O grupo alemão de música popular Can acaba de perder mais um membro. Holger Czukay morreu na terça-feira, com 79 anos.
Em Janeiro deste ano tinha morrido Jaki Liebzeit e em 2001 já tinha desaparecido Michael Karoli. Já lá vão três, tantos como os discos originais que tenho do grupo: Soon over Babaluma de 1974; Landed, de 1975 e Saw Delight, de 1977.
Nesse ano de 1977, segundo o "top" da revista Música & Som, os êxitos de vendas de música em Portugal eram a canção de José Cid, Anita não é bonita; os Boney M, com Daddy Cool; Amália Rodrigues com Caldeirada; Abba, com Money, money, money; John Miles com Music e os Green Windows com Rita, Rita, Limão, para ficar na primeira meia dúzia.
Nos discos grandes, em lp, os Queen dominavam com A day at the races, na peugada do anterior sucesso de 1975, A night at the opera. Logo a seguir, Chico Buarque, com Meus caros amigos, o que tem Mulheres de Atenas e Meu caro amigo ( referido ao português, radialista, José Nuno Martins); Peter Framptom, Comes Alive e Genesis de Wind and Wuthering.
Os Can estiveram nessa altura em Portugal e a revista Música&Som fez um pequeno artigo sobre o grupo. O poster parcialmente mostrado abaixo é desse número da revista.
A música dos Can, particularmente destes discos e dos anteriores é tributária do então chamado "rock alemão" e era passada ocasionalmente nos programas de rádio nocturnos dessa época. Um deles até tinha o indicativo directamente saído de um tema do disco Flamende Herzen, de Michael Rother, fundador dos Neu!, alemão que chegou a fazer parte, inicialmente,dos Kraftwerk, talvez o grupo com maior projecção mediática, até hoje. Ainda este ano estiveram em Viana do Castelo no festival "neopop", de música electrónica. Os Kraftwerk merecem um postal dedicado, um dia destes, tal o interesse e qualidade de todos os seus discos.
Quanto a outros alemães, os Neu! ouvem-se com algum esforço, tal como os Faust, apesar da linha melódica de algumas Faust Tapes. Os Tangerine Dream ouvem-se sem se dar conta e chegaram a passar no rádio de 1975 e 1976 discos deles que surtem o efeito do vento a soprar pelas frinchas de janelas, com algumas abertas e o som do mar em fundo. Já ouvi falar dos Popol Vuh mas nunca ouvi a sonoridade com ouvidos atentos. E não será por falta de oportunidade uma vez que tais sons estão disponíveis no You Tube a todas as horas e em definição sonora aceitável. Mas nunca me puxou, de facto.
Ou seja, tirando os Karftwerk e os Can, que se ouvem com manifesto agrado e sem esforço, todos os demais carecem de predisposição e paciência para a empreitada.
De todos, os mais inovadores e interessantes são mesmo os Can. Por isso a falta dos seus músicos é o fim de uma era.