segunda-feira, setembro 10, 2012

Uma pequena História da nossa Esquerda...


Imagem do jornal Diário de Notícias ( que basta clicar uma ou duas vezes, para ler), em entrevista já em 1974 e onde Marcelo Caetano fala de Salvador Allende e da experiência chilena. É ler... porque o que Marcelo disse e escreveu ninguém parece interessado em recordar. Nem mesmo os seus então dilectos discípulos, como Freitas do Amaral e Marcelo Rebelo de Sousa. Preferem nem se lembrar...

Antes de 25 de Abril de 1974 o execrado "fassista" Marcelo Caetano de quem pouca gente fala hoje mas devia falar mais entendia assim a nossa situação político-económica no Portugal de então, com guerra no Ultramar e ausência de pluriparidarismo tipo ocidental, com proibição expressa do PCP que era considerado "força subversiva" ( e não era?).
A economia do país era essencialmente capitalista com "grandes patrões" que controlavam os sectores chaves da mesma. O Estado era regulador e funcionava. Aquilo que os neo-liberais pretendem hoje em dia, provavelmente era o que tínhamos até 1974, com uma já forte preocupação social de quem governava e que lhe dava um cunho quase social-democrata.





Tal situação alterou-se radicalmente nos meses que se seguiram ao 25 de Abril de 1974. Economicamente o país ficou à deriva e sem rumo algum que pudesse levar a bom porto.
Os políticos de então, com destaque para Mário Soares faziam "política", única coisa que sabiam fazer, mas com resultados funestos na Economia.
Em Agosto de 1974 já não se sabia quem mandava em Portugal:   se a Junta de Salvação Nacional; se o MFA ou as figuras de proa de então, Spínola ou Costa Gomes. Em breve seria Otelo a figura de quem mais ordena, dentro de ti, ó cidade...porque viria um Conselho da Revolução que se encarregaria de "comer os filhos da Revolução". Resultado?




Isto, abertamente proclamado e posto em execução em 11 de Março de 1975, perante o aplauso geral da população que não se revoltou contra o comunismo, o embuste do século e que nos continua a atezanar. Álvaro Cunhal, já em finais de Setembro de 1974 não tinha dúvidas que "era preciso partir os dentes à reacção" metáfora que anunciava a repressão política, mais feroz do que o "fassismo " alguma vez fora.
E tudo isso perante o aplauso geral, mesmo que em 25 de Novembro de 1975 os ânimos do dito Cunhal ficassem um pouco mais serenos porque o povo português assim é.








Não obstante, a obra de Cunhal e dos comunistas, de Março de 1975  não se desfez em consequência e em 1976 aprovou-se uma Constituição perante o aplauso quase geral ( menos do CDS de um Freitas do Amaral, imagine-se!) que nos prometia que íamos a caminho da sociedade sem classes, Vital Moreira rejubilava na A.R. e os comunistas nunca mais largaram o osso. Até hoje.

Por causa dessas e doutras, em 1977 estávamos já na penúria completa e o FMI considerava a situação em Portugal gravíssima. Como hoje, por obra e graça desta Esquerda que temos e ninguém repudia.

Medina Carreira anunciava por isso ao O Jornal, em 1978 a inevitabilidade de um "Grande Empréstimo", coisa habitual no socialismo à portuguesa ( Medina Carreira era então socialista de gema). Pagamo-lo com língua de palmo e esforço de crise e penúria durante vários anos.
Mudamos por isso alguma coisa na Economia socialista que tínhamos? Qual quê? O mesmo partido Socialista não deixava e os comunistas rejubilavam. Em 1979 por altura da A.D. tremeram e anunciaram o fim do mundo deles se Sá Carneiro ganhasse os poderes do Presidente da República, a maioria na A.R. e o Governo. Por isso Sá Carneiro morreu, por causa dessa luta.








Poder-se-ia dizer que com esse Grande Empréstimo as coisas iriam melhorar, mas não. Em 1984, com o mesmíssimo Mário Soares na liderança, estávamos na mesma penúria ou pior porque já havia fome em Setúbal. Perguntado então sobre o assunto disse à Grrande Reportagem coisas inacreditáveis como " Fome? Houve sempre fome em Portugal, não é de agora..."





Em 1985 os políticos portugueses puseram em marcha prática, com ajuda europeia, o plano muito antes pensado de adesão à CEE. Seria a tábua de salvação da nossa economia e bem- estar.
Foi? Está à vista o que aconteceu depois: cedemos agricultura, pescas e tutti quanti por um punhado de dinheiro fresco para construir "infra-estruturas ( estradas...) e dinamizar a economia. Aplicamos verbas numa formação profissional para inglês ver e em poucos anos, afundamos tudo outra vez.
Porquê?
.

Uma possível resposta foi dada já nessa altura: fraudes. Fraudes em sentido real e metafórico. Políticos fraudulentos, ideias fraudulentas, mentiras, embustes.
Portugal terá solução com a gente que nos tem governado?


A Esquerda já rejubila outra vez...e parece que ninguém aprendeu a lição antiga.

11 comentários:

JC disse...

Óptimo resumo do que tem sido o nosso descalabro.

lusitânea disse...

E o descalabro vai continuar pelos vistos.Ouvi um ministro a dizer que quando chegar a vez dele não há guito para as reformas...
Mas em 2006 o que havia era necessidade de mão de obra.Para fazer face à concorrência até obrigou o governo a deitar mão do melhor acolhimento do mundo e da melhor lei da nacionalidade.O desenvolvimento que não foi fazer os bairros sociais para os alojar.Temos dívida?Chamem a Helena Roseta que ela resolve o assunto como no caso das rendas não pagas nos ditos bairros:Vai fazendo uns papéis a prometer pagar...até todos morrermos e os credores também claro...
Mas tenham calma que a coisa não vai lá com menos dois ou 3 vencimentos não...vai ser uma festa novamente!!!Vamos a ver quem é o bombo da festa desta vez...

FMS disse...

Obrigado, José, por ilustrar uma vez mais na perfeição o marasmo. É isto mesmo.

Karocha disse...

Excelente, José!

Floribundus disse...

num teste de história na 'D. Pedro V'
um aluno escreveu
'sociedade sem classe'

diziam que a rotunda em 1910 era 'marques de pombal' e
em 1975 'marx de pombal'

zazie disse...

Magnífico

zazie disse...

Só uma pergunta. Por que é que o José disse que Sá Carneiro morreu por causa dessa luta, se sempre achou que não existiam dados que pudessem concluir qualquer assassinato?

josé disse...

Não me interprete mal. Sá Carneiro morreu nesse acidente porque estava com pressa e temia perder a eleição do seu escolhido Soares Carneiro.

E tinha razão. Nessa vez até eu votei Eanes.

Sá Carneiro tinha tanta pressa que aceitou viajar no avião fatal quando podia ter ido noutro.

Foi essa pressa que o perdeu e a urgência que sentia em se desmultiplicar em comícios de última hora porque pressentia que ia perder. Como perdeu.

Para mim ninguém o matou: foi a sua própria pressa que o matou.

Drei disse...

Excelente.

zazie disse...

Ah, ok, José. Desculpe lá.

ehehe

Unknown disse...

O socialismo acabou, mas sobreviveu nas mentalidades e ainda oprime o cérebro
dos vivos com o peso dos seus milhões de mortos. O século
passado viu nascer e morrer esse delírio totalitário.
Alguns esquerdopatas, anti-imperialistas, favoráveis ao bem, ao justo ao belo, verdadeiros amigos do povo, querem resistir à “ditadura promovida pelo mercado”. O conceito é curioso porque faz supor que possamos ser caudatários, então, de uma cultura autóctone, de um nativismo pré-mercado ou de um tempo em que o mundo não havia sido ainda corrompido.
A agenda da contestação varia pouco. Que importa q Israel seja a única democracia do Médio Oriente? A justiça, sem matizes, estará sempre com os palestinianos. O terrorismo islâmico assombra o planeta e obriga os regimes democráticos a uma vigilância que testa, muitas vezes, seus próprios fundamentos? A culpa cabe ao Ocidente e às mil teorias da conspiração qual delas a mais delirante.
“O q é preciso é eliminar a influência que os EUA no mundo. Existe remédio para tanta injustiça social? Claro! Estatize-se os pobres. A Terra está a derreter? É preciso pôr fim ao neoliberalismo. Sem contar os malefícios da imprensa burguesa.”.
O discurso da igualdade, quando aplicado, produziu uma impressionante montanha de mortos.
O que quer isso dizer na história das mentalidades? O socialismo perdeu o grande confronto da economia e desabou sobre a cabeça dos utópicos, mas as esquerdas têm vencido a guerra da propaganda cultural, impondo a sua agenda, aqui e em toda parte.
Dominam o debate público e, pasme-se!, foram adoptadas pelo capital. Estão incrustadas, como se sabe, nas universidades e nos aparelhos do estado, mas também nas empresas, nas Ongs que mundo afora se dedicam a preservar árvores, baleias, tartarugas, arte e, às vezes, até criancinhas.
Não raro, também nos convidam a ser tolerantes com o que nos mata.
O século passado viu nascer e morrer esse delírio totalitário. A liberdade encontrou a sua tradução nos campos de trabalhos forçados. A igualdade mostrou-se na face cinzenta da casta dos privilegiados do regime. A fraternidade converteu os homens em funcionários do partido prontos a delatar os "inimigos do estado e do povo". A utopia humanista vivida como pesadelo impôs-se pelo horror económico e acabou derrotada pelo inimigo contra o qual se organizou: o mercado. Mas, curiosamente, sobreviveu como um alucinógeno cultural.
Este modelo que se apresentava como "a" alternativa não-capitalista de organização da sociedade desapareceu. A China é a prova mais evidente da sua falência – do modelo original, o país conservou apenas a ditadura do partido único.
O homem não é bom. A sociedade, por meio de valores, é que ajuda a controlar os seus maus fígados.
É o modelo de protecção às liberdades individuais, sem as quais inexistem liberdades públicas, que nos faculta o direito de criticar o nosso próprio modelo. Não obstante, as causas influentes, repare-se, piscam um olho ora para utopias regressivas, ora para teorias que nos convidam a entender os facínoras segundo a particularíssima visão do mundo dos... facínoras! E é esta militância desta esquerda, que nos convida a resistir à " ditadura promovida pelo mercado".
Tome-se cuidado com os militantes da "igualdade" e da "justiça social". Toda crença tem um livro de referência. Esta também. Este foi escrito com o sangue de muitos milhões.

O Público activista e relapso