Acabei de ver o novo programa da RTP1, "E depois do Adeus", uma espécie de "conta-me como foi" o PREC e a descolonização do ponto de vista dos retornados. A RTP aposta muito na nova série.
A banda sonora podia ser muito melhor escolhida porque as canções "revolucionárias" e as baladas que ouvi e vi passarem no genérico eram apenas algumas das cantigas que o rádio passava na época. KC & the Sunshine band ou Elton John ou até Eric Carmen ( All by myself) ou os Queen de Bohemian Rhapsody ( saído em Outubro de 75) não podem ser esquecidos neste tipo de banda sonora se quisermos emoldurar bem o ambiente sonoro da época. Enxertar em 1975 o som de 1969, da balada Pedra Filosofal de Manuel Freire, nem no programa imaginário de um Luís Filipe Costa.
O guarda-roupa é o típico mas não ideal. As cores não eram tão garridas como aparecem. Assim até parece que são todos falâncios.
Os actores, na generalidade, são uma desgraça. São mesmo maus e estragam algumas partes interessantes do argumento.
Tecnicamente não me pronuncio embora ache que não deslumbra ninguém e em alguns casos parece-me indigente (algumas cenas exteriores muito mal encenadas). O episódio que vi estava minimamente estruturado e historicamente realista embora quem se lembre da época por a ter vivido tenha que fazer um esforço para contextualizar certas passagens. A luta encenada entre os mrpp e os comunistas, "social-fascistas", historicamente verídica deixa muito a desejar à imaginação realista.
Enfim, uma curiosidade que atento o "elenco" técnico apresentado ( dezenas de pessoas que colaboraram) poderia e deveria sair muito melhor.
Mas...é o que temos e resta uma magra consolação: na altura, em 1975, os actores eram ainda piores, declamavam nos filmes como se estivessem no teatro de revista e não havia os meios técnicos que hoje existem.
Não haverá mesmo quem faça melhor?
9 comentários:
José:
Cinema português de qualidade tem - ou teve um único nome: António Lopes Ribeiro.
Actores portugues, de cinema, dignos desse nome conheci dois: António Silva e Vasco Santana.
O resto é treta.
Não concordo. Há neste momento alguns bons actores em Portugal, de telenovela até. Sempre que vejo confirmo isso.
Nesta série tiveram azar e escolheram os mais fracos.
Até digo mais: aí está um campo em que fizemos muitos progressos depois do 25 de Abril. Muitos mesmo e não temos nada a desejar, em alguns casos, nada aos brasileiros, por exemplo. E não era assim, em 1975.
bons actores de tragédia:
boxexas
pinóquio
anacleto
arménio
actores secundários:
inseguro
relvas
actores cómicos:
zorrinho
são payo
Pois olhe: eu vim em 75 de Moçambique. Tinha oito anos. Com melhor ou pior representação, os factos estão lá.
Os factos, alguns factos estão. Não escrevi o contrário. O problema é o modo como são contados e encenados. O discurso narrativo, como dantes se dizia.
Vou elaborar um pouco mais com material de época.
Factos que eram mesmo assim - exemplos: - por "lá", quando aparecia alguém, não se perguntava se queria comer, dizia-se, "ponha mais dois pratos na mesa"; já cá, o sentimento de refugiado era mesmo esse e não de retornado (não se volta onde nunca se esteve); os caixotes eram mesmo assim como retratados e, de facto, desaparecia tudo; o dinheiro, esse, desvalorizou de tal modo (cerca de 80%) que muitos houve que preferiram ficar com 100 contos de lá inutilizados e a passar sabe Deus que dificuldades, a ter 20 de cá. Menos relevante, temos o modo como a sr.ª segura o cigarro, que está muito bem caracterizado. Em suma: pode não ser uma série para Óscar, mas o argumento sustenta-se na realidade.
O "Odisseia", acho que se chama assim, o novo programa do Bruno Nogueira.
Vi e gostei e parece-me um dos motivos para que o serviço público exista, não há hipótese de um programa deste tipo na SIC ou na TVI.
...e sem ser o revisitado e revisitado e revisitado tipo de humor dos Gato Fedorento.
Bruno Nogueira rules (só por causa do post do acordo ortográfico).
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