quarta-feira, maio 12, 2010

A estética jacobina

A propósito da vinda do Papa Bento XVI a Portugal, há uma certa tonalidade mediática que afina pelo diapasão do jacobinismo. No Público pode ler-se Paulo Moura, a escrever sobre o "enorme cálice de ouro"; sobre " as cores, o fausto dos paramentos e majestade do Papa, sentado na cadeira da presidência da celebração com a sua mitra a reluzir" e outras boutades do género que vêem algumas árvores na floresta da visita papal, num engano de crenças. O laicismo acredita na ausência de fé e por isso incomoda-se com a sua presença, repescando pormenores de fait-divers para emoldurar o discurso finalista.
Ao lado, pode ler-se António Marujo a registar a essência do acontecimento, sem recurso ao acessório e cita adereços estéticos para reforçar o principal: a mensagem do Papa, directa ao entendimento e à razão.
Entre estes dois polos, aparece um outro, descentrado e habitual no discurso politizado à esquerda: o do cronista Rui Tavares, na última página do jornal e que nada melhor encontrou no primeiro dia de visita do Papa, do que salientar uma referência ao discurso em que o Papa citou...o cardeal Cerejeira.
Uma referência que serve para levar uma água a um moinho velho e de mós carcomidas pelo reaccionarismo ao contrário.
Um discurso pautado por alusões ao salazarismo associado à Igreja Católica num Portugal envelhecido há mais de 40 anos, ainda serve os ruis tavares deste país, para salientarem a excelência de um mito: o da Igreja progressista que em vez de "sintonizar com a ditadura", afina pelo "catolicismo generosos, tolerante e pluralista" que, afiança Rui Tavares, "também existe", como se essa ideia não fosse mais antiga que a Sé de Braga e os tavares deste Portugal moderno tivessem fixado residência intelectual no tempo do Marquês de Pombal.
Tivesse Rui Tavares a devida atenção e oportunidade e a sua crónica poderia citar outro facto mais relevante do que ideias do tempo do marquês: a pedofilia. Na Igreja, conforme o Papa disse, o pecado está dentro e vem de dentro. E pede penitência, arrependimento e justiça.
E na política que Tavares defende, onde estará? E como é que lidam estes políticos de esquerda, com o caso Casa Pia e o pecado que vem de dentro dessa classe?
Terão os ruis tavares a mesma coragem que este Papa, para denunciar o que está podre por dentro, ou preferem fazer como as "cerejeiras em flor" que despontam na primavera da indignação hipócrita e definham logo a seguir perante factos concretos e acusações situadas e continuam a erigir cabalas em vez de espelhos que lhes mostrem a nua realidade?
Não haverá uma lição a tirar, neste caso, e muito mais interessante do que citar o Papa por citar Cerejeira?
PS. E afinal, qual foi a citação do cardeal Cerejeira, motivo da indignação do tovarich Tavares? Esta: " Não foi a Igreja que impôs Fátima, mas Fátima que se impôs à Igreja". Fátima, é o povo que lá vai. São os crentes que lá estiveram e estão e mostraram à hierarquia da Igreja que era um lugar importante, religioso e de culto.
Curioso, como sem citar a citação, aproveita o citando para desmerecer o citador que mostrou que o povo é quem mais ordena...
Reaccionarismo pior, seria difícil encontrar.

16 comentários:

zazie disse...

O Rui Tavares não tem emenda. Aquilo é paranóia de tal ordem que não olha sequer à desonestidade intelectual.

zazie disse...

Sempre que me lembro dele defender no Barnabé que se retirasse o brasão de Évora por ter lá um mouro a ser degolado e isso poder incomodar algum islâmico que olhasse para o brasão histórico.

ehehe
Palavra. E já escreveu maiores bacoradas a propósito da matança dos marranos. Os jacobinos são sempre capazes de militar em qualquer religião contra a que dá identidade à pátria a que pertencem.

josé disse...

O tipo tirou o curso de História nas Novas Oportunidades?

Às vezes, parece.

O Rui Ramos tem um artigo na Ler deste mês, sobre um assunto curioso: ALexandre Herculano e o seu auto-apagamento, pela retirada em Vale de Lobos. No artigo, cita duas ou três vezes o exemplo de J.D. Salinger para fazer o paralelo.

Até acho piada, mas enfim, de um Historiador espera-se outra coisa porque isso até eu consigo fazer, estas associações livres de situações...

Por onde anda o ensino de História neste país? Rui Ramos sabe grego e latim?

Já nem pergunto o mesmo do Tavares que esse não saberá sequer de onde vem a palavra procópio.

josé disse...

E apanhei um artigo de Vasco Pulido Valente numa Cinéfilo de 73, sobre a...sociologia!

É de rir até às lágrimas. Quando tiver tempo, vou publicar a par com um livro recente de um doutorado do ISCTE.

Isto é o máximo. Onde nós chegamos!

joserui disse...

E na tv ouvi -- "centenas de pessoas vieram à rua para ver o Papa"... Já diziam os Dupond(t): direi mesmo mais, dezenas de pessoas! -- JRF

zazie disse...

Com o Salinger?
ehehe se calhar foi por causa do budismo zen.

Isto tem vindo a piorar. Recentemente tive a prova disso.
Um dos casos nem sei se vou deixar passar pois tem financiamento público e, pelo que vi e me recusei a participar, é uma vergonha a toda a prova.
O outro caso foi um artigo para publicação em que me pediram parecer e, pela minha parte, chumbei-o.
Uma coisa inacreditável, pois é suposto fazer parte de tese de doutoramento e nem para post de divulgação servia.

Eu nem queria acreditar que já se fizessem teses assim. Sem sequer haver leitura de obras publicadas, já para não falar na absoluta ausência de investigação e nos erros grosseiros.

Mas agora é tudo "escala europeia". Até já se permitem teses de suposto património europeu onde nem o da casa é conhecido ou foi sequer fotografado.
..........
Quanto ao Rui Tavares, o problema dele é ser manhoso. Ele deturpa deliberadamente por mera pancada de agir prop.

zazie disse...

agit prop.

Mas o livro do doutorado do ISCTE tem piada?


Imagino. Eu também ando com vontade de contar umas tretas impensáveis que se passam em supostos departamentos de "Filosofia das Ciências e das Artes".

Uma gigantesca treta. E lembro-me de ler o maradona a gozar com a dita responsável. Eu nem queria acreditar na palhaçada.

josé disse...

O doutorando do ISCTE escreve sobre as moscas que caem na sopa, para tentar demonstrar a beleza do produto caseiro. Coisas assim. Fragmentos do quotidiano para tentar demonstrar a evolução social através dos signos em imitação de um Eco que fez o mesmo, mas com outra classe, nos anos sessenta.

É de cair a rir. Veio na Pública no passado Domingo e ainda não tive tempo de lhe pegar. Mas logo se calhar...

Unknown disse...

Então a Karocha não zurze no Papa?

JC

Karocha disse...

Não João!
O Post que fiz foi ao Chefe de Estado do Vaticano.
Porque haveria de zurzir no Papa?

Karocha disse...

Caro João
Caso saiba de Direito Canónico pode comentar.
E também o pode sempre que queira, o meu blog está aberto a todos!

Karocha disse...

zazie

Já tinha saudades :-)
Tudo bem consigo?

naoseiquenome usar disse...

Meu caro:
está a demponstrar ser quase fundamentalista!
E a criticar porque sim.
Porque há-de "o povo" que não gostra do que o outro "povo" que deu vida a "Fátima" alinhar pelo mesmo diapasão?
Que raio de povo defende?

josé disse...

Não percebeu:

O povo é quem mais ordena ou não?

Então?! Critica-se o Cerejeira por ter dito isto?

O Cerejeira é que era adepto da ditadura?

Monchique disse...

Boa tarde.
Rui Tavares é outro do corruptos intelectuais que pairam por aí.
ELES, quando leram que 11/2005, a Instrução da Congregação para a Educação Católica "acerca dos critérios de discernimento vocacional em relação às pessoas com tendências homossexuais, em vista de sua admissão ao Seminário e às ordens sacras" e que o Papa aprovou o documento e ordenou sua publicação e que a Igreja considera necessário não admitir "ao Seminário e às ordens sacras aqueles que praticam o homossexualismo, apresentando tendências homossexuais profundamente radicadas ou defendem a chamada cultura gay" _ afirma o documento, saltaram todos atirando-lhe pedras.
A grande diferença é que no mundo civil tudo é cabala, tudo é culpa dos outros, para o Papa a culpa está dentro da Igreja e não fora.
Grande Papa.

Gonçalo Soares disse...

Belo par de bandarilhas! Olé!

A obscenidade do jornalismo televisivo