Aqui há uns dias, a jornalista Bárbara Reis que chegou a dirigir o Público e o conduziu para o fosso onde se encontra, escreveu um artiguelho no qual aviltou nomes do antigo regime, como Salazar e Marcello Caetano, para levar água choca ao moinho de sempre, a esquerda radicalizada.
Em resumo e para lavar o charco da actual corrupção pandémica, disse que no antigo regime havia cunhas em barda e até apontou um exemplo concreto de um pedido pessoal de Marcello Caetano ao então primeiro-ministro ( sic) para favorecer "um amigo".
O artiguelho esconso já foi comentado aqui e agora vai mais outro comentário que me parece pertinente para ver o carácter e formação moral e intelectual de quem escreve.
Na altura não me ocorreu que tinha por cá o volume citado, ou antes, procurei e não o encontrei ( Salazar Caetano Cartas Secretas, 1932-1968, José Freire Antunes, Círculo de Leitores, Novembro 1993).
Agora, por o ter achado no meio de outros, ao folhear e procurar a parte citada deparei-me com um acervo de cartas trocadas entre Salazar e Marcello Caetano, quase nunca pessoais e sempre atinentes a assuntos de Estado e Governo da Nação.
Em boa parte delas Marcello Caetano intervém na qualidade de alto funcionário, de procurador à Câmara Corporativa, de ministro.
Apesar de arredado dos círculos mais chegados ao poder de Salazar, este, em 1934, pediu oficialmente a Marcello Caetano para elaborar um Código Administrativo, pois o que existia provinha do tempo dos afonsinhos do século XIX.
As primeiras cartas do livro espelham tal facto e circunstância:
No acervo de cartas publicadas não há apenas aquela a que se refere a jornalista cavilosa. Há mais do mesmo género em que Salazar e Caetano trocam impressões sobre nomes a escolher para este ou aquele cargo no Estado e até em empresas ligadas ao Estado. Como esta:
E outra:
A propósito do "pedido" em causa no artiguelho da jornalista cavilosa e que a mesma atribui a cunha pessoal do visado, para demonstrar a existência de corrupção, vale a pena dizer que se trata de uma carta endereçada por Caetano a Salazar pressupondo a indicação de um nome para um cargo cuja nomeação é da competência do "primeiro-ministro" ( sic), como se depreende da resposta de Salazar.
A carta é de 2.11.1951, o que a jornalista cavilosa omite, tal como omite a resposta dada e o contexto da mesma.
Tipico de má formação profissional. Tal como é típica a ignorância sobre o que eram as instituições e como funcionavam, mostrando-se nos escritos tal parlapatice, de modo impune.
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