência", remata. 

Apesar de tudo o que este indivíduo foi e tem sido, ainda me resta um resquício de confiança na pessoa Não me parece jacobino, tem memória difusa que recicla periodicamente esquecendo o que disse antes, mas o discurso que actualiza é geralmente referenciado a valores com mérito.  
Freitas do Amaral sempre me pareceu um indivíduo sensato mas esquecido de valores coerentes. Ao apoiar José Sócrates e elogiar até a personalidade, conhecendo o percurso académico falsificado, esqueceu o valor que a honra pessoal deve ter, sobrepondo-lhe outro valor prático de proveito pessoal e reconhecimento pelo favor. Este comportamento revela um carácter mas defeitos todos temos. Será necessariamente transponível para a credibilidade do dito? Talvez sim e talvez não. 

Freitas do Amaral em 1976, no rescaldo do PREC e com uma Constituição socializante, tinha uma ideia certa sobre o panorama político português e o comunismo em geral. Até distingue entre anti-comunismo primário a que chama "anti-comunismo fascista" para dar o ar do tempo e o anti-comunismo democrático, para continuar no ar do tempo. Muito curioso, como explica a adaptação do CDS aos tempos então vividos: dizia que tentaram "descobrir se havia possibilidades de encontrar um socialismo original". Não havia. Aahahahaha!
 
Na revista Opção de 20 de maio de 1976 ( dirigida por Artur Portela Filho que vinha do Jornal Novo e da Funda, no Estado Novo...)  Freitas do Amaral foi entrevistado e caricaturado nesta capa bem reveladora de uma ambivalência na personalidade.

Freitas do Amaral é dos portugueses mais interessantes para se entrevistar, por quem o saiba fazer. Passou, tal como Marcelo Rebelo de Sousa, do regime de Caetano, onde era um delfim do poder e bem respeitador e obrigado ao mesmo, ao novo poder, sem grandes contorsões ideológicas mas com grandes abaixamentos de carácter, aparentemente. Quem conseguir dar a volta a esse handicap original e eventualmente genético, tem entrevista grande e garantida. 
Gostava de entrevistar Freitas do Amaral, por vários motivos: para perceber tal contorsão ideológica, eventualmente para descobrir que não terá existido por causa de um vazio que o habitava; para perceber o sentido e alcance da comunicação ao país, em directo na tv, à hora do jantar, na noite em que Sá Carneiro morreu, porque sempre me fez confusão aquela comunicação e para entender melhor como é que se pode elogiar um José Sócrates, do modo como o mesmo o fez, sendo professor catedrático de Direito Administrativo ( não de Agrário...) e com um saber teórico indiscutível. Ainda para entender melhor a história de um "loden" simbólico, nas eleições para a AD e a fixação nessa peça de vestuário criada por um O Jornal; a mudança para uma escrita iconoclasta em teatro; a mudança pessoal e eventualmente íntima na relação com as mulheres, o que me parece um ponto chave e tudo o mais que um antigo discípulo de Marcello Caetano conseguiu fazer de uma vida. Interessante, como me parece.
Freitas do Amaral é das pessoas públicas mais interessantes que deve haver em Portugal, para se conhecer...


 

17 comentários:

lusitânea disse...

Isto da numenklatura socialistas-internacionalista dita "democrata" tentar fazer um império agora só cá dentro e por nossa conta não deve estar a ficar nada barato.Mas curiosamente ninguém fala dele...e querem-no bem "português" porque só a "direita" em menos de 2 anos arranjou-nos mais 170000 compatriotas das mais desvairadas paragens como diria o Camões.Mas prontos como não são tropa ou funcionários públicos...

lusitânea disse...

Estes desonestos intelectuais e pensadores armados em poetas fizeram em menos de 40 anos a maior traição de governo que houve em Portugal em 900 anos.Mas não é ainda nada com eles...

lusitânea disse...

A malta é que vivia acima das suas possibilidades segundo eles e os seus papagaios amestrados...

Zephyrus disse...

Caro lusitânea,

mas não crê que parte da classe média viveu bem acima das suas possibilidades nas últimas décadas?

Floribundus disse...

saiu do estado novo para o socialismo do homem novo
até nas boxexas se parece com o gajo do Campo Grande
e tal como ele não me merece qualquer crédito

Vivendi disse...

A degradação política vai mais acentuada do que a degradação económica...

Um regime que depende para a sua sobrevivência das vontades alemãs não pode ir muito longe. O atual regime vai-se aguentando pelo vazio de alternativas. Portugal não é caso único, boa parte da Europa deixou-se cair no vazio... Veremos o que o futuro nos reserva.



Anónimo disse...

Embora abundem exemplos de falta de carácter de Freitas, bastaria ler uma nota na introdução às "Minhas Memórias de Salazar" de Marcello Caetano para ter uma imagem clara do personagem...

lusitânea disse...

Claro que foi fabricada muita classe média para o qual o país não tinha produção.As defesas oficiosas, os enfermeiros licenciados,a equiparação às dezenas de milhar de mestres a licenciados,a multiplicação de hospitais que permitem que qualquer médico chegue a general, a kultura de estado com museus e patrimónios a cair por todo o lado,por todo o bota abaixo da tabela salarial que vinha dos tempos do Salazar em que quem mais fechar o olho ao que faz o corrupto político mais ganha...
Quem fez isto?O zé povinho?

Maria disse...

Este espécime é mais um dos muitos traidores à Pátria que desgraçadamente ainda nos rodeiam e continuam a atormentar-nos o espírito. Traiu quem nele acreditou como pessoa íntegra. Apunhalou pelas costas quem mais o ajudou nos estudos. Traiu o seu eleitorado que nele depositou todas as esperanças. Traiu o seu partido e aquele outro que lhe estava ideològicamente mais próximo. Traiu os seus pares.
Esta reles criatura é um oportunista do pior e um hipócrita sem um pingo de vergonha, mete nojo como indivíduo e mais ainda como político.

zazie disse...

Estou mais com o José. É um personagem contraditório, tem uma mulher "muito fresca" mas não me parece nem jacobino, nem mal formado.

zazie disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
zazie disse...

Ah e, pelo menos, não tem uma filha isabelmoreira a quem apadrinhe a tara.

josé disse...

Pois não tem e o filho parece-me um tipo decente.

A tal Isabel é demais...

muja disse...

Talvez Zazie, talvez não seja mal formado nem jacobino, mas não torna isso pior a duplicidade de carácter ou, pelo menos, a maleabilidade que apresenta?

zazie disse...

Pois, politicamente é irritante mas como pessoa não me parece.

Já houve alturas em que veio à tona a boa formação católica.

Quer em relação ao Papa, quer em relação aos islâmicos por causa das provocações dos ateus, disfarçados de "laicismo".

zazie disse...

Mas é como o José diz, dava uma bruta entrevista se alguém a soubesse fazer.

Precisamente por isso- pela formação e pelo percurso histórico.

Anónimo disse...

"(...)para perceber o sentido e alcance da comunicação ao país, em directo na tv, à hora do jantar, na noite em que Sá Carneiro morreu, porque sempre me fez confusão aquela comunicação(...)"

Podia explicar melhor, José?

A obscenidade do jornalismo televisivo