Em resumo, cita a Newsweek de 6 de Maio de 1974; a New York Review of Books de data incerta; o Le Monde Diplomatique de data ainda mais incerta; a Triunfo espanhola de 11 de Maio 1974; a Time de 6 de Maio de 1974 e a L´Express francesa da "primeira semana de Maio de 1974".
Nada mau. O pior são as citações truncadas dos artigos. Por exemplo, da L´Express é citado André Pautard como tendo escrito que a Revolução se assemelhou a um "Potemkine nas margens do Tejo" e fica assim se se acrescentar a menção à "Grândola, vila morena".
Um trabalho jornalístico truncado e sem menção à origem das imagens publicadas, como se fossem património colectivo e nunca tivessem dono. Detesto estas espertezas saloias e por isso as denuncio aqui, porque neste caso a responsável é Marta F. Reis, autora do artigo. Não é a primeira vez que estas coisas acontecem...
A capa é desde logo uma mistificação badalhoca. Coloca Salazar como se fosse o titular do poder que caiu em 25 de Abril de 1974 nas mãos dos militares. Marcello Caetano é figura inexistente.
O que é que Salazar, falecido em finais de Julho de 1970 e fora do poder desde Setembro de 1968, seis anos antes, tem a ver com o regime deposto, mais liberal, de Marcello Caetano e que já nem se chamava Estado Novo?
Será por se terem mantido certas características do regime que precedeu e que Salazar orientou desde 1926 até 1968? Insuficiente. Qualquer pessoa que tenha vivido nesse tempo sabe institivamente que Salazar, em 1974 já tinha desaparecido há muito tempo e o regime já não se identificava com o salazarismo, embora o tivesse como referência pessoal.
Esta mistificação é a mais corrente no tempo que passa porque mantém uma elipse temporal que falsifica a História.
De resto a fonte primária para este tipo de artigos é um livro que foi publicado em 2014, Nas Bocas do Mundo, da autoria de Joaquim Vieira e Reto Monico, aqui já recenseado.
Seja como for nem nesse livro nem no i de hoje e de então, aparecem estas imagens que publico a seguir, tiradas de revistas francesas da época.
Em primeiro lugar uma imagem ( tirada de uma recolha de primeiras páginas, publicada em França, pela Plon, em 1987) do jornal Libération de 29 de Abril de 1974. Na primeira página dava conta do que se passava em Portugal, um dia após a chegada de Mário Soares. Um jornalista anónimo, do Porto, contava ao jornal dirigido por Jean-Paul Sartre o que se passava então em Portugal: falta de informação no Norte: "aqui, no Porto, seguimos a situação pelos jornais". Tal e qual como me lembro. E era uma correria ao quiosque para comprar o que havia, nesses dias em que os jornais faziam várias edições que esgotavam rapidamente.
Quanto a revistas estrangeiras também apanhei a Time a tempo e lembro-me da Newsweek mas a semanada já não dava para mais...
20$00 era o preço que se pode ver clicando na imagem, na contracapa. Vendia-se na Bertrand. No ano anterior ainda custava 17$50 e em Julho de 1975 já custava 27$50. Coisas daquela "radiosa manhã de Abril".
Quanto às francesinhas era um regalo, muito discreto nos primeiros meses.
A L´Express no seu número de 6 de Maio de 1974, o primeiro que tratou o assunto nem a capa lhe deu, ao contrário dos americanos, nas edições europeias da Time e Newsweek, com uma imagem em grande plano de Spínola e o seu monóculo retro.
O artigo de fundo ocupava quatro páginas, já com Cunhal em destaque, à chegada ao aeroporto. As fotos são de Jacques Haillot.
O artigo de André Pautard é muito mais interessante do que a citação feita pelo i: revela que Mário Soares saberia já nas vésperas da manhã de Abril o que iria acontecer. E dá conta das contradições que em breve se revelariam. Nada disso transparece no artigo do i.
A imagem da "caça ao Pide" foi captada por outras objectivas francesas e mostrada pouco depois. Por exemplo no Paris Match de 11 de Maio de 1974.
Para além disso, o artigo assinado por Raymond Cartier, um dos grandes repórteres dessa época, era muito cáustico para o salazarismo ( e a revista não era de esquerda...):
Quanto ao Le Nouvel Observateur, mesmo panorama de capa e ainda mais discrição no miolo: apenas isto, na edição de 29 de Abril de 1974. Perguntando a um emigrante português o que pretendia, cita o que Spínola dizia: "o povo quer um nível de vida semelhante ao dos restantes europeus". Ainda hoje quer, passados 44 anos...apesar da democracia que imputava tal insucesso à ditadura e prometeu mundos e fundos. Tirou aqueles e ficou sem estes. Neste aspecto o balanço não é famoso mas continua a palavra de ordem "25 de Abril, sempre! Fascismo nunca mais!" a mistificar os indígenas. O Comunismo levou a melhor, neste campo da semântica:
A edição de 7 de Maio de 1974 não desenvolvia muito mais:
Esta atitude relativamente discreta das francesinhas mudou radicalmente dali a alguns meses.
Em 10 de Fevereiro de 1975 a principal ameaça à Liberdade em Portugal tinha este rosto e a L´Express compreendeu-o melhor que ninguém, na altura. Perguntava Jean-François Revel no artigo: porque é que os senhores Helmutt Schmidt e Giscard d´Estaing não tomam a iniciativa de um verdadeiro plano Marshall da Comunidade económica europeia para o desenvolvimento de um Portugal democrático, que poderia aliás integrar-se ao mesmo tempo nessa Comunidade?"
Sim, porque é que isto não aconteceu? Resposta no próximo número...
Na semana seguinte, de Fevereiro de 1975 a L´Express já dava a capa a Mário Soares na sua edição internacional e a entrevista que se publicou é reveladora de vários assuntos que não costumam ser tema de conversa por cá: Soares já aceitava uma espécie de plano Marshall dos americanos para salvar a economia portuguesa na época. Isso em Fevereiro. No mês seguinte aplaudiu as nacionalizações, o que revela bem a mentalidade de Mário Soares: um indivíduo que aceitava os americanos e acabou a dar a mão aos russos, através do PCP e a contribuir para a destruição do tecido económico e financeiro do país. Dali a um ano, bancarrota...
Quanto à sugestão de Jean-François Revel, seria boa se Mário Soares tivesse sido um verdadeiro homem de Estado, na altura. Anda por aí a fama de que nos salvou do totalitarismo comunista, mas não nos safou das bancarrotas porque alinhou com os comunistas logo a seguir.
Quanto a negociar com o Schmidt, sim, isso aconteceu, mas para financiar o PS. Foi lá de facto, acompanhado de Rui Mateus, para pedinchar dinheiro para o partido...o que revela a dimensão do estadista...
A partir daqui, o Partido Comunista Português e a Extrema-Esquerda tomaram conta do país...
E as francesinhas acompanharam o percurso. Mas o relato fica para outra ocasião.
8 comentários:
ao que parece o boxexas enriqueceu
e o rectângulo empobreceu e apodreceu
até o psd passou a pdm ou partido das múmias
a 26.iv o filho do padre entregou um país aos sociais-fascistas
para desgraça de quase todos
Dois preciosismos: o Dr. Salazar sobraçou a pasta das Finanças em 1928 e assumiu a presidência do Conselho em 1932; em 26/IV o filho do padre não entregou nada porque 1) só chegou a Santa Apolónia em 28/IV e 2) já estava penhorado ao P.C.P. havia anos.
Portugal R.I.P.
A primeira página do i é uma cagada. O título é uma fanfarronice pegada: ignorantes a arrimarem-se ao quilate de sábios por cavalgarem o 25 de Abril com a intelectualidade estrangeira. A nacional havia de lhe ficar curta nas mangas.
Flagelam-se com cravos cuidando que são flores.
Até para fazer capas de jornal foi útil o 25 de Abril.
Marcello tentou mudar o nome ao Estado Novo. Já foi tarde. O estado novo envelheceu o pais e já não havia engenho publicitário capaz de apagar da memoria as décadas negras do salazarismo.
Marcello podia ter conseguido a primavera. Mas faltou-lhe aquilo que sobejava a Salazar: Tomates.
Rb
Ora aí está alguém que diz umas verdades:
"É bom recordar que o 25 de Abril aconteceu num momento em que o regime enfrentava uma grave crise económica, em que muitos produtos alimentares de primeira necessidade eram racionados e quando o regime estava isolado internacionalmente e à beira de uma derrota militar na Guiné.
É bom recordar que muitos das grandes fortunas, hoje elogiadas como sinal de um empreendedorismo que nunca terá ocorrido em democracia, foram construídas à sombra da pior das corrupções, com os trabalhadores a terem de suportar um regime de salários de miséria e a total ausência de direitos, com os patrões a usarem a polícia do Estado para beneficiarem dessas condições.
É bom recordar que desde o mais pequeno balcão do Estado até ao ministro a regra era a da corrupção, nada no Estado funcionava sem pagar por fora. Desde as Alfândegas à Inspeção Económica, tudo era oleado com dinheiro.
É bom recordar que no tal Estado bondoso morria-se de uma coisa, as aldeias e até algumas vilas tinham esgotos a céu aberto, eram raras as aldeias com acesso à electricidade, nas estradas mal dava para passarem dois carros, nas escolas reinava a tacanhez e os liceus de que muitos se recordam como modelos tinham uma boa parte dessa imagem graças a professores que eram opositores do regime." Jumento
A corrupção durante todo o estado novo estava tão democratizada como aquela que hoje ainda existe em Angola.
Julgo até que as pessoas nem tinham consciência do ilícito. A normalidade era pagar favores. Para quase tudo.
Mas aquela que me fica na memoria, por experiência familiar, era a avença que se tinha de pagar aos fiscais para as empresas existirem. Eram autensticos sócios. Bebiam os lucros todos os santos meses, mas não investiam um centavo.
Era uma espécie de camorra mafiosa que sacava dinheiro aos comerciantes para estes evitarem ser vilipendiado.
Rb
Os médicos carimbavam a incorporação militar rumo à guerra também faziam a festa. Com o dinheiro certo o pessoal ficava inapto.
É o que dizer dos senhores policiais que devolviam a carta de condução sem a notinha?
O pais esteve afogado com estas praticas demasiado tempo.
Deve ser por isso que ainda subsiste o espirito da cunha e do favorzinho. Há matérias culturais que demoram a sair.
Rb
A capa do jornal i é um verdadeiro nojo. A borrada de péssimo gosto que, aproveitando a foto de Salazar, fizeram para homenagear o 25 do Quatro, é duma falta de respeito e duma má-educação que envergonharia a pessoa mais desafecta ao Regime do Estado Novo ou ao Estadista, desde que prevalecesse a sua ética e formação moral.
Atributos pessoais e valores, estes, que não têm preço e que eram cultivados por todos os portugueses e também e sobretudo pelos jornalistas até há pouco mais de quarenta anos e que presentemente inexistem na conduta e brio profissional daqueles que escrevinham nos jornais e revistas e nos que produzem documentários sobre o anterior regime e/ou Salazar. Assim como os que papagueiam atoardas nas televisões para por sistema denegrirem a 'ditadura fascista' e o seu Governante máximo, com as raras excepções que confimam a regra.
Repito, uma capa de jornal que é um autêntico nojo e que devia envergonhar quem a concebeu. Salazar foi um Governante prestigiado que defendeu o País e o Povo como nenhum outro, elegendo estas duas tarefas hercúleas como as principais da sua governação. E fê-lo o melhor que soube e muito melhor do que qualquer outro governante antes dele. Sobre os depois dele nem é bom falar.
Com todos os seus defeitos Salazar foi no entanto elogiado por inúmeros dirigentes estrangeiros que nem sequer partilhavam da mesma ideologia nem tinham afinidades políticas. A memória de Salazar - como a de qualquer ex-governante de qualquer país do mundo que não tenha sido um assassino selvático de milhões de seres humanos - merece respeito, goste-se ou não do que ele foi e fez. Quem disser o contrário é alguém sem valores nem princípios morais e portanto merece ser ostracizado.
Mas é claro que o seu autor recebeu ordens dos donos do sistema e do jornal para a executar tal e qual, especialmente num dia que é idolatrado pelos 'democratas' e em que achincalhar mais uma vez a memória de Salazar se impunha. E como é evidente não lhe foi possível recusar. É ou não verdade? Claro que é.
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