quinta-feira, setembro 28, 2017

Playboy, 1974, a novidade

 Morreu Hugh Hefner, o fundador da revista americana Playboy.

Antes de 25 de Abril de 1974 tal revista, à semelhança de outras sobre assunto similar ( mulheres nuas mas sem grande explicitação carnal) não se vendia em Portugal. A pornografia em papel era assunto de contrabando e venda por baixo do balcão de livrarias e papelarias, mas esta revista que não se enquadrava nesse género hard-core não tinha curso livre em Portugal. Logo a seguir ao 25 de Abril de 1974 e consequência da proibição desse fruto, o desejo enchia bancas de jornais, na rua e arredores, numa exposição por vezes obscena e desregulada de rasquice a esmo. Nessa altura a pornografia em papel misturava na rua e nos passeios ( no Rossio, por exemplo)  o sexo com a divulgação das obras comunistas até então proibidas, numa amálgama apropriada. O mesmo se passou com filmes "proibidos", como por exemplo O Último Tango em Paris do então comunista Bertolluci.

Assim, o  primeiro número que me lembro de ter folheado e eventualmente comprado da Playboy, foi o de  Novembro de 1974, chegado cá no final desse ano, aí  por 55$00, segundo julgo lembrar-me.

A revista era um must nessa altura, com 250 páginas bem nutridas de textos e publicidades e as tais gajas nuas que apareciam relativamente recatadas em reportagens fotográficas de luxo plastificado a papel lustroso. Mulheres de modelo americano, de cinema, altas, esguias e inacessíveis. Mulheres de papel.
Para além desse recheio julgado pernicioso para olhos portugueses e portanto censurado antes de 25 de Abril de 1974, a revista que folheei por altura do Natal desse ano, revelava-se um viveiro de artigos interessantes e ilustrações a condizer, com publicidades apelativas a produtos que por cá não apareciam. Para além dos anúncios a álcool e tabaco, agora passados estes anos terminantemente proibidos como tal, havia ainda páginas e páginas a mostrar carros, motas, aparelhagens hi-fi, perfumes, roupas, etc etc. com convite descarado a um consumo que por cá era ainda impossível.
 Passada a relativa surpresa das páginas centrais e adjacentes, figurava-se a revista em várias ilustrações irresistíveis e por isso aqui ficam.

Em primeiro lugar as páginas de publicidade a produtos de consumo:


 E uma publicidade de outro número e que mostra o que era o "Marlboro Man" que alguns anos depois não gostava dos Clinton...e estes retribuíam do modo que sabiam e podiam.


 Depois um capítulo que marcou a revista: as entrevistas "tipo Playboy" que inspiraram um Artur Portela Filho , em 1976 a tentar copiar o estilo, sem a substância. Neste caso, Hunter Thompson, um dos maiores inimigos de Nixon e que escrevia na revista Rolling Stone, sobre tudo, sendo um dos paradigmas do "novo jornalismo" que aparecera na América. 


 Depois os artigos da revista, com textos interessantes e alguns de autores consagrados ( Norman Mailer, por exemplo, ou John Updike) .





Alguns ilustrados de modo a suster a respiração pela novidade estética e gráfica, como este que explorava a tendência de então para o grafismo a aerógrafo, coisa que desapareceu do panorama ilustrativo.


 Ou este clássico de Vargas, autor que chegou a ilustrar a capa de um disco dos Cars, nos anos oitenta (Candy-O)


E também os cartoons, como este de Gahan Wilson.


 Ou este com um traço mais straight, de Smilby, também mais aproximado à temática da revista...


Ou esta publicidade a uma nova publicação que então me despertou a atenção mas nunca vi porque nunca apareceu por cá:



Outra revista que foi novidade para mim, nos anos setenta,  foi a Esquire. Dei por ela nos quiosques, por volta de 1978.
A Esquire tinha sido a revista onde Hugh Hefner trabalhara antes de fundar a Playboy. Os jornais de hoje contam a história acerca de Hefner ter deixado a revista por não ter sido aumentado nos cinco dólares que tinha pedido, mas não indicam onde leram a história a primeira vez.

Ora aparece aqui, na Esquire de Dezembro de 1979,  num artigo de Gay Talese sobre aquele antigo colaborador. Vem na última página de um artigo extenso, em duas partes, publicado nesse número da Esquire e no anterior.



A Esquire tinha colaboradores do género da Playboy mas sem as mulheres e menos ilustrações. Mas tinha bons artigos.

Por exemplo no número de 4 de Julho de 1978




 
 
Ou no de  9 de Maio de 1978 um artigo sobre o ilustrador francês Folon:



Ou um artigo sobre o jornalismo italiano nos anos de chumbo da extrema-esquerda das Brigate Rosse...


6 comentários:

Floribundus disse...

nunca tive curiosidade de ver fotos
do que posso ver ao natural

sejam mulheres nuas, sejam locais históricos

nunca publiquei no blogue fotos de quadros de mulheres nuas com excepção para as deusas gregas
sempre representada 'em pelo'

antónio disse...

Tanto quanto me lembro por em tempo o ter lido, o primeiro director da Rolling Stone terá sido o Paul Williams, que foi um inspirado compositor/interprete que no começo dos anos 70- 70 a 72 - lançou dois a três álbuns bons, dados a conhecer pelo Em Órbita, e compôs, depois, a excelente banda sonora do filme Fantasma do Paraíso.
A.Cândido

josé disse...

antónio:

A Rolling Stone foi fundada por Jann Wenner em 1967, fez agora 50 anos.

Paul Williams fundou outra, a Crawdaddy, em Fevereiro de 1966 e portanto foi a primeira revista de crítica musical pop a aparecer no mercado americano ( tirando as da indústria como a Billboard ou Cashbox). Crawdaddy era o nome de um clube de Londres onde os Stones e os Yardbirds tocavam e foi essa a inspiração para o nome.

A revista, nessa primeira fase durou até finais de 1968. Em 1970 já com outra direcção foi retomada a publicação com outra feição, mais parecida com a Rolling Stone.

A primeira vez que comprei a Crawdaddy foi em Fevereiro de 1976 e no número de Março, pelo 10º aniversário da revista fazia-se a história da mesma. Foi daí que tirei estas informações.


Sobre Paul Williams, o redactor do artigo ( John Swenson) escrevia assim: "Once and for all- the founder of Crawdaddy should not be confused with either the film director or the pudgy Johnny Carson show regular who share his name".

Ou seja, este Paul Williams não é o das canções como like an old fashion love song e que é um bocado marreca, mas com uma voz que gosto de ouvir. Até tenho dois discos do indivíduo e gosto particularmente da canção Flash que ouvia nessa altura dos anos setenta.

josé disse...

Tenho muitos números da Crawdaddy dos anos de 1973 a finais de 1978 e era uma das minhas revistas preferidas de música dessa época a par da Rolling Stone que então também comprava ( e comprei até aos anos noventa).

antónio disse...

José,
Obrigado pelo esclarecimento, confusão a que fui levado pela coincidência do nome. Também tenho um ou dois LP do Paul Williams, que já não os ouço há muitos anos. Sei que na altura gostava dele, hoje quando os voltar a ouvir, não sei se manterei essa mesma opinião.
A revista Crawdaddy não me diz nada, assim como não tenho ideia de, alguma vez, a ter visto.
Será que um dia destes poderá escrever sobre ela?
A. Cândido

josé disse...

Sobre a Crwadaddy? Seria o maior prazer. Tenho tanto material que daria para um pequeno livro. Porém, aguardo pela oportunidade. Ando a concentrar-me na Esquire.

Por vezes tenho dúvidas que alguém se interesse por isto, mas como escrevo para mim, principalmente, posso bem com o desinteresse alheio.

A obscenidade do jornalismo televisivo