O dono do jornal festeja com alguns foguetes retóricos na página de opinião e diz a certa altura que " A própria ideia de lançar em 1973, com as circunstâncias políticas vigentes, um semanário cujo conceito era completamente novo, foi um enorme risco."
E explica como fundou o semanário: "criámos um conceito de organização de empresa jornalística que também não era praticado: o jornal-escritório. Não tínhamos tipografia, nem impressão próprias, só um 2º andar direito. no 37 da rua Duque de Palmela."
Balsemão diz depois que em 1974 se não tivesse chegado o 25 de Abril tinha fechado as portas. Tudo por causa da Censura que o apoquentava cada vez mais.
Há uns anos ( Abril de 2009) o mesmo jornal publicou um livro da autoria de José Pedro Castanheira sobre "O que a Censura cortou" ao jornal e logo no primeiro número houve seis artigos totalmente cortados. Um deles relativo à notícia da ocupação da capela do Rato por "fiéis". Lendo esse artigo fica a saber-se que relatava os factos ocorridos então, com a prisão de cerca de 70 pessoas pelas forças de de choque da PSP, na noite de S. Silvestre", desenvolvendo depois a notícia sobre o que lhes sucedeu. Escreve o autor que nesse primeiro número foram cortados "quase trinta textos". No segundo número continuavam os cortes da Censura, sendo o mais relevante um artigo pequenito relativo "às caçadas onde os grandes se encontram". Os tais grandes ( um deles, Queirós Pereira) eram aqueles com quem Balsemão agora acompanha...
No número de 27 de Janeiro é um artigo sobre a biografia de Amílcar Cabral, para todos os efeitos um terroristas que nos combatia no Ultramar. Também foi proibida a referência a um lançamento discográfico em reedição, a Batalha de Alcácer Quibir, com poemas de Manuel Alegre, exilado na Argélia.
O nº5, tinham sido cortados sete cartoons do artista Sam que eram para serem publicados na página oito no primeiro caderno.
Ora o que traz a página oito do Expresso de 3 de Fevereiro de 1973? Um artigo de página de Rogério Martins, um dos "tecnocratas" do governo de Marcelo Caetano e que foi depois figura destacada no pós 25 de Abril. Sem sombra de Censura e sobre " A Europa em Longes do Sol".
Enfim, o relato dos cortes da Censura ao jornal cingem-se essencialmente a matérias de âmbito político e politiquice de relevo e sensibilidade social que o Estado Social de Caetano não permitia fossem divulgadas publicamente. Uma censura perfeitamente compreendida pelos jornalistas de então que arriscavam nos seus escritos o que sabiam de antemão seria para cortar. Tentavam a sua sorte e por vezes alcançavam o desiderato.
Obviamente isto não torna essa Censura aceitável, sem mais, mas permite compreender o contexto em que a mesma ocorria, as regras que a determinavam e a legalidade vigente à época.
Até parece que os jornalistas de então não sabiam perfeitamente disso...porque hoje em dia a censura é interiorizada e ninguém duvida que se exerce diária ou semanalmente nos jornais. É uma censura menos rigorosa em termos objectivos mas mais insidiosa em termos subjectivos.
Os jornalistas, agora como então, não podem escrever o que bem entendem, como afirma neste número do Expresso o seu antigo director Henrique Monteiro, um maçónico assumido e só por isso condicionado. Portanto, Henrique Monteiro, o indicador do actual director do jornal, o inenarrável Ricardo Costa, não tem liberdade para dizer o que pensa. Tomara que a tivesse para pensar o que diz...
Para além disso, quem lê Balsemão a foguetear encómios ao seu jornal e empresa vicejante nos media portugueses, mas em crise escondida, com empréstimos à solta, neste ambiente de plena aurea mediocritas, julga que o jornal foi uma espécie de lança em África num Portugal atrasado e miserável.
Na verdade não foi. O semanário que, segundo julgo, comprei logo no primeiro número ( mas que não encontro guardado) era um jornal eminentemente político, da politiquice caseira, como é costume em Portugal e da qual o jornal nunca se demarcou.
Os assuntos dos primeiros números assentavam na realidade portuguesa vivida do lado da oposição ao regime, mesmo a oposição liberal, à qual o próprio Marcelo Caetano não era estranho e provavelmente nutria alguma simpatia.
Porém, o regime era um complexo de sensibilidades, algumas de extrema-direita, como agora se diria e que efectivamente tinham poder de influência, através do presidente da República, incluindo o poder económico que se lhe associava, como associou depois à Esquerda, logo a seguir ao 25 de Abril. O Capital não tem pátria e quanto a política prefere a que o deixa sossegado.
O Expresso nunca foi um jornal culturalmente marcante. Nunca foi um jornal inovador para além da inovação existente, com excepção de um ou outra número numa fase em que Henrique Cayatte desenhou alguma coisa. Nunca foi um jornal com profundidade de análise como havia outros semanários e nunca foi um jornal com ambições para além da tal aurea mediocritas.
O Expresso, como julgo já escreveu sobre isso Vasco Pulido Valente, foi sempre um espelho da sociedade portuguesa mais mediana. Actualmente, com o inenarrável director, é mais um espelho da mediocridade que não o deixa deixará ver para além do umbigo da troika e dos conflitos que a mesma traz consigo.
Assim, quando o jornal surgiu, em Janeiro de 1973, já havia outros órgãos de informação que serviam muito bem e eram muito melhores que o Expresso no relato, crónica, fotografia, notícias, artigos de fundo e de forma gráfica interessante.
Por exemplo, no campo da informação geral e entretenimento, em que o Expresso nunca se destacou, e em 1973 era mesmo aflitivo de mediocridade, havia:
A Vida Mundial, cujos artigos sobre a política nacional eram relativamente conformistas, mas com entrevistas de fundo como esta, com o escritor José Gomes Ferreira.
O Observador que em 1973 já ia no seu centésimo e tal número semanal ( começou em 1971 e com um conceito, esse sim inovador) , sempre com interesse e com uma profundidade de análise política muito superior ao Expresso e que não fazia oposição por oposição ao regime de Caetano e lidava muito melhor com os tais tecnocratas. O Observador era uma revista que o Expresso nunca conseguiu ser. Era uma revista que se destacava pela positiva na análise social, fazendo uma sociologia de Portugal que o Expresso nem cheirava de perto ou de longe, através de artigos como este que aqui se mostra pela capa, sobre a investigação e com uma entrevista de fundo a João Salgueiro ( sim, esse mesmo) então recém empossado presidente da Junta Nacional de Investigação Científica.
Quem quiser saber com rigor o que era o Portugal de 1973 fica muito melhor informado ao ler o Observador do que o Expresso e disso não tenho qualquer dúvida e demonstrarei perante seja quem for, com provas à mostra.
Na informação geral, à semelhança do que ocorria nos países europeus e já para não falar dos EUA, também tínhamos as nossas Life, Look e Paris Match ou Stern. Estas:

No campo de entretenimento popular havia também oferta que o Expresso não alcançava no seu suplemento Revista, um tanto ou quanto pindérico. Até havia uma Plateia e uma Crónica Feminina.
Ou para quem sendo de esquerda soft queria um tipo de humor mais britânico e evoluído, chegando a patamares que o Expresso nunca alcançou, havia um suplemento de um jornal diário, o Diário de Lisboa. Este:
Portanto, se o Expresso acabasse não era por causa da Censura. Era por causa da mediocridade e de ser um "jornal-escritório", como Balsemão diz. Tal como hoje, mas os tempos, agora, são mais propícios à pinderiquice. Tanto que até arranjaram um director inenarrável.