quarta-feira, janeiro 09, 2013

Os fait-divers e afins no jornalismo nacional

A notícia de que uma deputada foi "apanhada" pela polícia a conduzir com uma taxa de álcool proibidíssima ( o dobro do limite para a ocorrência de crime) fez a mini-manchete do Diário de Notícias, com foto e tudo.
É notícia? Será. Neste país, um deputado que beba demais e conduza a seguir, sendo apanhado com excesso de álcool, é logo notícia porque...é deputado.
Será correcto noticiar de tal modo e com uma censura mediática que transcende o que se exige a um deputado fora das suas funções, ou seja que se comporte como os demais cidadãos na sua vida comum? Duvido muito. Duvido mesmo e a deputada em causa deveria aproveitar e pronunciar-se nesse sentido, assumindo a responsabilidade e dizendo apenas: acontece aos melhores e pode acontecer a qualquer um. E aproveitar para acrescentar: então porquê a notícia que vai muito para além da censura criminal em sede própria?
Se um jornalista do Diário de Notícias for apanhado a conduzir nas mesmas circunstâncias, isso é notícia de primeira página? E porque não? Por não ser titular de órgão de soberania? Por ser um zé-ninguém que assina reportagens e notícias ? Não, não é por isso. É por outra razão e muito mais perversa: porque os jornalistas não conferem tal importância ao assunto, fazendo no entanto a distinção com o deputado. E quem diz deputado, diz outro indivíduo que exerça funções escrutinadas pelo jornalismo. Porém, o jornalismo não escrutina do mesmo modo os seus profissionais porque prefere estar acima disso. Ou abaixo. Ou ao lado. Em qualquer sítio onde ninguém dê por isso...

Por outro lado, o mesmo jornalismo escrutinou um assunto cuja lebre noticiosa foi levantada pelo Correio da Manhã: na última Sexta-Feira, José Sócrates jantou com apoiantes e correlegionários como Edite Estrela, a sua promotora política.
Do jantar tivemos notícia antecipada. Da sua realização concreta, com quem e porquê, nem por isso. Deixou de ser notícia...e até há quem ache que é assunto privado. Ou privativo e que o indivíduo apesar de "andar por aí" a preparar alguma, tal não tem relevância alguma.
O que tem são os fait-divers da vida privada de deputados e afins.
Enfim.

Questuber! Mais um escândalo!