domingo, janeiro 27, 2013

Quando Portugal era "a Metrópole".

"Enquanto mais de milhão e meio de metropolitanos ( com especial incidência na última década) saiu da Metrópole para fixar-se no resto da Europa e nas restantes partidas do mundo, provocando grave escassez  no mercado interno de trabalho, uma corrente de mão-de-obra ultramarina está a suprir falhas da maior importância do nosso desenvolvimento industrial e económico. Não devem ainda chegar aos 15 000 todos esses cabo-verdianos, guinienses ( sic), angolanos, moçambicanos e são-tomenses fixados na Metrópole."

Era assim que começava o texto introdutório da reportagem da revista Flama de 26 de Março de 1971 sobre o tema "África trabalha na Europa portuguesa", assinada por Simeão Ramires, Joaquim Lobo, António Xavier e Carlos Gil. Nem uma vez se usa a palavra emigrante ou a palavra imigrante, embora se fale em migração e emigração. Eram todos portugueses. Uns da Metrópole e outros das Províncias Ultramarinas.

As fotos, essas permitem uma leitura sociológica interessante: o modo de vestir ocidentalizado e a integração na Metrópole das "gentes de Cabo-Verde" essencialmente ( mais de 10 mil segundo cálculos da época) que veio trabalhar nas obras, incluindo as do metropolitano de Lisboa.Reuniam na "Ágora do Camões", aos Domingos, segundo se depreende, porque trabalhavam 10 horas por dia a 10$00 à hora. Na construção civil, 2 a 3000$00 por mês. Na reportagem escreve-se que "aqui ( nas obras) não há discriminação racial, pois temos brancos a dar serventia a pedreiros negros. Eles é que têm, por vezes, os seus complexos e não gostam de misturar-se. Desenraizados, unem-se mais uns aos outros. Mas isto é muito mais de sua própria iniciativa do que por causa da segregação dos brancos."


Questuber! Mais um escândalo!