A revista Tabu do jornal Sol trazia na semana passada este pequeno texto sobre um crime do PREC: o assassínio de Alexandrino de Sousa, um militante do MRPP que terá sido morto por elementos da UDP durante o Verão Quente de 1975. O crime é fácil de enunciar: o bando de militantes da UDP, cerca de 60, na Praça do Comércio em Lisboa, sairam de carrinhas, munidos com barras de ferro e empurraram a meia dúzia de militantes do MR que tinham a ousadia de lutar contra o que apelidavam de "social-fascismo". Foram sendo empurrados até ao cais das colunas onde o Tejo marejava. Alexandrino não sabia nadar e apesar de ter gritado tal coisa foi literalmente empurrado pelos valentes da UDP que o afogaram, assim, porque deviam saber que quem não sabe nadar pode afogar-se se não for socorrido.
É esta a história que Luís Osório conta e não sei se o processo crime conta a mesma coisa. O que não conta, porém, é quem matou Alexandrino de Sousa concretamente. Quem foi o ou a, os ou as, valentes que o empurraram para a morte certa que sabiam iria ter lugar naquelas circunstâncias.
Os assassinos não foram descobertos mas como eram várias dúzias devem saber muito bem quem são, ainda hoje.
Não se acusam, está bom de ver e quanto a remorsos relegam provavelmente esse incómodo para a noção vaga de "excessos revolucionários", de modo que provavelmente ninguém se sentirá culpado de coisa alguma. Se o Alexandrino fosse filho, pai ou parente deles, provavelmente saberiam muito bem quem foram os culpados. Assim...
Na Universidade de Coimbra mandava a UEC, a secção estudantil do PCP, de que fazia então parte Vital Moreira e outros.
Nas cantinas da universidade costumavam passar música ( boa música por sinal, mesmo a revolucionária) do rádio universitário, que ecoava nos altifalantes das cantinas enquanto se almoçava ou jantava. Curiosamente, nesse dia ou a seguir, uma das músicas que passaram insistentemente foi um velho êxito de Sérgio Godinho, "Aprende a nadar, companheiro!"
Sim, há quem se lembre...
ADITAMENTO em 29.1.2013:
Alertado por uma ligação mostrada por um comentador, aqui fica o comunicado surreal do MRPP da época em que Durão e Rosas e Matos mais companhia só juravam pela revolução de livrinho vermelho na mão de semear discórdias:
Alertado
pelo assassinato terrorista do camarada José Alexandrino de Sousa
(António), o Comité Central do Movimento Reorganizativo do Partido do
Proletariado (M.R.P.P.) reuniu em Sessão Plenária de emergência às 6
horas de hoje, em Lisboa.
O Comité Central examinou o significado e as consequências políticas do assassinato terrorista do camarada Alexandrino de Sousa, levado a efeito por um bando armado de social-fascistas do grupelho provocatório do O.R.P. «C.»/U. «D. P.», e aprovou as medidas que o caso requer.
O Comité Central examinou o significado e as consequências políticas do assassinato terrorista do camarada Alexandrino de Sousa, levado a efeito por um bando armado de social-fascistas do grupelho provocatório do O.R.P. «C.»/U. «D. P.», e aprovou as medidas que o caso requer.
O
camarada Alexandrino de Sousa era militante da gloriosa Federação dos
Estudantes Marxistas-Leninistas (F.E.M.L.), organização do nosso
movimento para a juventude comunista estudantil. O camarada Alexandrino
de Sousa era Director do jornal «Guarda Vermelha», órgão central da
F.E.M.L..
O
camarada Alexandrino de Sousa foi barbaramente e covardemente
assassinado, quando procedia à afixação de cartazes convocatórios do
Comício de Homenagem ao camarada Ribeiro Santos, assassinado em 12 de
Outubro de 1972 por fascistas e revisionistas.
O bando de social-fascistas da O.R.P. «C.»/U. «D. P.» feriu outros 5 camaradas de Alexandrino de Sousa, um dos quais se encontra hospitalizado em perigo de vida.
O bando de social-fascistas da O.R.P. «C.»/U. «D. P.» feriu outros 5 camaradas de Alexandrino de Sousa, um dos quais se encontra hospitalizado em perigo de vida.
O
camarada Alexandrino de Sousa foi um verdadeiro quadro servidor do povo
e infinitamente fiel ao marxismo-leninismo-maoismo e à linha vermelha
do nosso movimento.
O
Comité Central, ciente de interpretar os elevados sentimentos
revolucionários do proletariado e do povo português, presta a sua firme
homenagem ao jovem militante caído no campo da luta, exprime a sua dor
aos familiares do camarada Alexandrino de Sousa, muito especialmente a
seu pai e sua mãe, e exprime à Federação de Estudantes
Marxistas-Leninistas e seu comité «Estrela Vermelha Ribeiro Santos»
vivos sentimentos revolucionários.
O
Comité Central conclama todo o partido a unir-se como uma rocha de
granito e a cerrar fileiras com as amplas massas populares, de modo a
que, apoiando-se no exemplo de coragem, abnegação e firmeza Bolchevique
do nosso querido camarada Alexandrino de Sousa, possa vingar a sua
memória.
A LUTA É DURA, MAS NÓS NÃO VERGAMOS!
HONRA AO CAMARADA ALEXANDRINO DE SOUSA (ANTÓNIO)!
ALEXANDRINO DE SOUSA - RIBEIRO SANTOS, O MESMO COMBATE!
VIVA A LINHA VERMELHA DO NOSSO MOVIMENTO!
VIVA O PARTIDO!
O Comité Lenine, Comité Central
do M.R.P.P.
E mais outro, no jornal Luta Popular:
José Alexandrino – Ribeiro Santos,
O mesmo combate!
Hoje mais um filho do povo, mais um camarada nosso, foi cobardemente assassinado por cerca de 60 rufiões da mafiosa U“DP” – ORP “C”“ML” e por certo de outras organizações da mesma índole.
O camarada Alexandrino, juntamente com mais cinco camaradas, respondendo ao Apelo à Esquerda, procedia à colagem de cartazes para transformar o 12 de Outubro – dia do assassinato do heróico camarada Ribeiro Santos – numa gigantesca manifestação de força da Linha Vermelha do nosso Partido.
O mesmo combate!
Hoje mais um filho do povo, mais um camarada nosso, foi cobardemente assassinado por cerca de 60 rufiões da mafiosa U“DP” – ORP “C”“ML” e por certo de outras organizações da mesma índole.
O camarada Alexandrino, juntamente com mais cinco camaradas, respondendo ao Apelo à Esquerda, procedia à colagem de cartazes para transformar o 12 de Outubro – dia do assassinato do heróico camarada Ribeiro Santos – numa gigantesca manifestação de força da Linha Vermelha do nosso Partido.
Cercados,
os nossos camaradas recusaram arrancar a propaganda que haviam acabado
de colar, resistindo valentemente às bárbaras agressões de que foram
vítimas.
Perante
um tão grande comportamento, perante a demostração de tamanha força
política e moral, ante o espírito de partido afirmado, coisa nunca vista
nas suas hostes mafiosas – os neo-revisionistas arrastaram os camaradas
para o rio, em cujas águas revoltas pereceu José Alexandrino de Sousa
director interino do órgão central da FEML, usando na organização o
pseudónimo de António.
O
nosso camarada não morreu em vão. O seu exemplo vai contribuir para
unir toda a esquerda dentro e fora do nosso Partido afim de esmagar a
contracorrente reaccionária que expressa precisamente os mesmos pontos
de vista políticos e ideológicos dos seus verdugos. O seu sacrifício é
uma contribuição importante para a fundação do Partido e foi isso que em
desespero de causa levou estes bandidos a assassiná-lo. Bandidos que o
povo não tardará esmagar com as suas próprias mãos.
O camarada Alexandrino não morreu em vão, o seu exemplo de autêntico comunista vai trazer às nossas fileiras um número crescente de filhos do povo prontos a pegar na bandeira vermelha que ele agitou.
O camarada Alexandrino não morreu em vão, o seu exemplo de autêntico comunista vai trazer às nossas fileiras um número crescente de filhos do povo prontos a pegar na bandeira vermelha que ele agitou.
Luta Popular nº 113
Sexta-feira, 10 de Outubro de 1975
Agora só falta saber quem eram os outros cinco camaradas "bolcheviques" e particularmente a que respondia por nome feminino e que papel teve na contenda. A sério e sem surrealismos. Espero que Ana Gomes esclareça. Ou o advogado Garcia Pereira, que precisa de contar uma história melhor que esta, segundo se poderá depreender de depoimentos de quem saberá melhor. É que a história dos "social-fascistas" da UDP, pelos vistos é demasiado aperfeiçoada e simplista. Venha outra história mais concreta e definida que precisamos de saber se Garcia Pereira viu o que aconteceu, ou seja, se estava lá e se não estava quem estaria e o que fez, concretamente. Precisamos de saber concretamente duas coisas: quem sugeriu que os "camaradas bolcheviques" se atirassem à água gelada do Tejo. Se foram as barras de ferro e as ameaças dos energúmenos social-fascistas da UDP ou se foi o zelo revolucionário do martírio anunciado.
É uma questão simples de enunciar, perceber e perguntar a quem sabe muito bem o que sucedeu naquela noite: foram os social-fascistas da UDP que empurraram Alexandrino para a morte ou foram os próprios camaradas que incentivaram o mesmo a mergulhar num enlevo de loucura que não seria nada de extraordinário naquele tipo de gente?
É que a diferença que vai de um assassínio a cargo do social-fascismo ou um homicídio incentivado por uma loucura pode ser muito grande e não adiantam os sofismas que se podem apresentar em olhar só para os agressores social-fascistas se não se olhar também para o que fizeram as vítimas em concreto e motivadas por quem, em concreto.
Que gente... imagens do funeral tiradas daqui:
Sexta-feira, 10 de Outubro de 1975
Agora só falta saber quem eram os outros cinco camaradas "bolcheviques" e particularmente a que respondia por nome feminino e que papel teve na contenda. A sério e sem surrealismos. Espero que Ana Gomes esclareça. Ou o advogado Garcia Pereira, que precisa de contar uma história melhor que esta, segundo se poderá depreender de depoimentos de quem saberá melhor. É que a história dos "social-fascistas" da UDP, pelos vistos é demasiado aperfeiçoada e simplista. Venha outra história mais concreta e definida que precisamos de saber se Garcia Pereira viu o que aconteceu, ou seja, se estava lá e se não estava quem estaria e o que fez, concretamente. Precisamos de saber concretamente duas coisas: quem sugeriu que os "camaradas bolcheviques" se atirassem à água gelada do Tejo. Se foram as barras de ferro e as ameaças dos energúmenos social-fascistas da UDP ou se foi o zelo revolucionário do martírio anunciado.
É uma questão simples de enunciar, perceber e perguntar a quem sabe muito bem o que sucedeu naquela noite: foram os social-fascistas da UDP que empurraram Alexandrino para a morte ou foram os próprios camaradas que incentivaram o mesmo a mergulhar num enlevo de loucura que não seria nada de extraordinário naquele tipo de gente?
É que a diferença que vai de um assassínio a cargo do social-fascismo ou um homicídio incentivado por uma loucura pode ser muito grande e não adiantam os sofismas que se podem apresentar em olhar só para os agressores social-fascistas se não se olhar também para o que fizeram as vítimas em concreto e motivadas por quem, em concreto.
Que gente... imagens do funeral tiradas daqui:
Para o MRPP estes foram os assassinos. Um "bando dos quatro"...falta saber o que é feito do processo ( provavelmente já destruído se ninguém o guardou como recordação) e da identidade dos acusados e do que lhes sucedeu. Absolvidos, certamente. Como a legenda diz " a lotação da sala de audiência encontrava-se completamente cheia." Pois então haverá muita gente que deve lembrar-se da farsa.