sexta-feira, março 28, 2014

A fonte luminosa do Norte

Em 1974-75 quem combateu eficazmente o comunismo? A pergunta é logo considerada pestilenta pelos comunistas porque pressupõe a natureza maléfica daquilo em que acreditam.

Em Portugal, esta lógica tem sido sempre assim: o partido comunista e o comunismo esquerdista em geral, aqueles que o PCP apoda de doentes infantis ( e que por isso lhes trataria da saúde logo que pudesse...) foram sempre acaparados pelos media, logo nos primeiros dias a seguir a 25 de Abril de 1974. O aparecimento de Álvaro Cunhal, no aeroporto de Lisboa, acompanhado pelo cunhador do "fassismo", Domingos Abrantes e mulher, foi um happening logo, ali. Cunhal subiu para uma chaimite e discursou e a partir daí foi uma caminhada triunfal até ao 11 de Março de 1975, com um PREC acelerado que se estampou de tanta velocidade, em 25 de Novembro desse ano.

Durante esse tempo quem se opôs a que o PCP e o comunismo esquerdista tomassem conta do destino político do país? Todos dirão: Mário Soares. E é verdade. Soares, vendo o chão político a fugir-lhe debaixo dos pés, abandonou por uns tempos o papel de Kerenski ( que estava apostado em retomar, logo no final de 1977 quando fez um pacto secreto com o PCP que no entanto não chegou a vigorar) e lutou em palavras e actos, com muitas omissões pelo meio, porque Soares é, naturalmente, um pecador. Fez demasiadas concessões ao PCP e continuou a fazê-las pelos anos fora, tendo uma recompensa final: foram eles quem o elegeram presidente da República e isso não se deve olvidar.
O maior acto de Soares, contra o PCP, foi o da Fonte Luminosa, em Julho de 1975, em que Soares, depois do almoço lauto da praxe ( desta vez com Michel Rocard) foi para a fonte como leonor pela verdura, fermoso no discurso  mas não seguro das consequências. Coragem, dizem agora...

Pois, Soares lutou por si próprio e coragem também houve noutros lados e com outra gente que sempre lutou contra o comunismo por saber o que essa ideologia gastava em opressão e massacres.

Em finais de 1974, enquanto Soares ainda andava a namorar o esquerdismo do PCP; havia no Norte de Portugal quem se lhe opunha de um modo eficaz e contundente: o arcebispo de Braga e o cabido da Sé, pelo menos, com ajuda de alguns "homens bons" da cidade e arredores que sabiam o que os esperava no caso de o comunismo ganhar: no mínimo a prisão e a pena de morte em consequência acidental. Alguém duvida?

O ambiente era este tal como contado pelos jornais da esquerda, na época. O Expresso de Junho de 1974 já mostrava a "preocupação" com a Igreja e houve reuniões a propósito, com os habituais peixinhos vermelhos no aquário, como se podem ler.

Em Dezembro de 1974 a diplomacia das reuniões deu lugar à acção contra a "reacção". O Expresso de 21 de Dezembro de 1974 contava como era o problema...e o jornal comunista Sempre Fixe ( Ruella Ramos, também director do Diário de Lisboa) dava o mote: abaixo a reacção da Igreja.



E onde estava esta "reacção"? No Norte, particularmente em Braga, capitaneada pela hierarquia eclesiástica, onde avultava o arcebispo, D. Francisco Maria da Silva e o cónego Melo. Foram eles que polarizaram a "reacção" ao comunismo, com as razões certas e que eram sempre omitidas nos media, como ainda hoje o são.

No Sempre Fixe de 16 de Novembro de 1974 até se anunciava a intenção de "sanear o arcebispo", atribuida aos "cristãos de Braga", tipo sei lá, aqueles que se reuniam na livraria Vítor ou coisa assim...


O que é que isto poderia dar? Nada de bom. E em Agosto de 1975 o ambiente estava ao rubro, literalmente, porque "o chibo vermelho" ( letra de Zeca Afonso numa cantiga de 76)  tomou o freio nos dentes e foi o que se viu: estampou-se a todo o comprido em Novembro de 75.

A Paris Match de 23 de Agosto de 1975 mostrou o que mais ninguém mostrou em Portugal, nessa época. Curiosamente, a "igreja reaccionária" não tinha rostos, apenas nomes...

A "reacção" ao comunismo foi violenta no Norte e em Braga, Famalicão e Ponte de Lima, as sedes do Partido foram assaltadas. Como se mostra nessa revista, começando com os rostos da reacção, os verdadeiros corajosos do Norte e da Igreja: precisamente o arcebispo D. Francisco e o cónego Melo, atrás da mão que ostenta um anel que anos antes tinha beijado, no meu Crisma.


Como se pode ver, o povo "saiu à rua num dia assim", em Braga, como em mais nenhum outro lugar do país, para lutar contra o comunismo, uma luta que seria de morte. Esta imagem nunca apareceu em lado algum na imprensa portuguesa da época, et pour cause.  Esta foi a fonte luminosa do Norte de Portugal.

No Porto, na mesma altura, Otelo era aplaudido de modo entusiástico. Assim: "vai p´ra Moçambique, p´rá tua terra!" Deve lembar-se, o Otelo...porque estas coisas não esquecem, com o carro cercado coisa e tal e  como as ordem de captura assinadas em branco, para o freguês a quem as entregou, preencher...
O das barbas, ao lado, de Lacoste, estava preocupado...e Otelo parecia querer abrigar-se dos impropérios das gentes do Norte. Agora anda por aí, a contar historietas da carochinha democrática e do joão ratão fascista, ele que meses antes disto jurava que na Suécia é que sim...


A imagem da capa, respeita, segundo a revista, a um desgraçado comunista, salvo in extremis do linchamento popular, em Braga.

Violência gera violência, já lá diziam os antigos.

Entre os católicos havia também os que colaboravam com o comunismo. Assim como se mostra no Sempre Fixe de 30 de Setembro de 1974  e agora escrevem no Público, ao Domingo. Seria o futuro Primaz...caso Novembro não fosse o que foi. Ainda terá pena?



Já agora ficam também as restantes páginas da Paris Match.