E porque se vivia num país em que a verdade que se mostrava, apesar de devidamente podada da propaganda de oposição comunista, era perceptível por todos, a pobreza não era escondida, como alguns agora pretendem imputar ao regime de então.
O Estado, ou seja, o regime político de então- com os seus órgãos de soberania e "o modo como se constituiam, participavam no poder e colaboravam para o bem da sociedade civil", no dizer de Salazar, em 1965 - não era, como hoje, amplamente social e interventivo a esse nível, apesar de ter sido Marcello Caetano quem concedeu a pensão de sobrevivência aos rurais que nunca descontaram para o sistema, fazendo-o porém, com a conta peso e medida que o país permitia, sem se endividar para tal. Dantes não se inventava dinheiro nem se pedia emprestado para as gerações seguintes pagarem e os orçamentos tinham as receitas que deveriam dar para as despesas. E havia guerra no Ultramar, é bom lembrar...
Portanto sobejavam nas grandes cidades de Lisboa e Porto bolsas de pobreza aflitiva e que se prolongaram ainda por muitos anos, nos bairros da lata. E a revista mostrava-o. desmentindo os pseudo-historiadores actuais que pretendem que tal era censurado.
Politicamente o regime era mais ou menos isto que a Vida Mundial mostra em duas páginas de 12 de Dezembro de 1969.
O Observador dava conta desse ambiente político-social, integrando os fenómenos numa perspectiva que incluía todos na responsabilidade em acabar com tal estado de coisas, sem imputar ao regime ou ao Estado a obrigação estrita de o fazer ou até a culpa pelo surgimento de tais desgraças sociais.
Por isso a escrita era clara e sem preconceitos, como hoje abundam. A linguagem era diversa, por isso mesmo, do que hoje se escreve sobre o mesmo assunto. Essa diferença separa os "memes" dos que sabem perscrutar a História como ela existiu e assim a escreveram.
E na edição de 29 de Outubro desse ano de 1971 mostrava-se o lumpen dos lumpens: as colmeias do Porto...e o realismo da miséria mais miserável desse tempo.
Por outro lado, a edição de 12 de Novembro de 1971 mostrava o povo de Barcelos que ia vender à afamada feira semanal e que não se confundia com aquela pobreza mostrada acima, dando um retrato realista do mundo rural do Minho de então ( aqueles bácoros em palha dentro de caixotes e os coelhos seguros pelo cachaço, digo, pelas orelhas, são um must, juntamente com as juntas de bois piscos e as tripas de porco secas, para os enchidos). Os penteados das moças, esses, são de recordar porque já não há. Eram copiados dos das mães e estas começaram depois a cortar o cabelo. Mas muito depois...