sábado, setembro 23, 2017

Companhias do percurso comunista

Em 1975, em pleno PREC apareceram por cá alguns espécimes da intelectualidade europeia da época e um deles foi Jean-Paul Sartre, o idolatrado de uma extrema-esquerda que não alinhava necessariamente pelos cânones ortodoxos da doxa soviética do PCP.  Eram apenas companheiros de percurso...
Sartre tinha ido em 1954 à URSS e veio declarar que encontrara um país de liberdade, sabendo-o acabadinho de sair do estalinismo mais aterrorizante, com polícia política, censura, repressão intelectual e política etc etc. 
Não obstante ter obrigação estrita de enunciar tudo isso, sabendo-o, Sarte proclamou em França que a URSS era o país em que havia mais liberdade.  Depois mudou, diz que com os acontecimentos da Hungria, a partir de 1956.

Apesar disso Sartre foi sempre um companheiro de percurso de uma certa esquerda e foi isso que veio fazer a Portugal, em 1975, como relata a Vida Mundial de 27.3.1975.






A vida nacional de então estava ao rubro com o PREC em alta rotação, como se nota nestas entrevistas do mesmo número da revista, sobre as nacionalizações da banca e dos seguros.





Naturalmente Sartre aplaudia isso e muito mais. E por cá dava-se-lhe toda a credibilidade do intelectual francês, sério e para levar à risca.  A Flama da mesma época:



Nessa altura Sartre ainda vivia influenciado pelos acontecimentos de 1968 em França. Cinco anos depois, a revista Le Nouvel Observateur, através de outro intelectual de esquerda francesa Benny Lévy, muito preocupado com o judaismo, fez o que o Jornal da época ( Abri-Maio de 1980) chamou de "testamento".


 A entrevista que é difícil de encontrar, foi publicada em quatro números, faltando aqui o terceiro. Porém, permite entender a mudança de Sartre, política e pessoal.

Adivinha-se a mudança para uma ideologia do género da Geringonça, em que se misturam sempre os ingredientes da luta de classes com compromissos relativamente aos inimigos, em manobra táctica costumeira e leninista.

Sartre era um intelectual conhecido em Portugal mesmo antes do 25 de Abril de 1974. A mesmíssima revista Vida Mundial, em 13.11.1970 publicava uma entrevista extensa com o intelectual, traduzida da   New Left Review inglesa.


Na entrevista acima transcrita Sartre, confrontado com uma declaração de Romain Rolland, outro intelectual francês, acerca de uma visita à URSS, em 1935, em plena época de purgas estalinistas, em que o mesmo dizia que "tinha visto na União Soviética um notável alargamento dos direitos do espírito humano" , Sartre dizia que Rolland não era um pensador notável.

A mesma Vida Mundial em 30.10.1970 tinha-lhe dado uma capa...e um artigo extenso em que não constava nada sobre tal afirmação acerca da União Soviética.



5 comentários:

Floribundus disse...

sartre era intragável

devia ter ficado na urss

esta é a mesma lógica da geringonça

adelinoferreira disse...

"Quando li a Fenomenologia do Ser, de Jean-Paul Sartre", disse o pantomineiro. ahahah

joserui disse...

Como é que um indivíduo deste se olhava ao espelho? Cheio de si, provavelmente. Inacreditável.

lusitânea disse...

No PREC não veio só cá este lunático.Refugiaram-se cá durante muitos aninhos os comunistas chilenos que muito ajudaram as esquerdas...
A nossa intelectualidade do pugresso nada cria tudo copia.Agora andam muito enfeitiçados pela independência da Catalunha que afinal tem mais probabilidade de vir a ser oficialmente a primeira Taifa do sec XXI na Europa...
Enfim a CGD já contribuiu com os nossos milhões...
PS
D.Fernando nas suas lutas com Castela uma vez mandou um monte de moedas de ouro para a Catalunha visando uma ajuda cá no burgo.Nada regressou.Nem as moedas nem a ajuda...

zazie disse...

Isso da Catalunha é verdade. Nem percebo como há gente sem ser idiota tão entusiasmanda com a coisa.