quinta-feira, dezembro 06, 2012

A ética salazarista e a republicana, socialista e laica

Em 22 de Abril de 1989 a revista do Expresso, dirigida por Alexandre Pomar, Clara Ferreira Alves, Joaquim Vieira e Santos Pereira dedicaram um número especial aos 100 anos de Salazar, colando em tandem o assunto "25 de Abril-15 anos".
A abrir,  a ementa não podia ser mais clara que aquela alves: meia dúzia de fotos, em fundo verde, comentadas por Vergílio Ferreira e com o título "Um Portugal imperial e campónio".
Custa-me sempre um pouco a entender como é que um Portugal assim campónio gerou tantos intelectuais cosmopolitas como era o tal Vergílio que escrevia bem. Lá depois do director ( José António Saraiva) fazer o seu papel aparece o inevitável Fernando Rosas, familiar de um ministro de Salazar e que achava este "um personagem mitológico por excelência". Também não se percebe onde quer chegar porque a suprema mitologia que lhe assaca  é a de ter salvo as finanças do país, como se tal fenómeno relevasse de uma abstracção com que a Esquerda encara os assuntos da economia.
É também daqui, deste número, que saiu a crónica de António José Saraiva sobre o "Salazarismo" já aqui mostrada mais abaixo.
Depois de um artigozito de António Costa Pinto aparece uma secção de " como os líderes vêem Salazar". O primeiro "líder"  a dizer coisas é Dias Loureiro.  O qual repete as ideias feitas pela Esquerda: até 1945 Salazar andou bem. Depois disso foi um desastre, porque " recusou os valores da Liberdade, Democracia e Desenvolvimento", diz o actual "líder" de uma camarilha de personagens mitológicas que gravitaram à volta de um  BPN , SLN e outros bancos insulares.  Uma coisa é certa e este "líder" talvez então já o soubesse: se Salazar mandasse, esta espécie de líderes mandariam quando muito na casa ou escritório deles  e se alguma vez pusessem pé nos corredores do poder, seriam prontamente enxotados pela Ética que então existia.
Quem não acredita em tal pode ler o texto que se segue, um apontamento de reportagem nessa revista, assinado por Joaquim Vieira e dedicado aos "sobreviventes ilustres" do salazarismo.
Um deles era Francisco Leite Pinto que foi ministro da Educação de um governo de Salazar e noutra ocasião presidente da Junta de Energia Nuclear ( era o tal país campónio de que falavam aqueles jornalistas esclarecidos tipo Clara Ferreira Alves...)
É ler ( clicando, abrindo a imagem noutra janela e clicando novamente) para se ver a ética do regime de Salazar por contraposição à ética dos dias loureiros e companhia que vem a seguir.

Um dos que também se pronunciou sobre Salazar, in illo tempore, foi Mário Soares. Numa revista do Público, de29 de Julho de 1990, Mário Soares escreveu algumas páginas desde a "casa de Monte Velho do Vau" ( Salazar nunca teve casa de férias no Algarve...ao contrário de alguns políticos da democracia que lhe chamam campónio ou com "experiência de vida ultra-limitada" como escreve Soares).
É ler o que Mário Soares pensava do estadista Salazar e poderá sempre comparar-se a ética republicana. socialista e laica com aquela salazarista que atendia à poupança de "ajudas de custo" de funcionários superiores da administração ou mesmo das empresas do Estado. É comparar essa ética da poupança e controlo de despesas públicas com o forrobodó que Mário Soares inaugurou com as "presidências abertas" e outras viagens a tudo quanto era sítio por esse mundo fora, sempre à custa do Zé pagante.
É ler como fala de quem "Nunca teve a ambição do dinheiro- há que o reconhecer- e que morreu pobre, nem nunca se interessou pelo fausto ou pelo brilho social" e que por seu turno e bel-prazer,  inaugurou uma presidência em que "a partir de agora nada ficará como dantes". E não ficou.  A começar por Macau, para onde exportou alguns personagens que eticamente emparelham bem com um Dias Loureiro.  Para não dizer pior...

Em 1986 a eleição presidencial deu o "jackpot" a Soares. Se até li andava no  "mini" da filha, e ainda não tinha fundações de espécie alguma,  a partir dali passou a andar de carrão do Estado, com tudo pago. Ainda continua, aliás. A ética republicana é assim, de mãos largas e sempre à custa dos outros. A vitória foi tangencial mas decisiva para relançar o socialismo moribundo com o Sombra a fenecer nas urnas eleitorais.


O desaforo ético, republicano, socialista e laico começou logo no primeiro dia da presidência, como aqui se mostra:
E contudo, se Soares não tivesse ganho teríamos o outro candidato "à frente" de Portugal. A julgar pelo que desde então se passou e principalmente pela "entourage" do dito, nem sei bem se estaríamos melhor servidos na ética nacional. É ver...o que nos esperava. Foi por pouco, por meros cento e cinquenta mil votos, em 1986 ( e se se reparar no mapa verificar-se-á que foi o voto comunista do Alentejo e Sul do país que lhe deu a vitória. Um sapo vivo que os comunista engoliram).
Depois disso as bases de apoio de ambos fundiram-se numa central de interesses comuns. De tal modo que o candidato do loden, passou "p´rá frente de Portugal" num ministério dos Negócios Estrangeiros de um tal José Sócrates, afincado republicano, socialista, laico e o mais que aparecesse e lhe desse jeito.
Gostaria de pensar no que Salazar diria disso. Ou mesmo Marcelo Caetano...

Questuber! Mais um escândalo!