Ao escrever isto parece que se escreve uma enormidade, mas só em Portugal, no entanto, tal será considerado.
Debalde se procurará nos anos a seguir ao 25 de Abril de 1974, na imprensa portuguesa mais importante, ou seja, os jornais de "referência", como o Expresso ou O Jornal, Vida Mundial, Flama ou Século Ilustrado, qualquer reportagem ou artigo de fundo sobre o comunismo em si mesmo como ideologia ou modo de regime concreto que coloque em causa tal regime do modo como em França, por exemplo, se fazia.
Não há pura e simplesmente nenhum artgo nos anos setenta a seguir a 1974, na referida imprensa portuguesa, que informe os seus leitories sobre uma coisa tão corriqueira como os crimes de Estaline , nos anos em que por cá existia o Estado Novo de Salazar, tão vilipendiado pelos mesmos órgãos de informação no mesmo período.
Não há qualquer referência em 1974 ou 1975, na imprensa portuguesa, a Soljenitsine e ao seu livro sobre o Gulag. Nenhuma.
Não há nenhuma referência no mesmo período de tempo, ao carácter totalitário e próximo do nazismo, do comunismo de Estaline e aos milhões de mortos pela fome e aos milhares de assassinatos políticos ocorridos nos anos de terror estalinista.
É escusado percorrer esses jornais e revistas porque o que se encontra, nesse período de tempo que vai de Abril de 1974 a finais de 1978 ou mesmo até aos anos oitenta, é apenas propaganda política tendenciosa e justificativa do próprio regime comunista.É provável que tal omissão tenha justificado, logo a seguir ao 25 de Novembro de 1975, uma condescendência para com o PCP, indevida, mas que segurou os comunistas ao barco do poder democrático e parlamentar, até hoje.
O próprio Expresso não tem, durante esse período de tempo, qualquer artigo importante, mesmo após o 25 de Novembro de 1975 que informe os portugueses sobre a natureza do comunismo enquanto regime totalitário, com reportagens ou exemplos concretos dessas características, do mesmo modo que o fizeram relativamente ao regime do Estado Novo, diabolizado ad nauseam pela propaganda comunista dos anti-fascistas de sempre. Lá fora, por exemplo em França, as discussões públicas e publicadas sobre tal assunto eram vulgares, como se pode comprovar pelos "recortes" aqui deixados.
Não se percebe por que razão cá em Portugal, o tema era tabu. Não se percebe a não ser que se entenda a classe jornalística e intelectual da época, in totum e nos anos setenta, como completamente de Esquerda e pró-comunista.
Por outro lado, qualquer discurso público contra o comunismo que não tenha receio das palavras "crime", "genocídio", "horror", "totalitarismo", tal como se usam aplicar ao nazismo é imediatamente desvalorizado e acantonado ao reaccionarismo e anti-comunismo "primário" e isso até pelos órgão se informação mais moderados. Ainda hoje é assim.
Não obstante, em 1975 a Livraria Bertrand publicou o primeiro volume do Arquipélago Gulag, de Soljenitsine. O PCP difundiu logo a ideia feita de que a obra era da responsabilidade da CIA...
Percorridos todos os jornais Expresso e O Jornal desse ano, não vi uma única recensão crítica ao livro...embora me possa falhar algum que a tenha.
O comunismo em Portugal conseguiu pegar de estaca e iludir a opinião pública sobre os seus crimes semelhantes aos dos nazis e isso é um fenómeno, de facto.
E apesar de verdades que se escrevem em blogs como este, a verdade é que o PCP continua a vicejar na respeitabilidade democrática.
No entanto, em França, tal nunca sucedeu e em 1974 a discussão pública sobre os gulags na União Soviética eram assunto da ordem do dia, com o acontecimento Soljenitsine, tal como anos antes, o fora com a atitude soviética em denunciar precisamente os crimes de Estaline, na era Krustschev.
Por cá, essa discussão não existiu. Pode dizer-se que o estalinismo, por cá, nunca existiu.
Pode até dizer-se que nem depois de 1989 e da queda do muro de Berlim tal discussão pública alguma vez se manteve em Portugal, sobre a natureza intrínseca do comunismo. Tudo se passa como se o PCP fosse um partido igual aos outros, apesar dos sinais inequívocos do contrário.
Em 22 de Junho de 1974 o Expresso publicou uma lista dos "best-sellers da quinzena". Quem escrevia? Maria Teresa Horta, comunista...
Lá estava o "4 ismos" em primeiro lugar. Um livro de informação sobre as ideologias políticas e que em relação ao comunismo era muito vago nas imputações sobre o carácter totalitário e próximo do nazismo.
Um ano depois, em 23 de Agosto de 1975 a mesma rubrica, desta vez assinada por Pedro Tamen, de esquerda. Era notório o interesse do público pelos livros de cultura política, mas todos de sentido esquerdista e extremista até.
Em 31 de Outubro de 1974, na Vida Mundial, António José Saraiva esforçava-se por explicar o que era o socialismo...de um modo absolutamente teórico e sem qualquer referência ao "socialismo real".
Este socialismo real, porém, tinha amplo espaço nestas publicações para a respectiva propaganda edulcurada e sempre tendente a passar a mensagem que Portugal deveria enveredar por esse caminho sem espinhos, para a sociedade sem classes.
Por exemplo, em 31 de Maio de 1974, o mais importante elemento do "grupo de Argel" que incluía Manuel Alegre, era entrevistado longamente pela mesma revista. Fernando Piteira Santos tinha um discurso absoluta e resolutamente comunista.
A maior aproximação á problemática do comunismo real nesse tempo, pode encontrar-se neste artigo do Expresso, de 22 de Junho de 1974, sem exemplo nos anos posteriores. E mesmo assim, com um cuidado analítico que nem antes de 25 de Abril de 1974 havia...
Gradualmente começaram a aparecer na imprensa portuguesa artigos sobre os países de Leste e reportagens sobre a vida nesses países, sem qualquer relação com a realidade vivida e que mais tarde se descobriu.
Por exemplo, o mesmo Expresso ( é incrível como isto aconteceu...) em 5 de Junho de 1975 publicou uma página sobre a Roménia de Ceausescu. O então presidente Costa Gomes estava lá em vista oficial em Junho de 1975. É ler o que escreveram os redactores do semanário...
Em Julho de 1975, Mário Soares e Álvaro Cunhal foram entrevistados pela ORTF francesa, mas em Portugal, no Altis. A entrevista serviu para os franceses saberem o que se passava em Portugal, nessa altura de PREC.
O Expresso de 5 de Julho relata assim e é das poucas vezes que um repórter estrangeiro coloca as questões que por cá não se colocavam pura e simplesmente, com o tal "respeitinho" sempre devido a Cunhal, o que não deixa de ser inacreditável.
Não obstante tudo isto, nenhum jornal ou revista portugueses conseguiu alguma vez, ao longo destas décadas , publicar com toda a clareza o que segue e que os franceses publicaram recentemente. Porém, já o faziam nessa altura, quando entrevistavam Soljenitsine, por exemplo, tal como mostrei em postal anterior. E não eram os "reaccionários" que o faziam porque o Le Nouvel Observateur ou o Apostrophes da tv não eram propriamente de direita. Nem o L´Express onde escrevia um Jean François Revel era de extrema-direita. Este esteve em Portugal em 1975, tal como Sartre. Porém, nem de perto nem de longe teve a mesma cobertura mediática que aquele existencialista apegado à esquerda comunista de que se arrependeu no fim da vida.
O Expresso de 1 de Março de 1975 não teve melhor que isto para dizer sobre Revel ou para lhe perguntar. Revel foi dos que alertou em devido tempo para os perigos do comunismo em Portugal e não só. Por aqui, ninguém lhe ligava muito. É ver a pergunta do jornal sobre o comunismo...em que o acusava indirectamente de anti-comunista primário.
A revista L´Histoire de Outubro de 2007 punha assim branco em vermelho o que é preciso dizer sobre o comunismo: criminosos.
A revista Philosophie de Março de 2014 vai um pouco mais longe e mostra o que certos filósofos pensam do comunismo: um embuste e um sistema criminoso.
Em resumo: tal como antes de 25 de Abril de 1974, quem quiser informar-se sobre o comunismo, em Portugal, tem que ler imprensa estrangeira...