Para mim, a experiência portuguesa de antanho, intrépida e inovadora, representa o que fizemos de melhor durante séculos. Ficamos, além disso, a senhorear algumas terras em África e no Extremo-Oriente, possessões de que abdicamos, contra vontade, na segunda metade do século XX. Não tivemos força para fazer melhor e entregamos, a bem e a mal, o que dizíamos ser nosso.
Essa "descolonização exemplar" precedida da entrega forçada das possessões na Índia, e da perda do Brasil, para um dos nossos que para lá foi trair a pátria, é apenas um fait-divers no panorama geral das nossas façanhas marítimas e militares da época.
Em 1974 estávamos já perdidos no tempo e sem possibilidades de manter o status quo durante muitos mais anos. E aconteceu o inevitável que poderia ter sido remediado algumas décadas antes.
Franco Nogueira dizia que "Portugal acabou" por causa da perda dos territórios africanos. Uma morte anunciada com muito exagero, diga-se. Mas o que acabou para Portugal, com tais vicissitudes foi a ideia de um Portugal do Minho a Timor. Esse, de facto, acabou. Mas se calhar também nunca existiu.
Para entender o que fomos nessa gesta e o que a mesma representou, incluindo as consequências modernas tenho três livros a apresentar:
O primeiro é um longo poema épico que todos os portugueses de algum modo conhecem, mesmo que não o tenham lido de fio a pavio: Os Lusíadas de Luís de Camões.
Aqui, numa edição anotada por Campos Monteiro, dos finais dos anos 40:
O segundo é um livro que constitui uma longa certidão de óbito ao nosso Império territorial, em África. Assinado em 1977 por um dos lugares-tenentes do anterior regime, dedicado às questões ultramarinas desde 1962 até 1974.
Silva Cunha tem aqui um testemunho que contrasta com os habituais relatos sobre o que aconteceu na descolonização portuguesa.
O terceiro é a visão mística do que foram as descobertas: a explicação por um dos maiores cultores da nossa língua - o Pe António Vieira- do que representou a gesta portuguesa, consignando a ideia de um Quinto Império universal, depois dos maiores que surgiram até então. A visão soa muito a estratégia para se livrar da Inquisição, mas é tentadora.
O Mito perdurou durante séculos, foi aflorado por Fernando Pessoa numa Mensagem que em 1934 já dizia que Portugal era "Nevoeiro..." e aproveitado em 1940 nas celebrações dos Centenários nacionais.
A gesta portuguesa de há quinhentos anos recordada outra vez em 1985, em comemorações de época, expunha-se assim na revista Oceanos:
Estes feitos comparam-se a estoutros ocorridos alguns séculos depois.
Alguém duvida?