terça-feira, setembro 13, 2016

O combate às "entidades".

Na Itália de 1992 e 1993 foram assassinadas várias figuras públicas de relevo, pela Mafia e pela Entidade, um "partido da bomba", como os italianos diziam.


No espaço de um ano, entre 1991 e 1992, conforme o Espresso de 25 de Outubro desse ano referia, foram assassinados três magistrados e dois políticos de relevo:


Antonio Scopelliti, um dos magistrados,  assassinado com um tiro de caçadeira na nuca, numa tarde de verão quando regressava da praia, na sua Calabria natal, definia assim a profissão de juiz:

« Il giudice è quindi solo, solo con le menzogne cui ha creduto, le verità che gli sono sfuggite, solo con la fede cui si è spesso aggrappato come naufrago, solo con il pianto di un innocente e con la perfidia e la protervia dei malvagi. Ma il buon giudice, nella sua solitudine, deve essere libero, onesto e coraggioso. » (Antonino Scopelliti).

"O bom juiz, na sua solidão,  deve ser livre, honesto e corajoso" . Não fala em calado e a falar só nos processos...


A sucessão de assassinatos de magistrados ocorreu ao mesmo tempo que se colocavam bombas em carros que explodiam e matavam transeuntes anónimos perto de igrejas e monumentos, nas principais cidades. A autoria fora atribuída à tal Entidade que se formava com os marginais dos serviços secretos que recusavam as alterações advindas das investigações judiciárias à corrupção politico-partidária.

O Panorama de 13 de Junho de 1993 explicava isso:


Em Janeiro de 1993 o panorama mafioso na Sicília começou a mudar com a colaboração de "arrependidos" que ajudaram as autoridades a capturar o principal chefe mafioso, mandante dos assassinatos, em fuga há dezenas de anos e placidamente residente no centro de Palermo, exercendo actividade de fachada como agricultor...


Ao mesmo tempo as autoridades judiciárias prosseguiam as investigações da corrupção na Tangentopoli e os magistrados mais importantes apareciam e falavam...sem receio de louçãs e quejandos que também por lá havia.


Tudo isso redundou num acontecimento de vulto na Itália: o fim da República como era conhecida até então e a liquidação de partidos tradicionais imersos em corrupção.

Um dos símbolos mais evidentes dessa corrupção de Estado era este, mostrado em 12 de Outubro de 1995 na revista Panorama:


Bettino Craxi foi primeiro-ministro socialista e foi condenado à revelia em pena de prisão, depois de se ter posto ao fresco para a Tunísia onde chegou a ser visitado pelo nosso chefe de Estado de então, Mário Soares, o qual sempre assegurou que o camarada estava inocente...os magistrados italianos, coitados, é que não percebiam nada de leis. Como agora, com o caso Sócrates...

Portugal nunca chegou a ter um panorama político semelhante ao italiano. No entanto, quanto a corrupção partidária e não só, não andamos muito longe.
A diferença reside na circunstância de na Itália terem feito algo para põr fim ao descalabro, o que conduziu ao fim do regime como era conhecido.
Por cá nunca se chegou a tal ponto uma vez que a Entidade que por cá existe e se acoita no Bloco Central não permitiu.

E não permitiu porque modificou as leis penais no tempo de Guterres e José Sócrates, com o apoio das escolas de Direito do país, principalmente a de Coimbra e também a de Lisboa.

Com a finalidade de tornar tais leis mais "democráticas" blindaram certos estatutos e certas medidas de molde a impedir a "república de juízes". Ou seja, que fossem despejados para o mesmo sítio que os italianos: a terra de ninguém e da irrelevância política.

É esta mesma Entidade que agora surge na sombra dos comentadores avençados e nos principais media do país, tomados pela crise económica e nas mãos dos mesmos que gizaram aquela mudança de fundo.

Se os portugueses não dão conta disto, a Entidade medrará e um dia toma mesmo conta do Estado. Já esteve mais longe.



Questuber! Mais um escândalo!