domingo, setembro 17, 2017

Dois livros do tempo do fassismo

Na última feira do livro do Porto topei estes dois livros interessantes, na forma e conteúdo. São ambos de décadas antigas, de um tempo hoje vilipendiado como sendo de obscurantismo e em que o país estava mergulhado na tenebrosidade do fascismo.

O primeiro é de finais dos anos 40 do séc. XX e da editora Livraria Tavares Martins, do Porto. De uma colecção "Gente grande para gente pequena", assinado por Adolfo Simões Müller, entendido pela intelligentsia que grassa nas faculdades de Letras como mais um fascista do tempo de Salazar.

O livro é sobre o casal Curie e a respectiva descoberta ( a radioactividade que nesse tempo conduziu à energia nuclear) , chama-se "A pedra mágica e a princesinha doente" e tem esta capa ilustrada pelo artista Fernando Bento que só por si vale o livrinho.


Adolfo Simões Müller foi alguém que em Portugal se destacou nas actividades de divulgação literária, particularmente nas revistas de banda desenhada que então surgiram um pouco por toda a parte, na Europa.

O Cavaleiro Andante é uma delas e há por aí um estudo de algumas dezenas de páginas patrocinado pela faculdade de Letras do Porto sobre "a Censura" na banda desenhada nesse tempo de Salazar. O estudo é meritório na documentação e lamentável no propósito: vilipendiar o antigo regime circunscrevendo o papel da Censura a publicações infanto-juvenis, em Portugal, sem atender ao panorama europeu e mundial que então se vivia até aos anos cinquenta.
É mais uma mistificação a acrescentar a tantas outras, esta com o selo académico, como aliás muitas outras.

O segundo livro em destaque é uma obra didáctica que foi publicada originalmente em fascículos,  durante a segunda metade dos anos cinquenta do séc. XX.

Em 13.4.1955 o Diário Popular anunciava assim tal publicação das Edições Ouro, Lda, do Porto e de que não há resquícios de memória na internet. Alguém saberá mais sobre tal editora?


Imagem da Hemeroteca online.

"Nicht Wahr?" (Não é assim?!) é uma obra que pretende ensinar a língua alemã em modo divertido e é fabulosa no modo como ensina. Estou a aprender...


E a primeira lição começa assim:



Gostava de ler duas obras publicadas este ano em Portugal que tivessem o mesmo interesse...

21 comentários:

Miguel Dias disse...

José,

Com a indigência intelectual e cultural que grassam nas Faculdades de Letras portuguesas não é de esperar obras com valor na área das Humanidades. Mesmo essa "pequena" tese, que o José refere, sobre a censura à BD no Estado Novo pode ser valorosa em termos de indicação bibliográfica, mas em conteúdo intelectual e dedução lógica é medíocre, tendo como principal, e único, propósito atacar o antigo regime e é portanto aprovada pela nomenklatura universitária.

Para se conseguir ter uma tese sancionada pela intelligentsia académica que verse sobre a Época Contemporânea Portuguesa só enveredando pela crítica ao regime de então, é impossível ter-se uma visão imparcial e objectiva, somos logo trucidados e classificados como saudosistas e fascistas. O jogo está viciado pelas regras de Esquerda. Portugal não voltará a ter vida intelectual e génio criativa enquanto não se libertar desta tirania académica de Esquerda.

Miguel Dias disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Floribundus disse...

uma excepcional editora vizinha dos Clérigos
Livraria Tavares Martins, do Porto.

o Porto tinha mais vida e menos turistas

Adolfo Simões Müller, escrevia no falido DN
nos tempos de Ferro e Augusto de Castro

actualmente s+o pelintraria tipo varela e prof politólogo

tudo de acordo com a geringonça de
antónio das mortes

muito elogiado pelo 44

Floribundus disse...


“É muito melhor ser livre, abandonar os fortes e as barricadas do medo, erguer-se com firmeza e encarar o futuro com um sorriso.”
― Robert G. Ingersoll

Floribundus disse...

A anatomia do estado / Murray N. Rothbard

O estado é quase universalmente considerado uma
instituição de serviço social. Alguns teóricos veneram o estado como sendo a apoteose da sociedade; outros
consideram-no uma organização afável, embora muitas vezes ineficiente, que tem o intuito de alcançar objetivos sociais. Porém quase todos o consideram um meio necessário para se atingir os objetivos da humanidade,um meio a ser usado contra o “setor privado” e que frequentemente ganha essa disputa pelos recursos. Com o advento da democracia, a identificação do estado com a sociedade foi redobrada ao ponto de ser comum ouvir a
vocalização de sentimentos que violam quase todos os princípios da razão e do senso comum, tais como: “nós somos o governo” ou “nós somos o estado”.
O termo coletivo útil “nós” permite lançar uma
camuflagem ideológica sobre a realidade da vida política.
 Se “nós somos o estado”, então qualquer coisa que o estado faça a um indivíduo é não somente justo e não tirânico, como também “voluntário” da parte do
respectivo indivíduo.  Se o estado incorre numa dívida pública que tem de ser paga através da cobrança de impostos sobre um grupo para benefício de outro,
a realidade deste fardo é obscurecida pela afirmação de que “devemos a nós mesmos” (ou “a nossa dívida tem de ser paga”); se o estado recruta um homem, ou
o põe na prisão por opinião dissidente, então ele está
“fazendo isso a si mesmo” — e, como tal, não ocorreu nada de lamentável.

joserui disse...

Adolfo Simões Müller, curso de alemão… ainda vou convencer o José a ser um germanófilo :) .
Gostei imenso destas páginas do curso alegre de alemão.
Os alemães tiverem uma influência meritória por cá no fim do século XIX e início do seguinte… Émile David (apesar do nome), desenhou os jardins do palácio de cristal, cordoaria (entretanto arruinado por um arquitecto), passeio alegre, entre outros; Edmond Goeze que em Lisboa construiu o jardim botânico da escola politécnica; os Burmester; Adolpho Möeller botânico, com diversas espécies com o seu nome (molleri, molleriana, etc)…

joserui disse...

O 44 anda triste… diz que o PS e o Costa o abandonaram… o caso deve ser grave, porque os alegados pedófilos foram recebidos em braços em plena assembleia da republiqueta.

Anjo disse...

José,

Quantas páginas tem o livro? Apesar de conhecer a língua, tenho muito interesse em conhecer o método e as lições! Tem possibilidades de o pôr aqui?

Se for possível, os meus agradecimentos.

O da Madame Curie já conhecia, das estantes de um tio meu. As capas da época são fabulosas!

josé disse...

Agora não tenho o livro aqui à mão, mas tem cerca de 90 lições. As primeiras são muito interessantes. Já vou na terceira e já li uma parte de uma peça de Schiller- A Donzela de Orleães- que vai servir de mote para se aprender a língua no começo.

Tem pequenas anedotas, pequenos textos em alemão e conselhos avulsos do autor para se entrar devagarinho no domínio da língua.

Já tinha seguido outros cursos, mas desisti sempre. Julgo que só domino de alguma forma a leitura porque gosto muito da sonoridade áspera e expressiva.
Durante décadas andei à espera de oportunidade de aprender os rudimentos da língua e surgiu agora, com este livro.

Ao mesmo tempo comprei o Aprenda Alemão sem mestre, da Presença ( 10ªedição, de 2017- a 1ª é de 1986) de Eugene Jackson e Adolph Geiger. Mas não é a mesma coisa.

Em relação a outros métodos que tenho, incluindo um em cassetes desde os anos noventa, acho que este, o Nicht Wahr?, é o melhor e mais interessante.

zazie disse...

As capas eram mesmo deliciosas, Anjo.

Fiquei curiosa em relação ao livro.

Anjo disse...

Pois, 90 páginas é muita fruta...

Os livros da Presença são fraquinhos.

Eu aprendi sempre as minhas línguas nas instituições de ensino que as leccionam (British Council, Cervantes, Goethe, Alliance F. e Franco-Portugais). Mas há um ponto a partir do qual só se "despega" na aprendizagem se se começar a ler e a "fazer pela vida" de forma autónoma. E aí cada um avança ao ritmo de que é capaz, com o entusiasmo e o tempo de que dispõe. Para o inglês, por exemplo, ajudou-me muito assinar a "The Economist" há uns bons anos atrás. O José pode avançar no alemão consultando a Deutsche Welle na net, lendo os artigos de notícias que lhe interessem.

Há uns tempos, dei com os livros de Latim que se usavam nos antigos liceus. E o método, que agora está posto de parte (estupidamente), incluía muita tradução e retroversão, que são exercícios muito bons para comparar e fazer reflectir nas semelhanças e diferenças sintácticas, lexicais, etc. Caiu em desuso por causa dos maníacos das modas, mas tive a sorte de ainda beneficiar destes exercícios no Franco-Portugais e noutras escolas, onde as pedagogias são "menos" avançadas que as nossas. Os meus professores de francês faziam ditados, coisa proscrita no ensino português.

Outro exercício muito útil é a cópia de textos, também proscrita há muito no nosso "avançadíssimo" e muito progressista sistema de ensino.

Quanto às capas, que são belíssimas (compare-se com as dos produtos de mercearia que agora cobrem amplas áreas dos supermercados de livros a que chamam livrarias), e aos artistas da época, existe muita informação interessante sobre nomes de modernistas que trabalharam para o SPN,a convite de Ferro:

http://restosdecoleccao.blogspot.pt/2012/07/etp-estudio-tecnico-de-publicidade.html



















josé disse...

São muito mais de 90 pgs. São cerca de noventa lições e cada lição tinha várias páginas.

Não tenho o livro aqui à mão, mas amanhã digo quantas tem, exactamente.

josé disse...

Afinal tenho o livro aqui. Julguei que o tinha deixado noutro sítio...ahaha.

Tem 825 pgs. e 98 lições.

A Die Jungfrau von Orleans, de Schiller acompanha todas as lições.

Anjo disse...

Ena, que calhamaço!!! Só aguça mais a vontade...

Nem precisa da Deutsche Welle, ah, ah. Tem aí pano para mangas.

Vou cuscar os alfarrabistas, a ver se encontro um.

Anjo disse...

Pasme-se: o Bivar tem mais manuais de línguas estrangeiras!

https://www.estantevirtual.com.br/seboluisborges/artur-bivar-ha-capito-curso-alegre-de-italiano-236084785

https://www.estantevirtual.com.br/b/artur-bivar/oh-yes-curso-alegre-de-ingles/1321021702

Anjo disse...

S’il vous plait! curso alegre de francês

Dominus tecum! curso alegre de latim

josé disse...

Está tudo no pequeno anúncio do Diário Popular que se refere a uma reedição dos fascículos, em 1955.

E os revisores eram professores do...Liceu. Hoje em dia nem um sequer se arranjaria que fosse capaz de tal tarefa.

josé disse...

O meu custou 10 euros mas vale 50.

PSC disse...

Eu tenho a colecção completa que o meu Pai me ofereceu quando eu fiz 16 anos e entrei para o 3º ciclo do Liceu em Letras.
Adorei e aprendi muito. Principalmente Alemão e Latim já que era fluente em francês e Inglês.

PSC disse...

Quanto ao Afonso Lopes Vieira permito-me (com a devida vénia) transcrever o seguinte poema delicioso e verdadeiro que o Grande Mestre nos deixou:
" Afonso Lopes Vieira - Pois bem!
1878 - 1946

Se um inglês ao passar me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
se tens agora o mar e a tua esquadra ingente,
fui eu que te ensinei a nadar, simplesmente.
Se nas Índias flutua essa bandeira inglesa,
fui eu que t'as cedi num dote de princesa.
e para te ensinar a ser correcto já,
coloquei-te na mão a xícara de chá...

E se for um francês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Recorda-te que eu tenho esta vaidade imensa
de ter sido cigarra antes da Provença.
Rabelais, o teu génio, aluno eu o ensinei
Antes de Montgolfier, um século! Voei
E do teu Imperador as águias vitoriosas
fui eu que as depenei primeiro, e ás gloriosas
o Encoberto as levou, enxotando-as no ar,
por essa Espanha acima, até casa a coxear

E se um Yankee for que me olhar com desdém,
Num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Quando um dia arribei á orla da floresta,
Wilson estava nu e de penas na testa.
Olhava para mim o vermelho doutor,
— eu era então o João Fernandes Labrador...
E o rumo que seguiste a caminho da guerra
Fui eu que to marquei, descobrindo a tua terra.

Se for um Alemão que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Eras ainda a horda e eu orgulho divino,
Tinha em veias azuis gentil sangue latino.
Siguefredo esse herói, afinal é um tenor...
Siguefredos hei mil, mas de real valor.
Os meus deuses do mar, que Valhala de Glória!
Os Nibelungos meus estão vivos na História.

Se for um Japonês que me olhar com desdém,
num sorriso de dó eu pensarei: — Pois bem!
Vê no museu Guimet um painel que lá brilha!
Sou eu que num baixel levo a Europa á tua ilha!
Fui eu que te ensinei a dar tiros, ó raça
belicosa do mundo e do futuro ameaça.
Fernão Mendes Zeimoto e outros da minha guarda
foram-te pôr ao ombro a primeira espingarda.

Enfim, sob o desdém dos olhares, olho os céus;
Vejo no firmamento as estrelas de Deus,
e penso que não são oceanos, continentes,
as pérolas em monte e os diamantes ardentes,
que em meu orgulho calmo e enorme estão fulgindo:
— São estrelas no céu que o meu olhar, subindo,
extasiado fixou pela primeira vez...
Estrelas coroai meu sonho Português!

P:S.
A um Espanhol, claro está, nunca direi: — Pois bem!
Não concebo sequer que me olhe com desdém.





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antonio rosa disse...

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