terça-feira, abril 28, 2020

As portas que Abril abriu...

Primeira porta, larga e de pórtico: a balbúrdia, política e económica, tal como se relata neste artigo de o jornal de 14.11.1975, escrito com os pés, nas vésperas do golpe e contra-golpe que afastou o comunismo do poder político efectivo.

O Rádio Renascença tinha sido transformado em cóio do esquerdismo revolucionário, o que prejudicava muito a estratégia do PCP. Resolveu-se assim, o problema: à bomba. Alguns anos depois os derrotados quiseram resolver o problema que lhes tinha sido criado, do mesmo modo. Otelo foi preso e condenado por isso.
Isabel do Carmo e outros também poderiam ter sido condenados pelo mesmo motivo, mas a "legalidade democrática" não o permitiu. Se fosse a revolucionária que eles pretendiam instaurar, teria sido trigo limpo, farinha Amparo.


A balbúrdia económica já era visível escassas semanas após o "35 de Abril" e até o PCP apelava à moderação. Debalde. Vida Mundial, 7.6.1974. O padrinho de tudo isto já figura na foto. Era então ministro dos Negócios Estrangeiros e preparava-se para entregar os territórios ultramarinos a quem de direito, ou seja os movimentos de libertação comunistas, com as consequências conhecidas:



Sabendo agora como um mês de paragem económica pode ser catastrófico, imagine-se o que foi em Portugal naqueles meses todos a seguir ao 25 de Abril...

Entretanto o novo poder andava à procura de um modelo e estivemos perigosamente perto de um dos mais apetecidos pela classe político-jornalística de então: Cuba! Foi lá o bravo Varela Gomes, acompanhado de um marinheiro. E trouxe de lá ideias...


Segundo portão escancarado: a nova censura, repristinação da antiga que era esta, tal como mostrada na Vida Mundial de 7.6.1974, num artigo sobre o "grande salto" chinês, todo encomiástico das fantásticas realizações sociais da camarilha revolucionária de Mao Tse Tung.

Evidentemente que o artigo, sem data mas dos anos setenta, era assinado por um dos que a seguir iriam enfileirar no partido do Arnaldo que antes de morrer considerou tudo isto "um putedo".

Queixava-se a revista de a Censura ter cortado o artigo. Lendo, percebe-se porquê: é um chorrilho de fake news, como se diria agora. Bem cortado, portanto, nesta perspectiva que é a daqueles que hoje defendem tal censura, como o director do Público e muitos mais.


Na revista há ainda outro artigo cortado pela Censura antiga e que se referia às "empresas multinacionais: concentração selvagem". Evidentemente, sufragando todas as teses comunistas acerca do assunto, os monopólios, o imperialismo e as tretas do costume da época e de agora, porque nada esqueceram e nada mudaram.

Apesar desta denúncia da Censura antiga, começaram a praticar o novo modelo e que estes exemplos a seguir mostram sobejamente  no estilo já aprimorado.

Vida Mundial de 14.6.1974, a mesma que trazia uma entrevista a Cunhal que me suscitou o apontamento escrito sobre o estilo do mesmo: "concretamente críptico; abstractamente explícito". Foi sempre assim e ninguém conseguiu dar-lhe a volta, principalmente por não quererem tal coisa.


Para se entender melhor o contexto destas peças de teatro apresentadas em directo, a preto e branco e ao vivo na RTP da época, convém ler isto que apareceu no Sempre Fixe de 30.9.1974


Na mesma altura de Setembro de 1974 aconteceu outra repristinação notável: um autodafé político, que remetia para os livros queimados em pira, pelos partidários nazis, nos anos trinta. Desta feita a acção era patriótica, contra a reacção. Legitimada, portanto.



A nova Censura passou então a ter este recorte democrático: um jornal que se desviasse da linha justa, era pura e simplesmente cassado da convivência "democrática". Já nem era precisa qualquer comissão de censura ou exame prévio, por causa da guerra. A luta de classes dava o mote a quem a aplaudia e eram quase todos os jornalistas que se queixavam muito da censura que lhes fazia o regime anterior...


E como é que se resolviam estas disputas "democráticas"? Assim, como mostra o o jornal de 16 de Maio de 1975: com "danças de cadeiras". Ainda hoje a dança continua e pode ver-se a nova valsa no Diário de Notícias falido ou num Público sempre falido e sustentado pelo capitalismo mais explorador da SONAE, sem complexos. A mentalidade do jornalismo, em Portugal nada mudou, nesse aspecto. Antes, piorou porque perdeu toda a vergonha que então existia e a humildade derivada da ignorância assumida. Agora são todos doutores.

Como se pode ler havia um "povo com direito à informação". O "povo" no entanto era um conceito difuso que só acolhia os que pensavam como eles...


Em 27 de Setembro de 1975 uma militante destas camarilhas escrevia assim no Expresso, defendendo a censura, o despedimento de colegas e a repressão policial sobre a "imprensa vendida"...


Portanto estas portas que Abril abriu tiveram os seus porteiros. Entre eles, destaco estas figuras que continuam na proa, inacreditavelmente.


E estes, culturalmente esclarecidos e que andam por aí, nas actividades culturais de sempre, agora no BE e partidos adjacentes, com muita gente do PS lá metida também: em prol da mesmíssima esquerda que aí fica retratada, em cima. São estes que agora festejam do modo eufórico que se viu o "25 de Abril".  Pudera!


Qual o resultado prático de tudo isto para o povo que dizem defender e particularmente os "pobrezinhos" ou as "classes mais desfavorecidas"?

Bem, em 16 de Maio de 1975 o panorama já não era famoso:


Dali a pouco tempo mostrou-se a verdadeira face desta esquerda que celebra o 25 de Abril: austeridade! Desde sempre...


Além disso, o nosso futuro escrever-se-ia com cartas marcadas, como dizia claramente o actual presidente da República, na altura da Constituinte ao o jornal de 16 de Maio de 1975.

O que se esperava da Constituinte? Pois...que o PS mandasse o que tinha para mandar. E mandou.


Conviria ter presente o seguinte: enquanto se mantiver este novelo nunca seremos um país desenvolvido e próspero. Apenas um país à imagem deste PS que anda por aí, agora a reboque do Costa mas que já foi de um Sócrates.

Inacreditável? Pois, a meu ver é a história destas décadas.

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