Pedro Mexia, da geração de setenta, escreveu uma crónica no Público, citada no InVerbis. O escrito, sobre os advogados, em dose genérica, termina assim:
"Alguém dizia que um advogado é um tipo que se senta e compõe a gravata à espera que todos exclamem: eis finalmente um tipo que se sabe sentar e compor a gravata. O advogado de sucesso não é o herói romântico dos romances policiais, mas a mordaz personagem de James Spader em “Boston Legal”: fatinho impecável, pose erecta, modos afectados, arrogância social, indomitável cinismo, lascívia em cascata, aquele esgar irónico entre o desprezo e a obstipação. O dicionário Houaiss tem uma palavra para eles: são uns cagões. Tocqueville ficaria triste».
Um advogado, Menezes Leitão, também citado pelo InVerbis, respondeu-lhe de um modo que termina assim:
"Pedro Mexia agradece o facto de não ter passado no exame de agregação à Ordem, uma vez que acha que, se tal tivesse acontecido, provavelmente seria hoje "um advogado de sucesso, atravessando a cidade no seu descapotável, com um belo casaco de caxemira, um relógio com um mostrador gigante, as unhas de manicura esmerada, os lavados e muitos dentes brancos à mostra", já que para ser "um coçado advogado da comarca de Lamego não teria valido a pena".
Não é nem uma coisa nem outra, uma vez que por nomeação governamental exerce actualmente funções de direcção na Cinemateca Portuguesa, para além de escrever crónicas destas. Merece efectivamente felicitações por este extraordinário sucesso profissional, de que a passagem no exame da Ordem o teria infelizmente privado. "
Não é nem uma coisa nem outra, uma vez que por nomeação governamental exerce actualmente funções de direcção na Cinemateca Portuguesa, para além de escrever crónicas destas. Merece efectivamente felicitações por este extraordinário sucesso profissional, de que a passagem no exame da Ordem o teria infelizmente privado. "
Este tipo de respostas, de indeferimento liminar e a pôr a falta de vergonha à vista, lembra sempre os versos de Bob Dylan, muito da casa de Mexia, em discos mais recentes:
"...but to live outside the law, you must be honest" . Traduzindo para o português suave: para desfazer os outros, com pedradas verbais, é preciso não ter telhados de vidro.
29 comentários:
perdeu-se um cagão ganhou-se um tachão
Caro José,
E no caso concreto quem tem "telhados de vidro"? O cronista Mexia ou o advogado Leitão?
Cada um sabe de si...e a verdade é que o postal é equívoco. Dei por ela tarde mas não modifico.
Calhou assim.
Equívoco?
Não dei por ela. Está, aliás, cristalino: quem atirou a primeira pedra.
Muito bem esteve prof. Menezes Leitão. Em tom elevado, respondeu à falta de tom que o outro não teve.
Pois, tem razão mas o certo é que o Mexia disse uma grande verdade e outra ainda melhor- está a ser um excelente director da Cinemateca.
E gosto do tom de equívico do post porque dá para os dois enfiarem o barrete.
Sendo certo que o retrato que o Mexia fez é perfeito e ainda mais que deixei de fazer parte dos que criticaram o modo como se tornou director da Cinemateca.
É o modo como todos se tornam directores de tudo e até jornalistas de nada.
Mas, repito, está a merecer bem o cargo que tem. E só por isso fica desculpada qualquer falha ética.
Além do mais o Mexia nunca precisaria de ser admitido a exame na Ordem para ascender socialmente.
De todo o modo não li o texto do Mexia mas pela passagem mais não faz do que repetir uma crítica à Quevedo.
As sátiras aos advogados tornaram-se literatura há séculos. Não precisava o outro de sentir tocado.
Zazie,
Surpreende-me essa sua capacidade para se pronunciar sobre um texto que, confessa, não leu. Estamos esclarecidos.
É verdade. Só li o excerto que o José postou.
Não creio que estejamos esclarecidas porque eu avisei que não tinha lido.
E costuma lê-la a si e muito me agrada a sua incrível capacidade de discernimento.
O que eu disse está aí- se o Mexia não atacou ninguém em concreto e se limitou a fazer uma rábula cinéfila acerca dos advogados- em abstracto- fez precisamente o mesmo que sempre se fez literariamente, como no exemplo que eu dei da literatura do Quevedo.
E deixei em aberto que seria diferente se tivesse citado alguém em concreto.
Não sei.
Depois disse que mudei de opinião em relação ao cargo que o Mexia aceitou, tendo em conta o excelente trabalho que está a desenvolver na Cinemateca.
Trabalho esse que tenho acompanhado e acerca do qual até estaria muito mais de pé atrás do que v.s.
Vou ver se encontro o artigo para ser mais rigorosa e não me ficar pelas poucas palavras que o José colocou.
Por último, ainda acrescentei que a sátira do arrivismo que o tal advogado usou não serviria ao Mexia pois ele nunca precisaria de ser advogado para ascender socialmente- questão meramente factual.
Outra coisa- não sou advogada.
E outra ainda- sempre gostei de sátiras a grupos sociais.
E outra para finalizar- também tenho as minhas pequenas embirrações na área. São é mais à "animais de letras" do Goya.
(que, por acaso, os retratou, inspirado no Quevedo).
Ok. Já li o texto do Mexia no Inverbis.
Acrescento-lhe uma boa risada.
Em cheio. E ainda bem que foi para director da Cinemateca e que continue o excelente trabalho que esta´a fazer.
Nunca ninguém tinha feito ciclos como ele está a fazer, dando a conhecer obras genais como a do Naruse
E eu estava bem reticente à sua nomeação pois, de facto, ele não tinha obra conhecida em História do Cinema.
Zazie, não misturemos alhos com bugalos, ok?
Uma coisa foi a crítica de maledicência que ele fez aos advogados todos, sem excepção, atacando-os nos seus aspectos mais fúteis (que os têm, alguns), outra, bem diferente, é o trabalho que o Mexia estará a fazer.
Eu por mim, nem lhe atribuiria qualquer importância. Li-a no sábado e pensei: "coitado, deve andar muito mal acompanhado para ajuizar deste modo". Sabe? ÁS vezes é preferível cair nas graças do que ser engraçado e ele nem uma coisa, nem outra. Fico-se pelo "armanço" e saiu-se mal, na minha modesta opinião - como é óbvio.
Quanto ao mais, eu, no fundo, só quis provocá-la um bocadinho :))
Ah! E eu sei que não é advogada, zazie. Fique sossegada (não a incluirei no grupo dos visados da crónica do Mexia:)))
Já a acompanho há muito e por vários sitios - esta coisa da blogosfera não é assim tão imensa como às vezes julgamos!
Pois eu não me lembro de a ter lido em mais nenhum lugar e tenho acompanhado as suas trocas de comentários acerca da justiça com o José.
Porque são conversas que vale a pena ler.
Quanto à charge do Mexia é absolutamente cinéfila, certeira na caricatura e também alvo de carapuça, como o José deixou entender.
Mas a carapuça parece-me servir muito mais ao ofendido por um mero exercício satírico.
Daí que o José tenha optado e bem, por deixar a carapuça a quem a quiser enfiar.
--------
Claro que não me poderia incluir nos visados pelo Mexia porque eu tenho link par o meu blogue e percebe-se à primeira que não poderia enfiar carapuça.
Mas, pode-se dar o caso, de pensar o mesmo que ele, de forma bem genérica e histórica, acerca dos que visou.
ahahahahaha
Está aqui para que perceba o motivo de ter achado piada às bocas do Mexia.
Pois não, não leu!! Sou muito selectiva - ehehehehe
(Não ligue, hoje estou mais para a galhofa - mera necessidade de distender destes dias bravios:))
?
Não li o quê? 0 Quevedo ou a si aqui?
Aqui tenho lido. Noutro lado não faço a menor ideia.
Quem disse que já me conhecia da net foi a Leonor. E é natural porque já cá ando na blogo desde o início.
De resto até tenho estado de acordo com tudo o que por aqui tem escrito.
Agora estes pequenos remoques cinéfilos não deviam afectar ninguém que não enfie a carapuça.
E achei caricato o outro advogado não ter sabido separar as coisas.
Mas isto sou eu, que desconheço em absoluto o que possa ser corporativismo de qualquer espécie.
Quanto à nomeação do Mexia fui a primeira a criticar, ainda que também não conheça muito bem de que modo funciona esses cargos. Duvido que seja por concurso público- já que não é em parte alguma do mundo.
Mas, como tenho um gigantesco fraquinho pela Cinemateca, o mais que me preocupava era o resultado.
E fiquei feliz por ter sido surpreendida pelo Mexia como neste cargo.
Para falar verdade, nem a maior parte das críticas cinematográficas que ele escrevia na blogo me agradavam.
Estava à espera do pior e saiu o melhor. Melhor que só tinha como indício o facto de também ter sido da sua autoria a excelente tradução das Notas do Cinematógrafo do Bresson.
Mas é claro que não vamos ter textos como os do Bénard. Porque esses também não se replicam assim.
Zazie,
Deixemos a conversa sobre assuntos sérios para amanhã, pode ser?
Os meus neurónios, hoje, pediram sossego e eu resolvi acatar o pedido. Lolol
Olhe, faça como eu, divirta-se a acompanhar a novela que é transmitida na escola de lavoures. Aqui: http://escoladelavores.blogspot.com/
Temos, ao que parece, um ministro que em vez de assegurar a defesa do país, gosta de comentar, como nós comuns-mortais, nas caixas dos blogues.
Ora pois, então, eu acho bem!!! eheehe
Isto é, simplesmente, hilariante.
Confio no julgamento da Zazie em matéria cinéfila. Mas também estou disposto a dar de barato a competência livresca e de treta literária e cinéfila do Mexia.
Aliás, antes o Mexia que um outro qualquer boy das hostes da militância.
Não obstante, o olhar enviesado para os advogados poder ser levado sem a seriedade que suscita.
Os advogados é que não acharam muita piada...porque são filhos de boa gente.
O "nosso Timshel" gostava muito de citar o Steinbech a propósitos dos melindres.
Vou colocar aqui a citação e assino-a por baixo (e por cima, e por todos os lados)
«Steinbeck:
"o insulto está directamente relacionado com a inteligência e a segurança e as palavras "filho de uma cadela" só ferem quem não estiver seguro acerca da mãe." (O Inverno do nosso descontentamento)
..........
Vou agora espreitar o tal link que a Leonor deixou.
Ok, Leonor, dei uma espreitadela naquela "coisa".
Estavam lá todos caídos em conversas de treta com os avatares a berlinde.
É "uma parte do mundo" que desconheço e acerca da qual não me importo de ir sem ter conhecido.
Sou filha da ditadura- não sei o que é isto de se andar armado em huno a servir outros hunos no poleiro.
Olhe, para terminar em tom cinéfilo é assunto que devia ser resolvido à Dirty Harry, com uma Magnum e estas palavras: "Go ahead, make my day"
"Temos, ao que parece, um ministro que em vez de assegurar a defesa do país, gosta de comentar, como nós comuns-mortais, nas caixas dos blogues."
Porque é que diz em vez de assegurar (...)? Não pode fazer as duas coisas?
Pela resposta, o homem subiu um pouco na minha consideração (ok, de -1000 para -999)...
Mas a jornalista foi "desmentida" pelos colegas e ela própria até se desdisse. Afinal o que parece é que ela estava a curtir estar ao lado do PM e não não terá gostado de lhe terem interposto a cadeira para o ministro.
Fico furioso com ela por ter arranjado argumentos a favor da cooperativa.
"Aquilo" é cócó. E a uma sujeita que se diz jornalista e nem os nomes próprios inicia por maiúsculas, acho muito bem que a mandem sentar de cócoras.
Mas matei-me a rir com a quantidade de toininhos que foram a correr e de cartão do partido em punho e a teimarem que estavam identificados numa janelinha de comentários.
":O)))
Esta malta só mesmo tratada à Dirty Harry.
Fiado:
"Temos, ao que parece,..."
Foi assim que iniciei o meu comentário, não foi?
Ao que parece...porque desde o primeiro momento que não acreditei que o Ministro tivesse vindo ali responder. E acho estranho que outros acreditem, mas...
"Porque é que diz em vez de assegurar (...)? Não pode fazer as duas coisas?"
Faz ideia do quê é a agenda de um Ministro? Faz ideia da responsabilidade que tem nas mãos? Das solictações que recebe?
Pois, eu faço.
E, como tal, não estou a ver um ministro a acompanhar uma historieta sobre dança de cadeiras e a dar-se ao trabalho de responder na caixa de comentários. Que outros, por modo próprio, o façam em nome dele, eu até concebo. O contrário, não.
Quanto à jornalista, zazie?
Pois, esperava factos, factos... e de preferência irrefutáveis ou minimamente sustentados. Não os tendo, não devia ter vindo à liça. Veio? Pois...que se aguente!
Leonor,
"Faz ideia do quê é a agenda de um Ministro? Faz ideia da responsabilidade que tem nas mãos? Das solictações que recebe?"
Pois, eu também faço: meia dúzia de reuniões da treta, e muito tempinho para se coçarem. Ocupados com almoços demoradíssimos, ainda lhes resta muito tempo para se aborrecerem quando estão sentados no gabinete, e se lhes falta algo mais atractivo fazem uns telefonemas e dão umas tecladas na Net.
Note que dos 3 pontos com interrogações, postos de maneira a fazer parecer ocupação a 300% só o primeiro consome tempo...
Não sei se o Ministro respondeu ou não de moto próprio, mas um "Ó Zé, responde aí a essa gaja que..." também vale.
Embora também me custe acreditar, é plausível.
Mas continuo na minha que quem se saiu mal da história foi a Jornalista.
Alguém se deu ao trabalho de confirmar, afinal...
«Miguel Marujo disse...
O gabinete do ministro Rui Pereira confirmou ao 24horas (onde assino uma peça sobre este caso) que o ministro é o autor do comentário.»
Enviar um comentário