quarta-feira, março 26, 2014

Jacques Monod, biologia, comunismo e enganos

Em cumprimento de promessa ao comentador Floribundus deixo aqui três recortes do Díário Popular de 20 de Julho de 1971 que guardei, na altura, por causa de um artigo de duas páginas sobre os "documentos do Pentágono sobre a guerra no Vietname" e que ia já na parte VII, "top secret".  Em bónus aparecia esta entrevista muito interessante com Jacques Monod e que foi mencionado no outro dia nos comentários deste blog.

A entrevista torna-se interessante porque Monod, tendo sido comunista durante a II guerra mundial,  explica que o foi   "tal como muitos homens de ciência. Acreditei que o marxismo era uma atitude científica trazida ao estudo dos problemas político-sociais. Dediquei um certo tempo a isso e então veirfiquei que era tudo um engano."

A questão que coloco é: como se explica que estes artigos de jornal popular, saídos em 1971 não tenham ajudado a formar a consciência colectiva que os franceses, por exemplo, já tinham em 1974, sobre o comunismo?
Porque é que o comunismo e esquerdismo em geral concitou tanto entusiasmo entre intelectuais portugueses e principalmente os pseudo-intelectuais que escreviam em jornais, mormente entre os jovens tipo letrias? Ah! E Monod não é propriamente de direita...
Não sei e ando à busca de resposta.  O Diário Popular dos anos setenta, até ao 25 de Abril de 1974, era um manancial de informação cultural, com suplementos de dupla página central de "letras artes" à "quinta-feira à tarde".  Tenho vários ( por  exemplo o de 28 de Janeiro de 1971, com artigos sobre escritores portugueses como José Cardoso Pires, a propósito de O Delfim ou Isabel da Nóbrega ou ainda uma recensão crítica ao livro A Sibila de Agustina Bessa Luís, escrita por Manuel Poppe, qu julgo ser pai de Pedro Mexia e ainda um poema de...Brecht).  Hoje não encontro paralelo nos media nacionais. Desconheço se nas bibliotecas nacionais se guardam exemplares deste jornal Diário Popular dos anos setenta. Porém, uma coisa me parece certa: os jornalistas que andam por aí, a escrever actualmente, depois de tirarem cursos de "relações internacionais" ou ainda mais específicos, com aulas dadas por ruisrangéis e outros marinhosepintos ou juditesdesousa e mais fatimascamposferreiras, deveriam antes aprender nestes jornais, como se fazia jornalismo. Aprendiam mais, sem qualquer dúvida.





13 comentários:

S.T. disse...


Propositadamente : «Coração de cão» , Mikhail Bulgakov , o José já leu ?

:)

Choldra lusitana disse...

José,para encontrar exemplares de jornais o melhor é irem à hemeroteca. Embora o estado de alguns exemplares seja deplorável sempre se consegue encontrar o que se procura. No resto das bibliotecas deduzo que seja um desastre pelo que tenho observado. Sei do que falo porque sou coleccionador de revistas (tenho o Século ilustrado desde a década de 30 até ao seu desaparecimento,bem como a maioria da Ilustração Portuguesa e do ABC).

Choldra lusitana disse...

Comentando o seu post sobre Monod não há que esquecer que era um homem superior e não só por ter sido agraciado com o prémio Nobel da biologia. Era um músico exímio,um poliglota reconhecido,um resistente patriota e não daqueles de conveniência que só tomaram as armas quando a URSS foi atacada. Não era um compagnon de route vulgar. A elevada craveira intelectual e ética só podiam tê-lo levado a abjurar o comunismo. E,na tradição protestante francesa (era descendente de huguenotes emigrados ),sabia o significado dos valores civilizacionais da França.

José disse...

O coração de cão, não li. Sou um incultivado.

Zephyrus disse...

O comunismo é como aquelas seitas religiosas de fanáticos. Não vale a pena, baterão sempre na mesma tecla até partirem deste mundo.

Zephyrus disse...

E mesmo naqueles que abandonam a doutrina fica sempre lá qualquer resquício. Veja-se o caso de Pacheco Pereira.

José Lúcio disse...

Caro José, há ali uma suposição inexacta. O escritor Manuel Poppe não é familiar de Pedro Mexia. Trata-se de Manuel Poppe Lopes Cardoso, e era irmão do António Poppe Lopes Cardoso que foi político dirigente do PS. O pai de Pedro Mexia (Bigotte Chorão) chama-se João Bigotte Chorão.

Floribundus disse...

muito obrigado por divulgar uma pessoa com a qual me identificava em muitos aspectos.

possuía alta condecoração por ter participado na resistência

passou pelo pcf atá ao escândalo do Caso Lysenko
um protegido do zé dos bigodes que se recusava a genética por ter sido criada pelo frade Mendel que era prof de matemática na universidade de Viena

pertencia *a escola dos biólogos franceses que seguem o materialismo mecanicista

como dizia François Jacob 'o sonho duma célula é ser duas'

recorda que o acaso e a necessidade começa com Demócrito ('a formação das coisas identifica-se com a necessidade')

por mais que a ciência caminhe tudo é fruto do acaso (em grego 'em vão', 'sem razão')

lusitânea disse...

O sistema de "controleiros" usado pelos comunistas torna-se uma espécie de "igreja" em que quem está tem vantagens.No fundo nem eles acreditam no que dizem.Mas é o ganha pão...
Os "outros" é que não os têm no sitio para denunciar a patranha.A "intelectualidade" das humanidades então...

Choldra lusitana disse...

O Pacheco é um caso perdido. Deve ter no incosciente o livro vermelho do Mao e sonhar com ele depois de se cansar o dia todo a organizar a biblioteca alexandrina da Marmeleira ,com toda aquela palafrenária de posters,pins e outras inutilidades revolucionárias. Por aí se vê o tipo de historiador que é: quando algum assunto não lhe agrada fica-se pela rama das coisas,pelo lado lateral das mesmas,sofrendo de pura miopia ideológica.

josé disse...

Uknown:

Obrigado. Sempre pensei que era.

Floribundus disse...

há uns 6 meses faleceu Albert Jacquard autor do livro a que já mencionei
'éloge de la différence'

tem um ensaio sobre a pobreza dedicado a S Francisco de Assis

Anónimo disse...

Excelente texto.
Bons comentários.
Bebi o livro O acaso e a necessidade. Mas na "academia" - faculdade que frequentava poucas pessoas passaram "cartão" a Jaques Monod. Porque seria!!!