SOl de hoje:
CM de hoje:
Um deles é este: Rui Patrício. Um dos que "protege a verdade" para que não caia tudo em cima de quem manda.
São pessoas cuja moralidade assenta apenas num pilar: a do profissionalismo oco e sem referências morais, apenas estéticas ou úteis.
A "representação" a que se refere o articulista do Sol atinge paroxismos de vazio ético sempre que as evidências gritam o contrário do que defendem.
É preciso lembrar outra vez Shakespeare que escreveu numa peça de teatro a resposta antes do tempo ao repto de Lenine sobre " o que fazer?" , sobre o modo de melhorar um país.
"First, let´s kill all the lawyers!"
Como a pena de morte acabou há muito tempo, agora basta que esta gente seja denunciada pelos males que fazem e espalham, sem descanso, nos processos em que intervêm deste modo e que desvirtuam a justiça, escondendo a verdade que conhecem muito bem. De gingeira...
sábado, novembro 30, 2019
sexta-feira, novembro 29, 2019
O jornalismo pente fino do Correio da Manhã está cheio de lêndias
Os advogados Rui Patrício, Rui Medeiros e Saragoça da Matta: especialistas em casos mediáticos em voga...e em curso no TCIC...
A comunicação social devia estar mais atenta a esta gente, por causa do seguinte:
No CM de hoje há três notícias a percorrer as páginas sobre o que se passou ontem e por estes dias no processo Marquês.
São três notícias importantes, relegadas para topo de página, em jeito de margem, mas deviam ser primeira página, bem exposta e explorada a preceito, em nome e para bem da democracia portuguesa. Sim, é disso que se trata. .
O CM nunca explicou com documento mostrado, o que o juiz Ivo Rosa fez para impedir a presença de jornalistas na sala onde decorrem os actos de instrução e ipso facto impedir o relato em tempo real do que se está a passar, no antro em que os protagonistas o transformaram: um sítio de mentiras e aldrabices, sem contraditório. Nunca mencionou o teor do despacho que impede a presença dos jornalistas nem sequer o teor da decisão que lhes retira o estatuto processual de assistentes. Fá-lo agora em meia dúzia de linhas, dizendo porém o essencial: um tribunal superior decidiu e o juiz cuja decisão foi revogada fez de conta que nada foi decidido e continua a decidir em contrário. Onde está o procedimento disciplinar? Os poderes do CSM têm medo de quem, neste caso? Do poder que está e que é afecto a esta gente? Se não é, parece e o que parece...
Percebe-se que os principais interessados em esconder do povo em nome do qual se deve fazer justiça, constitucionalmente, são os arguidos, implicados e seus advogados pagos certamente a peso de ouro vindo sabe-se lá de onde.
Repare-se agora na figura da direita, o advogado Rui Patrício que intervém no processo como tal. É um expert em direito processual penal e julga que tal lhe confere o direito arrogante de se impor mediaticamente como habitualmente o faz. É daqueles advogados para quem a Justiça é um mero jogo de palavras e cujo princípio fundamental da verdade material nem deveria existir porque a formal é que deve prevalecer.
Há um outro advogado que aqui há uns tempos escreveu a fundamentação substancial do que se adivinha ser o despacho que impede os jornalistas de presenciarem os actos de instrução que é pública. É outro advogado virtuoso do direito penal cuja arrogância é similar à daquele, sendo ambos parceiros pensadores destas matérias e porventura noutras mais específicas: Saragoça da Matta.
A "tese" em questão foi publicada no i de 4.12.2015 é muito sucinta e risível, além de inovadora na exposição de neologismos parolos ( "criminosidade") :
O processo penal português tem uma estrutura clara no que diz respeito a sujeitos processuais, i.e., quem pode exercer direitos durante o processo, sempre visando o objectivo da lei: aplicar o direito e fazer justiça.
Temos, assim, os seguintes sujeitos: o tribunal, que é quem julga; o Ministério Público (MP), que é quem investiga e acusa (ou não!); o arguido, que é aquele a quem se imputa a prática dos factos suspeitos de criminosidade; o defensor do arguido, cujo papel não carece de explicitação; e o assistente (outros há que aqui irrelevam).
Centremo-nos no assistente, que constitui uma peculiaridade do direito português, posto que nos processos penais dos países da nossa família é sujeito inexistente.
Quem é o assistente? O assistente, diz-nos a lei, é um “colaborador do Ministério Público”, logo, um auxiliar na tarefa de “promover o processo”, auxiliando na investigação sobre a prática de um crime e sua autoria. Impõe--se também ao MP, por estar obrigado a um dever de legalidade estrita da sua actuação, i.e., procurar todas as provas e todos os indícios de molde a poder demonstrar todos os factos, seja os que contribuam para responsabilizar o arguido, seja os que levem a concluir pela sua não responsabilidade. O mesmo para o assistente, consequentemente, pois a prova é indivisível!
Consequência: o assistente, como “colaborador” do MP, tem sempre de ser alguém que, materialmente, objectivamente, “possa” auxiliar na “descoberta da verdade”. Mais: se a investigação passa necessariamente por “investigar a existência de um crime, determinar os seus agentes e a responsabilidade deles e descobrir e recolher as provas”, só quem possa “participar” nessas actividades é que poderá ser assistente. Sendo proibida a investigação privada, porque só realizável através de meios reservados ao Estado, óbvio é que para ser assistente, i.e., para poder “colaborar” com o MP, tem de ser alguém que tenha dados e/ou elementos necessários à investigação, dados esses que nunca podem ter sido obtidos por vias proibidas às próprias autoridades.
Qual o significado, então, de a lei admitir que em determinados tipos de crime “qualquer um do povo” (como dizia a antiga lei) possa ser assistente? Significa algo inequívoco de que quem tem o poder de decidir se tem esquecido: é que esse “qualquer pessoa” que em certos crimes pode ser assistente tem de, obrigatoriamente, ser alguém que possa materialmente ser “colaborador” do MP. Quem nada possa aportar à investigação não pode ser aquilo que a lei não permite que seja: colaborador do MP.
O “qualquer pessoa” é, por definição, quem possa substancialmente preencher o conceito de assistente. Não o “zé-da-esquina”, não “toda a gente”! Não é conceito oco!
Infelizmente, excesso de forma, carência de substância e muito pouco bom senso e espírito reflexivo têm levado a admitir a constituição como assistentes de pessoas que, por definição, não podem “colaborar” com o MP, i.e., que por essência não podem nunca ter o papel exigido pela lei. A lei quer que os que possam “colaborar” intervenham como assistentes, mesmo sendo “qualquer pessoa” que não as demais enumeradas taxativamente.
O que a lei nunca sequer imaginou é que o estatuto fosse dado a quem, por definição, nunca pode “colaborar” com o MP senão na difusão pública daquilo que, estando no processo, para bem de uma sã justiça aí devia ficar.
Triste, triste, é que só não entende a lei quem não a quer entender…
Seguindo esta argumentação coxa e que por isso nem peregrinou muito, não poderia haver assistentes em processo penal, para além dos determinados especificamente, basicamente apenas os ofendidos.
Todos os demais ou seja, os previstos na alínea e) do artigo 68º do CPP estariam incapacitados de se poderem constituir assistentes porque nem podem ajudar o MºPº...:
e) Qualquer pessoa nos crimes contra a paz e a humanidade, bem como nos crimes de tráfico de influência, favorecimento pessoal praticado por funcionário, denegação de justiça, prevaricação, corrupção, peculato, participação económica em negócio, abuso de poder e de fraude na obtenção ou desvio de subsídio ou subvenção.
Segundo a peregrinação claudicante o assistente, como “colaborador” do MP, tem sempre de ser alguém que, materialmente, objectivamente, “possa” auxiliar na “descoberta da verdade”.
E como é que se define este auxílio ao MºPº? O coxo o diz, aos saltinhos: quase ninguém.
E será com este argumento que se enxotam jornalistas incómodos da sala pública de um tribunal, em decisão inédita de lhes retirar um estatuto concedido e com decisão transitada em julgado.
Será este erro judicial grosseiro? Se o for, temos pano para mangas de alpaca analisar, em sede de inquérito disciplinar.
Se fosse o juiz Carlos Alexandre a fazer uma coisa destas que ninguém tenha dúvidas: já tinha um processo disciplinar há muito com decisão transitada em julgado e não estaria no TCIC.
Então porque é que assim não será com este juiz Ivo? Alguém o diga e proclame. Alguém escreva o que tem que ser escrito porque esta situação é insustentável.
Talvez estes dois advogados possam ajudar a elucidar tal mistério da actual justiça portuguesa. Talvez...mais que ninguém.
A trafulhice de Bárbara Reis
Leia-se este artigo da jornalista que chegou a ser directora do Público e o abastardou na senda que agora percorre, a das falsidades com eco ideológico. Na altura em que a escolheram, as pessoas da redacção e do jornal deram um tiro no pé, mas afinal era mesmo inevitável.
O jornal, tal como os palheiros, não se faz sem palha, ou seja sem pessoas que pensem como pensa esta jornalista.
Daí o Público ser a loca infecta que é, com o director que está e a SONAE capitalista, "exploradora da classe trabalhadora" a financiar e subsidias os milhões necessários ao funcionamento.
O jornal serve-lhe os propósitos de paz social que pretende manter nas "mercearias", como lhe chamou um improvável Valentim Loureiro e por isso 3 ou 4 milhões de euros por ano parece-lhes preço razoável e pizzo aceitável nesta troca mafiosa.
Enfim, o artigo versa uma pretensa mentirola do "deputado Ventura", do Chega, verdadeira nemesis desta jornalista que já percebeu que estão a perder o pé, com pessoas destas como deputados.
Assim, optam por não falar nele mas estão sempre a mencionar o nome e se apanham uma pequena ponta por onde pegar fazem manchetes porque desacreditar quem não querem mencionar faz parte do jogo.
Repare-se na menção à palavra "coletes" e à omissão a outras palavras igualmente válidas e que legitimam a intervenção parlamentar.
O truque tem barbas e já foi usado vezes sem conta por um inenarrável como José Sócrates, para se defender de acusações concretas e contra-atacar quem as faz.
Com base na pretensa divergência factual organizam todo um argumentário para deslegitimar e vilipendiar o deputado em causa, porque sendo factual que o plural não é o singular, um colete não são coletes, isso lhes basta para o jogo da trafulhice.
A esquerda é perita nestas jogadas e o PCP tem teses de doutoramento escritas no mesmo Parlamento, há décadas sobre estes sofismas.
Quem foi do PCP e teve antepassados no partido nunca esqueceu estes esquemas de trafulhice e por isso o carácter ficou moldado a tais subterfúgios.
Felizmente, este jornalismo fake, trafulha e ideologicamente demarcado tem agora contraditório à altura. Só que não lhe dão o mesmo espavento.
Ainda assim:
O jornal, tal como os palheiros, não se faz sem palha, ou seja sem pessoas que pensem como pensa esta jornalista.
Daí o Público ser a loca infecta que é, com o director que está e a SONAE capitalista, "exploradora da classe trabalhadora" a financiar e subsidias os milhões necessários ao funcionamento.
O jornal serve-lhe os propósitos de paz social que pretende manter nas "mercearias", como lhe chamou um improvável Valentim Loureiro e por isso 3 ou 4 milhões de euros por ano parece-lhes preço razoável e pizzo aceitável nesta troca mafiosa.
Enfim, o artigo versa uma pretensa mentirola do "deputado Ventura", do Chega, verdadeira nemesis desta jornalista que já percebeu que estão a perder o pé, com pessoas destas como deputados.
Assim, optam por não falar nele mas estão sempre a mencionar o nome e se apanham uma pequena ponta por onde pegar fazem manchetes porque desacreditar quem não querem mencionar faz parte do jogo.
Repare-se na menção à palavra "coletes" e à omissão a outras palavras igualmente válidas e que legitimam a intervenção parlamentar.
O truque tem barbas e já foi usado vezes sem conta por um inenarrável como José Sócrates, para se defender de acusações concretas e contra-atacar quem as faz.
Com base na pretensa divergência factual organizam todo um argumentário para deslegitimar e vilipendiar o deputado em causa, porque sendo factual que o plural não é o singular, um colete não são coletes, isso lhes basta para o jogo da trafulhice.
A esquerda é perita nestas jogadas e o PCP tem teses de doutoramento escritas no mesmo Parlamento, há décadas sobre estes sofismas.
Quem foi do PCP e teve antepassados no partido nunca esqueceu estes esquemas de trafulhice e por isso o carácter ficou moldado a tais subterfúgios.
Felizmente, este jornalismo fake, trafulha e ideologicamente demarcado tem agora contraditório à altura. Só que não lhe dão o mesmo espavento.
Ainda assim:
quinta-feira, novembro 28, 2019
Os cientistas sociais do jornalismo canalha do Público
O jornal Público assemelha-se cada vez mais a um panfleto da esquerda radical no espírito que anima a direcção do periódico.
Hoje tem dois artigos de "cientistas sociais", como é o caso do intelectual de Barcouço, o inefável Bonaventura e o fóssil comunista, Loff. Lendo-os, os vómitos de espírito surgem espontaneamente:
É inacreditável como este tipo de discurso, recorrente no jornal, contrasta com ausência completa de informação que o contradiga ou sequer questione. Uma prova?
Há cerca de quinze dias, no passado dia 10 deste mês, o director do jornal exultava com a libertação do corrupto Lula da Silva por causa de uma decisão processual, polémica e juridicamente discutível por isso mesmo. A notícia ribombou como se fosse a libertação de um inocente...e até o título está errado.
Ontem foi notícia, relevante, para o caso, de Lula voltar a ser condenado, tendo mesmo a pena de prisão sido agravada. E não foi pelo juiz Moro...
Lula da Silva perde recurso no caso de Atibaia. Juízes sobem pena de 12 para 17 anos de prisão.
Ex-Presidente perde recurso relativo à pena de prisão por suspeitas de corrupção relacionadas com um imóvel em Atibaia. Juízes não só mantiveram condenação como aumentaram pena.
Hoje tem dois artigos de "cientistas sociais", como é o caso do intelectual de Barcouço, o inefável Bonaventura e o fóssil comunista, Loff. Lendo-os, os vómitos de espírito surgem espontaneamente:
É inacreditável como este tipo de discurso, recorrente no jornal, contrasta com ausência completa de informação que o contradiga ou sequer questione. Uma prova?
Há cerca de quinze dias, no passado dia 10 deste mês, o director do jornal exultava com a libertação do corrupto Lula da Silva por causa de uma decisão processual, polémica e juridicamente discutível por isso mesmo. A notícia ribombou como se fosse a libertação de um inocente...e até o título está errado.
Ontem foi notícia, relevante, para o caso, de Lula voltar a ser condenado, tendo mesmo a pena de prisão sido agravada. E não foi pelo juiz Moro...
Lula da Silva perde recurso no caso de Atibaia. Juízes sobem pena de 12 para 17 anos de prisão.
Ex-Presidente perde recurso relativo à pena de prisão por suspeitas de corrupção relacionadas com um imóvel em Atibaia. Juízes não só mantiveram condenação como aumentaram pena.
Qualquer jornalista de vão de escada percebe a importância e valor de tal notícia e não vale no caso a circunstância de existir um jornal online e outro offline, porque foi neste que os editoriais e parangonas inflamadas fizeram então o seu curso.
O Público de hoje, na edição impressa não traz uma única linha sobre esta notícia da nova condenação de Lula da Silva com agravamento da pena de prisão. Nada.
Este jornalismo é um nojo e Manuel Carvalho o seu mentor. Anti-jornalismo, propaganda apenas em prol do esquerdismo dos "cientistas sociais"....
E julgam-se legitimados para tal porque o esquerdismo sempre foi assim, sem qualquer réstia de vergonha. Não lhe assiste tal ética.
Repito: não se percebe, a não ser por comparticipação na canalhice continuada, como é que a SONAE, uma empresa capitalista, continua a subsidiar este órgão de propaganda deste esquerdismo militante. É um problema de classe, de facto. Mas não de luta porque é para a evitar que são hipócritas.
Repito: não se percebe, a não ser por comparticipação na canalhice continuada, como é que a SONAE, uma empresa capitalista, continua a subsidiar este órgão de propaganda deste esquerdismo militante. É um problema de classe, de facto. Mas não de luta porque é para a evitar que são hipócritas.
quarta-feira, novembro 27, 2019
Tancos: o respeitinho deixou de ser o que soía
Observador:
Depois de o diretor do DCIAP não ter permitido que António Costa fosse chamado como testemunha no processo do caso Tancos, durante a fase de inquérito, o primeiro-ministro irá testemunhar na fase de instrução. Costa foi arrolado pelo ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que indicou o nome do chefe do Governo como sua testemunha de defesa.
Depois de o diretor do DCIAP não ter permitido que António Costa fosse chamado como testemunha no processo do caso Tancos, durante a fase de inquérito, o primeiro-ministro irá testemunhar na fase de instrução. Costa foi arrolado pelo ex-ministro da Defesa, Azeredo Lopes, que indicou o nome do chefe do Governo como sua testemunha de defesa.
Afinal o despacho apócrifo do director do DCIAP, Albano Pinto, com 30 páginas e a citar juristas de antanho para sustentar a inconveniência em faltar ao respeitinho, como soía, não valeu de nada. E ainda por cima é o próprio arguido quem requer a audição de Sua Excelência...
Enfim, o MºPº entrou por mais caminhos, com magistrados mais papistas que o papa, salvo seja. Muito maus, como aqui se explica nesta crónica de Eduardo Dâmaso, na Sábado da semana passada:
O Livre chamou a polícia para se proteger dos jornalistas...
Observador:
Esta senhora deputada ainda vai surpreender mais e mais até ao momento em que as surpresas acabarem...
Esta senhora deputada ainda vai surpreender mais e mais até ao momento em que as surpresas acabarem...
terça-feira, novembro 26, 2019
O esquerdismo aflito
Artigo de Irene Flunser Pimentel no Público de hoje. A escriba de folhetos anti-Salazar e o Estado Novo para quem tudo isso é fascismo com PIDE à ilharga, anda preocupada com a democracia. O alargamento das opções eleitorais e aparecimento de novos partidos como o Chega constitui por si só um ataque à democracia.
E já se predispôs no último parágrafo para a "luta". "Contra quem camaradas? Contra a burguesia!", pois a palavra pode ser uma arma, e "tudo depende da bala e da pontaria".
É por isso que a pontaria desta bala é um manifesto anti-democrático em que a escriba defende a democracia, tal como nos países cuja democracia defendeu se dizia que havia uma "luta pela paz".
George Orwell explicou muito bem o que tal significa, esta nova língua de pau e não admira que o Público tenha entre os seus articulistas, totalitários do pensamento como esta Flunser que nada esqueceu e pouco aprendeu, vindo dos fósseis comunistas.
Por outro lado as leituras devem ter feito muito mal a este cronista do Correio da Manhã que se quer democrata sem ser fassista porque fica mal. Assim, o Livre do tal Rui Tavares e da Joacine é um partido de esquerda não marxista.
Se alguém souber o que isso é era um favor explicar...
E já se predispôs no último parágrafo para a "luta". "Contra quem camaradas? Contra a burguesia!", pois a palavra pode ser uma arma, e "tudo depende da bala e da pontaria".
É por isso que a pontaria desta bala é um manifesto anti-democrático em que a escriba defende a democracia, tal como nos países cuja democracia defendeu se dizia que havia uma "luta pela paz".
George Orwell explicou muito bem o que tal significa, esta nova língua de pau e não admira que o Público tenha entre os seus articulistas, totalitários do pensamento como esta Flunser que nada esqueceu e pouco aprendeu, vindo dos fósseis comunistas.
Por outro lado as leituras devem ter feito muito mal a este cronista do Correio da Manhã que se quer democrata sem ser fassista porque fica mal. Assim, o Livre do tal Rui Tavares e da Joacine é um partido de esquerda não marxista.
Se alguém souber o que isso é era um favor explicar...
Ivo Rosa e a sombra que governa o desconhecimento
Artigo de João Miguel Tavares no Público de hoje ( é preciso comprar o jornal, não está no sítio do jornal com acesso grátis...):
O assunto é já requentado porque tem vários dias, semanas até, de prato feito. A proibição do juiz Ivo Rosa relativamente a assistência do público aos actos processuais durante a instrução do processo Marquês parece-me ilegal, abusiva e passível de procedimento de vária ordem, incluindo disciplinar. Mas enfim, é um entendimento que já expus por aqui e não mudei de opinião. Ou seja e para resumir, a instrução, fase processual que antecede um eventual julgamento é um acto que deve ser público e se o não for é preciso argumentar razões suficientes e de peso para tal ( por exemplo, ser muito prejudicial para as pessoas envolvidas, mormente vítimas, como é o caso de abusos sexuais de crianças). Há julgamentos que em regra são públicos e no entanto realizam-se com portas fechadas a estranhos ao processo, precisamente porque a lei consagra a exclusão de publicidade em certos casos. Não me parece que neste caso do Marquês haja qualquer situação que justifique a ausência e exclusão de publicidade.
Assim, no essencial, o argumentário do articulista está correcto. O que não está e ressuma desconhecimento em todas as vírgulas que inquina irremediavelmente o escrito e retira auctoritas a quem escreve é o seguinte:
Logo no primeiro parágrafo defino o juiz em causa como "picuinhas" porque tem fama de ser extremamente escrupuloso na interpretação das leis". Não é esse o caso. O juiz em causa é, sim, idiossincrático, ou seja tem um temperamento peculiar que em matéria de interpretação da lei processual penal tende a mostrar-se parcial, em defesa dos acusados e arguidos, principalmente quando são poderosos. É já um facto notório.
Em segundo lugar há um equívoco no escrito com a palavra "assistente". Assistente, em acepção comum é aquele que assiste. Mas em processo penal há a figura institucional do "assistente" que sendo alguém que assiste é-o de modo especial e apesar de não estar concretamente definido na lei é possível apurar o recorte preciso da figura estudando um bocadinho. Por exemplo aqui, à distância de um clique disponível para quem sabe alguma coisa ( por isso o tal se não sabe...porque pergunta?). Não é preciso ter um curso de direito para saber, basta ser jornalista com um mínimo de bestunto...
Se alguém quiser "assistir" na acepção que o processo penal lhe confere, tem que fazer um pouco mais do que se apresentar no acto. Tem que adquirir poderes específicos para tal e que a lei prevê. Tem que ter legitimidade para tal, requerer tal, pagar taxa de justiça e ter advogado constituído. E se preencher todos os requisitos, como é o caso dos jornalistas que neste processo se constituíram assistente, pode então colaborar com o Ministério Público que é o titular efectivo da acção penal.
Ora a noção de assistente conferida pelo senso comum é um pouco diversa e mais ampla, naturalmente.
Significa isto que os jornalistas constituídos assistentes não deixaram de o ser como afirma o articulista, por obra e graça do juiz de instrução. Foram, sim, impedidos de assistir, mesmo sendo assistentes.
E isso é tanto mais grave porque se conhece publicamente, embora no processo não se saiba se foi oportunamente comunicado internamente via Citius, que já houve decisões de tribunais superiores a afirmar a qualidade de assistentes a tais jornalistas e portanto com direito a intervir no processo.
É por isso legítimo o artigo mas lamentável o equívoco que gera em quem não sabe destas coisas. E um jornalista deve ser o primeiro a evitar as "fake news". Não é assim?!
ADITAMENTO:
Entretanto e através de informação recebida toma-se conhecimento que afinal o juiz Ivo Rosa decretou por despacho que os assistentes que eram jornalistas deixam de ser assistentes. Ou seja, o articulista do Público acaba por ter razão ( involuntariamente?).
Nem sei que dizer, a não ser manifestar perplexidade. Nunca vi nada assim...pelo que presumo que o despacho judicial deve ter razões que a razão jurídica desconhece. Ou mãozinha amiga, por inspiração noutros escritos, sustentados em papel de jornal...talvez deste finório, quem sabe?
Pelos vistos este advogado também idiossincrático qb entende que não é qualquer pessoa que pode constituir-se assistente...e agora o juiz Ivo segue o mesmo conceito revogando decisões transitadas em julgado de juízes anteriores. Não é inédito, é até mesmo usual com este juiz. Huummm, isto cheira-me a grande esturro. Mesmo grande.
Vamos a ver onde é que isto vai parar e se o juiz Ivo Rosa vai continuar nesta senda. Vamos a ver...e vamos a ver também se estes advogados/joacines levam a melhor ou se o desaforo é para continuar.
O assunto é já requentado porque tem vários dias, semanas até, de prato feito. A proibição do juiz Ivo Rosa relativamente a assistência do público aos actos processuais durante a instrução do processo Marquês parece-me ilegal, abusiva e passível de procedimento de vária ordem, incluindo disciplinar. Mas enfim, é um entendimento que já expus por aqui e não mudei de opinião. Ou seja e para resumir, a instrução, fase processual que antecede um eventual julgamento é um acto que deve ser público e se o não for é preciso argumentar razões suficientes e de peso para tal ( por exemplo, ser muito prejudicial para as pessoas envolvidas, mormente vítimas, como é o caso de abusos sexuais de crianças). Há julgamentos que em regra são públicos e no entanto realizam-se com portas fechadas a estranhos ao processo, precisamente porque a lei consagra a exclusão de publicidade em certos casos. Não me parece que neste caso do Marquês haja qualquer situação que justifique a ausência e exclusão de publicidade.
Assim, no essencial, o argumentário do articulista está correcto. O que não está e ressuma desconhecimento em todas as vírgulas que inquina irremediavelmente o escrito e retira auctoritas a quem escreve é o seguinte:
Logo no primeiro parágrafo defino o juiz em causa como "picuinhas" porque tem fama de ser extremamente escrupuloso na interpretação das leis". Não é esse o caso. O juiz em causa é, sim, idiossincrático, ou seja tem um temperamento peculiar que em matéria de interpretação da lei processual penal tende a mostrar-se parcial, em defesa dos acusados e arguidos, principalmente quando são poderosos. É já um facto notório.
Em segundo lugar há um equívoco no escrito com a palavra "assistente". Assistente, em acepção comum é aquele que assiste. Mas em processo penal há a figura institucional do "assistente" que sendo alguém que assiste é-o de modo especial e apesar de não estar concretamente definido na lei é possível apurar o recorte preciso da figura estudando um bocadinho. Por exemplo aqui, à distância de um clique disponível para quem sabe alguma coisa ( por isso o tal se não sabe...porque pergunta?). Não é preciso ter um curso de direito para saber, basta ser jornalista com um mínimo de bestunto...
Se alguém quiser "assistir" na acepção que o processo penal lhe confere, tem que fazer um pouco mais do que se apresentar no acto. Tem que adquirir poderes específicos para tal e que a lei prevê. Tem que ter legitimidade para tal, requerer tal, pagar taxa de justiça e ter advogado constituído. E se preencher todos os requisitos, como é o caso dos jornalistas que neste processo se constituíram assistente, pode então colaborar com o Ministério Público que é o titular efectivo da acção penal.
Ora a noção de assistente conferida pelo senso comum é um pouco diversa e mais ampla, naturalmente.
Significa isto que os jornalistas constituídos assistentes não deixaram de o ser como afirma o articulista, por obra e graça do juiz de instrução. Foram, sim, impedidos de assistir, mesmo sendo assistentes.
E isso é tanto mais grave porque se conhece publicamente, embora no processo não se saiba se foi oportunamente comunicado internamente via Citius, que já houve decisões de tribunais superiores a afirmar a qualidade de assistentes a tais jornalistas e portanto com direito a intervir no processo.
É por isso legítimo o artigo mas lamentável o equívoco que gera em quem não sabe destas coisas. E um jornalista deve ser o primeiro a evitar as "fake news". Não é assim?!
ADITAMENTO:
Entretanto e através de informação recebida toma-se conhecimento que afinal o juiz Ivo Rosa decretou por despacho que os assistentes que eram jornalistas deixam de ser assistentes. Ou seja, o articulista do Público acaba por ter razão ( involuntariamente?).
Nem sei que dizer, a não ser manifestar perplexidade. Nunca vi nada assim...pelo que presumo que o despacho judicial deve ter razões que a razão jurídica desconhece. Ou mãozinha amiga, por inspiração noutros escritos, sustentados em papel de jornal...talvez deste finório, quem sabe?
Pelos vistos este advogado também idiossincrático qb entende que não é qualquer pessoa que pode constituir-se assistente...e agora o juiz Ivo segue o mesmo conceito revogando decisões transitadas em julgado de juízes anteriores. Não é inédito, é até mesmo usual com este juiz. Huummm, isto cheira-me a grande esturro. Mesmo grande.
Vamos a ver onde é que isto vai parar e se o juiz Ivo Rosa vai continuar nesta senda. Vamos a ver...e vamos a ver também se estes advogados/joacines levam a melhor ou se o desaforo é para continuar.
segunda-feira, novembro 25, 2019
Música Popular portuguesa antes de 1974
Não é fácil fazer uma resenha do que era a música popular portuguesa antes de 25 de Abril de 1974 ( nem depois...) na medida em que não há muitos elementos documentais disponíveis. Admira até que as escolas que agora estão carregadinhas de teses de mestrado e doutoramento, algumas delas arquivadas para o olvido permanente, não tenham estudos do género musical em causa, disponíveis para consulta.
Tal estudo deveria centrar-se nas obras musicais e artistas que havia nessa época e que vendiam discos gravados, afinal suporte dos registos de tais obras, bem como os respectivos editores.
Afinal, a música popular em Portugal tinha alguma expressão nas décadas dos anos 50 e 60 e não era apenas o fado, a canção de "revista" ou os ranchos folclóricos que dominavam o panorama musical.
Uma parte da dificuldade advém de nem existir registo certo de tabelas de vendas em discotecas ou no mercado regular dos discos então editados e passados muitos deles nos rádios.
Havia uma ou outra revista dedicada a temas de tv ou rádio, como a TV, por exemplo neste número de 5.3.1964 e que mostrava alguma coisa do que era a música popular da época. No caso António Calvário e as melodias de sempre, com Madalena Iglésias, Paula Ribas e outros que também cantavam fado e música ligeira, como Maria da Fé, António Mourão, o Trio Boral e alguns mais. No Porto era impossível não dar pelo Conjunto António Mafra e as músicas que saíam em singles e ep´s ( quatro musiquetas por disco em vez das duas usuais, nos singles). Foi também nesta altura, meados dos sessenta que apareceu um artista popular que procurava singrar nas letras maliciosas e nas músicas trazidas dos folclore mais chão ou de um estrangeiro já abrasileirado. Quim Barreiros. Marco Paulo, Gabriel Cardoso e outros viriam logo a seguir para enfeitar páginas e páginas da Plateia, revista da especialidade já com muitos anos de experiência.
Em Janeiro de 1969 a revista Plateia publicava resultados de um concurso nacional acerca dos rei e rainha do espectáculo e na quinta votação os resultados mostravam bem o panorama cultural, geral, em Portugal:
Mas havia outros gostos, a assegurar um certo ecletismo, mesmo na revista:
Em 1 de Abril de 1965 começara no rádio ( Rádio Clube Português) um programa que representou uma alteração substancial no gosto comum aos demais programas e que se compunha com aqueles artistas que passavam geralmente em programas de "discos pedidos" depois de se dizer uma frase publicitária.
O Em Órbita, cuja história já se contou aqui, e ainda mais aqui, foi apresentado assim no Século Ilustrado de 14.1.1967:
Tinha gosto próprio que era o dos apresentadores e realizadores, jovens universitários que passavam geralmente música popular de expressão anglo-saxónica e até faziam listas de preferências anuais, neste caso do ano de 1966. Os Beatles eram então os reis destes tops que prescindiam do António Mafra ou do fado de Alfama e Mouraria e mesmo dos festivais das canções locais.
A partir de 1968 algo começou a mudar no panorama musical e de cultura popular e não teve a ver com a queda de Salazar e a modificação ligeira do regime, com Marcello Caetano.
Os costumes que vinham lá de fora e eram seguidos por cá, com atraso de meses ou anos, também se reflectiam na mudança de gosto musical
Começou a aparecer um ou outro artista, fora desse panorama que lançava um ou outros single, com músicas interessantes.
Alguns desses singles, cantados em português e publicados até 1974:
Na segunda metade do ano de 1969, perfazendo agora 50 anos, surgiu outro fenómeno na música popular que foi ampliado por um programa de tv chamado Zip Zip: os cantores de baladas, ou os baladeiros, depois trasnformados em "cantores de intervenção", ou seja propagandistas políticos da esquerda comunista.
A reportagem da Flama de 6.6.1969:
Foi nesse programa que se publicitou com maior espavento o tal fenómeno dos "baladeiros", logo com um certo Manuel Freire que cantou Pedra Filosofal, um poema de António Gedeão, e que se tornou um tema muito popular na altura. A letra pouco tem de político mas começa com o verso "eles não sabem que o sonho...", como é próprio da ideologia certa a caminho da utopia, ou seja o comunismo.
O Zip Zip foi um fenómeno de comunicação televisiva porque era um programa inovador e bem feito, uma mistura de "talk show" com variedades escolhidas a dedo para mostrar o que havia de novo para alterar o status quo. Os autores- Fialho Gouveia, Raul Solnado e Carlos Cruz- misturavam o conformismo com a inovação temática que rapidamente descambava na oposição ao regime manipulada pelos mesmos de sempre, ou seja, os comunistas e socialistas. Resultado: a Censura não deixou continuar, logo no final de 1969.
Os convidados eram todos do "contra", as ideias começavam a ser perigosas para o regime e em vez de se permitir a abertura, o regime fechou-se um pouco mais, deixando os censurados com queixas de almas sensíveis e vitimização contra o fassismo, razões para arremeter ainda mais, ajudando ao resultado que se viu logo a seguir a 25 de Abril de 1974.
Ainda assim quem é que publicava os discos de tais queixumes de almas censuradas? Havia um indivíduo no Porto que tinha uma editora fundada em 1956 e que se dedicava a todo o género de música, incluindo naturalmente a dos ranchos folclóricos.
A Orfeu era eclética e começou a publicar os singles dos cantores proibidos de exprimirem as verdadeiras ideias, ou seja, comunistas. O seu proprietário e patrocinador daquelas vítimas do fassismo era Arnaldo Trindade, aqui numa foto recente, por ocasião de uma comemoração da Orfeu, que aliás foi vendida logo no início dos anos oitenta à multinacional Movieplay. O Jornal de Notícias do Porto publicou no início deste ano uma entrevista que titulou "O burguês que deu voz á liberdade!", como se fosse mesmo assim e com a linguagem própria da música de intervenção:
A grande obra, de mérito, de Arnaldo Trindade nem é essa, mas sim esta: a publicação das cantiguinhas do Conjunto António Mafra, por exemplo e sans blague:
Ou mesmo esta, de qualidade mais duvidosa, mas popular:
Claro que misturar esta tema do Emigrante, com o tema Por terras de França daquele José Mário Branco é capaz de ser um golpe fatal na coerência, mas enfim, louve-se o esforço do senhor Arnaldo a quem a cultura popular portuguesa muito deve.
Outro acontecimento de vulto, no final de 1969 foi o lançamento da revista Mundo da Canção, também no Porto e com redacção pejada de comunistas então ainda encapotados. E quem figurou na capa do primeiro número? O inefável Padre Fanhais que também gravava para a Orfeu ( ver o primeiro disco, acima na imagem) .
Atente-se na letra da cantiga que este padre cantava...e que a revista publicou, tal como publicou o tema em francês de Jean Ferrat. Jean Ferrat? Quem é que conhecia este cantor francês? Ora, ora: os comunistas, como ele...e que prometiam na revista publicar mais letras desse disco de 1969 no caso de os pedidos se justificarem. Justificaram...
Aquele Fanhais também foi ao Zip Zip cantar À Saída do Correio, ou pelo menos esteve programado para tal uma vez que o disco que o programa editou, em 1969 continha tal tema. Tal como continha o tema Frère, souviens toi! de um certo cantorileiro da faculdade de letras de Lisboa, de nome José Barata Moura. Comunista também.
E também "Fonte de água vermelha" cantada por Hugo Maia de Loureiro, dos festivais da canção.
Estes festivais organizados pela RTP todos os anos, nessa altura, eram o viveiro preferido dos poetas, cantores e artistas de oposição, incluindo muitos comunistas, com destaque para o poeta José Carlos Ary dos Santos. E também Pedro Osório, este de pendo do socialismo democrático, já falecido e opositor ao fassismo, tal como outros. Havia ainda um tal Rui Ressurreição, amigo de quem? De Proença de Carvalho, um dos membros mais conhecidos do famoso trio los dos, ou o contrário que dá para tudo.
O Zip editou depois vários discos, incluindo um single magnífico, Ar Livre, de um esquecido Rui Silva. Do Zip também é a Pedra Filosofal cantada por Manuel Freire.
Mas outro disco fabuloso, neste caso de Fernando Tordo, outro antifassista notório e publicado em 1973, com o título O Café, é da...Orfeu.
E um dos melhores singles da música portuguesa, aliás para mim o melhor, foi publicado em 1970 por Luís Rego, pela Vogue-Pathé, em França e chama-se Amor Novo que muito pouca gente conhece.
E outro também fabuloso, do mesmo ano: "Ó pastor que choras", de Fausto, outro radical da extrema-esquerda e que gravava para a Philips, uma empresa benfeitora e mecenas destes artistas.
A revista Mundo da Canção cujo lançamento perfaz agora 50 anos, foi o veículo ideal para estes artistas, todos antifassistas e para a propaganda das suas ideias em letras de canções, desde 1969 até bem depois do 25 de Abril de 1974, apanhando o combóio de extrema-esquerda quando passou à porta, algures no Porto de um Pacheco Pereira e afins.
Em 1974 foi por isso o delírio na redacção! Mas durou pouco tempo. Durante o ano de 1974 praticamente a revista nem apareceu e só em Novembro surgiu com outra redacção, agora de um tal A. José Fonseca que se insurgia contra a anterior, de um tal Mário Correia. Aquele de extrema-esquerda radical, este do comunismo ortodoxo...tendo vencido a ala dura do comunismo radical.
Logo em Maio de 1974 os cantores das baladas e do protesto, auto-apelidados "trabalhadores culturais", reuniram-se em "Colectivo de Acção Popular" e assinaram assim, prenunciando um GAC, de um José Mário Branco:
Estavam lá quase todos e os que ainda são vivos nada esqueceram e nada aprenderam e continuam a bloquear ou a tergiversar...excepto um ou outro que preferiu abraçar causas mais concretas e confortáveis. Por exemplo, José Jorge Letria...
Esta história já foi contada por aqui em várias ocasiões, mas convém lembrar a quem já esqueceu e mostrar a quem não teve ocasião de saber porque era novo ou porque nunca se interessou por tal.
De resto contributos para tal história, neste caso de um modo hagiográfico, há em dois livrinhos de Eduardo Raposo, esgotados.
O saber não ocupa lugar, dizia a minha saudosa professora da escola primária e saber estas coisas ajuda a compreender porque somos ainda hoje uma sociedade atrasada. Ao contrário do que pretendiam esses cantores de intervenção não era bem a liberdade que nos queriam dar, enquanto povo, mas uma nova servidão, da que se praticava nos países de Leste e que os respectivos povos enxotaram de vez, no final dos anos oitenta do séc. XX.
Por cá, muito por culpa deste desconhecimento continuam a tratar estes lídimos representantes do totalitarismo comunista como arautos da Liberdade! Até o presidente da República que tinha obrigação de saber que isto é um embuste de todo o tamanho...
A última do nosso presidente: está a pensar em condecorar Jorge Jesus, o treinador que ganhou a Taça dos Libertadores e o campeonato brasileiro de futebol, para o clube que representa, o Flamengo, brasileiro, por supuesto...ahahahah! Incrível!
Tal estudo deveria centrar-se nas obras musicais e artistas que havia nessa época e que vendiam discos gravados, afinal suporte dos registos de tais obras, bem como os respectivos editores.
Afinal, a música popular em Portugal tinha alguma expressão nas décadas dos anos 50 e 60 e não era apenas o fado, a canção de "revista" ou os ranchos folclóricos que dominavam o panorama musical.
Uma parte da dificuldade advém de nem existir registo certo de tabelas de vendas em discotecas ou no mercado regular dos discos então editados e passados muitos deles nos rádios.
Havia uma ou outra revista dedicada a temas de tv ou rádio, como a TV, por exemplo neste número de 5.3.1964 e que mostrava alguma coisa do que era a música popular da época. No caso António Calvário e as melodias de sempre, com Madalena Iglésias, Paula Ribas e outros que também cantavam fado e música ligeira, como Maria da Fé, António Mourão, o Trio Boral e alguns mais. No Porto era impossível não dar pelo Conjunto António Mafra e as músicas que saíam em singles e ep´s ( quatro musiquetas por disco em vez das duas usuais, nos singles). Foi também nesta altura, meados dos sessenta que apareceu um artista popular que procurava singrar nas letras maliciosas e nas músicas trazidas dos folclore mais chão ou de um estrangeiro já abrasileirado. Quim Barreiros. Marco Paulo, Gabriel Cardoso e outros viriam logo a seguir para enfeitar páginas e páginas da Plateia, revista da especialidade já com muitos anos de experiência.
Em Janeiro de 1969 a revista Plateia publicava resultados de um concurso nacional acerca dos rei e rainha do espectáculo e na quinta votação os resultados mostravam bem o panorama cultural, geral, em Portugal:
Mas havia outros gostos, a assegurar um certo ecletismo, mesmo na revista:
Em 1 de Abril de 1965 começara no rádio ( Rádio Clube Português) um programa que representou uma alteração substancial no gosto comum aos demais programas e que se compunha com aqueles artistas que passavam geralmente em programas de "discos pedidos" depois de se dizer uma frase publicitária.
O Em Órbita, cuja história já se contou aqui, e ainda mais aqui, foi apresentado assim no Século Ilustrado de 14.1.1967:
Tinha gosto próprio que era o dos apresentadores e realizadores, jovens universitários que passavam geralmente música popular de expressão anglo-saxónica e até faziam listas de preferências anuais, neste caso do ano de 1966. Os Beatles eram então os reis destes tops que prescindiam do António Mafra ou do fado de Alfama e Mouraria e mesmo dos festivais das canções locais.
A partir de 1968 algo começou a mudar no panorama musical e de cultura popular e não teve a ver com a queda de Salazar e a modificação ligeira do regime, com Marcello Caetano.
Os costumes que vinham lá de fora e eram seguidos por cá, com atraso de meses ou anos, também se reflectiam na mudança de gosto musical
Começou a aparecer um ou outro artista, fora desse panorama que lançava um ou outros single, com músicas interessantes.
Alguns desses singles, cantados em português e publicados até 1974:
Na segunda metade do ano de 1969, perfazendo agora 50 anos, surgiu outro fenómeno na música popular que foi ampliado por um programa de tv chamado Zip Zip: os cantores de baladas, ou os baladeiros, depois trasnformados em "cantores de intervenção", ou seja propagandistas políticos da esquerda comunista.
A reportagem da Flama de 6.6.1969:
Foi nesse programa que se publicitou com maior espavento o tal fenómeno dos "baladeiros", logo com um certo Manuel Freire que cantou Pedra Filosofal, um poema de António Gedeão, e que se tornou um tema muito popular na altura. A letra pouco tem de político mas começa com o verso "eles não sabem que o sonho...", como é próprio da ideologia certa a caminho da utopia, ou seja o comunismo.
O Zip Zip foi um fenómeno de comunicação televisiva porque era um programa inovador e bem feito, uma mistura de "talk show" com variedades escolhidas a dedo para mostrar o que havia de novo para alterar o status quo. Os autores- Fialho Gouveia, Raul Solnado e Carlos Cruz- misturavam o conformismo com a inovação temática que rapidamente descambava na oposição ao regime manipulada pelos mesmos de sempre, ou seja, os comunistas e socialistas. Resultado: a Censura não deixou continuar, logo no final de 1969.
Os convidados eram todos do "contra", as ideias começavam a ser perigosas para o regime e em vez de se permitir a abertura, o regime fechou-se um pouco mais, deixando os censurados com queixas de almas sensíveis e vitimização contra o fassismo, razões para arremeter ainda mais, ajudando ao resultado que se viu logo a seguir a 25 de Abril de 1974.
Ainda assim quem é que publicava os discos de tais queixumes de almas censuradas? Havia um indivíduo no Porto que tinha uma editora fundada em 1956 e que se dedicava a todo o género de música, incluindo naturalmente a dos ranchos folclóricos.
A Orfeu era eclética e começou a publicar os singles dos cantores proibidos de exprimirem as verdadeiras ideias, ou seja, comunistas. O seu proprietário e patrocinador daquelas vítimas do fassismo era Arnaldo Trindade, aqui numa foto recente, por ocasião de uma comemoração da Orfeu, que aliás foi vendida logo no início dos anos oitenta à multinacional Movieplay. O Jornal de Notícias do Porto publicou no início deste ano uma entrevista que titulou "O burguês que deu voz á liberdade!", como se fosse mesmo assim e com a linguagem própria da música de intervenção:
A grande obra, de mérito, de Arnaldo Trindade nem é essa, mas sim esta: a publicação das cantiguinhas do Conjunto António Mafra, por exemplo e sans blague:
Ou mesmo esta, de qualidade mais duvidosa, mas popular:
Claro que misturar esta tema do Emigrante, com o tema Por terras de França daquele José Mário Branco é capaz de ser um golpe fatal na coerência, mas enfim, louve-se o esforço do senhor Arnaldo a quem a cultura popular portuguesa muito deve.
Outro acontecimento de vulto, no final de 1969 foi o lançamento da revista Mundo da Canção, também no Porto e com redacção pejada de comunistas então ainda encapotados. E quem figurou na capa do primeiro número? O inefável Padre Fanhais que também gravava para a Orfeu ( ver o primeiro disco, acima na imagem) .
Atente-se na letra da cantiga que este padre cantava...e que a revista publicou, tal como publicou o tema em francês de Jean Ferrat. Jean Ferrat? Quem é que conhecia este cantor francês? Ora, ora: os comunistas, como ele...e que prometiam na revista publicar mais letras desse disco de 1969 no caso de os pedidos se justificarem. Justificaram...
Aquele Fanhais também foi ao Zip Zip cantar À Saída do Correio, ou pelo menos esteve programado para tal uma vez que o disco que o programa editou, em 1969 continha tal tema. Tal como continha o tema Frère, souviens toi! de um certo cantorileiro da faculdade de letras de Lisboa, de nome José Barata Moura. Comunista também.
E também "Fonte de água vermelha" cantada por Hugo Maia de Loureiro, dos festivais da canção.
Estes festivais organizados pela RTP todos os anos, nessa altura, eram o viveiro preferido dos poetas, cantores e artistas de oposição, incluindo muitos comunistas, com destaque para o poeta José Carlos Ary dos Santos. E também Pedro Osório, este de pendo do socialismo democrático, já falecido e opositor ao fassismo, tal como outros. Havia ainda um tal Rui Ressurreição, amigo de quem? De Proença de Carvalho, um dos membros mais conhecidos do famoso trio los dos, ou o contrário que dá para tudo.
O Zip editou depois vários discos, incluindo um single magnífico, Ar Livre, de um esquecido Rui Silva. Do Zip também é a Pedra Filosofal cantada por Manuel Freire.
Mas outro disco fabuloso, neste caso de Fernando Tordo, outro antifassista notório e publicado em 1973, com o título O Café, é da...Orfeu.
E um dos melhores singles da música portuguesa, aliás para mim o melhor, foi publicado em 1970 por Luís Rego, pela Vogue-Pathé, em França e chama-se Amor Novo que muito pouca gente conhece.
E outro também fabuloso, do mesmo ano: "Ó pastor que choras", de Fausto, outro radical da extrema-esquerda e que gravava para a Philips, uma empresa benfeitora e mecenas destes artistas.
A revista Mundo da Canção cujo lançamento perfaz agora 50 anos, foi o veículo ideal para estes artistas, todos antifassistas e para a propaganda das suas ideias em letras de canções, desde 1969 até bem depois do 25 de Abril de 1974, apanhando o combóio de extrema-esquerda quando passou à porta, algures no Porto de um Pacheco Pereira e afins.
Em 1974 foi por isso o delírio na redacção! Mas durou pouco tempo. Durante o ano de 1974 praticamente a revista nem apareceu e só em Novembro surgiu com outra redacção, agora de um tal A. José Fonseca que se insurgia contra a anterior, de um tal Mário Correia. Aquele de extrema-esquerda radical, este do comunismo ortodoxo...tendo vencido a ala dura do comunismo radical.
Logo em Maio de 1974 os cantores das baladas e do protesto, auto-apelidados "trabalhadores culturais", reuniram-se em "Colectivo de Acção Popular" e assinaram assim, prenunciando um GAC, de um José Mário Branco:
Estavam lá quase todos e os que ainda são vivos nada esqueceram e nada aprenderam e continuam a bloquear ou a tergiversar...excepto um ou outro que preferiu abraçar causas mais concretas e confortáveis. Por exemplo, José Jorge Letria...
Esta história já foi contada por aqui em várias ocasiões, mas convém lembrar a quem já esqueceu e mostrar a quem não teve ocasião de saber porque era novo ou porque nunca se interessou por tal.
De resto contributos para tal história, neste caso de um modo hagiográfico, há em dois livrinhos de Eduardo Raposo, esgotados.
O saber não ocupa lugar, dizia a minha saudosa professora da escola primária e saber estas coisas ajuda a compreender porque somos ainda hoje uma sociedade atrasada. Ao contrário do que pretendiam esses cantores de intervenção não era bem a liberdade que nos queriam dar, enquanto povo, mas uma nova servidão, da que se praticava nos países de Leste e que os respectivos povos enxotaram de vez, no final dos anos oitenta do séc. XX.
Por cá, muito por culpa deste desconhecimento continuam a tratar estes lídimos representantes do totalitarismo comunista como arautos da Liberdade! Até o presidente da República que tinha obrigação de saber que isto é um embuste de todo o tamanho...
A última do nosso presidente: está a pensar em condecorar Jorge Jesus, o treinador que ganhou a Taça dos Libertadores e o campeonato brasileiro de futebol, para o clube que representa, o Flamengo, brasileiro, por supuesto...ahahahah! Incrível!
domingo, novembro 24, 2019
25 de Novembro de 1975, 44 anos depois
Este artigo de Helena Matos, no Observador, merece leitura. Um excerto:
Mas o 25 de Novembro nunca foi uma vitória da direita mas sim e sobretudo um acerto de poder dentro da esquerda: a chamada esquerda moderada entendeu que chegara a hora de travar a legitimidade revolucionária que os radicais pretendiam impor. Para o PCP essa não era necessariamente uma má notícia, pelo menos a médio prazo: com Angola já na esfera da URSS e sem o indispensável apoio dos soviéticos para construir uma Cuba na Europa, o PCP negociou o seu futuro com Melo Antunes e na madrugada do 25 de Novembro deixou só a extrema-esquerda na rua e mais solitários ainda os operários que na margem sul esperavam pela ordem para virem defender a revolução em Lisboa.
Lendo o que o Jornal de 5.12.1975, escrevia, citando um dos protagonistas do golpe falhado, percebe-se melhor a ideia básica: o PCP pôs-se de lado, mas a acompanhar os acontecimentos. Quando deu para o torto, fingiu que não tinha nada a ver com o assunto...
Afinal esta ideia seria expressa na semana a seguir, por um esquerdista que foi do PCP e se camaleonou sucessivamente em artigos atrás de artigos até desaparecer há uns anos atrás...
O Jornal, 12.12.1975:
A explicação do que se passou a seguir, até hoje, está aqui bem dada no mesmo número do O Jornal:
E o problema da inexistência de uma direita que agora se Chega a vislumbrar, também:
Aliás, o trotskismo militante nunca deixou de funcionar, como a ferrugem e tudo documentado no mesmo número de O Jornal:
Esta direita deixou de aparecer porque afinal nunca existiu:
E o resto já se sabe como foi, até hoje porque a Constituição é que manda e quem a fez sabia muito bem o que fazia, como se dizia no dia 1 de Abril de 1977:
Por isso mesmo, Marcello Caetano, do Brasil dizia o que pensava, em 18.8.1978, cerca de dois anos antes de desaparecer:
Por isso acho que o 25 de Novembro de 1975 e o que se lhe seguiu, fica assim melhor explicado. Se o Chega entende isto, não sei. Suspeito que não, mas devia entender.
Mas o 25 de Novembro nunca foi uma vitória da direita mas sim e sobretudo um acerto de poder dentro da esquerda: a chamada esquerda moderada entendeu que chegara a hora de travar a legitimidade revolucionária que os radicais pretendiam impor. Para o PCP essa não era necessariamente uma má notícia, pelo menos a médio prazo: com Angola já na esfera da URSS e sem o indispensável apoio dos soviéticos para construir uma Cuba na Europa, o PCP negociou o seu futuro com Melo Antunes e na madrugada do 25 de Novembro deixou só a extrema-esquerda na rua e mais solitários ainda os operários que na margem sul esperavam pela ordem para virem defender a revolução em Lisboa.
Lendo o que o Jornal de 5.12.1975, escrevia, citando um dos protagonistas do golpe falhado, percebe-se melhor a ideia básica: o PCP pôs-se de lado, mas a acompanhar os acontecimentos. Quando deu para o torto, fingiu que não tinha nada a ver com o assunto...
Afinal esta ideia seria expressa na semana a seguir, por um esquerdista que foi do PCP e se camaleonou sucessivamente em artigos atrás de artigos até desaparecer há uns anos atrás...
O Jornal, 12.12.1975:
A explicação do que se passou a seguir, até hoje, está aqui bem dada no mesmo número do O Jornal:
E o problema da inexistência de uma direita que agora se Chega a vislumbrar, também:
Aliás, o trotskismo militante nunca deixou de funcionar, como a ferrugem e tudo documentado no mesmo número de O Jornal:
Esta direita deixou de aparecer porque afinal nunca existiu:
E o resto já se sabe como foi, até hoje porque a Constituição é que manda e quem a fez sabia muito bem o que fazia, como se dizia no dia 1 de Abril de 1977:
Por isso mesmo, Marcello Caetano, do Brasil dizia o que pensava, em 18.8.1978, cerca de dois anos antes de desaparecer:
Por isso acho que o 25 de Novembro de 1975 e o que se lhe seguiu, fica assim melhor explicado. Se o Chega entende isto, não sei. Suspeito que não, mas devia entender.
sábado, novembro 23, 2019
Ao cuidado da Joacine que sabe pouco de Portugal...
...e da Van Dunem que não sabe muito mais:
Dá-se conta da morte de Eduardo Nascimento, um angolano e que tal como a tal Van Dunem, foi português e depois quis continuar a ser, depois de ter representado o país num festival da Eurovisão, quando este acontecimento mundano e musical significava muito mais que hoje no panorama cultural. Foi em 1967, ainda Salazar estava vivo e de boa saúde...
Sec. Ilustrado de 8.4.1967:
As Joacines e as van Dunem não sabem que nessa altura, em Portugal não havia pretos e brancos, como raças distintas e discriminadas por isso. Havia pessoas e não se falava de racismo, como hoje essas falam.
Dá-se conta da morte de Eduardo Nascimento, um angolano e que tal como a tal Van Dunem, foi português e depois quis continuar a ser, depois de ter representado o país num festival da Eurovisão, quando este acontecimento mundano e musical significava muito mais que hoje no panorama cultural. Foi em 1967, ainda Salazar estava vivo e de boa saúde...
Sec. Ilustrado de 8.4.1967:
As Joacines e as van Dunem não sabem que nessa altura, em Portugal não havia pretos e brancos, como raças distintas e discriminadas por isso. Havia pessoas e não se falava de racismo, como hoje essas falam.
A música panfletária de José Mário Branco, antes de 1974
Observador, crónica de Alberto Gonçalves, sobre JMB:
(...)
Mantenho que JMB era melhor músico do que os seus pares do “canto de intervenção”. Não é grande proeza: quase todos os pares eram de uma indigência medonha. Por muito que tentem, os militares de Guantánamo não arranjam forma de tortura comparável à “Pedra Filosofal” de Manuel Freire. E quem diz o sr. Freire diz as dezenas de “baladeiros” que, de tanto educarem as massas, não aprenderam quatro ou cinco acordes. A verdade é que em Novembro de 2019 as canções de JMB soaram-me insípidas, derivações suburbanas das “recolhas” de Giacometti com uns pozinhos ocasionais de “chanson”. As letras, para lá do programa ideológico, são sentimentalismo adolescente. Os arranjos, às vezes curiosos, são puro 1970 e puro Terceiro Mundo. A voz é fracota e zangada. O GAC é repugnante. “Inquietação”, não fosse cantada naquele tom de fiscal antipático e não tivesse subtraído a imagem central a Pessoa, não é má. Em suma, é possível que JMB seja um dos nomes maiores da música popular portuguesa, o que é igual a falar nos vultos imortais da ópera do Sudão. Para efeitos práticos, tirando Amália e talvez Carlos Paredes, a relevância da música popular portuguesa a leste de Badajoz é comparável à da Web Summit.
(...)
Croniqueta de VPV no Público de hoje sobre o mesmo artista:
Quinta coluna do artista José Jorge Letria, um dos companheiros do E tudo era possível, no CM de hoje e que aparece em destaque nas imagens da Flama que abaixo aparecem nos outros postais sobre o assunto:
Obituário no SOL sobre José Mário Branco:
Com esta salsaparrilha de escritos o que fazer? Ouvir os discos de JMB e voltar ao tema...
Em primeiro lugar é necessário mostrar um contexto histórico e artístico relativamente à figura de JMB, o que Alberto Gonçalves de algum modo faz, embora não concorde com a apreciação crítica de algumas obras da mpb, mormente o Pedra Filosofal de Manuel Freire, a cantar o poema de António Gedeão que é um achado de trocadilhos e muito bem feito como resenha histórica de feitos antepassados.
O contexto é o ambiente anterior a 1974, com a oposição comunista e de extrema-esquerda acantonada em alguns órgãos de comunicação e alguns destes artistas, todos no meio dos "cantautores" como dizem os espanhóis e por cá cantores de intervenção, se moviam.
É desse movimento artístico e político de que se trata e não é possível separar tais coisas porque estão interligadas. É por isso sumamente manhoso o artiguinho do José Jorge Letria, um jornalista comunista que se reconverteu às delícias do socialismo democrático e que agora faz como os crocodilos que voam: muito baixinho...
Nem se trata aqui de mencionar a música posterior a 1974, com a "cantiga era uma arma" que este Letria afeiçoava, tal como muitos.
Aqui é apenas a música da primeira metade dos anos setenta, no tempo de Marcello Caetano. Nem sequer o tempo de Salazar, mas para esta gente era tudo fassismo...
O contexto é o ambiente anterior a 1974, com a oposição comunista e de extrema-esquerda acantonada em alguns órgãos de comunicação e alguns destes artistas, todos no meio dos "cantautores" como dizem os espanhóis e por cá cantores de intervenção, se moviam.
É desse movimento artístico e político de que se trata e não é possível separar tais coisas porque estão interligadas. É por isso sumamente manhoso o artiguinho do José Jorge Letria, um jornalista comunista que se reconverteu às delícias do socialismo democrático e que agora faz como os crocodilos que voam: muito baixinho...
Nem se trata aqui de mencionar a música posterior a 1974, com a "cantiga era uma arma" que este Letria afeiçoava, tal como muitos.
Aqui é apenas a música da primeira metade dos anos setenta, no tempo de Marcello Caetano. Nem sequer o tempo de Salazar, mas para esta gente era tudo fassismo...
O primeiro disco grande que JMB publicou, intitulado Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, no Natal de 1971, foi gravado em França e fabricado aí, embora editado pela Guilda da Música. Começa com sons ambientes na gare de Austerlitz e basta ouvir dois minutos desse primeiro tema Cantiga a pedir dois tostões para concluir que o disco é uma pequena ( sim, não exageremos...) obra-prima musical. Até está bem gravado, para o meu gosto. Melhor que o segundo LP.
Claro que a apreciação é subjectiva, mas sujeita a experiências de muitos sons ao longo de décadas e portanto com alguma fundamentação prática.
Essa primeira letra é de Sérgio Godinho e fala de coisas assim: "inauguras monumentos ao passado que está morto e enterrado" e nem é preciso dizer mais. É uma cantiga antifassista contra o regime de então, com Marcello Caetano no poder.
Quem ouvia tal música e foram muitos os que tal fizeram em sessão pública num cinema de Lisboa em Novembro de 1971, ficava logo a saber que o assunto era protesto contra o regime.
A canção seguinte, "Cantiga do fogo e da guerra" é ainda mais interessante melodicamente e só um ouvido duro não conseguirá achar graça à melopeia critpo-medieval. A letra também é do mesmo Sérgio Godinho que escreve assim a dado passo: " ao circo da guerra chegam piromagos".( sic e não se pergunte se é neologismo)..e toda a gente percebia a que guerra se referia, a tal de "colonial" que para os que ficaram por cá e foram mesmo defender a pátria, era do Ultramar. A diferença é de vulto...
Na cantiga seguinte, um dos temas clássicos de JMB e também cantada pelo autor da letra ( no seu disco Os Sobreviventes) , o mesmíssimo Sérgio Godinho, fala-se de algo sobre o Charlatão. É um hit, um tema digno dos top ten musicais. Tão boa ou melhor que qualquer uma de Bob Dylan. Quem duvidar que aponte uma...mesmo do Blonde on Blonde. É quase um solidó mas as de Neil Young também são...
E depois aparece o tal da Queixa das almas censuradas que o palerma do João Miguel Tavares que evidentemente nunca a ouviu como deve ser, usa como exemplo para mostrar aos filhos para lhes ensinar o que era a "ditadura". Enfim. Musicalmente, porém, deveria servir para mostrar como se compunha uma balada, do mesmo estilo da Pedra Filosofal e agora não se vê ninguém por aí a fazer igual. Será caso para dizer bendito fassismo...
O autor JMB tem depois duas canções com letras suas: Nevoeiro e Mariazinha. São duas composições em que avulta o pífaro na primeira, com ademanes de instrumentação avulsa, em toada cripto-medievalizada mas com naipes de órgão ( Hammond? Farfisa?) . Mariazinha é uma belíssima cantiguinha com o som do baixo a contrapontuar de modo jazzístico e um pequeno solo de guitarra eléctrica etérea e segura. Belíssima canção e que nada tem de politicamente comprometido.
Casa comigo Marta, com letra daquele Sérgio Godinho é uma brincadeira em ritmo marcado a um género de clavicórdio ( cravo-farfisa) usado pelos Beatles no Martha my Dear ( et pour cause?)
O tema seguinte antes do último é de um poema de Alexandre O´Neill, o poeta iconocolasta que um dia saiu de casa, para sempre, ou seja, durante 16 anos, porque o pai insistia com ele para levar o guarda-chuva, contra vontade. Diz tudo sobre quem era o O´Neill. Perfilados de Medo é um poema críptico que serve para tudo e para nada porque é um jogo de palavras. A música é uma marcha marcial com pouco interesse mas execução ritmada como um cante alentejano. É o tema mais comprido e menos conseguido do disco.
O último é o Mudam-se os tempos, do poema de Camões. Em tom de marcha em ritmo quaternário ou mais, é um fim de disco com pífaro e bombo que soaria bem numa filarmónica de aldeia em volta ao coreto no fim da festa.
E é isto o primeiro disco. Obra-prima? Para mim, sim.
E o segundo? É o Margem de Certa Maneira, fabricado em Portugal e editado pela Sassetti, Guilda da Música, de 1972.
O primeiro tema retoma o tema da imigração "Por terras de França" e diz que "não foi por vontade nem por gosto que deixei a minha terra...". Então porque foi? Para fugir à "guerra colonial"? Enfim, tretas de fujões e cobardes ou indiferentes.
Há uma pequena canção de 1970, de outro destes imigrados, no caso Luís Rego que chegou a trabalhar com os Les Charlots nessa altura e que editou um single fabuloso, porventura o melhor da MPB, chamado Amor Novo que tem uns versos assim: "Viver é saber da vida o mesmo que sabe o mar; vai-se uma onda perdida; outra onda a enrolar...".
Quase todos os temas deste Lp são da autoria de JMB. O segundo chama-se Engrenagem e é uma melopeia com rima suavemente subversiva- "pra ter um companheiro nesta viagem, vou meter um pauzinho na engrenagem".
O terceiro tema, Aqui dentro de casa é uma pequena maravilha de composição e outra pequena obra prima musical do autor , mesmo com referências explícitas a luta de classes, ao "patrão que te paga um salário de fome e que te rouba o que come", obviamente motivo de Censura na época. Que queria JMB e os esquerdistas? Propaganda do comunismo assim tão explícita? O primeiro disco não tinha nada disto e é um disco melhor. Bob Dylan soube afastar-se desta armadilha e não escrevia letras panfletárias acerca da luta de classes, mas sim It ain´t me babe! Ou "Like a rolling Stone".
O tema seguinte sobre a Margem de Certa Maneira ainda era ideologicamente pior no capítulo panfletário e musicalmente é mais pobre apesar de mais elaborada e com insistências em demasiados recortes pianísticos.
O segundo lado abre com outra obra-prima, a principal de JMB: Cantiga da Velha mãe, com letra de Sérgio Godinho ( que também a cantou no seu disco Os Sobreviventes). Em tom de balada de viola acústica ritmada a preceito. A letra falava dos irmãos que partiram e "voltaremos trazendo connosco a vitória" E para não deixar qualquer sentido implícito respondia sobre o que era tal vitória: " de lutar para ter a justiça como lei" e para "ver o mundo girar de um modo diferente" . E para tal ainda "sei gritar e arreganhar o dente". E ainda mais: " mas se é o teu próprio irmão que te faz viver de joelhos, faz o que tens a fazer"...num prenúncio de apoio aos gacs e outros FP25 de anos vindouros.
Enfim, com estas letrinhas assim tão explícitas que esperava JMB e os cantautores? Complacência de Marcello Caetano no regime que existia e que mantinha a Censura por causa da guerra no Ultramar e por mero atavismo cultural? Até houve. O disco andou por aí e foi ouvido, mas quanto a propaganda das ideias que a revista Mundo da Canção queria fazer isso é que já não foi possível. Censura portanto.
Logo a seguir uma cantiguinha infantil do género das que eram apreciadas por outro comunista da época, José Barata Moura ( o da Joana come a papa...), com o tema Sant´Antoninho com letra inócua ou quase.
A penúltima é A morte nunca existiu, com letra de António Joaquim Lança. Musicalmente é tema do género afeiçoado por JMB, aparentemente simples mas com subtilezas melódicas e instrumentais interessantes, embora com muito poucos acordes. Com uma letra que incluía " pra matar milhares ao mesmo tempo uns no estrangeiro outros cá", a referência era muito explícita e portanto...censura.
Finalmente a outra pequena obra-prima de JMB, com letra de Sérgio Godinho, Eh Companheiro é uma composição que qualquer grande artista reconhece como tal.
Mas a letra não engana ninguém: " Só tem medo desses muros quem tem muros no pensar todos sabemos do pássaro cá dentro a querer voar..."
Pois foi: "cortaram as asas ao rouxinol", como cantava o padre Fanhais um Eh Companheiro ainda mais radical que estes...
Este Eh Companheiro é tema de comício do Bloco de Esquerda ( tal como o Barnabé de Sérgio Godinho e outras, do Fausto) ,tal como outros de alguns dos companheiros de JMB...e por isso esta gente não deve enganar ninguém nem a gente que os acolita deve tentar fazer o mesmo e mencionar a liberdade que eles apregoavam.
Liberdade para esta gente é construir outro muro para não deixar sair ninguém de dentro da fortaleza que construíram para si mesmos: a do totalitarismo comunista. E isso não foi suficientemente denunciado naqueles obituários...
Porque afinal o que dizia JMB ainda há muito pouco tempo? Isto:
"Eu continuo a achar que o motor que comanda isto tudo é a luta de classes, a exploração do homem pelo homem." (...)
A humanidade tem de pensar como é que se resolve este problema de vez. Não é cá com outra cantiguinha qualquer. É o sonho do Antero de Quental: "Não disputéis, curvado o corpo todo, as migalhas do banquete. Erguei-vos e tomai lugar à mesa". O Antero disse isto nos anos 70 do século XIX. Na altura era o sonho socialista.
(...)
continua a haver a exploração do homem pelo homem. Tendencialmente a esquerda é a favor do progresso e a favor de quem trabalha, dos mais pobres, é contra as injustiças sociais, como a acumulação de riqueza por poucos.
"Eu continuo a achar que o motor que comanda isto tudo é a luta de classes, a exploração do homem pelo homem." (...)
A humanidade tem de pensar como é que se resolve este problema de vez. Não é cá com outra cantiguinha qualquer. É o sonho do Antero de Quental: "Não disputéis, curvado o corpo todo, as migalhas do banquete. Erguei-vos e tomai lugar à mesa". O Antero disse isto nos anos 70 do século XIX. Na altura era o sonho socialista.
(...)
continua a haver a exploração do homem pelo homem. Tendencialmente a esquerda é a favor do progresso e a favor de quem trabalha, dos mais pobres, é contra as injustiças sociais, como a acumulação de riqueza por poucos.
Nota: escrevi isto enquanto ouvia em gira-discos os Lp´s originais de José Mário Branco e confirmar a ideia que tinha: são dois dos melhores discos da música popular portuguesa. Mas há outros, do mesmo género.
Quando tiver tempo...vou recensear.
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