O economista Silva Lopes, decano dos economistas facção socialista, pai espiritual dos aprendizes da feitiçaria que indromina o papalvo, concede uma entrevista, hoje, ao Jornal de Negócios. Extensa e orientada em estereoscopia, para o passado e presente que temos e somos.
José Silva Lopes é filho de um funcionário da CP, daqueles que tinha horta junto à casa e aprendeu a regar feijões. Como nasceu em 1932, provavelmente regava no fim da Guerra, altura de fome e privações que hoje nem se sonham.
O que Silva Lopes conta do tempo passado deveria fazer pensar quem lê os Rosas & Pereiras a relatar os anos de Salazar e atirar com os mesmos imediatamente para o caixote de lixo da História revisionista.
Silva Lopes fez parte dos primeiros quatro governos que tivemos depois de 25 de Abril 74. Em três deles foi ministro das Finanças e está especialmente habilitado a explicar porque é que antes de 25 de Abril crescíamos economicamente quase em dois dígitos e logo a seguir, dois anos se tanto, estávamos na bancarrota. Que explique mas para toda a gente entender o que é óbvio e nunca explicou: foi a Esquerda quem nos desgraçou. A comunista e quem lhe acaparou o caminho, sempre, ou seja, o partido de Silva Lopes. Não saberá que assim é, porventura?
O que Silva Lopes conta sobre a "autoridade" e o "respeitinho" não era consequência necessária do "fassismo" mas apenas uma circunstância de um tempo que já vira outros, se calhar bem piores e sem fassismo algum. A miséria económica, a pobreza e a consequência social daí advenientes não são produtos de regimes autoritários mas do tempo em que surgem. Os regimes autoritarios, aliás, aparecem geralmente para pôr cobro a tal estado de coisas e é por isso que são aceites pela população, como foi indiscutivelmente o caso de Salazar. É exactamente isto que um Filipe Ribeiro de Menezes, biógrafo de Salazar, entende e aqueles são incapazes de interiorizar, cegos pela ideologia e facciosismo, inimigos jurados do historiador ou do jornalista.
Silva Lopes refere que na altura "até nos serviços, qualquer sargento dava duas ou três chapadas a um soldado" e tal era verdade, como era verdade que a polícia "civil" fazia ao mesmo aos "delinquentes" se o bem entendesse e sem consequências de maior.
Portanto, as relações sociais eram diferentes e se em Portugal assim era, não fora o "fassismo" que o determinara porque eventualmente noutros países ditos democráticos tal ocorria do mesmo modo, assim como outros costumes se verificavam e que mudaram ao longo dos anos. Basta pensar nos EUA, na Inglaterra, em França, até. Os costumes sociais eram diversos do que são hoje e a "autoridade" fazia-se respeitar de modo diferente de hoje e não eram países "fassistas", com por cá insistem em classificar, seguindo a cartilha marxista-leninista-estalinista.
Atribuir determinados comportamentos sociais e de costume de época a um regime político torna-se historicamente arriscado, principalmente quando tal ocorre de modo gratuito e sem provas de qualquer evidência, mas apenas porque dá jeito para caracterizar algo que abominam.
Outro exemplo dado por Silva Lopes: a falta de respeito nas escolas, actualmente, em comparação com o antigamente.
O que é que este fenómeno tem algo a ver com o "fassismo" ou a democracia? Porventura, algum regime decente, democrático, deve aceitar a completa indisciplina que se generalizou nas escolas preparatórias e secundárias, constituindo hoje em dia um dos problemas mais graves nesse grau de ensino? Acaso tal fenómeno que não se verificava no "fassismo" tem a ver com o regime? Ou terá antes a ver com a textura social em que diversas entidades como a Igreja ou as "autoridades" civis ou a família, eram ensinadas às crianças, desde muito novas, como entidades dignas de respeito pelo papel social que desempenhavam em prol da comunidade e da educação dos mais novos?
E quem é que modificou, para muito pior, tal equilíbrio de "forças" sociais, na comunidade? Quem é que desvalorizou e menorizou a autoridade paternal ou a importância da autoridade civil ou mesmo o papel da Igreja como entidade formadora de pessoas no conjunto social?
A resposta, como diria Dylan, está no vento, mas para mim cheira-me a vento libertário e com laivos jacobinos. Será melhor assim que no passado? A sociedade vive melhor assim? É mais livre? Mais segura? Que respondam os Rosas & Pereiras, que os há muitos, por aí.
Na sequência da entrevista, Silva Lopes refere outro fenómeno recente na sociedade política, portuguesa: o Estado perdeu peso e importância como referência de qualidade e competência. Porquê? Talvez valha a pena saber e especular sobre o fenómeno.
Silva Lopes diz, e com razão, que hoje a nossa elite é melhor que antes, em quantidade. E em qualidade? Isso é que já não diz tão afoito mas ainda arrisca que sim. Porém, reconhece que dantes a qualidade média era superior. E " os bons" encontravam-se geralmente no Estado, no tal regime "fassista". O que é provavelmente um contra-senso, porque se o regime era "fassista" não se compreende que os mais aptos e inteligentes optassem por enfileirar no juramento de lealdade pública a tal aventesma política.
Outro fenómeno decorrente deste e que Silva Lopes testemunha é o do esvaziamento das funções do Estado naquilo que lhe devia competir: a resolução de questões técnicas a cargo dos ministérios e dos governos. Silva Lopes diz e com razão que dantes havia nos ministérios gabinetes de estudos com muita qualidade e de tal modo que ainda no seu tempo de governante ( pouco depois do 25 de Abril de 74) nunca se pedia a entidades externas, mormente consultores ou advogados, pareceres como hoje se pedem a eito. E porquê? O Estado tinha técnicos e juristas suficientes e de qualidade adequada às necessidades.
Silva Lopes lamenta que tal se tenha perdido mas não consegue explicar quando e onde começou esse "desmantelamento". Por mim, julgo que tal sucedeu precisamente com um dos tais socialistas que lograram enganar o povo português, como habitualmente: Guterres, himself e particularmente Cravinho, o tal que era socialista tipo MES e se transformou em adepto do capitalismo banqueiro, com milhares de euros por mês...tal como muitos outros.
Há uma afirmação espantosa de Silva Lopes na entrevista, na parte final ( aqui não transcrita): " As pessoas querem despesa. Alguém paga. Nunca pensam que são elas que pagam. Esse alguém podem ser...os ricos. Que ainda por cima são os que sabem não pagar".
É espantosa por isto: quem proclama esta ideia é a Esquerda, mormente a do actual Seguro e Semedo mais uns tantos que se preparam para tomar o poder e levar isto definitivamente para a bancarrota, convocando evidentemente, depois de tal coisa, um regime autoritário como nunca tivemos...e ainda espanta porque o papel dos políticos de que Silva Lopes fez parte na qualidade de técnico, é precisamente fazer o que é preciso fazer, sem medo de eleições que os afastem do poder.
E é esse o problema, como já vimos antes com Mário Soares: sabem muito bem o que é preciso fazer, mas preferem não o fazer se com isso perderem o poder. É o drama da democracia que temos.