A fim de se entender melhor a mudança operada em 25 de Abril de 1974 na própria sociedade da época, torna-se necessário, a meu ver, recordar factos que isolados podem não significar muito mas relacionados com outros dão uma imagem aproximada do que era e passou a ser a sociedade portuguesa de então.
A meu ver operou-se uma verdadeira Revolução não só política como mental, em muitas pessoas que até então não tinham dado atenção "à política" e que de repente se viram inundadas de propaganda veiculada em todos os media e mais alguns ( paredes e muros das cidades, vilas e aldeias).
A linguagem de Esquerda passou a ocupar o espaço então reservado a uma linguagem "apolítica" até um limite de desinteresse pelo governo da coisa pública que era apanágio da maioria esmagadora dos cidadãos. A política até ao 25 de Abril de 1974 era assunto de alguns que não incomodavam demasiado a maioria silenciosa e atingiam de modo brutal, por vezes, a oposição comunista e esquerdista radical. A luta contra o inimigo subversivo, encarado como o comunista, era efectiva e eficaz, no sentido de o manter em respeito. Mas não tinha qualquer eficácia, como geralmente acontece, no policiamento da mentalidade de quem tinha já sido conquistado pelo vírus de Esquerda. "Não há machado que corte a raiz ao pensamento...porque é livre como o vento", lá dizia o poeta Carlos Oliveira na voz de Manuel Freire..
Chegados ao 25 de Abril, o vírus espalhou-se como uma epidemia de tal modo que Portugal nunca mais foi o mesmo.
O apelo desbragado aos pobres, desfavorecidos, à "classe operária", aos trabalhadores de todos os matizes logrou passar uma mensagem explícita e uma subliminar: Portugal vivia uma luta de classes e os partidos que se diziam de esquerda e próximos dos trabalhadores tinham o voto garantido da maioria que não distinguia o sofisma gigantesco em forma de burla catastrófica em que assentava e assenta o comunismo ou mesmo o socialismo antes de ser metido na gaveta.
A proclamação da mensagem de apoio aos mais desfavorecidos bastava para afastar do poder aqueles que pretensamente eram pela "burguesia" e pelos "ricos".
Este simplismo que tem governado a mentalidade do povo português, essencialmente, mantém os partidos de esquerda numa confortável margem de potencial maioria eleitoral, como agora acontece de novo.
Em Julho de 1974, escassos três meses após o 25 de Abril, esta mentalidade estava já enraizada nas elites que tinham tomado o poder e as manifestações diárias dessa nova forma de encarar Portugal e os nossos problemas provocou um fenómeno recorrente em todos os lados onde uma Revolução desse género surge: os ditos ricos fogem de quem os persegue, naturalmente. E com eles procuram levar o pecúlio que amealharam.
Tal aconteceu em Portugal, nesses três meses e de tal modo que a economia se ressentiu imediatamente e de um modo catastrófico. A confiança, motor principal da actividade económica, desapareceu.
Tal ficou devidamente registado por uma das figuras do 25 de Abril de 1974, já aqui lembrado: Francisco Pereira de Moura.
O Diário de Lisboa de 12 de Julho de 1974 dá conta da preocupação séria que atingia o governo provisório da época: fugas de capitais em massa e "sabotagem" da economia no dizer do economista que devia saber melhor porque o efeito era clássico.
Ainda assim, para entender a nova mentalidade reinante em Portugal, o que o mesmo refere ao diário é interessante, porque totalmente novo e nunca experimentado nos 40 anos precedentes...e o diagnóstico do professor de Economia era optimista...se fosse cumprido o programa do MFA. E foi. Dali a dois anos estávamos na bancarrota e tivemos que pedir ao FMI e a outras entidades, para nos ajudarem.
Ninguém fala nisto, agora? Porquê? Têm medo da verdade?
Em Agosto de 1974, alguns "capitalistas" que ficaram no país, dos que perderam alguma coisa mas não tudo o que ainda pensavam manter, por acreditarem no sistema capitalista de produção de bens e serviços, tentaram fazer o que hoje em dia se afigura de grande mérito: investir milhões na economia nacional e tentar inverter o curso dos acontecimentos que se adivinhava já pelos relatos nos jornais, comícios, manifestações e uma onda geral de ataque ao sistema económico, obviamente orientado e dirigido expressamente pelos comunistas, sem qualquer teoria de conspiração que venha perturbar tal acontecimento real e vivido na época por quem se lembra.
Ora, e como é que as "forças vivas" progressistas, reagiram ( é essa a palavra apropriada) à iniciativa desses capitalistas nacionais e patriotas? Com desprezo, desconfiança e insultos. Foram escorraçados e a iniciativa ficou pelo papel e pelas intenções.
Ninguém, nessa altura, em Portugal, teve peso político suficiente para se impor ao comunista Cunhal acolitado pela esquerda gera, incluindo a do PS e a extrema-esquerda que preparava já o PREC, todos os dias.
Disso dá conta o mesmo jornal de 30 de Setembro de 1974, especialmente consagrado aos "3 dias que ameaçaram um povo. Durante três dias, entre uma tourada que se fez e uma manifestação que se desfez, o fascismo quis voltar.", referindo-se aos acontecimentos de 28 de Setembro de 1974 e à tentativa de Spínola retomar uma normalidade de funcionamento do país em moldes europeus e modernos. Mas isso era o que os comunistas menos queriam...porque Cunhal tinha inclusivé dito, cerca de um mês antes, á jornalista italiana Oriana Falacci que Portugal nucna teria um regime democrático parlamentar como os europeus...
Assim mesmo, sem tirar nem por.
E quem eram e o que queriam exactamente os capitalistas burgueses, portugueses de gema e que aqui queriam investir e aqueles impediram, de facto?
O semanário Sempre Fixe dirigido pelo mesmo director do DL, A. Ruella Ramos ( e é de notar que José Cardoso Pires era director adjunto do Diário de Lisboa...) até lhes mostra a cara...
Esta, quanto a mim, é a prova que o comunismo desgraçou Portugal. Economicamente e não só. Com o apoio firme e permanente, no essencial desse ataque, do PS.
Quanto a mim ainda hoje pagamos o preço desta miséria e os mesmos estão aí preparados para repetirem a dose.
Quem esquece a História está condenado a repeti-la? Só aqueles que não se lembram, porque os protagonistas, esses lembram-se muito bem. Arménio Avoila e Jerónimo já andavam em andanças para destruir economicamente o país, nessa altura. E ainda não pararam estes anos todos. São tenazes.
Os habituais compagnons de route, esses, inauguram avenidas novas com nome de comunistas.
Amanhã: a história "petite" de outro compagnon de route, o "jovem Vieira de Almeida", agora decano nas firmas de advogados da parecerística que contribuíram em muito bom ritmo para arruinar regime, com as PPP´s e os "project-finance". Vasco Vieira de Almeida, himself. Um dos poucos que devem saber a história toda dos submarinos da Ferrostaal...e que a intrépida Ana Gomes anda a incendiar novamente por causa do ódio lendário à "direita" de Portas. Como se Portas fosse de direita...