Em finais de 1969, pelo Natal, esta revista estava à venda nos quiosques portugueses. Mostrava um grupo de crianças orientais, com roupas "à Mao" e a desfilar de arma postiça ao ombro. O título esclarece que o assunto respeita ao marxismo.
No interior revela-se que a "fronteira" era mesmo geográfica e também ideológica respeitando ao conflito entre a China e a então URSS.
Nessa época, muitos dos que aqui estão, num artigo da revista Visão de 14 de Março de 2013, por ocasião da rememoração nostálgica dos antigos maoistas convertidos depois ao capitalismo de estado socialista democrático antifascista e antisalazarista militante, eram adultos ou pelo menos com idade para pensar que um regime que punha as suas crianças com armas postiças nas mãos, a desfilar em modo organizado, não seria melhor que o regime que combatiam por causa da Mocidade Portuguesa e outros folclores.
Porque não pensaram então e porque se deixaram enlear pelas sereias que cantavam amanhãs radiosos e de auroras vermelhas?
É pergunta à qual não sei responder. Como também não sei responder a outras:
Porque razão estas pessoas evoluiram pessoal e profissionalmente num regime capitalista de estado socialista democrático, depois um pouco liberalizado mas sempre antifascista e antisalazarista militante, deixando para trás aquelas ideias feitas de utopia e com o à vontade de quem muda ideologicamente como quem muda de camisa, logo pela manhã, e assumiram postos de comando político e social de relevo na sociedade portuguesa?
É um mistério tão grande como o da compreensão dos motivos pelos quais não queremos saber realmente como foi o nosso passado anterior, em que tais indivíduos combatiam ideologicamente ao lado daquelas crianças chinesas o regime que pretendiam mudar, acabando com a mocidade portuguesa e substituindo-a pelos pioneiros de uma revolução trágica para a Humanidade.
Que autoridade moral, intelectual e pessoal tem esta gente para estabelecer o standard ideológico corrente? Nenhuma. E no entanto são eles quem mudou o paradigma e o figurino da linguagem portuguesa que explica a política antiga, a sociedade antiga e os fenómenos posteriores. Quem lhes dá crédito? Os media nacionais. São eles quem enxameia as televisões diariamente; são eles quem escreve crónicas diaria e interneticamente; são eles quem marca o compasso da ideologia que temos relativamente ao passado que fomos e que falsificam com memórias inventadas.
No fundo foi esta gente quem nos tramou durante os últimos 40 anos, com a falta de entendimento da realidade e com a obsessão de combate ao fassismo salazarista e à repressão ideológica de tudo o que lhes lembra a juventude...
Será para se justificarem interiormente?